Prólogo
Christian
Como de costume estávamos reunidos em uma noite de sábado na sala de jantar. Eu quase não vejo meus pais, eles são muito ocupados. Meus pais Eduardo e Kelly tem uma fábrica/empresa de peças de automotivos. Eles vivem para o trabalho, e somente no final de semana ficamos juntos. Essa ausência tem um alto preço .
A minha companhia é a senhora Mercês, ela que cuida de mim, me leva para passear, sempre acompanhado de dois seguranças, é ela que me conta histórias até eu adormecer de segunda a sexta .
Somos uma família bem sucedida, e não nos falta nada. Temos bons carros, muitos empregados, seguranças e motoristas. Eu tenho de tudo, roupas de marca, os melhores brinquedos, vídeo game e tudo que eu peço meus pais me presenteiam.
Eu nunca fui a escola, meu pai paga uma professora participar para vim a nossa casa me ensinar. Eu queria ir a escola conhecer pessoas novas e ter amigos, mas eles não acham seguro e preferem assim. Eu sei que eles querem o melhor para mim. Mas sou uma criança e vivo apenas no meio dos nossos empregados, sozinho .
- Mamãe.
- Sim meu filho. – Minha mãe é jovem, e muito bonita. Ela é muito vaidosa, e está sempre arrumada mesmo dentro de casa.
- Fico muito feliz quando estamos nós três juntos. – Os finais de semana tornava-se os melhores dias para mim.
- Também meu filho. Vamos tentar chegar mais cedo da empresa, e ser mais presente na sua vida. – Ela colocou sua mão sobre a minha. - Papai olhou para ela com semblante sério e não disse se quer uma palavra. – Meu pai não é muito de conversar comigo, apenas perguntava se eu estava bem e se fiz a lição de casa. Ele anda sempre ocupado no celular resolvendo assuntos de entrega e recebimento da fábrica.
Estávamos terminando nossa refeição, uma lasanha bolonhesa, minha comida preferida. Foi quando escutei dois tiros vindo do lado de fora. Imediatamente meu pai disse:
- Se escondam. – Ele sacou uma arma que estava escondida debaixo da sua cintura. – Eu sabia que meus pais faziam tiro aí alvo, mas não imaginava que ele andasse armado, nunca se quer notei volume em sua roupa.
Corri e entrei dentro de um aparador que tinha em nossa sala. Eu me deitei de barriga para baixo e abri um pouco a porta do armário, olhei por aquela greta e vi um homem de pernas longas, arrombando a porta da entrada. Eu não conseguia ver seu rosto pelo ângulo que estava, apenas da cintura para baixo.
- Você. – Disse Eduardo. – Papai de imediato deu um tiro, ele pegou no braço esquerdo do invasor, mas aquele homem foi mais rápido e disparou muitos tiros contra ele.
Meu pai caiu no chão todo ensanguentado, e agonizando de dor. Eu tremia de medo, e choramingava em silêncio, eu não podia fazer nenhum barulho, ele não podia descobrir que estava escondido ali.
Em seguida ele saiu dali e foi atrás da minha mãe. Ela correu para os fundos, provavelmente saiu pela porta da cozinha. Poucos segundos depois escutei mais três disparos, vindo do lado de fora. Ele a acertou. Aquele homem voltou e andou por toda casa, subiu para os quartos, ele estava procurando se havia mais alguém. Escutei barulho de um carro saindo e depois o silêncio tomou conta da nossa casa, eu não sabia o que fazer, foi quando escutei:
- Christian, Christian, onde você está ?- reconheci sua voz, era uma de nossas empregadas. – Eu abri a porta do aparador devagar e entrei aos prantos e chorei sem parar . Ela veio até mim e me abraçou forte .
- Alguém te viu? – Ela me perguntou espantada com o que via no chão.
- Não! – Eu assenti com a cabeça de um lado para outro.
- Temos que sair daqui agora. Eles podem vim atrás de você. – Ela pegou na minha mão e andamos até a saída de traz.
Eu passei do lado do meu pai, ele já estava morto com dois tiros no peito e três na cabeça. Quando saímos da casa minha mãe estava caída de bruços com vários tiros nas costas, possivelmente ela estava correndo quando ele a acertou. Eu não parava de soluçar.
Mariah me levou para sua casa, e chamou seu esposo . Ela cochichou algo baixinho no seu ouvido, eu não consegui escutar e depois ela tirou o carro da garagem e disse:
- Vamos Christian, depressa! Tenho que te levar a um lugar seguro. – Não disse nada, apenas fiz o que ela mandou e entrei no carro.
Viajamos cerca de uma hora, entramos em uma estrada de chão e chegamos até uma fazenda. Havia dois homens na entrada com trajes normais, imaginei que seriam os seguranças. Já estava bem tarde, passava das onze da noite. Mariah saiu do carro, e conversou com eles.
- Preciso falar com urgência com o senhor José e a senhora Lúcia, diga a eles que é a Mariah ( a Tita ) eles vão se lembrar .
Um daqueles homens pegou um celular no bolso e fez uma ligação. Demorou um pouco, e em seguida ele disse:
- Podem passar. – A porteira se abriu, liberando nossa passagem.
Chegamos na porta daquela casa, uma casa grande e muito bonita. Um casal aparentando ter uns 50 anos nos esperavam na varanda. Ambos de roupão.
- Quanto tempo Tita. – A senhora Lúcia veio de encontro a Mariah e a abraçou.
- Aconteceu alguma coisa para vocês virem a essa hora ? – José perguntou.
- Sim. Aconteceu algo muito grave e a única pessoa que pensei na hora da desespero foi vocês. Preciso que cuidem desse menino.
- Estou ficando preocupada . – Lúcia disse.
- Queria conversar com vocês dois a sós. – Mariah disse entrado com o casal para dentro de casa.
Eu e o esposo de Mariah ficamos na varanda esperando eles conversarem . Eu imagina o que estavam falando. E podia ver pela janela o espanto deles escutando ela contar.
Os três saíram para fora e Mariah disse:
- Filho eu sei que o que você viu foi muito difícil para uma criança presenciar, mas te peço que tente viver sua vida bem, esse casal vai cuidar de você, te proteger daqueles homens maus e te criar com muito amor e carinho.
- Tudo bem. – Eu não tinha opção a não ser ficar. – Eu não podia voltar para minha casa. E não tenho nenhum familiar a não ser meus pais, que agora se foram. Eu estava sozinho no mundo.
Os anos se passaram, eu continuei morando naquela fazenda, Sr. José e Sra. Lúcia me criaram com um filho que eles nunca tiveram. Eles me davam muito amor e faziam de tudo para mim e para me ajudar, tenho muito gratidão e reconheço que se não fosse por Mariah ter me levado para ali, e eles me acolherem eu poderia está morto. Considero eles como meus segundos pais. Eu nunca esqueci de Eduardo e Kelly, para mim eles foram únicos na minha vida, eles não se fazia presente, mas foram minha família.
Eu permaneci um longo período fazendo tratamento psicólogo, eu fiquei traumatizado e com medo. Eu era apenas uma criança de 7 anos que presenciou cruelmente a morte de seus pais . Não conseguia dormir direito e via eles por todo a casa, os pesadelos tomaram conta dos meus sonhos, e sempre o mesmo, o assassino . Eu não podia ver seu rosto, como naquele dia c***l, e quando estava descobrindo quem é, eu acordava assustado . O sonho parecia muito real. Aquilo me atormentava e a sede por vingança só aumentava.