ANNE:
Dentro do carro desconhecido, ficava pensando em como minha vida mudaria a partir de agora, e rezava para que nada de r**m acontecesse comigo e ao meu pai.
Ele é a única pessoa que me restava no mundo, sentindo meus olhos pensarem novamente com novas lágrimas toquei o colar que usava no pescoço.
Além da foto que guardava debaixo do travesseiro, o colar de mamãe foi a única herança que me restou dela, lembro bem que ela sempre usava esse pingente em torno do pescoço e antes de partir ela passou para mim.
Apertei o pingente de infinito entre os dedos e fechei os olhos, uma fina lágrima escapou e logo tratei de secá-la, fui forte em aceitar o lugar do meu pai e precisaria ser forte dali para frente, não desejava ser fraca.
Abri os olhos e pelo canto do olho observei um dos capangas ao meu lado no banco traseiro enquanto o outro dirigia para algum lugar desconhecido, tentava prestar atenção no caminho que o carro seguia, mas não adiantava pois não conhecia nada naquela parte da cidade.
Senti calafrios quando o carro parou em frente a uma enorme propriedade, meus olhos curiosos percorreram toda a mansão percebendo que existiam mais seguranças ao redor da casa.
Um dos homens que dirigiam falou algo mas não compreendi, apenas estava encantada com a linda propriedade a minha volta, no bairro em que morava não existiam aquele tipo de construçao e nunca vi uma tão de perto.
-Vamos ! - fui puxada de dentro do carro num gesto brusco e seguida até um conjunto de portas que talvez se tratava da entrada.
Com passos desastrosos fui forçada a entrar na casa, o interior do imóvel era mais luxuoso do que fora, mas a decoração era peculiar, cores escuras rodeavam as paredes de uma jeito morvido, deixando o ar sombrio espairecer mas a deixando bonita do mesmo jeito.
Nunca tinha visto tanto luxo pessoalmente e aquilo estava me deixando inquieta, um dos homens morenos ainda me segurava pelo braço me levanto até um dos corredores.
E ao chegar em frente a uma porta escura o moreno acenou para o outro homem que liberou nossa entrada.
Fui empurrada para dentro de uma espécie de sala, me apoiei numa parede tentando não cair com o impulso, e quando levantei a cabeça encontrei um homem de estatura mediana que devia estar com meia idade.
Ofeguei assustada quando escutei o barulho alto da porta de fechando atrás de mim, senti meu corpo todo tremer de medo, o homem ainda continuava a me encarar, tentei superar o medo e foquei no rosto dele.
Ele era diferente, usava roupas sociais, os cabelos que um dia foram escuros estão salpicados de fios brancos, os olhos castanhos sombrios me encaram firmemente.
-Sente-se ! - ainda sentindo o medo percorrendo minhas veias obedeci e caminhei até uma das cadeiras disponíveis de frente a mesa.
-Como se chama ? - disse e pude perceber o sotaque diferenciado em sua voz.
-Anne...me chamo Anne Campos.
-Não estava esperando você, mas já ouvir falar desse sobrenome....- franziu o cenho como se tentassse lembrar.
-Sou filha de Eduardo Campos senhor.
-Ah sim, mandei buscar o pai e me trazem a filha ! - fecha os olhos tentando conter a irritação.
-Tentaram levar meu pai, mas fiz a proposta de ir no lugar dele. - digo num baixo.
-Corajosa, mas muito inconsequente garota, sabe onde se meteu ? - balancei a cabeça.
-Tem sorte que meu filho está fora da cidade menina, Henry nunca permitiria algo assim, ainda não sei o que fazer com você na ausência dele. - ele se levantou e foi até uma pequena mesa ao lado onde existiam vários copos e bebidas.
-Por favor, não machuquem meu pai, estou implorando, eu juro que vamos paga-lo.
-Seu pai cometeu um erro ao cruzar com nossa família garota, não adianta implorar para mim Anne, é Henry quem cuida de tudo isso. Temos que esperar até a sua volta para resolver o que fará com você.
-O que vão fazer comigo ? - senti meus olhos lacrimejarem novamente.
-Nada, até Henry voltar não faremos nada com você Anne, se dependesse de mim você voltaria para casa com um prazo para pagarem tudo o que deve, pode não parecer, mas sou muito mais bondoso que meu filho. - diz se servindo de um copo com uma bebida de cor âmbar.
-Mas até ele voltar, teremos que te manter aqui, admiro sua coragem Anne, não é comum acharem pessoas assim. - bebeu todo o líquido de uma só vez e caminhou até a porta atrás de mim.
-Levem-na até um dos quartos, a manteremos aqui até a volta de Henry ! - e novamente fui puxada para fora da sala.
Me trancaram num quarto no terceiro andar da mansão, pelo menos não me colocaram num cela ou calabouço, o quarto era aconchegante e luxuoso como todo o resto.
E desde que fui colocada nesse quarto fiquei chorando agarrada a um dos travesseiros da cama de casal, um dos homens entrou no quarto e deixou uma bandeja com comida e uma jarra com água.
Sem fome e sentindo que estava desidratando de tanto chorar me permiti beber alguns goles de água.
Sem saber o que fazer, fui até o banheiro que completava a suite e lavei o rosto inchado pelas horas de choro.
Voltei para o quarto e me aproximei da única janela que tinha, não sei quantas horas já se passaram mas está anoitecendo.
Fiquei pensando nas palavras daquele senhor, segundo ele, seu filho o tal de Henry era muito menos piedoso do que o próprio pai.
Se o pai já parecia assustador, imagine como será o filho, pensar no que ele poderá fazer comigo me fez sentir vontade de chorar novamente, mas respirei fundo e afastei as lágrimas.
Sentei diante da janela observando a noite aparecer, o céu estrelado já estava visível, encostei a mãos no vidro da janela como se quisesse sentir o céu.
Gritei quando sem querer bati a mão no trinco enferrujado da janela, ofeguei abrindo a mão tentando encontrar algum ferimento mas não há nada.
Voltei a olhar o trinco da janela e me perguntei mentalmente se haveria possibilidade de estar aberto, com as batidas do coração tentei abrir a janela mas estava muito enferrujado e poderia fazer muito barulho e levantar suspeitas.
Juntei todas as minhas forças e suspirei de alívio quando o trinco cedeu e abriu, sorri aliviada e olhei para baixo.
Era muito alto, se tentasse pular com certeza me machucaria sério e nunca conseguiria escapar dali, corri até o banheiro e vasculhei os armários encontrando várias toalhas de banho.
-Tem que dar certo, por favor. - sussurrei pegando todas e voltando para o quarto.
Desejando colocar meu plano de fuga em ação, também retirei os lençóis e cobertas que havia na cama, amarrei todas as pontas fazendo uma espécie de corda de panos.
Nunca tinha feito aquilo, só tinha visto em filmes mas tinha que pensar positivo, o tal de Henry Vitalle poderia fazer qualquer coisa comigo e não desejaria estar por perto quando ele chegasse.
Amarrei uma das pontas em um objeto pesado para usa-lo como âncora e joquei o resto pela janela, os panos não chegariam até o chão mas talvez poderia pular daquela altura.
Passei pela janela e mesmo com medo fui descendo segurando os tecidos toexendo que aguentassem o meu peso.
-Quase lá, só mais um pouquinho.... - falei mas arregalei os olhos quando ouvi o barulho de algo se soltando.
Tive vontade de gritar, mas mordi os lábios com força até sentir o gosto de sangue na boca, olhei para cima e uma das toalhas estava se soltando.
E no mesmo momento ouvi o som de um carro estacionando, estava escuro mas consegui ver o exato momento que uma pessoa sai do automóvel.
-Por favor, não ! - gritei quando a toalha se soltou e me agarrei a borda do telhado de baixo para não cair.
Senti pavor, medo e todo sentimento r**m, não aguentaria por muito tempo e a queda seria muito feia.
-Pula ! - olhei para baixo quando uma voz masculina gritou debaixo.
-Não, é muito alto, eu vou cair !
-Apenas pula ! - ordenou novamente e neguei com a cabeça.
-Eu te seguro, pula ! - meus dedos estavam escorregando cada vez mais.
Não restava outra opção, seria confiar no desconhecido ou pular sozinha e me machucar. Fechei os olhos e soltei a borda do telhado, gritei mas logo senti o impacto de ser segurada.
Abri os olhos e virei a cabeça me deparando com um par de olhos verdes-musgo, mesmo pela pouca iluminação pude notar os cabelos negros e a barba por fazer.
Sem expressar nenhum movimento ou fala, o homem desconhecido ainda me segurava em seus braços, notei que também estava segurando os seus ombros com força, desfiz o ato e levantei a cabeça voltando a encarar os seus olhos que também estão fixos nos meus.
-Para onde pensou que estava indo amore mio ? - disse num tom baixo enquanto me apertava em seus braços.