Redenção

Capítulo 1

ANNE CAMPOS:

Acordei assustada como acordava todos os dias na maior parte do tempo, lembranças de minha mãe rondam minha mente nos sonhos.

Eram lembranças boas e felizes, o que me fazia acordar chorando todas as vezes, queria que cada parte daqueles sonhos fossem verdadeiros, desejava que minha mãe estivesse viva.

Apesar de quase completar apenas 6 meses desde sua partida, a saudade era enorme, sentia sua falta todos os dias desesperadamente, mas infelizmente o câncer a tirou cedo de mim, deixando um grande vazio no meu coração.

Sequei as lágrimas que desciam pelo meu rosto e funguei tentando acalmar os soluços que insistiam em vir, meus dedos escorregaram e pegaram uma pequena foto debaixo do travesseiro.

Dormia com ela ali todos os dias, beijei a fotografia da minha mãe de alguns anos atrás, guardava aquela foto como se fosse uma uma relíquia de extrema importância.

-Sinto sua falta...- sussurrei e coloquei a fotografia novamente debaixo do travesseiro.

Me levantei da pequena cama de solteiro e caminhei até a única janela no meu quarto, afastei as cortinas finas e observei as ruas movimentadas como fazia todo os dias, como um pequeno ritual.

Fui para o banheiro e troquei de roupas e fiz minhas higeienes matinais, coloquei apenas uma das poucas calças jeans que tinha e um agasalho.

Enquanto voltava para o quarto um barulho me chamou a atenção, eram vozes altas e vinham da sala, caminhei rapidamente até a janela vendo que um carro preto estava na entrada da nossa casa.

Arrgalei os olhos ao ver que dois homens arrastavam meus pai a força até o carro, com as batidas do coração acelerando sai do quarto correndo até encontra-los fora da casa.

-Parem, o que estão fazendo ? - grito tentando chegar até meu pai mas um dos homens me agarra pelo braço.

-Soltem minha filha ! - meu pai grita tentando se soltar do aperto do outro homem.

-Me solta ! - tento empurrar o que me segura mas ele me segura com mais força.

-Sinto muito senhorita, mas temos ordens de levar seu pai conosco ! - o ruivo ao lado do meu pai diz.

-Leva-lo ? Ele não fez nada, por favor !

-Querida, me escute...- encaro meu pai com os olhos marejados.

-Vai ficar tudo bem, agora volte e entre na casa. - n**o com a cabeça e corro até ele.

Os homens não nos impedem, apenas encaram a cena me silêncio como se deixasse que acontecesse uma despedida.

Abraço meu pai com força sentindo lágrimas quentes molhando meu rosto.

-Eu sinto muito querida, lembra daquela dívida que fiz para conseguir pagar o tratamento da sua mãe ? - diz e assinto com a cabeça.

-O valor está alto demais, e com o dinheiro que ganho não dá para pagar, então eles precisam me levar...

-Não pai, por favor ! - choro sentindo seu polegar secar meus olhos.

-Pode ser que eu não volte, mas você precisa continuar filha, eu te amo....- beija minha testa enquanto soluço.

Os homens de preto voltam a se aproximar mas agarro meu pai não querendo solta-lo, sei do que se trata e de como tudo isso vai acabar.

Meu pai pode ser morto ou espancado, e não posso deixar isso acontecer.

-Por favor, não o levem, nós vamos pagar a divida, por favor !

-Temos ordens a cumprir senhorita ! - observo uma arma presa no quadril do ruivo e me desespero.

-Ele é a única pessoa que eu tenho, não o levem, estou implorando...

-Anne, entra na casa querida. - meu pai pede mas n**o novamente.

O moreno arrasta meu pai de volta para o carro e por impulso me aproximo e acerto seu rosto com força, mordo os lábios com a dor que sinto na mão causada pelo soco.

Ele vira o rosto e me encara com fúria se aproximando cada vez mais de mim, e por instinto me afasto.

-Retira ela daqui ou eu mesmo faço isso ! - o moreno diz para o ruivo que volta a agarrar meu braço tentando me levar de volta para dentro de casa.

Perder minha mãe quebrou meu coração de uma maneira dolorosa que não seria capaz de suportar outra perda importante, não posso deixar isso acontecer.

-Me levem ! - grito e todos me encaram boquiabertos.

-Não faça isso Anne, volta pra casa filha !

-Me levem, deixem o meu pai, por favor. - o moreno com o lábio cortado causado pelo meu soco sorri como se estivesse enlouquecendo.

-Isso não funciona desse jeito, garota ! - rir com ironia mas continuo:

-Então façam funcionar, por favor, me levem no lugar dele ! - digo com fúria e determinação.

É loucura, eu sei, talvez não esteja raciocionando direito, mas é a única escolha que eu tenho no momento.

O ruivo afrouxa o aperto e encara o moreno com cumplicidade, meu pai me encara com decepção mas não posso deixar isso me abalar.

-Vou ligar pro chefe ! - o moreno retira o celular do bolso e se afasta.

Meu pai corre até mim e me abraça, apoio a cabeça em seu ombro e retribuo o abraço.

-Tem ideia do que está fazendo Anne ? Tem ideia do que está se metendo ? - ele sacode meus ombros com os olhos marejados.

-Você não vai fazer isso Anne, não vou deixar isso acontecer. - diz deixando uma lágrima escorrer.

-Me deixa te salvar pai, você já me protegeu antes, me deixe retribuir, já perdi a mamãe, não posso te perder também.

-Também não posso te perder filha, isso é loucura, eles são perigosos, o chefe deles é muito impiedoso, não quero nem pensar no que vão fazer com você...

-Eu te amo pai. - beijo sua bochecha.

-Eu imploro, não faz isso Anne. - ele me encara com pesar.

O moreno volta a se aproximar de nós, e mesmo estando tremendo de medo tento me controlar e focar no que estou prestes a fazer.

-O chefe quer conhecer a garota, você vem com a gente ! - aponta para mim.

-Não ! - meu pai grita e tenta bater no moreno que levanta a arma e aponta na direção dele.

-A garota vem com a gente, ordens do Senhor Vitalle !

Grito e entro na sua frente tentando acalmar meu pai e digo olhando em seus olhos.

-Fique bem pai...- sussurro permitindo lágrimas rolarem.

-Você ainda vai voltar pra casa filha, ainda vai voltar para mim....

-Espero que sim pai....

Enquanto sou escoltada até o carro, meu olhos se fixam no rosto magoado do meu pai, essa é imagem que nunca esquecerei.

Dentro do carro tento organizar meus pensamentos, pensar no que acabei de fazer, sem dúvidas, estou entrando na cova dos leões e espero que tudo ocorra bem...