Capítulo 5

2108 Words
Daina adentrou à prefeitura de Dakota, seguindo caminho em direção à sala do prefeito. ― Moça, você precisa marcar um horário para falar com o Prefeito Michael! Uma jovem moça, com roupa justa, que Daina julgava ser uma secretária, a seguia, tentando impedi-la de invadir a sala do prefeito. ― Ei! Você não pode entrar aí sem autorização! Daina simplesmente a ignora e abre bruscamente a porta do escritório. O homem, que devia ter os seus quarenta anos, salta da poltrona, assustado. E, com razão. Daina havia acabado de interromper o seu momento de “degustação s****l”. Aquele canalha deve ter oferecido rios de dinheiro para a secretária mandar fotos provocativas para ele. ― D-Desculpe, senhor. Esta mulher invadiu a prefeitura. E não consegui pará-la. ― Quem é você? O prefeito olhou confuso para Daina. ― Quem sou eu? ― sorriu ladino. ― Não te interessa, meu bem. Apenas... Quero algumas informações. Intrometidamente, Daina senta-se na poltrona de frente à mesa do prefeito. ― Desculpe, mas, terei que pedir que se retire. ― Hum... Isso não vai acontecer ― Daina expande o seu sorriso. ― Então, terei que chamar os seguranças ― diz ríspido. ― Chama. Sem problemas. Quem sabe, eles também gostem das fotos da sua secretária em seu computador. Inclusive, a sua esposa sabe que você tem uma amante? E que, ela deve ter a idade dos seus filhos? ― lançou astuta, após ver o porta-retrato da família do prefeito sobre a mesa. Aquele cara realmente era um b****a. Sem saber como confrontar Daina ou se defender, o quarentão cede. ― Pode ir, Sam. Se eu precisar, eu te chamo. O prefeito ordena e a secretária sai. ― O que você quer? ― indagou ríspido. ― A pergunta é simples. O que você fez com esta cidade? ― O que? Como assim? ― Qual é? Não banque o inocente, prefeito. Você deve saber sobre a situação de fome lá fora. Há crianças roubando, para ter o que comer! ― Eu não sei do que está falando. A cidade nunca foi tão prospera quanto agora. Daina o olhou estupefata. Ela sabia que era egoísta muitas vezes, mas nunca havia conhecido alguém mais egoísta que ela. Ah, não ser que... ― Não é você quem comanda esta cidade, não é, prefeito? ― lança, esperta. ― Do que você está falando? Claro que sou eu! Quem mais poderia ser? Daina sabia a resposta. ― Um vampiro. O prefeito debocha. ― Menina, você deve estar louca. ― Um vampiro te compeliu a acreditar que está tudo bem com a cidade, enquanto ele a transforma em um estoque particular. ― Você é louca, garota. Peço que saia da minha sala. Agora! Daina levanta da poltrona e estreita os olhos. Era óbvio que ela não iria embora antes de ter certeza do que falara. Inclinando-se sobre a mesa, ela encara o prefeito fixamente, prestes a compeli-lo também. ― O que realmente está acontecendo com esta cidade? Quem é o vampiro que está por trás disso? Hipnotizado, o prefeito responde: ― Eu não sei. Eu não lembro de quase nada dos últimos meses. É como se... As minhas memórias tivessem... Simplesmente... Desaparecido. ― Há quanto tempo você é prefeito? ― Há seis meses. Assumi o lugar do antigo prefeito, após ele ser morto por um animal. Daina estava certa. Havia realmente um vampiro por trás disso, e que, o mesmo, compeliu o prefeito a se esquecer dele toda vez que estivesse longe, para que ninguém descobrisse. ― Ok. Esqueça a conversa que tivemos. E que eu vim aqui. Dizendo isso, rapidamente ela desaparece da sala, deixando o prefeito completamente aturdido. Se um vampiro estava por trás da situação deplorável de Dakota, e ainda usando o novo prefeito para manter a sua descrição e beneficiar-se disso, então, ele não era qualquer vampiro. Ele sabia exatamente o que estava fazendo. E, isto, de certa forma, deixava Daina um pouco amedrontada, pois ela acabara de invadir o império de alguém. Um império que ela não fazia ideia de quantos vampiros poderiam existir nele, e muito menos, se eles seriam os seus amigos. [...] Daina volta para casa, e assim que cruza a porta, ela é abordada por Parker. ― Onde está? ― O que? ― arqueou as sobrancelhas, olhando confusa para o bruxo. ― A comida! Ah, as compras. Logo Daina se lembra do fim que elas tiveram. ― Eu as dei. Move os ombros, indiferente, e segue até a escada, indo em direção ao seu quarto no andar de cima. ― Como assim, “as deu”?  Parker questiona incrédulo, seguindo-a. Daina o ignora, e então, entra em seu quarto. Mas a porta fechada na cara de Parker, não foi o suficiente para impedir o bruxo de segui-la. Ele a abre e entra. ― Você sabia que fechar a porta na cara de alguém é uma atitude arrogante e sem educação? ― franziu o cenho e cruzou os braços, estupefato. ― Pede a Aria para comprar desta vez. Ela sabe lidar com humanos melhor que eu ― diz em deboche. Daina centraliza a sua atenção em um pequeno baú sobre uma velha escrivaninha. Parker sabia que seria em vão discutir sobre comida com Daina, afinal, ela não se importava. E, de qualquer forma, ele já havia comido algo. Ele teve sorte de encontrar alguns trocados na jaqueta de uma das vampiras. ― O que tem aí? Parker olha para o mesmo baú. ― Apenas... O livro velho que pertencia a nossa mãe. Ela o guardava a sete chaves. E... Quando ela morreu, foi a primeira coisa que eu peguei. Mas, foi inútil. Achei que teria algo sobre quebrar o elo que liga a eternidade da Aria a minha. Mas, só tem textos e mais textos sem sentido. ― Eu posso ver? ― Parker diz e Daina o olha desconfiada. ― Não é como se eu fosse te m***r com um livro ― revira os olhos ao notar tamanha desconfiança. ― Desculpe, mas, demoro muito pra confiar em alguém. Principalmente, quando se trata de um bruxo ― abre um sorriso sarcástico. ― Mas, tudo bem. Pode pegar. Daina afasta para o lado, permitindo que Parker abra o baú e retire o livro de dentro. E, de repente, ao tocar na capa, Parker sente um choque correr por seu corpo, fazendo-o estremecer. ― O que aconteceu? ― a vampira indaga assustada. ― Eu não sei. Eu... ― umedece os lábios, tenso. Parker abre o livro, revelando páginas e mais páginas de informações. Ele as lê superficialmente. ― Como você teve coragem de dizer que estes textos são sem sentido? ― Claro que são! As palavras estão embaralhadas, não vê? ― Não. Elas estão muito bem organizadas. Inclusive... Acho que isto se trata de um diário da sua mãe, Daina. Parker olha para a vampira que toma o livro de suas mãos. ― Como? Nada faz sentido! ― Talvez, para vampiros ― o olhar de Daina retorna para ele. ― Este livro está enfeitiçado. Acho que a sua mãe não queria que você, ou sua irmã, ou qualquer outro vampiro soubesse o que tem aqui. Deve ter algo muito importante. ― Mas que... Vaca! ― xinga. ― Até mesmo morta, ela ainda dificulta a minha vida. ― Pelo visto, você não tinha uma boa relação com a sua mãe. ― Claro que não! Ela me odiava! Eu fui um erro que a natureza cometeu. Apenas Aria deveria ter vindo ao mundo. Eu não deveria ter nascido. ― Como assim, um erro da natureza? ― Para o clã da minha mãe, ter gêmeos era uma abominação. Pessoas com o rosto repetido? Isso era demoníaco! ― Mas, por que ela escolheu odiar você? E, não Aria? Vocês são exatamente iguais! É claro, que... Você tem as suas tatuagens e um estilo diferente da Aria. Mas, por que ela escolheu você? ― É algo que eu nunca descobri. Daina escora-se na escrivaninha e cruza os braços. O fato da sua própria mãe odiá-la, era perturbador. Mesmo após quase cinco séculos, Daina ainda continuava sem entender o motivo para tamanho ódio. Entretanto, ela não se importava, afinal, a bruxa já estava morta. E pelas próprias mãos de Daina. ― Mas, enfim, não é algo que me incomoda. Ela não voltará, então... Fod*-se. Parker volta a folhear o livro. Algumas páginas possuíam números, datas e anotações separadas do texto. Era algo tenebroso de se ver. ― A sua mãe parecia ser um pouco... Supersticiosa.   Daina acaba soltando um riso nasal em ironia. ― Você não conseguirá imaginar nem a metade. Ela acreditava que sangue iria curar qualquer ferida. Se bem que... ― estreita os olhos, pensativa. ― Ela tinha razão. O sangue de vampiro cura qualquer ferimento. Parker paralisa ao escutar o que a garota diz. E, por coincidência, encaixa-se perfeitamente com o pequeno trecho que o bruxo havia acabado de ler. ― Como vocês se tornaram vampiras? Aquela havia sido, definitivamente, uma excelente pergunta. Há muito tempo, Daina não pensava sobre o dia em que havia se tornado uma vampira. E relembrar-se, foi como voltar ao tempo. Há quatrocentos e cinquenta e seis anos atrás. Para ser exato, em 31 de outubro de 1565. ― Antes de Dakota se tornar uma cidade, ela era um pequeno povoado. Morávamos em um vilarejo próximo ao lago, onde hoje há um parque. Todo o vilarejo era protegido de qualquer ameaça pelo clã de bruxas da minha mãe. Inclusive, graças a elas, a antiga Dakota prosperou. A colheita e o gado eram fartos e os camponeses eram protegidos de qualquer perigo ou m*l. Então, vivíamos em harmonia. Mas, um certo dia, um misterioso grupo chegou ao povoado. Os recebemos de braços abertos, já que nenhuma bruxa alertou um perigo existente. Mas... Naquele dia, 31 de outubro, as bruxas falharam. E o m*l se alastrou por toda Dakota. Aquele grupo estava ali para dizimar todos nós. Até mesmo as crianças camponesas. Uma parte foi morta, enquanto a outra foi torturada. Mais ninguém, além de mim, Aria, minha mãe e Gregory, conseguiu sobreviver àquele m******e. E, então, nos escondemos aqui. Antes da mansão ser construída, era somente um túnel sem saída. Mas que serviu para nos refugiar. ― E... Este grupo desapareceu? Não perseguiram mais vocês? ― Surpreendentemente, não. Ficamos a noite inteira acordados, durante uma semana, esperando se eles iriam nos encontrar, mas... Nada. Eles simplesmente desapareceram. ― E, aquela noite, do dia 31, foi a que vocês se tornaram vampiras? ― Sim. Como eu disse, a minha mãe acreditava que o sangue podia curar feridas. E, enquanto fugíamos, eu e Aria fomos atingidas por uma arma de fogo. Acertaram o meu ombro e uma das pernas de Aria. A nossa mãe nos forçou a beber sangue. Não queríamos, porque achávamos aquilo doentio e... Ia contra os princípios que as outras bruxas acreditavam. Mas, se não bebêssemos, aquele grupo podia nos encontrar e nos m***r. Então, tivemos que fazer. E, em questões de segundos, estávamos curadas. Foi algo inacreditável de se ver. Nem a magia faria aquilo. E, logo, provou que a teoria da nossa mãe estava certa. Só que... Não fazíamos ideia de que aquilo era o sangue de um vampiro. E, muito menos, de como ela o conseguiu. E, no dia seguinte, após chegarmos aos túneis... ― O olhar de Daina torna-se sombrio. ― Eu vi a Aria se alimentando do Gregory. Lembrar-se daquele episódio, fez o corpo da vampira queimar. Ela evitava pensar naquele dia, porque, todas às vezes que pensava, ela só desejava pular na jugular da sua irmã e matá-la, mesmo que para isso, ela também morresse. ― E... Depois, eu também quis me alimentar dele. Eu perguntei para a nossa mãe o que ela fez conosco, porque eu sabia que tinha a ver com o sangue. Mas, precisávamos ter morrido com ele em nosso organismo para virarmos vampiras. E, então, ela clamou, pedindo perdão. Ela disse que não fazia ideia de que o chá de ervas que havia nos oferecido iria causar uma reação letal ao se encontrar com o sangue de vampiro em nosso organismo. Daina suspira, relembrando daquele momento como se tivesse sido ontem. ― E, mesmo sabendo que estávamos indo contra a ordem natural das coisas, ela disse que fomos abençoadas, porque voltamos à vida. De princípio, eu abominei. De onde virar um sanguessuga era uma benção? O nosso clã sempre abominou qualquer tipo de coisa que ia contra a ordem natural. Ela deveria abominar também! Mas, provou o contrário quando nos permitiu ir contra a natureza. ― Daina... ― Parker diz hesitante. ― Não acho que ela permitiu. Eu acho que... Ela provocou isso.  
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