Capítulo 1

1700 Words
Aria achava estranho estar de volta à Dakota depois de cem anos. Para ela, era como se tivesse voltado no tempo, ao seu passado, mas em um mundo completamente diferente, novo, como um mundo paralelo, onde tudo estava mais moderno e tecnológico. Ninguém mais caçava criaturas sobrenaturais, pois acreditavam que elas haviam sido extintas. Todos se respeitavam, e o amor prevalecia. Só que este último, era meio termo. O ódio ainda andava entre eles. E andava ao lado de Aria. ― Você deveria parar de bancar a vampira pacífica e me ajudar aqui! ― Daina disse furiosa, tentando recolher o corpo sem vida do balconista da loja de conveniência. ― Ninguém mandou você m***r ele ― Aria respondeu em desdém. Daina riu com o atrevimento da sua irmã e largou bruscamente o corpo do jovem homem ao lado do balcão. ― O que você queria que eu fizesse? Que eu o deixasse vivo para ele espalhar para todos os outros amigos balconistas que vampiros ainda existem? ― sua testa enrugou-se. ― Mas não precisava matá-lo. ― Foi m*l. Foi a adrenalina do momento ― disse sarcástica e sorriu calmamente. ― Mas eu também estava com fome. Aria sentiu seu corpo estremecer diante a atitude sem remorso da sua irmã, visto que há muito tempo ela tentava convencê-la de seguir a mesma dieta que ela, alimentando-se de bolsas de sangue. Mas não era do feitio de Daina se colocar no mesmo patamar que Aria. Sangue fresco, vindo diretamente da veia, deixava o consumidor mais forte, e o objetivo de Daina, sempre era superar a sua irmã. ― Eu sei que você quer um pouco ― Daina lançou, persuasiva. ― Aproveite enquanto ninguém está vindo. Aria respirou fundo, ela não iria deixar que o hábito sanguinário de Daina afetasse os seus conceitos, e principalmente o seu bom humor, que ela havia lutado para reconquistá-lo após doze horas de viagem ao lado da sua irmã. ― Hm. Mas e o que vai fazer com todas estas câmeras de segurança? O local por inteiro estava corroído de câmeras. Em cada parede possuía duas ou três. ― Acho que ele já esperava que este tipo de coisa lhe acontecesse ― supôs Aria. ― Mas é uma pena que ele não tenha sido tão inteligente ― Daina sorriu ladino. Sua feição tornou-se sombria e de repente seus movimentos se transformaram em vultos pelo local, quebrando todas as câmeras tão rápido que um humano não conseguiria descobrir o que sabotava o lugar. Ah não ser, que soubessem sobre vampiros. ― Hm ― Aria mexeu a sobrancelha esquerda, fingido que estava impressionada. ― E o que vai fazer com as fitas de gravação? Daina percebeu o tom de sarcasmo da sua irmã, algo que ela não gostava nem um pouco, além de que, claramente, Aria não estava tentando ajudar, apenas colocando mais dificuldade no modo em como Daina tentava ocultar a cena do crime. ― Eu posso colocar fogo aqui. E com você dentro, se preferir ― sorriu calmamente. ― Estaria me fazendo um favor ― Aria respondeu apática. ― A mim também. Mas, infelizmente, se você morre, eu morro. E eu não estou nem um pouco a fim de morrer agora. ― Ótimo. Aria gesticulou os lábios e sorriu sem emoção, virando-se em direção à saída da loja. ― Você não vai me ajudar? ― O jantar foi seu. Então, limpe a mesa. Ainda de costas para Daina, Aria mexeu os ombros e seguiu sem ressentimento algum. Ao chegar à saída, ela é surpreendida por um garoto. Um garoto molhado, preocupado e desnorteado. Mas um bonito garoto. ― Oi. É... O meu nome é Parker. Eu estava dirigindo e de repente começou a chover. E eu não sei como, mas... Eu vim parar aqui. Algo de estranho está acontecendo comigo. E... E eu não consigo entender o que é. Aria o observava confusa. Ele estava em conflito, e ela não sabia como ajudá-lo ou, ao menos, a como se comportar tão perto de um humano que tinha suas veias pulsando de aflição, o que a deixava quase em transe. ― Eu preciso de ajuda. Parker disse em desespero, o que trouxe Aria de volta ao momento. ― Ok... Ok. Eu posso tentar fazer algo para te ajudar. Só não sei se vou conseguir. ― Apenas quero que esta coisa dentro de mim desapareça. Aria fecha as portas assim que Parker passa por elas, adentrando à loja. ― Você está tremendo ― levou sua mão ao ombro dele, mas teve que retirá-la em menos de um segundo, pois sua mão parecia que havia acabado de se chocar com lava fervente. ― Você está bem? Parker olhou assustado para a contrarreação de Aria.  ― O que você é? ― Aria apertou forte a mão, vítima da temperatura surreal vindo de Parker. O seu olhar se tornou sombrio, ao mesmo instante que estava incrédula e amedrontada.  ― O-o que? ― Diga o que você é! ― vociferou. ― Um bruxo ― Daina cruzou os braços sobre o peito. ― O quê? ― Aria e Parker disseram juntos, ambos impressionados com tal descoberta. ― Eu não sou um bruxo! ― E o que ele está fazendo aqui? ― Aria indagou estupefata. ― Deve ser por causa do homem que eu matei. Bruxos sempre sendo xeretas. Daina caminhou até Parker, o observando minuciosamente. ― O que está acontecendo? O homem que você matou? Como assim? O que está acontecendo? ― Pelo visto, você não sabia que era um bruxo, até agora. E deve estar em transição. Por isso veio até aqui. E digamos que eu não seja muito fã de bruxos. Então, eu iria preferir te m***r. ― M-Me m***r?! Parker estava quase tendo uma crise de pânico, e Daina andando lentamente em círculos por volta dele, com os olhos semicerrados e a sua espécie de análise diabólica, não o ajudava nem um pouco. ― Não vê que ele está assustado? ― Aria reprime a atitude da sua irmã. ― Ele estava confuso quando chegou. E está ainda mais confuso, agora. E com medo! Daina para de se movimentar, ficando frente a frente com Parker, que era da sua altura.  ― Você está com medo, huh? Com certeza, você não estaria se já soubesse que é um bruxo. E bruxos e vampiros, sabe... Não tem conexão nenhuma. Seu povo nos odeia, e nós te odiamos por odiar a gente. ― V-Vampiro? ― V-Vampiro? ― imita sua voz, implicante. Daina ri ao ver o quão assustado e confuso aquele garoto estava. ― O que vamos fazer com você, gatinho? ― estrala a língua no céu da boca. ― Você tem um rostinho muito lindo, para ser apagado do mundo. ― Só o deixa ir embora, Daina. ― Embora? ― levanta as sobrancelhas e olha para Aria. ― Quer mesmo deixar ele ir embora depois que eu falei sobre vampiros? ― Cedo ou tarde ele saberia disso. Afinal, ele é um bruxo. ― Por isso que eu não gosto de bruxos. E não gosto de você me dizendo o que fazer. Daina revira os olhos e se afasta de Parker, indignada. Olhou para outro lugar da loja que não fosse para eles e respirou fundo, como se fosse dizer algo que a mataria por dentro. ― Vai embora, antes que eu quebre o seu pescoço ― quase engasgou com suas próprias palavras. ― Eu... Eu não tenho para onde ir. Ouvir Parker dizer aquilo, fez Daina voltar o olhar para ele rapidamente, e incrédula. ― Eu fui expulso de casa ― abaixou o olhar. Parecia que relembrar aquele fato, havia apagado todo o medo e confusão que ele carregava, dando lugar a um sentimento de tristeza e solidão.   ― E daí? A gente não tem nada a ver com isso. ― O que aconteceu? ― Aria se aproximou de Parker. ― Eu sofro de apagões repentinos, e sempre que isso acontece... ― apertou os olhos. ― Eu acabo ferindo pessoas inocentes. ― Está vendo? Mais um motivo para eu não querer você perto de mim! Aria revira os olhos ao ouvir o que Daina diz e pede para que Parker prossiga. ― Eu quase matei a minha própria mãe. Só me lembro de vê-la contra uma parede e facas apontadas para ela, flutuando no ar, e eu quem controlava aquilo! Meu padrasto viu e me expulsou de casa. Disse que eu era um perigoso e uma aberração. ― E ele tem razão ― Daina diz em um ar irônico. Aria respira fundo e tenta controlar a sua imensa vontade de voar em cima da sua irmã e fazê-la calar a boca, ao ver a sua desnecessária e desagradável intromissão durante a explicação de Parker. ― Peguei minhas coisas e saí dirigindo, procurando algum lugar para ficar. Mas... Sofri outro apagão, e acabei aqui. ― Eu sinto muito, Parker ― disse Aria. ― Daina tem razão. Você é um perigo. E pode ser um perigo para si mesmo. ― Eu realmente não sei o que fazer. ― Podemos te ajudar. ― O quê?! ― Daina quase berra. ― Minha mãe era uma bruxa. Conheci um pouco sobre magia. Posso tentar te ajudar. ― Você não está falando sério, está, Aria? Daina se aproximou dela, estupefata. ― Ele precisa de ajuda. Se estivéssemos no lugar dele, também iríamos querer que alguém nos ajudasse. Além de que... Se ele aprender a usar magia, ele pode desfazer o elo de morte que interliga nós duas. Você pode ser livre para sempre. Pelo resto da sua eternidade. Não vai precisar se preocupar em me manter viva para você ficar viva também. Daina parecia receosa, mas aquela proposta não era de se jogar fora. Tudo o que ela mais queria era se ver livre do feitiço que a aprisionara à sua irmã para o resto da eternidade, transformando as duas vidas em uma só vida. ― Mas já tentamos de tudo. Por que acha que ele conseguirá? ― soou rancorosa. ― Porque, talvez, ele seja a nossa última esperança. Daina trava o maxilar. ― Lembre-se, que se ele tentar m***r uma de nós, a culpa é sua. Estarei esperando no carro. Com estas palavras, Daina deixa a loja de conveniência. 
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