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1078 Words
Portuga Saí da boca cansadão. A única coisa que eu queria era deitar na minha cama e descansar. Tomei um banho demorado e comi uma parada. Eu não quis passar na casa da minha mãe para poder jantar hoje porque eu estava cheio de coisas para resolver, e eles ficam conversando muito. Quando eu vou ver, já são 3 horas da manhã e eles ainda estão acordados me contando as coisas. É só ir na casa da minha mãe que eu sou atualizado sobre todas as fofocas do morro. Bagulho doido, mano! A minha avó sabe mais notícias que a Globo. Deus me livre! No outro dia, eu falei que ela era fofoqueira e ela quis me bater, ficou boladona. Mas ela sabe de tudo mesmo, ela e as outras duas coroas que ficam no portão fazendo fofoca com ela. Eu me deitei e mandei a Alexia ligar o ar do quarto. Quando eu fechei meus olhos, o meu rádio começou a apitar. Eu respirei fundo e falei: Portuga: Deve ser muito importante para vocês estarem me acordando essa hora. - Aconteceu um bagulho aqui perto do abrigo, mano. Uma mina tá acusando um médico de ter tentado agarrar ela, e o doutor tá falando que a mina se ofereceu para ele e depois ficou cheia de graça, gritando. Eu sei que eles dois quase saíram na porrada e tu vai precisar resolver esse bagulho pessoalmente, senão a gente vai cobrar os dois porque eu tô ficando sem paciência já. Portuga: Não é possível! Eles não têm como brigar amanhã de manhã, não, irmão. - A mina ficou brava, tá maluco! Queria bater no velho, sei lá, mano. Ele não está me passando confiança. Sabe aquele tipo de velho que parece tarado? Ele faz esse tipo, só que eu não posso cobrar sem ter 100% porque eu fui pegar a ficha e ele é o diretor do postinho. Então tu vai ter que tomar a decisão, vai ter que ouvir a história dos dois para a gente descobrir quem a gente vai cobrar, tá ligado? A gente tem que saber quem tá falando a verdade. É um bagulho muito delicado. Portuga: Conta 10 que eu tô chegando aí. Me levantei boladão e coloquei a primeira roupa que eu vi no closet. Eu tô tentando me lembrar quem é o diretor do hospital porque se esse cara já tiver alguma queixa de algum outro paciente, eu vou acertar a cara dele e vai ser sem massagem. Essa história está muito m*l contada, mas também o Mucilon não me passou a visão direito. Ele só falou que tá sem paciência, como sempre, né? Esse sub que eu arrumei, p**a que pariu, tudo quer matar os outros. Ainda bem que ele me ligou antes de fazer alguma coisa com a mina ou com o velho. Já pensou se ele mata um deles do nada? Um dos dois tá errado e a gente tem que cobrar direitinho para o bagulho não virar bagunça. Até porque se um mentiroso sair vitorioso de um desenrolo, todo mundo vai achar que pode ficar mentindo para mim e eu não tenho nenhum pingo de paciência para esse tipo de gente. Peguei a minha Glock, subi na minha moto e fui em direção à boca. Quando eu cheguei lá, tava a maior discussão. Entrei e todos ficaram mudos, me encarando. Eu disse para a mina entrar primeiro, até porque a minha sala não é a casa da mãe Joana. Eu não ia aguentar os dois gritando aqui dentro, eu ia acabar dando um soco em alguém e eu não posso ficar resolvendo as coisas assim. Lyandra: Boa noite - ela falou tremendo e eu fiquei paralisado quando vi o quanto ela é bonita. Portuga: Senta aí, mina, e me passa a visão do que aconteceu. E eu posso saber por que a tua roupa está rasgada? Lyandra: Eu até pedi para trocar, mas o vapor não deixou. Ele disse que você tinha que me ver assim para você tentar entender o que aconteceu. Portuga: Passa a tua visão do que aconteceu. Lyandra: Eu sou moradora do abrigo. Ontem de madrugada, o meu filho acordou chorando e ele estava com muita febre. Eu levei ele no postinho e ele acabou ficando internado. Os médicos me falaram que ele está com dois tumores no fígado. Eu entrei na fila do SUS porque ele vai ter que operar. Eu fiquei desesperada e esse médico desgraçado me ofereceu dinheiro, falando que se eu transasse com ele, ele me dava o dinheiro que o meu filho precisava para a operação. Eu recusei e saí correndo. Eu acabei dormindo na cadeira e passei praticamente um dia inteiro dormindo porque eu já estava muitas noites sem dormir. Eu não confio nas pessoas do abrigo porque trocam muito, mas é a única casa que eu tenho no momento. Eu estava voltando para casa quando um carro me fechou. Quando eu vi, era ele. Ele me ofereceu dinheiro novamente e eu disse que não e saí andando. E foi aí que ele me agarrou e eu comecei a gritar. O pessoal do abrigo queria bater nele, mas quando os vapores se aproximaram, ele veio com uma história de que eu tinha me oferecido para ele. Eu nunca faria isso. Eu posso passar qualquer necessidade, mas nunca transaria com um homem, ainda mais do tipo que ele é, nojento, asqueroso, e acha que pode comprar todo mundo com dinheiro. Mas eu não estou à venda. Ele ameaçou meu filho, disse que ele podia ser morto dentro do hospital porque a situação dele é muito grave e o postinho é do SUS e qualquer coisa pode acontecer quando a criança está pelo SUS. Não deixe ele matar o meu filho, por favor! Eu não quero ser obrigada a t*****r com esse tipo de homem. Eu não tenho muita coisa, mas eu ainda tenho caráter e dignidade. Eu não sou uma garota de programa - ela falou e começou a chorar. Portuga: Fica calma, mina - eu falei, me levantando. Peguei água para ela e ela foi se acalmando. Eu fiquei encarando ela, ela é muito bonita. p**a que pariu! Se quisesse fazer dinheiro fácil, já estaria rica. Portuga: Eu vou resolver esse bagulho. Espera lá fora que eu tenho que trocar uma ideia com esse médico. Valeu, pode ficar suave que não vai acontecer nada com o teu filho. Eu tô te dando a minha palavra. Lyandra: Obrigada.
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