Lyandra
Acabei apagando na cadeira do hospital. Quando olhei meu celular, já eram mais de 23:00 da noite do dia seguinte. Eu não podia ficar com o meu bebê, então resolvi ir para o abrigo tentar ter uma noite de sono tranquila. Por mais que seja difícil, na verdade é impossível. Nenhuma mãe consegue dormir sabendo que seu filho está correndo risco de vida, mas eu vou ter que ser forte. Vou ter que pensar em uma solução rápida porque eu não quero ter que me vender para aquele velho nojento. Não é a primeira vez que eu recebo propostas desse tipo, mas eu nunca aceitei nenhuma. Estou dando o melhor para poder criar o meu filho e eu só não consegui um emprego ainda porque não tenho ninguém para ficar com ele, e ele ainda não tem idade para ir para a creche aqui do morro. Mas assim que eu conseguir matriculá-lo em alguma escola, eu vou trabalhar e vou conseguir a nossa casinha.
Saí do postinho e fui andando até o abrigo. Quando eu estava quase chegando, um carro me fechou.
José: E aí, pensou na minha proposta? - ele falou, abaixando o vidro do carro.
Lyandra: Qual parte você não entendeu: a do velho nojento ou a que eu digo não? Talvez você tenha problemas de audição, vai se tratar, seu doente.
José: Você é tão gostosa, mas é tão malcriada. É um pecado uma mulher que nem você, sozinha com o filho pequeno, está morrendo no hospital. Mas você sabe como é, né? Coisas horríveis podem acontecer com o seu filho enquanto ele estiver lá, ainda mais no local onde ele está, sem a supervisão de uma mãe ali 24 horas por dia. E pelo que eu soube, você não vai poder entrar enquanto ele estiver com a infecção. Estamos tentando diminuir, mas ele pode vir a óbito, principalmente se você não aprender a escutar. Antes de me chamar de velho nojento, eu só quero cuidar de você. Eu só quero dar oportunidade para o seu filho sobreviver. Então, eu não sei por que você está sendo tão ríspida comigo. Eu vou te dar dois dias para você pensar e, depois disso, eu não me responsabilizo pelo que possa acontecer com o seu filho no hospital. Sabe como é, né? Hospital público é uma bagunça, coisas horríveis acontecem lá dentro.
Lyandra: Nem se você fosse o último homem do mundo eu me relacionaria com você. E eu vou ficar de olho no meu filho. Se acontecer alguma coisa com ele, eu acabo com a sua raça, seu desgraçado - falei e saí andando.
E esse foi o meu maior erro, porque ele me agarrou por trás e me jogou na parede. Ele começou a rasgar minha roupa e eu comecei a gritar feito uma desesperada, enquanto tentava bater nele de alguma forma. Não demorou muito para o pessoal do abrigo sair para fora e alguns vapores também se aproximarem do local. Eles começaram a olhar para toda a situação, sem entender o que estava acontecendo, e o pessoal do abrigo queria bater no desgraçado, mas o vapor gritou:
- O que está acontecendo aqui?
José: Eu estava passando no meu carro, essa mulher me pediu ajuda financeira. Eu tentei dar, e aí, quando eu me aproximei dela, ela começou a gritar feito uma maluca e começou a rasgar as roupas dela. Eu tentei acalmar ela, mas não consegui.
Lyandra: Isso é mentira! Esse velho desgraçado está me perseguindo. Ele rasgou a minha roupa e tentou me agarrar. O meu filho está internado no postinho e ele disse que não sabia se meu filho iria sobreviver se eu não aceitasse sair com ele.
- Que papo é esse, coroa? Agora tu tá ameaçando criança aqui dentro do morro? Tu tá botando mulher contra a parede? Qual foi? Tá doidão? Tá perdendo a linha? Tu esqueceu quem manda aqui? Tá pensando que pode ficar oprimindo morador só porque tu é médico?
José: Você prefere acreditar nesse tipo de gente do que em mim? Tem certeza? Eu sou médico e trabalho aqui há muitos anos e nunca fiz nada com mulher nenhuma. Não tem por que eu começar na vez dessa indigente - ele fala, me encarando com raiva.
- Quer saber de um bagulho? Vamos desenrolar isso lá na boca. Vou levar esse assunto para o Portuga e ele vai decidir o que vai fazer, porque essa história tá muito m*l contada e um de vocês dois está mentindo. E como eu não posso sair cobrando vocês sem ter um desenrolo antes, a gente vai lá para o bagulho alto com o dono do morro.
José: Não tem necessidade. Eu acabei de sair do meu plantão e eu não acho que eu seja obrigado a passar por isso. Essa mulher está claramente mentindo e vocês vão me levar para conhecer o dono do morro por causa dela? Eu não posso aceitar que isso aconteça comigo. Eu aceitei trabalhar aqui para poder cuidar de pessoas necessitadas e é assim que vocês me agradecem?
- Mano, eu já falei que tu vai com a gente. Qual parte tu não entendeu? A mina tá te acusando de tentar agarrar ela e a gente vai ver qual foi. Quem tiver mentindo vai ser cobrado perante ao chefe, tá ligado? E eu não tô nem aí se tu é doutor, se tu tem diploma, se tu vem aqui para cuidar de fulano, ciclano ou beltrano. Eu tô te falando que tu vai desenrolar esse bagulho na boca. Quem não deve, não teme. Pô, bora logo.
Lyandra: Por favor, antes me deixe trocar de roupa. Tem vários homens aqui, como é que eu vou ficar andando com a minha roupa rasgada, com o meu sutiã aparecendo?
- Mina, joga um casaco por cima, porque o chefe tem que ter assim para a gente tentar averiguar o que aconteceu, tá ligado? Um de vocês dois está mentindo e vocês sabem que a cobrança desse bagulho é séria, né? No mínimo 50 madeiradas, isso se vocês pegarem o Portuga de bom humor, o que eu duvido muito, já que a gente vai ter que acordar ele.
José: Ela está com medo, ela claramente está mentindo e não quer ir até o seu chefe por causa disso. Você acha mesmo que eu agarraria esse tipo de mulher? Eu sou um homem casado, eu tenho filhos e eu respeito os meus pacientes, como eu respeito a minha família. Isso nunca aconteceria. Eu não tenho nenhuma reclamação no meu currículo e não iria começar por causa de uma favelada que me pediu dinheiro em troca de sexo - ele gritou e eu avancei nele feito um bicho, comecei a xingar e a bater nele, parecendo uma maluca, até que um dos vapores me segurou e disse que tinha acabado, que a gente ia para o desenrolo porque ele estava sem paciência e estava a ponto de matar nós dois ali mesmo.