Zyan tinha voltado para casa depois de ver o desespero de Jasmine quando o vira. Não a queria assustar, mas a vontade de chegar mais perto para a ver melhor tinha sido mais forte que ele.
De banho tomado e deitado na sua enorme cama, deu por si a pensar na altura da sua própria transição. Não tinha sido fácil, aliás, não era fácil para nenhum deles.
Mas ele era dos poucos que não tinha sido preparado para aquilo. Os seus pais sempre tentaram protegê-lo, mas foi um grande erro da parte deles. Foram mortos por caçadores antes de lhe poderem explicar o que devia esperar da transição.
Antes da sua transição era bastante magro e fraco. Depois da morte de seus pais, sobrevivia a fazer alguns trabalhos que m*l davam dinheiro para comer. Muitas das vezes vivia do lixo, e nem ele mesmo sabe como escapou da m*rte. Mas vendo pelo lado positivo. Nessa altura ainda podia caminhar durante do dia, apreciar o sol e tudo o que de bom ele trazia. Tinha saudades de sentir o calor do sol, ir até ao mar ver o por do sol e encher os pulmões de ar fresco. Coisa que hoje em dia não podia fazer. Tudo o que ele fazia era durante a madrugada.
Voltando à noite da sua transição!
Há uns dias que se andava a sentir m*l, m*l conseguia trabalhar. Mas ele viu isso como uma consequência de não se andar a alimentar direito há já algum tempo.
Assim que a dor lhe tomou conta do peito ele deitou-se com os braços à volta dos joelhos na esperança que tudo aquilo aliviasse. Pelo contrário, só piorou. A dor apoderou-se também das costas, as mãos e os pés foram logo a seguir. Pensou de estar a morrer, e por um lado até o desejava. Só queria que tudo aquilo passa-se, e se a única solução fosse a morte, ele aceitava-a.
Foi então que um homem e uma mulher apareceram próximo dele. Não sabia quem eram, nem como chegaram até ali, mas se fosse para o ajudarem ele aceitaria de boa vontade. O casal baixou-se perto dele e assim que a mulher rasgou o próprio pulso com os caninos, ele teve ainda mais medo do que estava por vir.
O pulso da mulher foi-lhe colocado na boca, com muita resistência da parte dele. E é só disso que se lembra daquela noite. Acordou no dia seguinte como se nada tivesse acontecido, sem ser pelo facto de ter pelo menos o dobro do tamanho do corpo que tinha antes. Numa cama desconhecida e com o mesmo casal sentado no fundo da cama a olhar para ele.
Eram os seus tios. Andavam à sua procura há bastante tempo e graças a Deus que o encontraram na noite da sua transição, porque se não fossem eles, ele não estaria ali naquele momento.
Lembrava-se de tudo como se tivesse sido ontem. Lembrava-se da dor que sentira naquela noite e só de pensar que Jasmine também teria que passar por todo aquele sofrimento, causava-lhe um sentimento desconhecido.
Amanhã teria que ir de novo ao apartamento de Jasmine, mas desta vez teria que conversar com ela. Mas como ele lhe iria dizer que tudo o que ela vivera até aos dias de hoje, tinha sido uma mentira? Como é que lhe iria explicar que eles eram nada mais, nada menos do que vampiros?
Amanhã pensaria nisso... Hoje tinha que se preocupar em ir ter com os seus irmãos para saber que novidades é que eles tinham sobre a m*rte de Vitor.
***
Jas dava graças a Deus pelo fim do dia e com ele, mais um fim de semana tinha chegado. Tinha tido sorte durante o dia, o seu chefe tinha saído durante todo o dia para reuniões e por isso o seu dia de trabalho não tinha sido tão cansativo como o inicio da semana. Saiu da empresa, passou no supermercado que havia perto da sua casa para comprar algumas coisas para o final de semana e finalmente dirigiu-se a casa.
Já estava a anoitecer quando acabou o seu banho. Já tinha arrumado todas as compras que fizera e a pizza no forno já estava pronta. Tirou-a do forno para dentro de um prato e colocou-a na mesa da varanda, voltou para dentro para ir buscar o seu copo de vinho e quase teve um ataque quando voltou para a varanda e um homem estava sentado na sua cadeira.
Mas como? Estamos no terceiro andar...
Ela dava voltas e voltas à cabeça a tentar perceber o que se estava a passar, a tentar perceber como ele tinha ido ali parar, mas não chegava a conclusão nenhuma.
Ele olhava fixamente para ela e ela continuava estática. Mas de repente a sua cabeça voltou a funcionar e a dar as ordens que o seu corpo precisava para fugir. Entrou o mais depressa que conseguiu na sala e trancou a porta de vidro atrás de si. Colocou o copo de vinho na bancada da cozinha e pegou no telemóvel para ligar a António, ou melhor, à policia.
Como se não tivesse trancado a porta, a mesma abre-se sem nenhum dos dois se mexer. Ficou abismada. Como podia tal coisa acontecer?
Ele entrou na sala com os olhos fixos nela. Jas ficou em pânico! Não conseguia mexer-se...
Ele era enorme aos olhos dela, o que era um facto. Era um homem grande e quanto mais ele se aproximava mais ela ficava perplexa por ao mesmo tempo que o temia, o apreciava. Cabelo preto, olhos de um cinzento que ela nunca tinha visto. Todo ele era músculos, não que ele os trouxesse à mostra, mas dava bem para ver mesmo com a roupa por cima.
Mas espera aí... Está a tirar-lhe as medidas quando o que devias estar a fazer era fugir??
Pensou e deu-se conta que já nem tinha por onde fugir. Ele estava demasiado perto para ela o conseguir fazer.
-Quem és tu? -Perguntou baixo de mais
-Vim à tua procura -O que ela mais temia, hoje seria o seu fim tinha quase a certeza
-Como assim à minha procura? Eu nunca fiz m*l a ninguém... Porque alguém me quer m*tar? -ele olhou-a sem entender -Se me vais m*tar fá-lo rápido, não quero sofrer -A voz dela falhava
-Ninguém aqui te vai m*tar... mas sim proteger -Ele fala e a mão dele fixa-se no queixo dela
Os olhos dois dois encontram-se e ali há uma conexão que não tem explicação. Nenhum dos dois estava a perceber o que estava a acontecer ali, mas os dois sabiam que nunca tinham sentido nada parecido. Ele aproximou-se mais um pouco dela e baixou a cabeça até ao nível do seu pescoço.
-Estás quase pronta -ele fala ainda perto do pescoço de Jas e ela não consegue conter o arrepio -Vou ter que te levar comigo -Diz suavemente
-Como assim? Pronta para o quê? -se ela já não entendia nada do que estava a acontecer, agora é que estava mesmo a boiar no acontecimento -Queres levar-me para onde?
-Calma, eu vou explicar-te tudo! Mas agora vai jantar, mais tarde eu explico tudo o que quiseres... -Afasta-se dela
Ela estava atordoada com tudo aquilo, mas fez o que ele mandou. Foi até à varanda e sentou-se de frente para a sua pizza, ele vem logo atrás com a garrafa de vinho que ela tinha aberto, um copo para ele e o copo que ela deixara na cozinha.
Não houve mais conversa enquanto ela comia. Ele observava cada movimento dela e ela limitava-se a comer a pizza.