Manuella tem me dado muita força, chorei muito quando estava colocando aquela lingerie curta, borrei toda a maquiagem, mas ela teve toda a paciência de refazer.
A roupa é extremamente curta e chamativa, sei que a intenção desse lugar é que eu me destaque, mas estou morrendo de vergonha.
— Fica calma, você só vai dançar — Manu tenta me acalmar.
— Estou com medo, estou com vergonha de usar isso aqui também.
— Vergonha do que mulher? Você é linda! Agora pare de chorar, se continuar assim não vai ter maquiagem que aguente.
Ela termina de me ajeitar e uma menina vem avisar que está na hora, ela me olha da cabeça aos pés com uma cara de nojo, me sinto totalmente desconfortável na presença dela.
— Essa é a garota nova? — Pergunta em tom debochado, mastigando um chiclete de uma forma super nojenta.
— Ela mesma Hilary — Manu não dá muita atenção para ela.
— Coitada, parece uma criança — Diz rindo.
— Você acha? Eu achei ela linda, os homens aqui vão ficar babando nela, deixa de ser invejosa — Manu revida e as duas ficam se encarando.
Fico até com medo de sair uma briga entre as duas.
— Ainda bem que o homem mais importante desse lugar só tem olhos para mim — Responde ríspida e sai do quarto.
— Iludida — Manu fala comigo.
— Quem é o homem mais importante? — Pergunto por curiosidade.
— O capo — Olho confusa — Aquele que te falei lembra, que manda em tudo e todos por aqui?
— Ah sim — Fico arrepiada só de ouvir ela mencionar esse homem.
— Ele tem ficado com ela nos últimos meses e ela já está se achando a primeira dama — Manu diz rindo.
— Acho que ela não gostou de mim.
— Liga não, ela é super invejosa, é só você se manter afastada.
— Estou nervosa, não sei se vou conseguir dançar — Meu corpo está todo tremendo.
— Você precisa conseguir, tudo bem?
— Vou tentar.
— Você tem que conseguir, só tentar não é o suficiente, você é forte, tenho certeza que vai se sair muito bem, você precisa conseguir fazer isso para sobreviver.
— Obrigada Manu! — Abraço ela bem apertado e ela fica sem jeito, mas retribui o abraço.
— Me agradeça dançando lindamente naquele palco.
— Eu posso fazer isso, não posso — Digo mais confiante.
— Pode sim, agora vamos.
Ela caminha comigo até a subida do palco e vejo as luzes se apagarem.
— Hora do show — Me avisa.
— Manu, não vou conseguir — Sinto minhas pernas travarem.
— Vai sim — Ela segura meu rosto — Você precisa disso para ficar bem, tá me ouvindo? Mark não vai aceitar se você não for dançar, ele vai te entregar para o primeiro escroto que oferecer uma miséria de dinheiro por você. Você precisa fazer isso Ant, é para o seu próprio bem.
— Vamos, está na hora — Mark aparece avisando e Manu me olha em súplica.
Respiro fundo e subo no palco. Olho para aquele monte de homem que neste momento estão me comendo com os olhos. Que nojo!
A música começa a tocar, respiro fundo, fecho meus olhos e me deixo levar pelo som da música. Imagino que estou em outro lugar, dançando para ensinar meus alunos.
Quando a música termina, escuto aplausos e assobios. Desço rapidamente do palco e Manu está me esperando.
— Garota, que show foi esse? Maravilhoso! Você precisa me ensinar.
— Foi bom mesmo?
— A melhor dança que eu já vi, acredite em mim.
— Obrigada — Abro um sorriso tímido em agradecimento.
Daria tudo para ter conhecido ela em outra oportunidade.
— Mark está vindo, corre e vai para o quarto, seu show já acabou — Ela me entrega um roupão que eu coloco e faço o que ela pediu.
Ando apressadamente até o corredor e acabo me perdendo. Para qual lado era nosso quarto mesmo? Esse lugar é enorme.
Escuto um barulho e olho para trás, não vejo nada e ando mais depressa ainda, esqueço de olhar para frente e acabo esbarrando em alguém com um peito muito duro. Quase caí no chão com tudo, mas braços fortes me seguraram.
— Deveria olhar para onde anda ragazza — Escuto a voz rouca e sinto um arrepio percorrer minha espinha.
— Des-desculpa — Olho para o dono da voz e me surpreendo.
É um homem moreno, musculoso e muito, muito bonito, nunca vi nada igual. Observo mais um pouco e vejo que ele usa muleta, me preocupo em tê-lo machucado com o impactado.
— Eu te machuquei?
— Não — Responde apenas isso e eu encaro seus olhos.
Não sei o que esses olhos tem que me prendem, mas não consigo desviar.
— O senhor poderia me soltar? É que preciso ir para o meu quarto — Peço com gentileza ao me lembrar que se Mark me pegar aqui, estou ferrada.
— Na verdade não, eu não posso te soltar — Ele me olha fixamente e eu começo a ficar com medo.
Abro a boca repetida vezes, mas não consigo emitir nenhum som, acho que fiquei surpresa demais com essa resposta inesperada.
— Ah você está aí, vejo que já conheceu o senhor Parker — Mark aparece com Manu ao seu lado. A cara dela não é muito boa e meu medo fica ainda maior.
— Acabou que nos esbarramos — O homem que descobri que se chama senhor Parker fala.
— Ótimo, então podem ficar à vontade. Você vai usar algum quarto daqui ou levará ela?
— O que? Como assim? Me levar, para onde? — Pergunto e Mark faz uma cara feia para mim.
Não estou nem aí, quero saber para onde eu vou e por qual motivo esse homem me levaria, Mark disse que não me entregaria para ninguém, não por agora.
— Irei levá-la, depois eu a trago de volta — O homem avisa.
Fico sem entender nada e olho desesperada para Manu, ela mexe a boca e consigo ver que ela fala "desculpas, não pude fazer nada". E agora eu entendi o que está acontecendo. Meu Deus, não é possível. Meu coração acelera e eu começo a me desesperar.
— Acompanhe o senhor Parker, Antonella — Mark ordena e se aproxima de mim — Se comporte, não faça nada errado e obedeça a tudo que ele falar. Ele é o capo de Nápoles e manda em todos nós, qualquer coisa de errado que fizer, está morta, entendeu? — Diz baixinho em meu ouvido.
Meus olhos lacrimejam e olho desesperada para o homem à minha frente.
— Vamos — Ordena, mas não consigo sair do lugar.
Ao ver que não me movo por vontade própria, ele segura meu braço com força e me arrasta para fora daquele lugar.
Quando chegamos em frente ao carro, um homem desce para abrir a porta para mim. Minhas pernas travam, não consigo me mover, não quero me mover. Estou apavorada!
— Entra logo — Fala com ignorância.
— Moço, por favor — Suplico em meio às lágrimas.
— Entra logo — Ele fala mais nervoso ainda e eu fico com medo.
Entro no carro e fico cabisbaixa. Ele entra e se senta ao meu lado, o outro rapaz dirige o carro. Fazemos todo o trajeto em silêncio, até porque eu acredito que não tenha nada para ser dito.
Dúvido muito que ele queira ao menos saber meu nome ou alguma coisa a respeito da minha vida.
Peço para que o universo me ajude, eu não tenho outra saída, mas não quero que isso aconteça comigo.