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FABIENE NARRANDO
Minha vida nunca foi fácil. Eu e meu irmão tivemos que enfrentar muitas dificuldades. Rafael sempre foi meu alicerce, aquele que estava sempre ao meu lado, me dando direção. Eu não tinha mais ninguém, só ele! Nossa mãe nunca foi uma base sólida; ela era mais um monstro do que uma mãe. Desde cedo, me envolvi com o Imperador e me tornei sua fiel aliada dentro do morro, ajudando-o a comandar a área após a morte de seu pai. Meu destino parecia estar atrelado ao dele, e eu sonhava com o dia em que formaríamos nossa própria família.
Enquanto pego o exame em mãos, sinto um misto de nervosismo e expectativa. Imperador está em viagem, e eu estou no comando junto com o Gabriel. Penso se devo abrir o resultado sozinha ou compartilhá-lo com ele. Falamos pouco sobre ter filhos, mas sempre concordávamos que um dia teríamos um. O problema é que, nos últimos meses, após a morte de seu pai, ele tem se dedicado exclusivamente ao morro. Não sei se agora seria o melhor momento para trazer um filho ao mundo.
— Fabiene – Maria diz ao entrar na cozinha – senti o cheiro do bolo lá fora, parece estar delicioso.
— Quero levar para a creche para as crianças tomarem café – respondo – mas já estou quase terminando. Pode me ajudar?
— Gabriel mandou te entregar isso – ela diz, colocando um envelope sobre a mesa – pediu para você guardar. É o dinheiro da boca.
— Deixa aí que depois eu coloco no cofre. Preciso enviar esse dinheiro para o carregamento de droga que vem do Paraguai – digo a ela. Eu cuido da parte financeira no morro, a grana é minha responsabilidade.
— Está vindo o dobro?
— O triplo – respondo com um sorriso – consegui fazer um acordo com a milícia lá embaixo. Nossos carregamentos vão estar no fluxo da praia, com turistas e estrangeiros, e ainda protegidos pela polícia. Melhor impossível, não acha?
— E foi fácil? – ela pergunta, e eu a encaro, balançando a cabeça.
— Nada que um bolo bem recheado não convença – digo rindo – mas nunca é fácil, Maria! Sempre é um desafio gigante. Sinceramente, acho que se não fosse eu, o Imperador já estaria louco – falo, rindo em tom de brincadeira.
— Você é a melhor. Não sei o que seria do Imperador sem a imperatriz dele – ela comenta – concordo com você, ele estaria perdido dentro desse morro.
— Espero que ele pense assim também.
— Você realmente acha que um dia ele vai te abandonar? Uma mulher como você, que está ao lado dele dentro do morro, ele nunca mais vai encontrar.
Abro um sorriso para Maria, que é minha cunhada. Ela me ajuda a terminar os bolos e, ao provar um pedaço, sinto um enjoo. Olho para o envelope com o resultado e o guardo na gaveta.
Levo os bolos para a creche, converso com os moradores e organizo algumas pendências. Dou instruções para os vapores e os coloco em alerta sobre qualquer novidade. Após as ameaças que começamos a receber da facção rival, que queria cobrar uma dívida do pai do Imperador, redobramos a segurança nas creches. Até as crianças foram ameaçadas por aqueles filhos da p**a.
Ligo para Imperador, mas ele não atende e o celular vai para a caixa postal. Tento rastrear o celular, mas ele desativou o rastreador. Minhas antenas ficam em alerta, e um pressentimento r**m me invade. Tento ligar novamente, mas sem sucesso.
— Onde você se meteu, Imperador? – continuo tentando ligar, mas ele não atende.
Fico pensativa, imaginando onde ele poderia estar e quais seriam seus planos. Quando ele me disse que faria essa viagem, algo me deixou desconfortável, uma sensação de que algo poderia dar errado, mas ainda não sei o quê.
Flashback On
— Será uma viagem rápida – ele diz – eu te prometo!
— Mas agora? – pergunto – Bem agora? Não é o momento para viagens, Imperador! Está chegando carga nova, armamento.
— Essa viagem é para o bem de todos – ele responde, me olhando nos olhos – Você confia em mim?
— Claro que sim – digo, afirmando.
— Eu te amo – ele diz, com um olhar sincero – Não se esqueça disso nunca. Eu amo você mais do que tudo! – Ele sorri e me beija – Você é a mulher da minha vida.
— Volte logo, ok? – peço, e ele assente com a cabeça.
Flashback Off