Capítulo 2

1362 Words
― Uau! Essa casa é incrível. Parker disse embasbacado, observando a velha mansão, porém luxuosa, da família de Aria e Daina. ― Não toque em nada.  Daina disse rabugenta, carregando algumas malas, e Parker não pensou duas vezes e revirou os olhos, continuando o seu processo de análise do ambiente.  ― Mansão Lancaster? Parker lera o nome esculpido na lareira de mármore. ― Minha família mandou esculpir, antes de morrerem ― Daina respondeu. ― Que tragédia. O que aconteceu? ― Eu os matei ― disse simples, sem remorso, terminando de colocar as malas no canto da sala. Parker estava chocado com tal confissão apática de Daina, não que ele esperasse algo de bom vindo dela, mas que havia sido algo inesperado e medonho de se ouvir. ― E... Por que... Você os matou? ― engoliu em seco. ― Eles eram uma pedra no sapato. Se eu não os matasse, eles me matariam. Mas... ― olhou para Parker, com uma expressão duvidosa. ― Isso não te interessa ― revirou os olhos. ― Uau. Por que não me mata logo? ― Parker diz em um ar irônico. ― Eu adoraria. Mas precisamos de você. Então, faça a sua existência ser útil e eu não me arrepender de não ter te matado. Parker solta um risinho baixo. ― Você é muito estressada. Deveria procurar relaxar. Parece uma velha m*l-humorada de cento e cinquenta anos. A mandíbula de Daina faltou se encontrar com o chão de tão indignada que ficara. Embora a sua idade atual, de quatrocentos e setenta e cinco anos, ela não aceitava ser chamada de velha. ― Você não parece com quem estava tremendo de medo há algumas horas atrás. ― Você não pode me m***r ― mexeu os ombros em descaso. Os movimentos de Daina tornaram-se vultos, ficando frente a frente com Parker. Novamente. ― O fato de você não poder morrer, não quer dizer que eu não possa te machucar. ― Ah, é? Experimenta. Parker disse em um ar confiante, o que deixou Daina curiosa e enfurecida por se sentir desafiada. Sua face tornou-se diabólica, prestes a cravar suas presas no pescoço de Parker, mas algo surpreendente a impediu de continuar. Sua cabeça parecia que iria explodir a qualquer instante. ― O que está acontecendo? Para! Para com isso! ― Daina dizia desesperada, ouvindo um ruído muito alto dentro da sua cabeça, algo que ela não sabia explicar. ― Eu avisei. Parker parou de enviar as ondas mágicas para a cabeça de Daina e aos poucos ela foi recuperando os sentidos, mesmo ainda atordoada. ― Você já sabia que era um bruxo, não é?   ― Desde quando eu era criança. ― E toda aquela história era mentira? ― Uma parte. Eu tinha que dar um jeito de me aproximar de vocês. ― Esse é mais um dos milhares motivos que eu tenho para odiar bruxos ― passou a mão direita pelo cabelo, ainda zonza do ataque. ― E o que vai fazer? Vai nos m***r? ― Claro que não ― Parker disse indignado. ― Eu realmente não tenho pra onde ir. ― E eu continuo me perguntando... E o que a gente tem a ver? ― diz ríspida e senta-se no sofá. ― Você deveria agradecer que eu surgi na vida de vocês duas, porque o elo de morte pode ser desfeito, graças a mim ― sorriu convencido. ― E como você nos encontrou? ― o olhou. ― Como você disse, bruxos são xeretas, e eu tenho um ótimo senso de direção para encontrar cadáveres, quando mortos por seres sobrenaturais. Foi por acaso. ― E aí, decidiu se tornar um parasita?   ― O termo parasita é bem pejorativo. Prefiro o termo “novo amigo” ― se jogou no sofá ao lado dela, sorrindo cinicamente. ― Hm... ― Daina balança a cabeça. ― Não vai rolar. Eu te disse, eu odeio bruxos, e não pretendo ter um amigo bruxo. ― Você prefere inimigo? Porque posso repensar o caso ― diz petulante. ― Eu prefiro que você não seja nada, tá legal? Continua vivendo sua vidinha e dá um jeito de fazer logo esse feitiço pra acabar de uma vez com esse elo. Daina se levantou do sofá, parecendo um mar de fúria, e seguiu para outro cômodo da casa. ― Ela se alimenta de animais raivosos? ― se questionou. ― Ela é assim ― Aria mexeu os ombros, despreocupada, entrando na sala com uma caixa em mãos. ― Daina nunca irá se consertar. [...] ― É errado você querer que as pessoas não tenham esperança em você, mas... Ao mesmo tempo, você se sente m*l em saber que ninguém tem esperança em você? Daina olhava para o sétimo copo de uísque sobre o balcão do bar da cidade, enquanto conversava com o barman. ― Você não quer que tenham esperança em você, mas, ao mesmo tempo, quer que tenham? ― o barman olhava curioso e confuso para Daina, enquanto enxugava alguns copos com um pano e os colocava virados para baixo, alinhando-os em uma fileira. ― Sabe, isso é loucura. Eu quero ser a vilã, mas... Ao mesmo tempo... Eu não sei. Não é loucura? ― olhou para ele. ― Loucura é eu saber que você é uma vampira e que está me hipnotizando, e eu estou tranquilo quanto a isto e continuo conversando com você ― riu sem jeito. ― Porque eu te hipnotizei pra não ter medo ― revira os olhos. ― É que eu precisava de alguém pra conversar. Eu não tenho muitos amigos, sabe? ― Talvez, porque você queira tanto ser a vilã. As pessoas não gostam disso. ― Mas é exatamente por isso. Eu não quero que gostem de mim ― leva o copo de uísque aos lábios, tomando todo o líquido em um só gole. ― Já machuquei muita gente que eu amava. Complicado, né? Me sinto em uma crise existencial. ― Você parece se ligar muito ao passado. Deveria se desprender. ― É difícil quando se está interligado para o resto da eternidade com a única pessoa que arruinou a sua vida. ― Namorado problemático? ― Mesmo que eu quisesse um. Estão todos mortos. Minha irmã matou os meus dezoito namorados, inclusive, o cara que era o amor da minha vida. ― Irmã insana ― brincou. ― Então, sua irmã é quem arruinou a sua vida? ― Ah, sim. E graças a ela sou o que sou hoje. Não me arrependo de ser vampira. E diferente dela, eu não me arrependo do que faço. E, justamente por isso, por eu não desistir fácil, que eu quero me livrar dela. Do elo que combina a minha imortalidade a dela. Se ela morre, eu morro. E eu não estou a fim de morrer. ― Então, desfaz. ― Não é tão fácil assim. É preciso de um bruxo descente pra fazer o feitiço. E o que eu encontrei... Bem, eu não confio nele. Na verdade, nunca confiei em bruxo algum. Minha mãe era uma bruxa, e ela tentou me m***r. Então, acho que isso explica o fato de eu não gostar deles. ― Eu não sabia que essas coisas existiam. Sabe, todas essas criaturas sobrenaturais. É insano. ― Existem, apenas não queremos que vocês saibam disso. Como, por exemplo, agora. José, não é? ― lê o nome do barman no pequeno crachá em sua camisa. ― Você irá esquecer toda a conversa que tivemos, porém, lembrará de mim como uma amiga que você abriu uma exceção pra deixá-la ficar no bar mesmo depois de fechado, porque ela estava precisando muito conversar e você a ajudou bastante. E ela voltará pra conversar mais vezes com você. E como um ótimo amigo, e forma de consolo, você deu um presente a ela ― Daina lentamente pega o pulso de José. ― Você está me dando esse presente de bom grado, então, fique tranquilo ― crava suas presas no pulso de José, acertando uma suculenta veia em cheio, saciando a sua sede. ― Você é delicioso, José. ― Obrigado, eu acho. Daina solta o pulso do rapaz e se levanta do banco. ― Obrigada, pela noite. Pisca para ele, dando-lhe um pequeno sorriso e caminha para a saída do bar. 
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