Inferno pessoal

1286 Words
Lyssa Não estou conseguindo me concentrar em nada do que o professor está dizendo, estou com tanto sono que não aguento mais manter os olhos abertos. – Você vai acabar chamando atenção do dele, não consegue parar de bocejar Lyssa. – Débora sussurra para mim. – Tenta ao menos disfarçar. Assenti, e tentei me manter focada, sem muito sucesso, durante o resto da aula. – Lyssa, pode vir aqui um momento? – O professor me chamou quando eu estava indo em direção a saída. – Sim? – Você é uma aluna excelente, mas eu não sei o que vem acontecendo ultimamente, parece distraída em quase todas as aulas, seu rendimento tem diminuído, há algo em que eu possa ajudar? Contive mais um bocejo. – A verdade é que eu tenho trabalhado um pouco demais e não tenho conseguido descansar. Eu sinto muito professor, não vou deixar que isso se repita. Eu sei que estava mentindo, eu não vou conseguir não deixar que se repetisse porque eu estou trabalhando demais para manter a faculdade em dia e juntar dinheiro para ajudar Débora com nosso empreendimento. Queremos abrir uma floricultura, e quando nos formarmos vai ser um bom começo para a nossa formação, estamos fazendo paisagismo, e Débora recebeu um terreno como herança da avó, precisamos de investimento inicial, ela tem um pouco mais, mas eu não quero apenas ir na onda dela, quero ajudar financeiramente para que nossa parceria seja equilibrada. – Foi rápido, então não foi assim tão r**m. – Ela estava me esperando do lado de fora da sala. – Não foi r**m, mas ele está preocupado com meu rendimento, disse que eu estou muito distraída. – Você não está distraída, está é muito cansada! Vai acabar tendo algum problema de saúde se continuar assim Lyssa, é melhor pisar um pouco no freio. – Você sabe que eu não posso, preciso te ajudar com as coisas, além disso, quero ainda conseguir sair da casa da minha irmã, eu já não aguento mais ver os dois discutindo por minha causa. – Você sabe que Kátia te ama, ela jamais vai deixar que ele te maltrate ou te mande embora. – Eu sei disso, mas eu não quero ser a destruição da família da minha irmã, já fiquei lá até agora, eu deveria ter saído assim que completei dezoito anos. Dei um beijo e um abraço nela. – Vou para casa, preciso dormir antes que eu caia dura de tanto cansaço. Eu evito o máximo que posso ficar muito tempo dentro de casa, meu cunhado se sente muito incomodado desde que eu fui morar com eles, ele disfarça na minha presença, mas não consegue falar baixo quando ele e minha irmã estão discutindo no quarto. Saio da faculdade quase às onze da noite, até chegar em casa já é quase meia noite e amanhã eu saio novamente às seis. Minha rotina tem sido assim desde os dezoito, não quero causar mais discórdia e brigas, assim que eu conseguir, vou alugar um canto para ir viver sozinha, o difícil é conseguir... Quando chego eles estão dormindo, e quando saio normalmente vejo apenas meu cunhado, que também levanta cedo para trabalhar. (***) – Bom dia Lyssa. – Ele estava na cozinha quando eu entrei para fazer o café. – Tome um pouco mais de cuidado quando entrar em casa, você deixou a porta aberta. Como se fosse possível alguém passar pelo portão e o cachorro que fica no quintal, mas a casa é dele, não posso contestar nada, mas eu estava com tanto sono que devo mesmo ter esquecido, mas eu me lembro de ter fechado. – Sinto muito, vou tomar mais cuidado. Vou fazer o café. – Eu já estou de saída, você se levantou mais tarde hoje, não vou ter tempo de tomar café. Suspirei. – Estou um pouco cansada, o ônibus demorou para passar ontem a noite, acabei acordando mais tarde do que o costume. – Não é para menos, faz dois anos que eu durmo menos de seis horas por dia, isso quando eu não chego aqui e a cozinha está suja, eu não consigo ir deitar sem limpar tudo, me sinto um incômodo, então tento fazer o máximo para compensar minha presença aqui. Ele apenas me olhou como se nada daquilo importasse para ele e minha explicação não fizesse nenhum sentido. – Bom dia! Eu não sei por que ele tem tanta raiva assim de mim, eu nunca fiz nada para atrapalhar, nunca fiz algo para realmente incomodar, ou dei trabalho na escola. Sempre tive boas notas, e ajudei em tudo o que pude em casa. Eu até ajudo eles a pagarem algumas contas, só me sobra o valor da faculdade e o que junto mensalmente para o meu empreendimento com Débora. Eu trabalho como camareira em um hotel chic da cidade, não posso chegar um minuto sequer atrasada, porque meu chefe é insuportável, e junta cada segundo que seja para descontar no final do mês. Engraçado é que ele não faz a mesma coisa quando ficamos até mais tarde para cobrir alguma falha, temos que ficar lembrando isso a ele. No hotel eu fico até às duas da tarde, de lá eu vou para a lanchonete que é bem perto dali, eu queria muito poder não fazer tanta coisa assim, e por mais que a parte do dinheiro seja bom e me ajude, faço tudo isso mais para não voltar para casa. Da lanchonete eu vou para a faculdade, e é assim de segunda a sexta feira. Já nos finais de semana eu trabalho em uma boate, faço drinks e sirvo toda a área VIP a noite e durante o dia estamos cuidando do terreno, limpando, cuidando do solo. Hoje é sexta, finalmente, aos sábados eu conseguia descansar um pouco no único cômodo que tinha no terreno que Débora ganhou. – Por que você está se matando tanto? Eu já falei para você que não precisa fazer tudo isso, nós vamos conseguir, mas se você continuar assim vai morrer de exaustão antes que a gente chegue lá. – Débora estava brigando comigo por ligação no meu horário de almoço. – Eu sou sua amiga poxa, não precisa disso entre nós. Eu já virei um estorvo para minha irmã, não quero ser para ela também. – Pare de reclamar tanto Debs, eu sei que vamos conseguir. Amanhã eu vou cedo para o terreno, você também vai? – Não, sinto muito, eu tenho que dar uma ajuda para os meus pais, eles me convocaram e vai levar o final de semana todo. Hoje não tem aula, vê se consegue descansar um pouco Lyssa, eu estou realmente preocupada com a sua saúde. – Tudo bem, não esquenta. – m*l ela sabe que já conversei com o gerente da boate para me arrumar um freelance para hoje. – Tenho que voltar para o trabalho, nos falamos mais tarde. Depois da lanchonete, tive algumas horas de descanso, a boate só abriria mais tarde, então eu fui para os fundos quando terminei e descansei até dar o horário de sair. Saí de lá a tempo de ir para casa apenas tomar um banho e trocar de roupa, o uniforme da boate ficava no meu armário no vestiário dos funcionários, as mulheres eram sempre obrigadas a estarem com um short colado que faltava mostrar a polpa da b***a, e um cropped que ia até o meio da barriga. Não entendo qual a necessidade, mas de acordo com o gerente “são as regras da casa” do jeito que me visto parece até que faço algo mais além de servir algumas bebidas e fazer drinks. E lá vou eu para mais um dia... não vejo a hora desse inferno acabar.
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