Estava andando de um lado para o outro na minha sala. Dora havia me mandado um e-mail à alguns minutos com o contato da Emily, cheguei a pensar que ela tinha dito aquilo da boca para fora, que era só uma forma dela me manipular pra conseguir o que queria. Eu estava errada! Torci para algum lugar ter me chamado para entrevistas, mas nada. Tudo que havia na minha caixa de mensagens, era o maldito e-mail da Dora.
Ouvi meu celular tocando e com muito custo o peguei. Era Jen, minha melhor amiga.
- Oi. - eu disse sem ânimo.
- Adivinha quem está indo para Los Angeles? - ela disse alto e animada.
Jen tinha se mudado daqui à alguns anos, seu sonho sempre foi fazer faculdade em New York, e ela o realizou com êxito. Acabou gostando tanto de lá que se mudou definitivamente, ela sempre dizia que lá era o ponto de oportunidades, ela saiu da faculdade empregada e tinha uma vida estável e independente. A invejava um pouco por isso.
- A melhor amiga do mundo? - perguntei já sabendo a resposta.
- Sim, a melhor amiga do mundo! Meu voo sai às 11h00. Me busca no aeroporto?
Suspirei, não teria gasolina o suficiente para a semana se fosse a buscar. Tudo estava meio que contado por aqui.
- Jen, estou com pouca gasolina. - fui sincera.
- Não se preocupe! Eu encho o tanque. - ela suspirou. - Ainda desempregada?
- Sim, até apareceu algo, mas…- eu mesma me interrompi.
- Mas o quê? Oportunidades a gente agarra, amiga.
- Não é um emprego bom, não é o que eu quero fazer.
- Lucy, você não tem muitas escolhas. Se não aceitar o emprego vai ter que pedir grana pros seus pais, é isso o que quer?
- Você sabe que não.
- Pensa nisso então. Você não precisa ficar nesse emprego pro resto da vida, só precisa por um tempo, depois vai atrás de outra coisa.
- É, você está certa!
- Vou terminar de arrumar tudo aqui, quando eu chegar ai conversamos mais sobre isso.
Me joguei no sofá, e passei as mãos pelo rosto. Eu definitivamente não sabia o que fazer. Fechei os meus olhos por um momento e suspirei. Acabei cochilando.
(...)
Acordei no susto com o toque do meu celular. Ah, meu Deus! A Jen. Levantei num pulo, pegando meu celular na mesinha de centro, não me surpreendendo ao ver o nome da minha melhor amiga piscando na tela. Atendi o colocando no ouvido, já me preparando para o surto.
- LUCY SCOTT! Me diz que já está nessa merda de aeroporto e fui eu que não te achei.
- Eu estou chegando! – peguei a chave e minha bolsa, saindo do apartamento as pressas.
- Você dormiu! Não acredito nisso. – ela me conhecia muito bem.
- Estava exausta. – suspirei.
- Chegue logo. Me sinto deslocada em aeroportos.
- Ok.
Finalizei a ligação, apertando rapidamente o botão da garagem no elevador. Ele demorou um pouco pra chegar, quando estamos atrasadas tudo parece colaborar para nos atrasarmos mais.
Assim que as portas se abriram, eu sai rapidamente, quase atropelando um cara que estava prestes a entrar, me desculpei, mas ouvi um xingamento como resposta. Destravei o carro e entrei nele, saindo dali depressa.
Aeroportos são sempre lotados, carros parando e já saindo, pessoas de um lado para o outro. Se existem lugares que eu não suporto muito, aeroportos com certeza estão no topo da minha lista.
Estacionei o carro na área permitida, não precisava de uma multa a essa altura do campeonato. E entrei no aeroporto a procura da minha melhor amiga. Mandei uma mensagem pra ela, perguntando a onde ela estava, e como o esperado ela estava comendo. Fui até o local indicado e a encontrei pagando a conta. Jen não havia mudado muito, continuava muito bem arrumada. Ela sempre gostou muito de moda, vivia dizendo que nasceu para trabalhar com isso. Ela era meu oposto, enquanto ela sempre se preocupou com a aparência eu tinha preocupações como, que matéria irei estudar hoje? Não é atoa que ela é a amiga bonita.
Ela estava muito bem vestida, com o seu cabelo perfeitamente arrumado, sem nenhum fio fora do lugar. Enquanto sua pele estava carregada de maquiagem, mas era sutil, só quem já tinha a visto sem maquiagem saberia que ela estava usando. Esbanjando elegância em seus 1,75m de altura. Ela sempre teve essa capacidade de estar sempre perfeitamente arrumada, como se estivesse acabado de sair de uma capa de revista. E ela conseguia isso praticamente nas 24 horas do dia, o que era um pouco assustador.
Pude ver seus olhos castanhos me encararem por cima do óculos de sol, ela tinha acabado de notar a minha presença ali. Seu sorriso se abriu um pouco, e ela andou na minha direção. Carregando consigo suas duas malas, que eram quase do seu tamanho, o que era estranho já que ela era consideravelmente alta. Não sei a onde ela estava indo com tanta coisa.
Não tive tempo de pensar muito já que a minha adorável amiga me atingiu com o seu forte abraço, e foi nesse momento que me dei conta da falta que ela fazia por aqui.
- Não acredito que você quase me esqueceu. – foi a primeira coisa que ela me disse.
- Eu estava esperando mais por um: - Senti a sua falta! Nossa como está linda! – eu disse tentando imitar o tom da sua voz.
- Eu não falo assim. – ela apontou o dedo indicador na minha cara e sorriu. – E é óbvio que senti a sua falta e que você está linda. Aliás, está se vestindo bem melhor desde a última vez que te vi. Sem moletons dessa vez. – ela me analisou e voltou os seus olhos nos meus.
- Você fala como se eu me vestisse m*l. O que tem contra os meus moletons? – revirei os olhos.
- Você sabe que se vestia, mas isso é passado. Não tenho nada contra eles, mas usar até pra ir em encontros? É demais, não acha?
- Jen! – eu disse a olhando feio.
Ela sabia o quanto eu odiava quando ela me lembrava disso. Quer dizer, eu fui a apenas dois encontros de moletom, e foi com o meu namoradinho da época. O que tem demais nisso? Aposto que todo mundo já deu uma dessa. Desde então, Jen me dizia que eu me vestia m*l. Eu sempre defendi a ideia de que temos que nos vestir com aquilo que nos sentimos confortáveis, mesmo que pareça brega para outras pessoas. - Isso foi por ter me esquecido aqui! – ela mostrou a língua.
- Tínhamos feito uma promessa que não tocaríamos mais nesse assunto. – assunto moletons, no caso.
- Eu sei. Eu sei. – ela ergueu as mãos, se rendendo.
- E desculpa por ter dormido. Eu estava exausta.
- Tudo bem. – pausa - Acho que desacostumei com o clima de Los Angeles.
- É, reparei. – olhei para o look completamente de inverno que ela usava.
Não demoramos muito para sair do aeroporto, e o caminho até o meu apartamento foi tranquilo. Jen passou o caminho inteiro tagarelando sobre como a sua vida estava corrida nos últimos tempos, na verdade sempre foi, ela que não havia se dado conta ainda. A ajudei com as malas, e assim que pisamos no apartamento ela tirou os saltos e se jogou no sofá.
- Nossa, preciso descansar. – ela suspirou.
- Viagens são cansativas. – comentei, jogando as chaves num pequeno pote que eu deixava perto da porta.
- Nem me fala. – ela tirou os óculos e massageou as pálpebras.
E pela primeira vez no dia eu pude ver completamente o rosto da minha amiga, e me assustei com o tamanho de suas olheiras.
- Jen, e essas olheiras?
Não precisava conhecer muito ela para saber o cuidado que ela tinha em manter o sono em dia para evitar que olheiras aparecessem.
- Estão escuras, né? – ela passou a mão por cima delas e suspirou. – Mas é por uma boa causa. – ela sorriu abertamente.
- Nunca pensei que ouviria Jeniffer Dowson dizer “olheiras” e “boa causa” em uma frase só.
- Também nunca imaginei, mas nesse caso faz sentido. – ela bateu no lugar ao seu lado no sofá, indicando que eu me sentasse ali.
Me sentei a olhei atentamente.
- Pode dizer.
- Você sabe que estou trabalhando em uma grife bastante conhecida em Nova York desde que me formei.
Assenti, esperando que ela prosseguisse.
Sabia também que ela odiava aquele emprego. Jen sempre sonhou grande, ela queria mesmo era abrir a própria grife e ter sua marca. Outra diferença em nós duas, ela sonha.
- Então, e eu gosto de trabalhar lá. – não, ela não gosta.
Fiz uma careta.
- Jen.
- Ok, eu odeio aquele lugar! – ela bufou. – Odeio aquela velha que se acha muito esperta, mas não sabe merda nenhuma! – ela passou as mãos pelos os cabelos.
A “velha” era a sua chefe, que no caso a Jen nunca se deu bem. De acordo com ela, a chefe a perseguia e não aceitava a sua divina criatividade e autenticidade. E eu sabia que isso era um tremendo exagero, conheço muito bem a minha melhor amiga, a ponto de saber que ela gosta de mandar em todos os lugares onde frequenta, e que não aceita de forma alguma que a contrariem, sempre soube que isso seria um problema no momento em que ela entrasse na vida profissional. Vejamos, eu estava certa!
- Jen, eu ainda acho que você pega pesado.
Sua resposta foi uma revirada de olhos.
- Acredite em mim, eu não estou pegando pesado. No início até era uma implicância minha, mas ultimamente vejo que estava certa.
- Apesar de estar muito interessada em saber o que a sua chefe c***l anda te fazendo, não creio que o assunto seja realmente esse.
- E realmente, não é. Nos últimos meses eu andei pesquisando algumas opções para abrir a minha própria grife. – seu tom animado era nítido. – E bom, encontrei uma forma.
- Que seria...?
- Um empréstimo. – ela disse batendo palminhas.
Não sei qual era o meu olhar ao certo, mas sei o que estava se passando pela minha cabeça. A minha amiga endoidou!
- Não me olhe como se a ideia fosse péssima. – ela disse desapontada.
- Mas a ideia é péssima, Jen! Digo, você quer mesmo começar o seu próprio negócio com dividas? E se não der certo, como vai fazer?
- Primeiro, não existe a possibilidade de não dar certo. – seu olhar estava me repreendendo. – O que conversamos sobre essa sua negatividade? – ela gesticulou com as mãos.
- Que não me ajuda em nada, e que preciso ser mais positiva. – tédio, era isso que eu estava sentindo ao me lembrar dela me dizendo isso.
- Ótimo que lembre, só falta colocar em prática.
Não pude evitar de revirar os olhos. Eu me sentia como uma filha sendo corrigida pela mãe.
- E segundo, eu sou realmente boa no que faço, Lucy. Não posso desperdiçar meu tempo e meu talento em um serviço que não me agrega em nada. Quer dizer, tive ensinamentos importantes, e amadureci muito. Mas não quero ficar acomodada nisso, a vida é feita de riscos. E eu preciso me arriscar pelos os meus sonhos, o que de tão r**m pode acontecer?
As vezes eu me pergunto o motivo de sermos tão amigas. Jen é o meu oposto, e falo de modo literal. Ela sempre correu atrás dos seus sonhos e do que acreditava, não importava no que isso resultaria. Quando ela diz que não existe a possibilidade de dar errado ela fala muito serio, Jen não pensa muito. Se ela tem 1% de chance de fazer algo que dê certo, ela faz. Ela é o otimismo puro. Talvez isso seja o que eu mais admire nela. Porque diferente da minha melhor amiga, eu não arrisco. Eu não sonho alto. Deve ser exatamente por isso que fracassei tanto.
- Você está certa. Me desculpe! – passei as mãos pelo o meu rosto. – Você sabe, eu sou muito razão. E já pensei logo de cara no quanto isso podia dar errado, que nem me dei conta que você tem talento, capacidade e perseverança pra conseguir ir longe.
Seus olhos ganharam um brilho a mais. Ela estava feliz, feliz de verdade.
- Eu preciso fazer isso por mim, sabe? Pode parecer loucura, e é mesmo. Mas e dai? Eu estudar parecia loucura também e eu conclui uma faculdade.
Jen odiava estudar.
- Também né, estudava sobre um assunto que gostava. – falei isso só para implicar, sabia bem que as coisas não eram bem assim.
- Ah, claro. Eu amei ter que fazer um trabalho de várias páginas sobre a composição dos tecidos.
Eu gargalhei.
- Vai ser útil.
- Eu espero. Se eu tiver perdido meu fim de semana atoa, juro que vou atrás daquele professor.
Era incrível como ela podia se irritar com algo desse tipo. O trabalho em questão tinha sido feito em seu primeiro semestre do curso. Anos se passaram, ela já estava formada e ainda se irritava. Jen é única!
- Do jeito que você fala parece que perdeu o fim de semana passado. – eu ri. – Relaxa, Jen. Você se formou, isso que importa.
- Falando em fim de semana passado. – ela abriu um sorriso malicioso.
- Não quero saber dos seus lances. – dei um leve tapa em sua perna.
- E quem disse que é um lance? Estou pensando em levar esse a sério.
- Você disse isso dos outros 30.
Ela colocou a mão sobre o peito e me olhou perplexa.
- Não ouse dizer isso, Lucy. Foram 40, para ser mais exata! – ela começou a olhar para as próprias unhas.
Eu disparei a rir.
- É sério?
- Se estamos falando de números, temos que ser especificas.
- O que te leva a pensar que com esse vai ser diferente?
- Talvez o fato dele ser um gostoso, lindo e bom de cama. – ela suspirou.
- Os outros também eram, Jen. Não tem uma coisa que seja realmente real?
- Como o quê?
- Sei lá, ele ser educado, talvez?
- Ah, Lucy. Sério? Eu estava ocupada demais pensando em como o sexo era bom, acha mesmo que me preocupei em saber essas coisas.
Como eu disse, opostos.
- É, com ele não vai ser diferente. – concluí o óbvio.
- Claro que vai.
- Qual o nome dele, Jen?
Ela parou para pensar.
- Era algo com G. – sua feição mudou para pensativa.
Suspirei e abri um sorriso. Ela não sabia, a conhecendo diria que ela nem se interessou em perguntar.
- Confessa que não sabe.
Ela estava se esforçando para lembrar.
- É, eu não sei. – ela desistiu. – Mas me diz, e o tal emprego? Por que você não quer aceitar?
Achei que ela não lembraria desse assunto, e era o que eu preferia.
- É em uma revista conhecida.
- Nome?
- People.
Sei lá, esperava por um sorriso ou um “Não acredito!” . Mas o que realmente veio me surpreendeu, Jen teve um pequeno surto. Ela começou a gritar feito maluca. Tampei a sua boca quando vi que isso estava indo longe demais, não queria incomodar nenhum dos vizinhos. Que por sinal, não iam nem um pouco com a minha cara. Não pagar o aluguel vira assunto no prédio, e isso só me faz questionar o quão desocupados eles são.
- Como assim você recebeu uma proposta da People e está pensando na possibilidade de aceitar? É a PEOPLE! A maior revista de todos os tempos. – minha melhor amiga estava eufórica. Ela deve gastar bastante dinheiro com essa revista.
- Eu sei quem eles são. Só quero que me deixe terminar – ela se acalmou e me olhou. – A editora chefe de lá me quer como uma espécie de paparazzi. – desapontamento, era exatamente o que o tom da minha voz dedurava.
Jen riu.
- Como assim paparazzi, Lucy? A People não é uma revista de fofocas.
- Eu sei disso. E é por isso que querem me contratar, para obterem isso. De acordo com ela, é isso que vende.
- Não deixa de ser verdade. – ela disse pensativa. – Eu ia gostar ainda mais de ler se tivesse umas fofocas. – Jen disse animada. – Ainda não entendi qual é o problema.
- Paparazzi, Jen. Sério? Me formei em jornalismo para ser paparazzi?
- Tá, e o que tem? É um começo.
- É um desastre, isso sim. – bufei.
- Pra quem não tem nada é ótimo. Você vai trabalhar para a People!! E dai que vai ter que ficar perseguindo alguns famosos? Pelo menos você vai ter um emprego e vai conseguir pagar suas contas. – ela dizia como se fosse tudo tão simples.
- Não é tão simples assim.
- Ah, não? Então me diz qual é o plano B?
A olhei sem entender.
- Não tem plano B.
- Ótimo, então você vai aceitar esse emprego. Assunto encerrado.
- Eu não quero ser uma paparazzi.
- E eu não queria trabalhar para os outros, e veja só, tive que fazer. Você não tem escolhas, Lucy. É o serviço, ou ser enxotada daqui e ter que voltar a morar com os pais. E ai, qual vai ser?
Peguei uma almofada e coloquei no rosto. Ahhhh, eu odiava isso!
- Odeio o fato de você estar certa. – eu disse abafado, por conta da almofada.
Ela puxou a almofada do meu rosto.
- Talvez nem seja tão r**m assim, você pode se divertir.
- Eu espero que sim.
(...)
Jen estava decidida a passar o máximo de tempo possível comigo, mas eu sabia bem que ela só queria ter a certeza que eu seguiria seus conselhos e aceitaria o emprego de uma vez. Confesso que ainda não me sentia confortável com a ideia de ser uma paparazzi, mas minha amiga tinha razão quando disse que eu não tinha escolhas. Era isso ou retroceder algumas casas. E sei lá, não precisa ser algo definitivo. Pode ser só por uns meses, até eu encontrar uma outra coisa.
Eu estava olhando para o notebook a minha frente fazia um tempo, analisava o e-mail de Dora, talvez só quisesse adiar o inevitável. Esperava o meu macarrão instantâneo ficar pronto, enquanto Jen tomava seu banho. Gostaria muito de poder oferecer algo melhor para ela comer, mas ultimamente eu estava economizando no que podia, e isso significava comer apenas macarrão em toda a refeição possível. Estava enjoada. Mas me sentia grata por ainda ter o que comer, poderia ser muito pior.
- E ai, o macarrão está pronto? - Jen perguntou dando as caras. Ela foi até a panela e a abriu. Fazendo uma cara um tanto engraçada.
- Você deveria ter me avisado que só tinha isso. Eu teria comprado algo de diferente. – ela disse se apoiando no balcão a minha frente.
- E é por isso que eu não disse. – meus olhos ainda estavam atentos ao notebook a minha frente.
- Você precisa parar de ser tão orgulhosa.
Neguei com a cabeça, não era orgulho. Longe disso. Eu só gostava de ser independente e arcar com minhas responsabilidades, não queria dar trabalho a ninguém. Uma batida na porta me fez desviar o olhar do notebook e olhar para a porta de imediato, com Jen não foi diferente. Me levantei e fui atender, esqueci de olhar no olho mágico, um erro grave.
Meus olhos pousaram sobre o velho razinza parado em frente a minha porta. Mas conhecido como Sr Rodriguez, meu sindico. Estava surpresa em vê-lo ali, me lembrava bem de ter pedido alguns dias a ele, e só passou um.
- Boa noite, senhorita Scott. – ele estava visivelmente cansado. Seus olhos por trás do óculos de grau estavam avermelhados.
- Boa noite. – tentei abrir um sorriso simpático, mas tudo o que consegui foi um sorriso de lado.
- Apareceu uma pessoa interessada em morar nesse prédio e como deve saber não existe nenhum apartamento vago. – tinha medo de saber a onde ele queria chegar. Apesar de já ter uma certa noção. – Como a senhorita anda tendo dificuldades em pagar os alugueis, ofereci o seu apartamento.
Surpresa. Era isso que eu estava sentindo. Meus olhos se arregalaram, encarei o velho a minha frente esperando por qualquer indicio de que ele estivesse mentindo, mas nada. Seu olhar cansado ainda estava sobre mim esperando por qualquer reação que fosse.
- Sr Rodriguez, achei que já estivéssemos conversados. Eu pedi para o sr uns dias e você aceitou de bom grado.
- Entenda, minha jovem. Estou te dando uns dias a mais de um mês, o que espera que eu faça? Que te deixe ficar aqui sem pagar sendo que posso ter um hóspede que pode pagar o aluguel em dia?
Meus ombros caíram, e eu senti um nó se formar em minha garganta. Não sabia o que dizer.
- Eu consegui um emprego. Eu vou conseguir pagar! – a minha afobação era notável.
Nem havia entrado em contato com a Emily ainda, mas minha vaga estava garantida. Pelo menos era o que ela me fez acreditar.
- Fico feliz, mas o que você espera? Que eu fique aguardando até receber seu primeiro salário?
Assenti para ele.
- Quanto ela deve? – a voz de Jen soou atrás de mim.
Os olhos do meu velho sindico se desviaram de mim, encarando a morena. Ele coçou a cabeça e suspirou, estava cansado desse assunto e provavelmente, de mim.
- Bom, são três alugueis. – ele parecia fazer o cálculo de cabeça. – Um pouco mais de mil dólares.
Me virei para olhar para Jen, eu sabia a onde ela queria chegar, e não estava gostando nada disso.
- Tudo bem. Te faço um cheque. – ela disse simples e deu de ombros.
Os olhos do Sr Rodriguez brilharam. E pude ver o quão aliviado ele estava naquele momento, expulsar alguém do prédio não era a sua maior vontade.
- Não precisa fazer isso. – disse baixo para Jen.
Ela me ignorou totalmente, enquanto pegava o seu talão na bolsa. Rapidamente ela assinou um cheque com o valor requerido, e o destacou do talão entregando na mão do meu sindico.
- Espero que isso cubra tudo que ela te deve. – Jen disse calmamente.
Ele olhou para o cheque em mãos e abriu um sorriso. Nem sabia que ele sabia sorrir.
- Sim. Cobre e ainda adianta o aluguel do próximo mês. – Sr Rodriguez disse animado. Ele me olhou. – Tenha uma excelente noite!
Dito isso ele saiu dali, se sentindo vitorioso por saber que eu não daria mais problemas, não pelo próximo mês.
- Você sabe que não precisava ter feito isso! – eu disse incomodada.
Bati a porta e cruzei os braços. Vendo Jen guardando o talão e me ignorando por completo.
- Realmente, eu iria deixar a minha melhor amiga ser despejada na minha frente. Sendo que eu poderia ajudá-la.
- Jen, isso não é problema seu.
- Claro que não é! – ela me olhou decepcionada. – Mas esse dinheiro não vai fazer falta alguma pra mim, Lucy.
Eu bufei. Eu sabia que Jen vivia muito bem e que seu estilo de vida era completamente diferente do meu. Suas roupas de grifes famosas me mostravam bem isso. Devia ser por isso que eu não ia visitá-la, me sentiria um lixo por ver as coisas que ela conquistou, e eu aqui, sem conseguir pagar um aluguel sozinha. Não que eu tenha inveja dela, ou algo do tipo. Fico feliz por todas as suas conquistas e melhor do que ninguém sei o quanto ela batalhou por tudo. Mas é decepcionante ver o tanto que as coisas estão ruins pro meu lado. Não consigo nem ir visitar os meus pais, por falta de grana.
- Eu sei que isso não faz nem cosquinha na sua conta bancária. Só não queria que gastasse grana com um problema meu!
- Voltamos ao assunto do orgulho. – ela estava entediada. – Você conseguiu um emprego, certo? Depois você me devolve essa grana, encare isso como um empréstimo.
Conhecia ela o suficiente para saber que ela não estava falando sério, só estava dizendo isso pra eu não me sentir impotente. Ela jamais aceitaria esse dinheiro de volta.
- Tudo bem. Vou te devolver cada centavo. – disse a olhando.
Ela apenas assentiu e foi até o fogão, desligando o fogo. Voltei para o notebook e peguei o número da Emily, discando em meu celular. Coloquei o telefone no ouvido. Espero que ela me atenda.
- Alô?
- Emily? É a Lucy..- pausa. - Lucy Scott.
- Sabia que ia me ligar. – ela estava sorrindo, certeza.
- Quando começo? – perguntei muito a contra gosto.
- Venha até a People amanhã que acertamos tudo!
- Ok.
- Até amanhã, querida.
Ela finalizou sem me dar a chance de responder. É, parece que agora eu sou oficialmente uma paparazzi, e não sei descrever o quanto isso me incomoda.