A visita

3082 Words
─ PAI! ─ correu e o abraçou com força.   ─ Cuidado, assim você vai acabar com a minha coluna!   ─ Eu espero que o senhor esteja tomando todos seus remédios!   ─ Sim, eu estou, não precisa se preocupar em relação a isso.   ─ Eu acho bom, se não o senhor ia ver só.   ─ Eu trouxe algumas de suas roupas, sei que você tinha suas favoritas como você disse que a biblioteca era gigante eu não trouxe seus filhos antigos... não sabia se eles estariam nela.   ─ Sério?! Que ótimo, estava com saudades de algumas roupas minhas ─ animado com a notícia. ─ Tudo bem, aqui tem todos os livros que eu já li... então o senhor pode manter meus livros em casa mesmo.   ─ Eu trouxe tudo o que você pediu, eu demorei já que algumas coisas eu tive dificuldade em encontrar. Fiquei surpreso que o dinheiro que você me deu acabou... nem um centavo sobrou.   ─ Nossa que bom que eu dei uma quantia alta, se não o senhor não teria conseguido comprar todas as coisas. E esse cavalo, o senhor já pegou o jeito com ele?   ─ Sim, no começo ele era um pouco difícil de lidar só que agora nós damos muito bem!  Ele não entra em nenhum lugar suspeito ou que aparenta ser assustador.   ─ Espero que com isso o senhor não ande mais em locais suspeitos. Ele teve dificuldade em trazer todas essas coisas? ─ se aproximando da carroça.   ─ Não, ele é um cavalo muito forte então eu consigo carregar mais peso com ele.   ─ Teve dificuldade em chegar aqui? Lobos ou caminhos suspeitos na qual esse cavalo não quis passar... a proposito qual o nome dele?   ─ Sebastian. Na verdade, dessa vez foi bem tranquilo, estranhei... já que na primeira vez que peguei o caminho ele era bem assustador, só que dessa vez parecia tão normal que eu fiquei confuso.   ─ Estranho, deve ter relação com a bruxa... é a única resposta pra isso.   ─ Isso foi bom, caso ao contrário não teria conseguido chegar até aqui... Sebastian jamais pegaria o mesmo caminho que fiz Bela pegar. Sem contar os lobos, provavelmente ele teria um surto.   ─ Fico feliz que tudo deu certo no final e que principalmente o senhor está bem de saúde!   ─ Eu estou me cuidando filho, não se preocupe. Graças as cartas eu consigo matar um pouco da saudade, mas ainda sinto sua falta em casa. Por sorte Kota me faz companhia... aquele garoto levado, não sei como ele ainda não foi pego fugindo da escola e indo lá pra casa.     ─ Ele está aprendendo tudo certinho?   ─ Sim, ele é um pouco teimoso, quando você dizia sobre ele eu sempre achei que estava exagerando, mas realmente, o garoto tem seus momentos. Ele também é muito bom em mexer com madeira, fiquei surpreso com isso.   ─ Eu espero que a tia dele não saiba dessas escapadas... se não ele nunca mais vai te liberdade de sair de casa, sem estar acompanhado.   ─ Aquele garoto tem um grande futuro pela frente. É uma pena que a tia dele tenha o mesmo pensamento que os demais aldeões... eu sempre tomo cuidado para ele não ser pego. Não sei qual caminho ele pega, mas ele nunca é visto chegando ou saindo de casa.   ─ Como a professora dele nunca falou nada sobre seus sumiços?   ─ Aparentemente ela não se importa com quem vai ou deixa de ir.   ─ Mas nossa, não chega nem avisar aos pais do sumiço isso é no mínimo loucura! E se algo ocorreu?   ─ Já é estranho uma escola tendo aquele tipo de ensino, então deve ser normal a professora ser desleixada, ou professor não sei ao certo se é uma mulher que ensina coisas de caças aos pequenos..., mas provavelmente é um homem pois duvido que naquela aldeia deixariam uma mulher ensinar esse tipo de coisa.   ─ É uma pena que os professores dos garotos não tenham cuidado. Eu espero que pelo menos com as meninas a coisa seja diferente.   ─ Olá senhor!   Alguns objetos se aproximavam.   ─ Pai, esses são Carol, Emma, James ─ apontando para cada objeto que pulou para cumprimentar. ─ E esse é o chato do David, ignore tudo o que ele falar... ele só te critica e fala coisas desnecessárias.   ─ Não diga uma coisa dessas sobre minha pessoa!   ─ Ele esta certo, o senhor não precisa escutar as coisas chatas que esse relógio fala! ─ Emma fala vendo James concordar consigo.   ─ É um prazer conhecê-los ─ disse sorriso pequeno, era tão estranho ver aqueles objetos falarem e se moverem, mas tinha que se acostumar já que não queria agir de forma estranha perto dele.   ─ Pai, dessa vez... bem, tente não olhar para Bruce com um olhar assustado ou de puro terror ─ coçando o cabelo. ─ Acho que ele vai ficar chateado.   ─ Ele já deve estar só com a minha presença.   ─ Mas é logico que não! Se não fosse por você... nosso patrão não teria conhecido Jacob! ─ James disse vendo os amigos ─ menos David é claro ─ concordar.   ─ Fico feliz com isso. Meu filho, eu vou dar meu melhor... não sei ao certo se vou conseguir lidar com tudo, sabe como não sou muito corajoso... se ele não gritar ou rugir eu vou ficar mais confortável.   ─ Pode deixar, aposto que ele não vai agir feito uma b***a selvagem com o senhor! Se tudo der certo hoje, aposto que ele vai permitir que o senhor visite mais vezes o castelo!   ─ Eu gostaria muito disso.   ─ Ótimo, agora vamos entrando. Precisamos levar tudo isso para o jardim.   ─ Não se esqueça das rosas! ─ lembrou James   ─ Verdade! Pai o senhor poderia vender algumas rosas?   ─ Algumas?! Milhares você quer dizer ─ Emma disse bufando.   ─ Como assim?   ─ Bem, como eu disse na carta estamos arrumando o jardim, mas ele só tinha rosas e por isso acabamos tirando todas... no caso tiramos ontem. Por sorte deixamos todas dentro da água para que não estragassem, se possível o senhor poderia vende-las?   ─ Bem, não sei se vou conseguir vender elas..., mas posso tentar. O que quer que eu faça com o dinheiro?   ─ Pode ficar para o senhor, não vamos precisar de nada já que comprou tudo que precisávamos.   ─ Tem certeza?  Se eu consegui vender todas elas vão render uma boa quantia... bem, falo isso já que sua amiga disse que são milhares.   ─ Tudo bem, o senhor pode ficar com o dinheiro, você já vai te todo o trabalho de vender elas.   ─ Bem, agradeço.   ─ Elas são lindas, aposto que vai conseguir vender todas! ─ James disse todo orgulhoso.   ─ Vamos preparar alguns lanches e um chá para nosso convidado! ─ Carol disse animada. ─ Quando tudo estiver pronto eu irei avisar.   ─ Oh, não precisa se incomodar.   ─ Imagina, você é nosso convidado!   ─ Nosso cozinheiro faz ótimos lanches, o senhor vai adorar! ─ Emma disse animada.   ─ Vamos entrando pai, você também precisa cumprimentar Bruce... se o senhor desejar posso apresentá-lo aos demais objetos da casa.     Eles entraram mais adentro do castelo. Em seu quarto olhando pela janela Bruce olhava a cena, ele estava de certa forma um pouco incomodado com a visita daquele senhor. Só que ele precisava pensar no lado positivo, se aquele homem não tivesse invadido sua moradia, ele jamais teria conhecido Jacob. Ele tinha que esquecer o quão incomodado ele ficava com aquele tipo de coisa, era por um bem maior.   Ele se viu no espelho vendo se estava muito desarrumado, não queria assustar o homem ou deixar uma impressão negativa. Ainda mais que ele desejava o homem como sogro ─ outro motivo para deixar de lado a invasão ─ então queria estar apresentável. Carol havia comentado que não era uma boa ideia ele sorrir ao cumprimentar já que ele mostrava seus dentes afiados e isso poderia deixar o homem desconfortável e amedrontado, só porque Jacob não tinha medo não quer dizer que os demais também não teriam.   Ele desceu as escadas já escutando o som das vozes, aparentemente ele estava apresentando os demais objetos ao homem. Quando chegou na sala viu Jacob conversando com o piano enquanto seu pai ficava fascinado em ver o aparelho musical falar. Pelo jeito ele ainda demoraria um pouco para se acostumar com tudo aquilo, só esperava que não demorasse muito para ficar à vontade próximo de si.   ─ Olá.   Colin se assustou com a voz repentina, já que estava focado demais no piano. Ele respirou fundo, não queria deixar seu filho sem graça ou chateado por agir de maneira covarde próximo a Fera. Ele ainda precisava dar conselhos românticos e sobre a vida, se ele não conseguisse lidar com isso como ele conseguia ajudar seu pequeno? Ele se virou encarando a grande Fera, notou que ele estava diferente da primeira vez que a viu, estava mais arrumada e não tinha uma expressão zangada.   ─ Olá, obrigado por permitir que eu voltasse ao seu castelo.   ─ Vamos abandonar o passado. Sua presença deixa Jacob feliz e é isso que importa.   ─ Isso quer dizer que ele pode nos visitar mais vezes?   ─ Se ele desejar.   ─ Você ouviu isso pai?! Não é ótimo, agora o senhor pode vir aqui mais vezes ─ abraçando o pai que retribuiu com um sorriso.   ─ Muito obrigado por isso, agradeço a gentileza ─ disse encarando Bruce. ─ Desculpe por meu comportamento passado, quando nos conhecemos pela primeira vez.   ─ Eu entendo, não deve ter sido fácil você lidar comigo naquele dia. Só que tudo isso acabou gerando uma coisa boa ─ olhando para Jacob que o encarava de volta. ─ Tive o prazer de conhecer melhor seu filho.   ─ Oh ─ ficou chocado pelas palavras, olhou para o filho que estava envergonhado. Pelo jeito aqueles dois pareciam se gostar só que eram medrosos demais para dizer alguma coisa. ─ Fico feliz que goste do meu filho, assim fico mais confortável sabendo que ele está em boas mãos.   ─ Bem, vamos começar a colocar as mudas no jardim! ─ Jacob disse chamando atenção dos dois.  ─ Você vai nos ajudar, Bruce?   ─ Sim.   ─ Ótimo!        Eles ficaram no jardim arrumando as mudas, retiraram tudo que havia dentro da carroça já que teriam que colocar as rosas dentro com cuidado, já que elas ainda estavam dentro da água.  Tiveram que achar muitas coisas para que pudessem colocar elas. Como vasos e potes que não eram usados ou qualquer coisa que pudesse couber uma. Bruce e Colin conversaram durante o dia o que deixou Jacob feliz já que tinha muito medo de que os dois acabassem ficando em silencio ou desconfortáveis com a presença um do outro.   Ele ainda queria conversar em particular com o pai queria tirar algumas dúvidas e resolver os problemas que não paravam de rondar sua cabeça, estava começando a ficar louco e não poderia deixar isso para a próxima visita. Decidiu conversar durante a pausa que fariam na hora de comer os lanches.   ─ Pai, eu posso conversar com o senhor?   ─ Claro meu filho ─ disse pegando um lanche da mesa.   Tinham feito uma mesa no jardim, o dia estava muito bonito então estava agradável para lanchar lá fora. Havia lanches, guloseimas, chás e suco a mesa era farta e Colin ficava em dúvida do que consumir. Tinham ido um pouco mais afastado para conversar, por sorte nenhum objeto os seguiu provavelmente tinham percebido que eles queriam um momento a sós.   ─ Acho que o senhor já sabe o que eu quero falar.   ─ Sim, pelas cartas eu já conseguir compreender, você gosta dele, não é?   ─ Estava tão obvio assim nas cartas?   ─ Sim, você sempre foi muito transparente meu filho.   ─ Você acha que ele suspeita de alguma coisa?   ─ Confesso que acho que ele sente o mesmo. Eu notei o jeito que ele olha para você meu filho.   ─ O senhor tem certeza, tenho tanto medo de que ele me trate assim por pensar em mim como um amigo...   ─ Sei que faz muito tempo que ele não entra em contato com outros humanos, mas tenho certeza de que ele no momento está te tratando como alguém que deseja mais do que uma simples amizade... provavelmente no começo ele só desejava isso, só que ao passar dos meses que você passou aqui nesse castelo ele deve ter mudado de ideia.   ─ Estou com medo, o senhor sabe a situação...   ─ Sim, mas eu confio em você meu garoto! Eu sei que se existe alguém que pode resolver o mistério para quebrar essa maldição é você. ─ Eu sei que é estranho, mas eu gosto tanto dele papai...  eu nunca achei que gostaria de alguém assim, sabe... me entregar por livre espontânea vontade para ficar aqui. Só que ele nunca me tratou como prisioneiro, não se preocupe! Não estou tendo uma crise e sendo um louco para desenvolver uma síndrome de Estocolmo.   ─ Pelas cartas eu consegui notar que caso você desejasse ir embora ele teria permitido. Sei que você não teria esse tipo de pensamento, caso fosse realmente um prisioneiro. Eu vi como você tem liberdade, você fala com ele de um jeito que nenhum prisioneiro faria... poderia já estar morto se fosse outro.   ─ Mesmo assim, as vezes acho que tudo não passa de uma loucura da minha cabeça... por eu ser uma pessoa carente que sempre desejo que alguém gostasse de mim pelo o que eu sou.   ─ Filho, tenho certeza de que você não é assim, que não se apaixonaria pelo primeiro homem que te tratasse bem. Você sempre foi um garoto esperto e sei que não faria algo do tipo.   ─ Mas e se eu não for esperto? Se esse sentimento não passa de uma extrema carência?   ─ Filho, você sabe a verdade, eu sei que está com medo de tudo isso..., mas é normal. Quando conheci sua mãe eu senti o mesmo, ela era diferente das demais mulheres e fiquei pensando se eu não gostava dela devido a isso... só que com o tempo eu percebi que não era apenas isso que fazia com que eu gostasse dela e sim ela por inteiro, sua companhia e os momentos que ela passava ao meu lado eram os melhores que eu poderia desejar.   ─ Você se sentiu assim também?   ─ Sim, no começo eu fiquei muito confuso... em conflito comigo mesmo achando se esse sentimento era realmente real ou eu só estava carente, vendo algo que não existia. Só que eu pensei e analisei melhor e vi que realmente a amava... eu sei que você deve sentir o mesmo por ele.   ─ Sim, parando para pensar acho que o senhor tem razão... não consigo me imaginar indo embora, ou estando com outro alguém... eu gosto de ficar junto dele.   ─ Sei que sua presença aqui foi de extrema importância. Eu vejo como todos aqui gostam de você e como Bruce o trata de forma especial... filho ele gosta de você, eu tenho certeza disso. Confie nesse velho aqui.   ─ O senhor acha que eu devo dizer alguma coisa?   ─ Do jeito que ele está agindo eu acho que é melhor, talvez ele esteja com medo de dizer qualquer coisa... veja bem, ele tem aquela forma e não deve ter uma grande autoestima. Ele deve achar que caso se declare você queira partir, por achar estranho esse tipo de relacionamento.   ─ Eu nunca acharia estranho, eu entendo sua condição!   ─ Mas ele não pensa assim, meu filho. É difícil para ele imaginar ser aceito estando dessa forma, mesmo ele vendo como você é diferente de todos os outros ele ainda deve sentir medo de que tudo acabe dando errado.   ─ Todo esse tempo que estive aqui eu achei que ele já não pensava mais assim.   ─ Filho, ele esta assim por séculos, ainda deve ser difícil para ele... mesmo passando todos os dias ao seu lado, vendo que é realmente aceito, ainda existe uma voz dentro de sua cabeça dizendo que tudo isso não passa de um sonho e uma farsa.   ─ Tem razão, acho que mesmo eu ficando aqui por anos ele ainda vai achar isso.   ─ Eu sei que você vai conseguir lidar com isso, ainda mais por amá-lo.   ─ Eu vou fazê-lo ver papai, quero mostrar para ele que o que eu sinto é tudo verdade.   ─ Eu sei que você vai. Pretende dizer isso hoje?   ─ Não, eu vou esperar mais um pouco... eu ainda estou com medo.   ─ Querido ele também gosta de você, não precisa ter medo.   ─ Mas eu estou nervoso, seria minha primeira confissão... é meu primeiro amor, não é algo fácil de lidar! Eu preciso de um pouco mais de tempo para ter coragem.   ─ Eu consigo entender, mas não demore, isso pode fazer com que vocês dois sofram devido a isso.   ─ Pode deixar se tudo der certo até final dessa semana eu vou dizer o que sinto!   ─ Se precisar de mim é só me mandar uma carta que eu venho o mais rápido possível! Ele que não ouse machucar meu pequeno.   ─ Você é incrível papai, obrigado ─ abraçando com força e sendo retribuído.   ─ Eu sempre vou estar aqui para ajudá-lo meu garoto.     Eles voltaram para a mesa para continuar o lanche. Logo depois voltaram a mexer em todo o jardim, até ficar de tarde. Para que Sebastian não ficasse com medo de andar na floresta de noite Colin resolveu partir ele prometeu que viria mais vezes e que sempre que quisesse fazer uma visita ele avisaria com antecedência por uma carta.   Acharam melhor deixar a reforma da sala, para outro dia já que tinham feito muito trabalho arrumando todo jardim. Ele tinha ficado muito bonito, a grama estava com um corte diferente assim como os arbustos que pareciam ter mais vida devido a suas formas de animais ─ que estavam perfeitas, pareciam até de verdade... bem no caso animais de grama de verdade ─ as mudas estavam todas plantadas e não demoraria muito para crescer e florescer deixando o ambiente repleto de novas flores.   Jacob foi dormir cedo já que estava cansado ele quase dormiu durante o jantar de tão exausto que estava ─ fez muito esforço carregando as coisas de um lado para o outro ─ ele estava feliz, conseguiu ver seu pai e tirar as dúvidas que tinha em sua cabeça ele tinha uma missão agora. Tinha que se declarar.
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