Ficaram ali pelo menos meia hora. Os dois calados. Ela comia e ele observava tudo o que ela fazia. Ela tinha tantas perguntas sobre o que se estava a passar, mas com medo das respostas que teria, nem se atreveu a abrir a boca.
Acabou o seu jantar e levantou-se para colocar tudo na cozinha, depois de estar tudo em cima da bancada girou sobre os pés de volta à varanda, mas foi impedida por um corpo gigante e cheio de músculos.
Não olhes para cima. Não olhes para cima! Ela repetia mentalmente enquanto encarava as mãos dele, que por sinal eram enormes e ela começou a imaginar coisas que nem devia estar a imaginar. Não na situação em que se encontrava.
-Jasmine -ele chamou-a baixo e o corpo dela estremeceu com a sensação do seu nome na boca dele -Tenho muita coisa para te contar, e preciso que confies em mim -Ela não sabia porque razão devia confiar nele, mas ao mesmo tempo sabia que podia confiar em tudo o que ele dissesse ou fizesse
Ela subiu o olhar de encontro ao dele. Meu Deus! Que homem é este? Porque tinha que ser tão irresistível?
Ela tentava não pensar nesse tipo de coisas, mas era inevitável. Com um homem daqueles à sua frente, tão próximo, ela só tinha vontade de se aproximar cada vez mais dele e de lhe tocar. Mas não o fez, apesar de sentir que podia confiar nele, também tinha a perfeita noção de que não o conhecia de lugar nenhum e por isso era sempre melhor ficar com um pé atrás.
E podemos confessar uma coisa?
Zyan estava na mesma situação que ela. Sentia-se atraído, queria pegar nela e beijá-la. Queria sentir o sabor daquela mulher ali à sua frente, mas conteve-se. Ela era filha do seu falec*do melhor amigo e a função que ele tinha que desempenhar era protegê-la, e não levá-la para a cama.
Ele viu Jas fechar e abrir os olhos, viu no fundo dos olhos dela que também estava a conter o desejo que sentia, e por um lado sentiu-se bem pelo efeito que tinha sobre ela. Gostava de saber que ela não lhe era indiferente. Olhou no fundo dos olhos verdes esmeralda dela e respirou fundo. Tinha que se controlar.
-Tenho muita coisa para te contar... -ele começou baixo afastando-se dela -O teu pai... -Sentou-se no sofá e parou de falar, nem sabia como dizer o que tinha para dizer
-O meu pai m*rreu quando eu era pequena, junto com a minha mãe. Num acidente de carro -Ela continuou a frase onde ele tinha parado
-Não Jasmine, é por isso que eu estou aqui. O teu pai esteve vivo até à poucos dias -ele fixou os olhos nela, para saber como ela iria reagir -Só a tua mãe é que partiu no acidente
-Não é possível! Havia dois corpos, e a identificação do meu pai... e se ele esteve vivo durante todos estes anos, porque não me procurou? -Ela pergunta sem entender onde ele queria chegar com aquela conversa
-Sei que vai ser difícil de entenderes tudo o que te vou explicar, mas tudo o que o teu pai fez todos estes anos, foi para o teu bem -Sim, não seria uma conversa fácil
-Se é como dizes, e se ele realmente quisesse o meu bem... ele teria aparecido e não me teria deixado viver num orfanato durante anos, e muito menos me teria deixado crescer com uma família que não me amava o suficiente -As lágrimas já corriam pelo seu rosto
Ele levantou-se do sofá e foi na sua direção, chegou perto dela e abraçou-a. Não sabia o porquê desta reação mas pouco se importava naquele momento. Tudo o que ele queria era protegê-la e livrá-la do sofrimento.
-Só te posso dizer que ele esteve presente. Mesmo longe ele fazia questão de te observar e ver tudo o que tu fazias de bom. Só que é mais complicado do que pensas -Aperta-a mais no seu abraço e ela aconchega-se
-Então explica-me por favor -Ela pede num sussurro
-Nós não somos pessoas normais Jasmine, há muita coisa que não sabes sobre o nosso mundo, muita coisa que vais achar que é mentira quando eu te contar
-Depois da falsa m*rte do meu pai, acho que mais nada me surpreende -Fala confiante e ainda dentro do abraço dele, sobe a cabeça para o olhar
Estavam perto demais, Zyan sentia a respiração suave e quente dela chegar ao seu pescoço. Tinha que se controlar. Tinha que contar logo de uma vez que tanto ele como o pai dela eram vampiros. Tinha que cortar aquele clima que estava ali entre eles.
-Eu sou um vampiro, e o teu pai... -Ele fala sério e ela ri
Jasmine afasta-se dele sem acreditar na mentira que ele tinha acabado de inventar. Era quase impossível o que estava a acontecer. Na varanda dela tinha aparecido um homem incrivelmente irresistível, tinha amolecido o coração dela falando sobre a suposta m*rte recente do seu pai, tinha-a deixado sentir-se atraída por ele, para agora contar uma mentira daquele tamanho.
-A sério? A sério que vens até à minha casa para me contares uma mentira dessas? -anda de um lado para o outro na sala -Eu não acredito que eu estava a cair na tua conversa, não acredito que estava a acreditar que realmente conhecias o meu pai... Por favor, sai da minha casa! -dirige-se até à porta e abre-a com raiva, mas ele continuava no mesmo lugar de antes -Sai! -Ela grita
Ele não se move do mesmo lugar. E como é que ela conseguiria mete-lo para fora da sua casa se ele tinha o dobro do seu tamanho? Iria ser uma missão impossível, por isso nem se atreveu a tentar.
-Jasmine calma, ouve o que eu te tenho para dizer... -ele fala baixo mas alto o suficiente para que ela oiça -Posso-te provar que o que eu te digo é verdade, posso mostrar-te
Ela não queria acreditar em nada do que ele dizia, não queria acreditar que toda a sua vida tinha sido uma mentira. Não, não podia ser... Aquilo não era real, não tinha como ser.
Ele levantou-se e foi até ela, fechou a porta e puxou-a para se sentar no sofá ao lado dele. Ela olhava para ele assustada, enervada. Mas por um lado também queria ver até onde ele iria levar aquela mentira.
-Então... como conheceste o meu pai? -Ela atreveu-se a perguntar-lhe
-O teu pai era o mesmo que eu, e acima de tudo era o meu melhor amigo! -Zyan fala confiante, mas Jas sentia dor na sua voz
Talvez fosse verdade o que ele lhe dizia, ou seria uma pessoa capaz de inventar uma mentira daquelas? Uma mentira tão absurda, será que aquele homem ali em frente a Jasmine era capaz de lhe mentir assim? De se dar ao trabalho de inventar uma mentira daquelas?
-Como posso acreditar em ti? -ele abriu a boca e mostrou o caninos afiados -Não pode ser... isso não pode ser de verdade -Fala com os olhos fixos na boca de Zyan
-Podes tocar-lhes se isso servir para te mostrar que são verdadeiros
Ela assim fez, com um pouco de receio levantou a mão e passou os dedos por os dentes dele. Se eram uma falsificação, estavam muito bem feitos. A pele dela arrepiou-se quando teve a certeza que afinal ele podia mesmo ser o que dizia. Ele fechou a boca com a ponta do dedo dela ainda na mesma e ela teve que se afastar. Não queria sentir desejo por ele, mas era o que sentia.