Imperador narrando
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Eu estava voltando para o Rio de Janeiro quando recebi a notícia alarmante de que o morro estava sendo invadido. A sensação de urgência me tomou de assalto, e eu imediatamente liguei para Fabiene.
— Onde você está? — Sua voz estava carregada de nervosismo e tensão. A preocupação estava evidente no tom dela, e eu sabia que, naquela noite, ela provavelmente dormiria no sofá. — Estão invadindo o morro.
— Estou chegando, morena — tentei transmitir calma, embora o pânico também me dominasse.
— Você sumiu, desapareceu, deixou o morro aqui nas minhas mãos e agora volta no meio de uma invasão? — Sua frustração era palpável.
— Se acalma, Fabiene. Assim que isso passar, eu te conto tudo. Confia em mim, nunca te dei motivos para desconfiar de mim.
Ela desligou na minha cara. O som do clique me deixou inquieto, e meu coração acelerou enquanto dirigia em direção ao morro. Cheguei pelos fundos e avistei Gabriel, que me encarava com uma expressão de expectativa e preocupação.
— Vai falar para ela tudo o que aconteceu? — Gabriel perguntou. — Ela vai ficar bolada por você ter escondido.
— E deixar que fiquem ameaçando a vida dela? Jamais — respondi com firmeza. — Fabiene vai entender, se não estender. Pelo menos eu cumpri a minha promessa de protegê-la até o último dia da minha morte.
Ele me encarou por um momento, compreendendo a gravidade da situação, mas não parecia completamente convencido. Desci pelo morro, dando ordens aos vapores. Eu sabia que os invasores não subiriam até o topo do morro, eram um bando de frouxos que recebiam ordens sem saber exatamente o que estavam fazendo. No meu morro, comédia não se cria.
— Onde você está, Fabiene? — perguntei, tentando esconder minha crescente preocupação.
— Estou no alto do morro — sua voz parecia tensa e abafada.
— Me espera aí, preciso te contar uma coisa. Não saia daí — instrui, tentando soar calmo.
Fabiene sempre teve uma maneira única de se expressar quando estava irritada. Ela podia ser provocadora, mas eu sabia que era sua forma de mostrar o quanto se importava. Não levava a m*l, pois compreendia que, apesar de sua rebeldia, ela era uma parte essencial da minha vida. Juntos, éramos mais fortes, e eu não queria que ela se afastasse de mim. O que eu havia feito era para libertá-la, para que ela pudesse seguir em frente sem o peso do passado. Eu estava disposto a qualquer coisa para garantir a felicidade dela.
Cheguei ao alto do morro e me surpreendi ao não encontrá-la lá. Liguei para Fabiene novamente, mas a ligação caía direto na caixa postal. A angústia aumentava, e comecei a chamar pelo rádio. Logo, surgiram especulações de que ela havia deixado o morro pelos fundos.
— Verifiquem todas as gravações das câmeras e encontrem Fabiene — ordenei, a voz carregada de ansiedade. — Verifiquem imediatamente!
O nervosismo se transformou em frustração quando o celular continuava a dar caixa postal. Meus pensamentos giravam em torno do pior cenário possível.
— E se ela foi sequestrada? — Maria, visivelmente nervosa, começou a chorar. — Se sequestraram ela? Se pegaram ela? Meu Deus, não posso pensar nisso!
— Quem invadiu o morro não iria sequestrá-la, nem chegaram a entrar aqui dentro — respondi, tentando acalmá-la, mas o nervosismo ainda me consumia. — Não subiram no morro. — Eu dei um soco na parede, sentindo a raiva e a frustração se acumularem.
— Ela estava bolada com você, não estava? — Maria perguntou, seus olhos lacrimejantes fixos em mim. — E se ela foi embora? E se ela te deixou por causa de algum vacilo seu, Imperador?
As palavras de Maria me atingiram como uma punhalada. Fabiene era esperta, extremamente astuta. E se ela descobrisse algo sobre minha viagem? Se ela soubesse a verdade, eu estaria em apuros. Ela não hesitaria em me fazer pagar, e eu estaria à mercê dela.
Tentei ligar para ela novamente, mas o celular continuava desconectado. Ligando as câmeras, comecei a analisar as gravações uma por uma. O desespero começou a se transformar em frustração quando Samanta entrou na sala.
— Samanta? — perguntei, a voz carregada de cansaço.
— Estão perguntando de Fabiene — ela disse, visivelmente preocupada. — Eu vi ela saindo.
— Como assim você a viu saindo? Por onde?
— Pelo matagal — respondeu ela. — Com uma moto. Ela foi por lá.
— Tem certeza disso? — Eu precisava de uma confirmação sólida.
— Ela tinha uma mochila. Até comentei com minha mãe que achei estranho ela estar fazendo isso, especialmente depois de uma invasão — ela explicou.
— Encontrem a Fabiene — ordenei aos vapores. — Agora! Encontrem ela!
O soco que dei na mesa expressava a frustração que estava acumulando.
— Você está desconfiando dela? — Samanta perguntou, a preocupação evidente em seu tom.
— Jamais desconfiaria da minha mulher. Fabiene é a única em quem confio de olhos fechados — afirmei com firmeza.
Se alguém tinha culpa, esse alguém era eu. Eu a tinha enganado sobre a viagem e escondido a verdade.
— Mas por que ela foi embora dessa forma? — Samanta perguntou, sua curiosidade misturada com preocupação.
— Samanta, depois conversamos — respondi, tentando manter a calma.
Ela assentiu e saiu da boca. Eu continuava tentando ligar para Fabiene, mas as chamadas caíam na caixa postal. Tentei rastrear o celular, mas ela havia desconectado.
— Imperador — Gabriel entrou na sala, segurando um pedaço de papel. — Fabiene deixou isso na boca geral.
— O que é isso? — perguntei, pegando o papel das mãos dele.
Reconheci a letra de Fabiene imediatamente. O conteúdo da mensagem me atingiu como um soco no estômago:
“Não venha atrás de mim. Você me traiu, traiu a minha confiança. Você me enganou. Eu fui muito mais do que sua esposa. Quero que você morra, Imperador, e não vou medir esforços para que isso aconteça.”
— O que ela descobriu? — perguntei, meu tom de voz carregado de nervosismo. — O que ela ficou sabendo?
— Eu não falei nada — Gabriel respondeu, visivelmente desconfortável.
— Quero todos os vapores que foram com a gente na quadra — ordenei. — E descubra quem falou alguma coisa para ela. Entendeu?
— Eu disse que você não deveria ter escondido — Gabriel disse, com uma pitada de frustração em sua voz.
— Eu queria protegê-la de todo m*l — eu explodi, a raiva transbordando. — Proteger!
— E desde quando Fabiene precisava de proteção? — Gabriel questionou, a dúvida evidente em seus olhos.
— Desde que ela se tornou minha fiel, minha mulher — bati no peito, determinado. — E eu prometi protegê-la até o fim!
O que estava acontecendo agora era o resultado das minhas ações. Havia mentido para Fabiene sobre a viagem e a mantido no escuro sobre a verdade. O desejo de proteger a minha mulher me levou a uma situação em que, agora, ela estava fugindo, acreditando que eu a havia traído. O peso dessa traição estava me esmagando, e o único desejo que restava era consertar o que havia quebrado.
— Vamos encontrá-la — disse, minha voz agora calma, mas com um tom de determinação. — Não importa o que aconteça, vou consertar isso. Não deixarei que ela me perca por causa das minhas mentiras.
A equipe começou a se movimentar, procurando por Fabiene, e eu sabia que, enquanto isso, minha responsabilidade era encontrar uma maneira de reverter a situação e mostrar a ela que minha lealdade e amor eram verdadeiros, apesar de tudo o que havia acontecido.