Ivan Smith
Quando aquela garota entrou na minha sala, estava de costas para ela em uma ligação, mas ao me virar a reconheci de imediato. Era a mesma garota que esbarrou em mim e me fez chegar atrasado em uma reunião.
Só de me lembrar do ocorrido, fico logo possuído de raiva, afinal não gosto que nada saia do meu controle.
Eu já não estava com a mínima vontade de perder meu tempo com essa entrevista para estudantes e vendo quem era, aí que não ia perder tempo mesmo.
Eu tratei logo de mandá-la ir embora, sem nem deixá-la abrir a boca direito.
Mas o que me deixou intrigado foi a ousadia da atrevida de me chamar de i****a, com aquela língua afiada, e ainda por cima saiu do meu escritório batendo a porta como se fosse dona do lugar.
Saio dos meus pensamentos com Carlos entrando no escritório sem bater e trato logo de repreendê-lo.
— Não sabe mais bater à porta? — digo para ele de cara feia.
— Calma aí, cara, vim na paz. Que raiva toda é essa? Por algum acaso ainda não almoçou e essa cara feia é fome?
— Engraçadinho como sempre... Queria que você tivesse a mesma disposição para trabalhar como tem para fazer piadas. Já vou logo avisando que hoje não estou com paciência para você — respondo impaciente.
— O meu trabalho faço muito bem-feito, disso você não pode reclamar. Eu só vim aqui para trazer os documentos que solicitou e queria também te perguntar uma coisa.
Sabia que ele não iria vir até aqui só para me entregar esses documentos, pois poderia muito bem ter mandado sua secretária fazer isso.
— Fala logo que não tenho muito tempo.
— A entrevista que você ia dar hoje para a Stela, a amiga de Andreza, como foi?
Era só o que me faltava agora!
Eu me encosto na cadeira, olhando para ele.
— Não dei entrevista nenhuma, hoje o dia está muito corrido e você sabe muito bem que não tenho muito tempo disponível. Eu a dispensei quando ela entrou nessa sala.
— Não, você não a dispensou, você a expulsou da sua sala, sem deixar que a garota se explicasse. Eu já sei de tudo, encontrei com ela no elevador e só estou a fim de saber qual seria desculpa que daria para a sua falta de empatia com as pessoas.
— Se você já sabia, por que ficar fazendo perguntas estúpidas?
— Olha, Ivan, você me conhece bem e sabe que não faz meu tipo ficar defendendo ninguém, mas você foi injusto com a Stela. Eu já sei de tudo o que aconteceu com vocês, mas só para que saiba, no dia em que ela acidentalmente esbarrou em você, tinha acabado de receber a notícia de que seu avô estava no hospital. A garota saiu desesperada para ir ao encontro dele. Ela mora com os avós, já que é órfã de pai e mãe.
— E o que você quer que eu faça agora? Quer que eu fique com peninha dela e a chame aqui de volta para conceder a entrevista?
— Não, você não precisa fazer isso até porque eu já a ajudei em relação a isso. Mas um pedido de desculpas seria bem apropriado. — Levanta para sair da sala, mas antes de chegar na porta, vira e diz: — Tem mais uma coisa que não entendi nessa história... O que diabos estava fazendo próximo à universidade das meninas e ainda por cima a pé? Sabemos que você só anda de carro com motorista e segurança.
— O carro estava preso no engarrafamento e como o local em que ia acontecer a reunião já estava próximo, resolvi sair e ir andando para não chegar atrasado. Algo que foi inútil, já que acabou acontecendo do mesmo jeito, graças àquela garota estupida.
— Você deveria ter cuidado com o que fala das pessoas. Ela não é nada disso que você fala. Ah, e mais uma coisa, sábado é meu aniversário e você conhece a Andreza. Ela insistiu em fazer uma festa, vai ser na nossa casa mesmo, então vê se aparece por lá. Acho que é capaz dela transformar a casa em uma boate e ainda tem papai e mamãe. Eles sentem a sua falta e você sabe muito bem que o consideram como filho, apesar de achar que você não dá a mínima para a consideração deles. Pode levar uma acompanhante, talvez, assim você mude essa sua cara durante a festa.
Ele sai e fico pensando no que ele disse sobre a garota. Não sou de me sentir m*l por nada que faço, mas saber que a tratei m*l em um momento de angústia, me deixa um pouco inquieto.
Já passei por um momento assim quando perdi meu pai e o sentimento não é nada bom.
Talvez se a encontrar novamente e estiver de bom humor peço desculpa. Por outro lado, lembrando de como ela também me tratou, me faz ver que não é nada frágil e sabe se defender, além de ser muito bonita.
No que estou pensando?
Tenho que parar de pensar nessa garota e me concentrar no trabalho. Ainda por cima preciso pensar em alguém para me acompanhar na festa de aniversário do meu primo. Na verdade, tenho até alguém em mente.
Caroline Davis.
Podemos dizer que temos uma amizade com benefícios. Eu sempre estou disposto para ela quando precisa, assim como ela sempre está mais do que disposta quando preciso satisfazer minhas necessidades de homem.
Mas nunca passou disso.
Ela é filha de um empresário importante, o senhor Bernardo Davis. Pelo pai dela já estaríamos casados, mas sempre deixei bem claro que nosso relacionamento não passa de uma amizade e ela está disposta a continuar assim.
O que é bom para ambos.
Decidido, irei levá-la comigo à festa de Carlos e tenho certeza de que ela não irá recusar o convite.
***
Stela Gomes
Eu tive uma semana cheia, cansativa e estressante. Poderia estar dormindo na minha cama confortável e quietinha, debaixo do meu edredom fofinho, mas não é o que aconteceu. Estou aqui, na casa de Andreza, em pleno sábado de manhã, porque ela praticamente me derrubou da cama para ajudá-la nos preparativos da festa de aniversário do irmão.
— Vamos logo, Stela, larga de moleza e me ajuda a decidir onde vai ficar a mesa do DJ.
Nossa, é hoje que ela mata a tia Amélia do coração!
O que era para ser uma comemoração simples já virou uma grande festa, mas conhecendo Carlos como conhece, ele vai adorar.
Esses dois irmãos gostam de uma balada.
— Andreza, sua mãe já sabe que você vai transformar a casa dela em uma boate para fazer uma grande balada? Não era para isso ser uma comemoração simples?
— Eu não consigo organizar nada simples, tudo o que organizo tem que virar um acontecimento, algo inesquecível e tenho certeza de que meu irmão vai adorar. Mamãe e papai vão ficar no máximo uma hora por aqui e logo irão se retirar, por isso é que para não atrapalhar muito eles, vou montar a pista de dança com a mesa do DJ aqui fora. Aqui temos espaço mais que suficiente e ainda tem a área da piscina. Tenho certeza de que a festa vai acabar dentro dela. Vai ser inesquecível. — Ela sai batendo palmas toda animada.
Essa minha amiga é mesmo maluca.
O dia passa voando enquanto ajudo minha amiga nos preparativos para a festa. Em nenhum momento vi o Carlos e tenho quase certeza de que ele vai chegar só na hora combinada para começar os festejos.
— Andreza não tem a mínima possibilidade de eu vestir isso aqui.
Ela me falou que tinha comprado um vestido de presente para que eu usasse hoje à noite, mas quando abri o pacote, não acreditei no que vi.
— Larga de ser careta, Stela você vai ficar magnifica nesse vestido. Ele vai mostrar tudo o que você tem de lindo nesse corpão. Além do mais, você não trouxe outra roupa então vai ter que vestir esse mesmo e vai ficar linda. Quem sabe você não arruma uma paquera, hein? — diz sério.
Eu já deveria imaginar isso e trazido um vestido reserva, mas agora vou ter que usar esse mesmo e que Deus me dê coragem para sair desse quarto com ele.
A minha amiga vai se arrumar no quarto dela enquanto fico no quarto de hóspedes. Tomo um banho e tento relaxar um pouco, depois seco o cabelo e faço um penteado simples, o deixando meio solto, maquiagem e enfim coloco o vestido.
Quando me olho no espelho, me impressiono com o que vejo.
Realmente estou muito bonita.
O vestido preto é curto e fica no meio das minhas coxas, já na parte de cima ele tem detalhes de renda preta por cima de um tecido mais claro, com um senhor decote que mostra meus s***s. Ele é colado até minha cintura e o restante é soltinho no corpo. Por ser curto mostra bastante as minhas pernas e na parte de trás as costas estão nuas, sendo assim o penteado e a maquiagem que fiz está combinando perfeitamente.
Logo minha amiga entra no quarto e quando me vê começa a gritar e a bater palmas, dizendo que estou maravilhosa.
Descemos a escada e Carlos já está a nossa espera.
Andreza me falou que convidou um carinha que ela estava de olho e que era amigo do irmão dela, então, provavelmente, em algum momento dessa festa eu iria ficar sozinha. Ainda bem que vou dormir aqui, então quando isso acontecer subirei para o quarto onde irei ficar, o mesmo em que eu me arrumei.
— Nossa, você está maravilhosamente linda, Stela! E, Andreza, aquele meu amigo já chegou. Você já pode correr atrás dele e deixa que vou cuidar muito bem da Stela — Carlos diz e começo a rir da minha amiga que não perde tempo e realmente vai atrás do tal cara. — Vamos lá, senhorita, uma festa nos aguarda e não se preocupa que ainda não bebi nada, então não vou tentar te beijar. — Oferece o braço e aceito ainda rindo.
Saímos em direção a festa de braços dados.
Confesso que estou morrendo de vergonha por aparecer assim com Carlos que está me apresentando para seus amigos. E, conhecendo a fama que Carlos tem, vão achar que sou apenas mais uma garota que ele está pegando.
Logo encontramos seus pais na festa, fico com eles e Carlos sai para terminar de cumprimentar seus amigos.
Ficamos conversando e pergunto o que eles estão achando da festa, eles respondem que estão gostando e até se sentindo mais jovens por estar na companhia de tantas pessoas jovens.
Não passa muito tempo, vejo Carlos se aproximar, acompanhado de Ivan e uma mulher muito bonita.
Não sei o motivo, mas quando coloco os olhos nele, sinto uma coisa diferente, um frio na barriga e um incômodo. Quanto mais eles se aproximam mais esse incômodo aumenta e meu coração bate descompassado no peito.
Meu Deus, será que eu estou passando m*l?
— Mamãe, papai, olha só quem nos deu a honra da sua presença — Carlos diz em tom de brincadeira para os pais.
Vejo que eles ficam muito felizes com a presença do sobrinho.
— Meu querido sobrinho, muito obrigada por ter vindo. Às vezes, chego a achar que você não se importa com a sua família e muito menos conosco, já que a coisa mais rara nesse mundo é você aparecer em nossa casa — tia Amélia diz.
— Tia, não seja exagerada, a senhora sabe que os amo como se fossem meus pais, mas tenho muito trabalho na empresa e não me sobra muito tempo livre. Prometo que vou tentar vir mais vezes visitar a senhora.
— Assim espero, garoto. Não se mate de trabalhar. Seu quarto ainda está aqui arrumado, esperando por você sempre que quiser vir nos visitar. A única pessoa que o usa é Stela quando vem dormir aqui.
Eu quase me engasgo quando tia Amélia comenta que o quarto em que fico é de Ivan. Nunca passou pela minha cabeça que aquele quarto seja dele.
Por isso que ele é maior e diferente dos outros quartos de hóspedes.
— Não se preocupe, tia, vou tentar vir mais vezes, eu prometo. Aliás, vocês lembram da Caroline?
— Sim, claro, Caroline Davis, filha de um grande amigo da família e sua amiga íntima. Se não me falha a memória, foi assim que você nos a apresentou no jantar de comemoração do aniversário da empresa — comenta tio James, pai da minha amiga.
— Olá, senhor e senhora Smith, muito prazer em revê-los, a festa está muito linda.
— Oh, minha querida, muito obrigada! Era para ser apenas uma coisa intima para os amigos mais próximos, mas aí Carlos resolveu colocar a irmã para ajudar nos preparativos e deu nisso, uma grande festa — comenta tia Amélia sorrindo para a tal de Caroline.
Mas tem uma coisa me incomodando e muito, Ivan não tira os olhos de mim. Ele me olha de cima a baixo e já estou ficando com vergonha de estar no meio de uma conversa de família.
Eu tenho que sair daqui o mais rápido possível.
— Foi por isso mesmo que pedi para ela ajudar. Andreza tem um talento para organizar festas — Carlos comenta brincando.
Vou aproveitar o momento e pedir licença para sair.
— Falando em Andreza, tia Amélia, vou atrás dela, com licença.
— Oh, Deus, Stela, minha querida, como sou m*l-educada! Deixa te apresentar meu sobrinho, Ivan, acho que vocês ainda não se conhecem.
Nessa hora, meu coração parece que vai sair do peito.
— Claro que eles se conhecem, Amélia, liguei para Ivan e pedi para ele ajudar Stela em um trabalho da faculdade, concedendo uma entrevista a ela.
— Isso, tia Amélia, já nos conhecemos. Olá, senhor Ivan, prazer em revê-lo. Agora se me derem licença, vou atrás de Andreza. — Saio de perto deles o mais rápido que as minhas pernas conseguem andar com esse salto alto.
Entro na casa e minha vontade é de me esconder.
Subo a escada e entro no quarto onde estou hospedada, quer dizer, no quarto de Ivan.
Parece que o destino está conspirando contra mim, quero distância desse homem arrogante e por incrível que pareça durmo no quarto dele todas as vezes que venho aqui.
Entro no banheiro, fecho a porta e fico me encarando no espelho. Estou bonita com essa roupa e essa maquiagem.
Será que o Ivan achou o mesmo?
Ele não tirava os olhos de mim, parecia que ia me devorar com os olhos.
Meu coração estava batendo acelerado, estava sentindo uma coisa estranha no peito e achei que ia passar m*l na frente de todo mundo.
Meu Deus, por que estou sentindo essas coisas?
Preciso tirar esse homem dos meus pensamentos, ele é arrogante, frio e trata muito m*l as pessoas. Eu tenho que ficar distante dele o máximo que puder.
Preciso sair desse banheiro antes que Andreza sinta minha falta e comece a me procurar feito louca. Dou uma retocada na maquiagem, lavo as mãos e saio do banheiro, mas quem vejo dentro do quarto me faz congelar ainda na porta.