Capítulo 3

1733 Words
Eu não me deixei levar pelas ameaças do meu pai, era claro que ele só estava enchendo o meu saco para eu ir fazer meia dúzia de boas ações. Eu acordei para ir. Eu não temia muito o meu pai, mas se tratando de boas ações, eu poderia atingir a minha única defensora: Minha mãe. - Para onde Sr. Dante? – disse Luke olhando para mim pelo espelho central do carro. - Não fode comigo, você sabe muito bem para onde temos que ir! – eu falei de mau humor. - Eu apenas pensei que não ia seguir as orientações do seu pai, você nunca segue mesmo! – disse ele debochando. A i********e com o meu motorista era muito maior do que eu gostaria, dei o direito de ele ser meu amigo e desde então não tive muita paz. - Eu tenho que seguir, se eu não seguir dessa vez minha mãe vai deixar a cadeira ser ocupada pelo Lorenzo, não vou ter chance nem de lutar! - Eu te disse... Segue as regras por um tempo, faz o que eles mandam e depois se rebela! Mas você é burro o suficiente para nunca me escutar, não é? - c*****o Luke, não esquece que eu ainda continua sendo o seu patrão! Me leva logo para a p***a da igreja... Assim já me livro dessa freira e começo a focar em alguma coisa de verdade. Ele gargalhou, assim como eu. Luke sabia da importância da minha posição, ele acompanhou tudo o que aconteceu, crescemos juntos dentro dos limites da propriedade. Eu cheguei na porta da igreja, a fachada era como todas as outras, porém um pouco mais suja e pobre. Dava para ver logo de cara o motivo pelo qual a beata precisava da minha ajuda. Eu bati três vezes na porta, impaciente o suficiente para derrubar aquela porcaria se demorassem um pouco mais. - Olá... – disse uma moça meio encurvada, com uma roupa típica de noviça, não me olhou nos olhos quando abriu a porta. - Olá, eu sou Dante Salvatore, eu vim aqui falar com... – olhei no papel rabiscado que estava em minhas mãos – Giulia? – eu disse entredentes Ela esticou a mão ainda sem olhar para mim direito – Olá, eu sou Giulia... me siga por favor Sr. Salvatore! – disse sem fazer mais rodeios. Ainda bem, eu estava totalmente sem paciência para melindres quaisquer que fossem. - E então noviça, qual o problema que eu tenho que resolver? Tenho um compromisso às dez! – eu disse com veemência e uma certa falta de educação. - Está assim tão ansioso para ir embora? – ela disse me olhando pela primeira vez desde que abriu aquela maldita porta velha. Dava para ver os olhos debochados dela para mim no momento em que fez aquela pergunta. Ela queria me irritar? Eu era a p***a do bote salva vidas daquela espelunca e ela quis me dar uma farpada? Que filha da p**a! - Eu tenho mais o que fazer do que ficar ajoelhado o dia todo pedindo ajuda a ricos e a Jesus! – eu disse olhando ainda dentro de seus olhos. - Acredito que você deva ir ao seu compromisso...Não se preocupe com os assuntos beneficentes, não acho que você vá entender alguma coisa além do seu próprio umbigo mesmo! Encerramos por aqui, boa tarde Sr. Salvatore! – ela disse estendendo a mão para se despedir de mim. Eu não conseguia acreditar que ela estava sendo tão petulante. - Ei você acha que está falando com quem? – eu estava incrédulo, como a beata torta que me atendeu se tornou do nada aquela figura arrogante e cheia de si que estava na minha frente? - Eu acho que estou falando com um playboy mimado que não faz nenhuma ideia do quanto as pessoas aqui estão sofrendo sem recursos, acho que você não se importa com o que eu vou falar, não faz diferença... Mesmo que o seu compromisso seja daqui a uma hora e meia você nem me deixou abrir a boca para falar sobre o que eu pretendo para ajudar essas crianças e não faço ideia do motivo pelo qual trocaram as visitas daquele moço gentil por alguém como você! – ela disse me encarando com os olhos mais verdes do mundo. Eu fiquei sem reação, não sabia se mandava aquela infeliz tomar no cu e saia andando ou se dava o meu braço a torcer e entregava o que ela queria: Atenção. Claro que eu sabia que se eu deixasse aquela beata falando sozinha e desse para ela um grande gesto de f**a-se eu estava fadado ao fracasso. Meu pai jamais perdoaria aquela situação, minha mãe não ficaria do meu lado e eu teria que aguentar o insuportável do Lorenzo na minha cadeira até eu finalmente criar coragem para matá-lo. Porra, aquela insuportável me colocou em uma sinuca de bico. Como eu poderia ficar ali se o meu orgulho estava enforcando cada músculo do meu corpo? - Algum problema Sr. Salvatore? Está com dificuldades de achar a saída? – ela disse em um tom mais debochado ainda. Eu estava sem palavras! Aquela mulher me deixou totalmente calado. A minha vontade mais sincera era apenas me vingar, mas isso custaria demais. - Olha... Giulia – eu disse respirando fundo – começamos com o pé errado... Eu... fui... - Rude? – ela complementou mais rápido do que eu gostaria. - Sim, eu fui rude! – eu falei ainda mais irritado – Mas não precisa ficar tripudiando em cima de mim! – me defendi – me fala logo qual a ajuda que você precisa... Assim economizamos tempo! Você claramente já me odeia e eu não vou dizer que sou exatamente um fã seu... Então vamos só evitar? - Você se importa pelo menos de vir comigo ver qual é o meu trabalho por aqui? – ela disse um pouco menos arrogante, parecia apenas chateada com minha falta de atenção aos problemas dos doentes e crianças. - Eu me importaria sim, eu não tenho esse botão que você tem! - Qual botão? – perguntou confusa - Esse... o da bondade apenas pela bondade... E nem faço questão de ter, eu só quero resolver o que eu preciso aqui Giulia! Me ajuda por favor... - Se você não vier comigo... Eu não vou aceitar a ajuda! – ela disse com a mesma empáfia de antes. - Ok c*****o! – eu xinguei bem alto - Respeite a casa de Deus! – ela gritou mais alto ainda, antes de andar na minha frente – Vamos... Você vem ou não Salvatore? Eu apenas fechei o botão do meu terno e a segui sem falar muito, quanto mais rápido eu me livrasse dela melhor. - Vamos lá Giulia... – eu insisti Ela nem se deu ao trabalho de me responder, apenas abriu uma das portas com pessoas doentes amontoadas. - O que eles tem? – eu perguntei um pouco em choque - Esses pacientes... – percebi que ela engoliu a saliva de um modo estranho – Tem câncer... – Na verdade... uma paciente tem câncer, alguns tem Alzheimer outros tem... enfim, são muitas doenças juntas. - Isso é péssimo... do que você precisa para eles? - Preciso de mais médicos, equipamento para cuidar deles... principalmente o tratamento de câncer na verdade – percebi naquele momento que aquele era um ponto chave para a noviça, ela falou a palavra câncer todas as vezes com a voz embargada. - Certo, qual o valor? – eu disse com um pouco mais de interesse - O orçamento foi enviado para o escritório... Vamos para a ala das crianças... - Espera aí... tem um orçamento? Então p***a, qual o motivo de eu ter vindo aqui? – eu disse indignado o suficiente para socar uma parede. - Foi um pedido da dona Isabella em pessoa.... ela veio até aqui....e... - c*****o, você se juntou com a minha mãe para f***r o meu dia? Isabella Lion e suas tentativas de merda de criar algum tipo de empatia em mim... usando o que? As pessoas como animais doentes? Isso é pedante até para os hipócritas da minha família! - Você chamou as pessoas de animais doentes? – ela disse com os olhos forrados de lágrimas - Você entendeu! Porra... eu vou embora, mando o cheque quando eu olhar o orçamento, você vai ter o tratamento para esse bando de pessoas moribundas e provavelmente jamais vai ter que ver minha cara de novo, prometo! - Você é a pessoa mais horrível que eu já conheci Dante! – ela disse o meu nome em alto e bom som - Eu sei disso, eu não faço muita questão de impressionar as pessoas e se remedia um pouco de toda essa merda... Minha família não deveria ter usado essas porcarias que você faz para ir para o céu para criar em mim algum sentimento de bondade... Isso foi injusto! - Você acha que cuido da minha mãe com câncer por que quero ir para o céu seu babaca? Naquele momento ela me paralisou, tudo o que eu havia pensado até ali simplesmente sumiu da minha cabeça. O olhos verdes dela ficaram marejados, ela parece incrédula com a minha falta de empatia até com os quase mortos. Eu não vou mentir, eu me senti m*l, foi um baque para mim... Mas isso não anula a filha da putagem dos meus pais naquela situação. - Me desculpa Giulia... Acho que a fosse que você teve de mim foi demais por hoje, vou embora e como eu disse...vou analisar tudo e mando o valor correspondente... sua mãe... precisa de algo hoje? Eu posso fazer um cheque para você... ela está aqui? - Não é necessário... ela... chega hoje na verdade, ela acabou de descobrir essa.... doença... – mais uma vez a voz embargou na garganta. E tudo o que eu consegui responder foi – OK! Eu virei as costas e saí, não aguentava nem mais um segundo daquela melancolia, embora eu tenha ficado focado nos olhos verdes marejados aquilo era demais para alguém como eu. Eu entrei no carro tentando esquecer aquele momento horrível e constrangedor, mas confesso que Giulia não sumiu do meu pensamento nem por um segundo. O olhar cheio de lágrimas me levou a um novo nível de ódio dos meus pais, eles não tinham o direito de usá-la como um experimento social. E eu ia me vingar disso.
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