CAPÍTULO 1
Stela Gomes
Há exatamente catorze anos perdi meus pais em um acidente de carro. O que era para ser a nossa tão sonhada viagem de férias a Paris acabou se tornado um grande pesadelo.
Meu pai, Arthur Gomes, trabalhava sem parar, e minha mãe, Sophia, sempre reclamava com ele por não ter tempo para a família. Até que um dia depois de tanta reclamação, ele resolveu realizar nosso sonho de conhecer Paris. Só que o que não esperávamos aconteceu, um carro desgovernado ultrapassou o sinal vermelho e bateu no táxi em que estávamos.
O pior aconteceu, meu pai, que estava no banco do passageiro, morreu na hora devido ao impacto e a minha mãe a caminho do hospital.
Somente eu sobrevivi.
Não tive tempo nem de me despedir dela, pois estava desacordada na ambulância junto com ela.
Até hoje me pergunto o motivo de ter sobrevivido a esse acidente, pois era para ter morrido junto com eles.
Após o acidente de carro fui morar com meus avós maternos na Califórnia. Eles me criaram com todo o amor e carinho que eu precisava e apesar de tudo sou feliz.
Não somos ricos, mas vivemos bem e confortavelmente. Pude estudar em uma escola boa e hoje faço faculdade de jornalismo.
Tenho uma melhor amiga e o nome dela é Andreza Smith.
Sinceramente, não sei como nos tornamos amigas, afinal somos completamente diferentes. Ela ama uma balada, vive tentando me arrastar com ela, mas eu prefiro ficar na minha. Sem contar que a coisa que menos gosto é de chamar atenção, já ela adora ser vista por todos onde passa.
Porém, eu sei que hoje não escapo dela, já que é seu aniversário e combinamos de ir a um barzinho que fica próximo da universidade depois da aula com alguns amigos.
Enquanto todos dançam e bebem estou em um canto, sentada em uma das mesas, observando meus amigos se divertindo. De repente, o Carlos aparece me puxando para dançar.
Ele é o irmão mais velho da Andreza, trabalha em uma das empresas do seu pai como gerente de operações, mas gosta de uma festa e principalmente de ficar com várias mulheres.
Ele é o típico playboy safado.
— Vamos dançar, Stela! — diz me arrastando para a pista de dança sem me dar oportunidade de recusar.
Percebo que ele já está pra lá de bêbado, pois ele tenta me agarrar e me abraçar de um jeito diferente.
Carlos que não tente dar um de esperto para cima de mim, que ele vai ver.
É quando de repente ele tenta me beijar, mas dou um belo de um tapa na cara dele e saio correndo do barzinho.
Com certeza, todo mundo está sem entender o que aconteceu.
Carlos sai correndo atrás de mim, provavelmente para se desculpar, mas não consegue me alcançar.
Quando ele se aproxima, entro em um táxi que estava parando no momento. Peço para que ele saia logo do lugar e me leve diretamente para casa.
Quando chego em casa corro direto para o meu quarto.
Graças a Deus meus avos já estão dormindo.
Eu me jogo na cama, pensando no que Carlos tentou fazer. Tenho certeza de que amanhã, na faculdade, Andreza irá me fazer um monte de perguntas, querendo saber o que aconteceu para eu ter saído correndo daquele jeito.
***
Não dá outra, no instante que coloco os pés na universidade ela corre na minha direção.
— O que foi que aconteceu com você ontem à noite para ter saído correndo daquele jeito feito louca?
Deus, ela pergunta sem nem respirar, como consegue?
— Dá para esperar eu chegar direito para só depois começar a me encher de perguntas? — rosno para ela.
— Pronto, você já chegou. Agora me fala o que aconteceu.
Como vou fazer para inventar uma desculpa para ela?
Não quero falar a verdade, pois com certeza ela vai falar com o Carlos e não quero que eles discutam por minha causa.
— Calma, amiga, não aconteceu nada grave. Eu apenas não me senti muito bem depois de tomar uma bebida, você sabe que não tenho costume de beber.
Andreza me olha com uma cara de quem não acredita muito na minha conversa, mas também não insiste mais.
Graças a Deus, o sinal toca e entramos na sala.
É aula do professor, Alfredo Martinez, e ele já chega passando um trabalho jornalístico para a turma. O trabalho se trata de uma entrevista com pessoas importantes da cidade.
Nossa, esse trabalho, para mim, vai ser difícil. Não conheço ninguém assim importante e conseguir marcar horário com esse tipo de pessoa certamente é muito complicado. Já para Andreza vai ser fácil já que a sua família é influente e com muitas posses.
— Já sei quem você pode entrevistar — Andreza diz toda animada.
— Meu primo, o Ivan.
Nossa, até gelo quando ela diz o nome dele, pois já ouvi muito falar ao seu respeito. Falam que ele é frio e sem emoção, não admite falhas dos seus funcionários, é o típico homem de negócios.
Todos tem medo e inveja dele por ser o CEO do grupo Smith Empreendimento, uma das maiores empresas da Califórnia. É uma empresa familiar que pertence aos pais de Andreza e de Ivan.
— Não sei não, Andreza. Já ouvi falar do seu primo e ele não me parece ser uma pessoa disposta a usar seu tempo ajudar uma aluna de jornalismo concedendo uma simples entrevista — digo para ela, não acreditando muito que o seu primo me ajudará.
— Relaxa — diz da forma mais tranquila que existe. — Meu primo tem uma fama de ser mau, mas é uma boa pessoa. Vamos juntas na empresa e falamos com ele.
Seguimos para a empresa, mas como esperava não somos atendidas. Seu primo alegou estar muito ocupado e não tinha tempo para nos atender naquele momento, o que, para mim, não foi nenhuma surpresa.
No dia seguinte voltamos a sede do grupo, porém Ivan saiu para uma reunião com os acionistas.
Marcamos de voltar outro dia, pois temos tempo para a entrega do trabalho.
Eu não o conheço pessoalmente, mas já tenho uma péssima impressão ao seu respeito.
Saímos da sede do grupo e seguimos direto para a universidade, afinal teremos um dia cheio hoje.
***
— Estou exausta! — Andreza murmura assim que saímos da nossa última aula. — Vou direto para casa, estou louca por um banho e por minha cama.
Dou risada dela quando diz a última parte.
Nos despedimos, ela vai embora no seu carro e eu vou para casa de táxi, mas quando chego próximo ao ponto recebo uma ligação da minha avó.
— Olá, vovó — respondo animada com a sua ligação.
— Stela, estamos no hospital, seu avô acabou de ter um infarto.
Nossa, meu coração erra uma batida nesse momento. Não posso acreditar que meu avô está em uma situação dessa.
Saio desesperada e acabo esbarrando em um homem muito bonito que aparenta ter pouco mais de um metro e noventa de altura, olhos azuis, cabelo loiro e muito m*l-educado por sinal.
— Desculpa, senhor, não tinha visto você aqui — digo morrendo de vergonha e com muita pressa.
— Você é cega ou é apenas i****a que não olha por onde anda?
Olho para ele sem acreditar no que estou ouvindo, afinal acabei de me desculpar e não precisava ser tão grosso, mas não tenho tempo para discutir no momento com ninguém mais. Agora se um dia o encontrar novamente não irei deixar barato.
— Me desculpa mais uma vez, não foi minha intenção esbarrar no senhor — digo olhando diretamente nos olhos dele.
O homem olha para mim, de cima a baixo com uma cara de nojo, como se eu fosse um nada e simplesmente segue seu caminho.
Nossa, como é que ainda existem pessoas desse tipo?
Mas eu também não tenho tempo para continuar discutindo com ninguém.
Quando chego no hospital, recebo a notícia de que meu avô não está nada bem. Simplesmente, abraço minha avó e começo a chorar pedindo a Deus que meu avô saia bem dessa.
***
Estou há alguns dias faltando nas minhas aulas, cuidando do meu avô e Andreza com certeza deve estar estranhando a minha ausência.
Fiquei tão ocupada no hospital, cuidando dele que nem sequer lembrei de avisar para ela o que está acontecendo. Para piorar, meu celular descarregou e não tenho como carregá-lo aqui no hospital, então se ela me ligou não conseguiu falar comigo.
No sábado, vou para casa e minha avó fica no hospital. Ela insistiu para que eu descansasse um pouco senão também iria acabar ficando doente.
Vou para casa arrasada, afinal não gosto de jeito nenhum de ver meu avô naquela situação.
Assim que chego em casa, tomo um banho e caio no sofá, chorando de tristeza e medo.
A campainha toca, me assustando, e quando abro a porta vejo Andreza que fica assustada quando me vê chorando.
Sem entender o que passa comigo, minha amiga me abraça sem falar nada.
Após um tempo e mais calma, digo para Andreza o que aconteceu com meu avô que ainda está no hospital e minha amiga me consola.
Depois de uma semana no hospital meu avô finalmente recebe alta e amanhã volto a frequentar minhas aulas na universidade.
Já estou até vendo que tenho muitas aulas atrasadas para colocar em dia. Andreza me ajudou no que pode, mas tem muita coisa que somente eu posso fazer.
Para piorar minha situação, o prazo do trabalho do professor Alfredo Martinez está quase terminando e não posso ficar sem a nota desse trabalho, pois vale a metade da nota final.
Andreza ficou de ver se consegue falar com o seu primo e me dar uma resposta sobre a disponibilidade dele para a entrevista.
Espero que ela consiga esse feito senão estarei perdida.