Adelie Galliard | 4 de Setembro 2021
Quase não tive tempo de arrumar minhas malas antes de Breno começar a gritar em minha porta e assim que o dia surgiu, eu fui completamente enxotada da minha própria casa para viver na casa dos Messina.
Eu só não fazia a menor ideia de que a mansão daquela família seria tão longe.
Eu fiquei literalmente horas e mais horas sentada dentro de um carro, enquanto olhava aquela paisagem que aos poucos começava a mudar do asfalto cinza, para algo mais gramado, cheio de árvores.
“Ele é o que, um monge budista que quer ter contato com a natureza?” Acabei pensando comigo mesma, mas isso não ficou na minha cabeça por muito tempo, não… a minha mente apenas começou a reclamar de tudo.
Porque me casar não parecia ser rüim o suficiente, eu agora tinha a porcaria do peso da vida da minha mãe nas costas, por conta das decisões horríveis de vida do meu padrasto, o que claro, me forçava a olhar para todos os meus sonhos de sair daquela coisa sangrenta para ter uma vida normal, sendo jogados pela janela.
“Que destino de merdä! Eu sabia que devia ter fugido daquela casa o quanto antes, mas eu me escuto? É claro que não! Porrä!” Comecei a praticamente me xingar e me amaldiçoar dentro da minha própria cabeça, porque honestamente… uma fuga na adolescência, teria evitado o meu destino atual.
Mas agora, não tinha mais como ficar chorando sobre decisões que eu decidi não tomar, então… o que me restava naquele momento, era aceitar a minha própria situação, e calar a porrä da minha boca, enquanto pensava em um jeito de não ser completamente infeliz.
— Não faça nenhuma idiotice, — ouvi Breno rosnar e eu pisquei.
— Eu não falei nada…
— Você tem o péssimo costume de estragar tudo, mas saiba… se föder o meu negócio com os Messina, eu vou transformar a sua mãe em uma putä e forçá-la a trabalhar no meu bordel para os piores clientes, — Breno cuspiu aquelas palavras e eu sabia que ele não estava brincando, — então… sugiro que seja boazinha e cuide bem do seu marido. Ao menos para ser fodidä, você deve servir.
Engoli em seco ouvindo aquela merdä, porque eu não podia retrucar. Não. Ele estava deixando bem claro que não dava a mínima para nada além de si mesmo e o que me restava era pensar em outras formas de escapar.
Claro, era quase como uma missão impossível se eu fosse parar para pensar — considerando que eu seria a mulher de um mafioso que eu nem conhecia o rosto —, mas… eu sempre podia dar um jeito, não podia? Nem que fosse de alguma forma, dando um jeito daquele casamento terminar de vez.
“Se eu pensar dessa forma, pode ficar mais suportável…” veio à minha mente, porque se eu encontrasse um jeito de terminar tudo o que eu tinha com o meu marido, sem ter nenhum dano colateral para nenhum dos lados… talvez desse jeito, eu conseguisse me manter sã por mais tempo, e não achasse tão r**m a estadia na minha nova casa — até porque, seria temporário.
Mas claro que o universo não podia colaborar comigo e a minha nova casa, (mansão para falar a verdade) não podia ser um lugar normal. Não. Aquilo ali era mais parecido com uma prisão de segurança máxima.
— Vamos, desça, — Breno disse de forma fria e eu suspirei.
— Não pode me deixar lá dentro?
— Não. Como eu já disse, você não é um problema meu.
A minha vontade era de mandar aquele filho da putä a merdä, — mas eu não fiz, apenas desci do carro e arrastei minhas malas até os portões de ferro, que se abriram em um instante, como se fosse mágica.
— Adelie Galliard? — Um homem mais velho e com uma carranca me perguntou, e eu assenti, — venha, estávamos esperando por você.
Pisquei, olhando em volta para saber quem exatamente estava me esperando, e antes do portão atrás de mim se fechar, o carro de Breno já havia dado partida e ido embora dali.
Eu estava sozinha.
Estava largada naquela mansão, com uma família provavelmente tão louca quanto seu líder.
Por sorte, mesmo depois de caminhar 10 minutos até a porta da mansão, eu não vi uma única alma viva, — e quando entrei na casa, já sentindo minhas pernas doerem, — não havia nada além de silêncio e vazio.
— O mordomo vai dizer onde você está alocada, — o homem disse com mau-humor e um senhor que parecia ter em torno de 70 anos, assentiu.
— Venha, senhorita… por aqui, — ele simplesmente falou, andando em direção a escada como se não fosse nada, aqueles 3 metros de escadaria para cima, — a senhorita ficará em um dos quartos da ala leste.
Ala leste? Um dos quartos? Então ao menos… eu não ficaria com o meu “marido”. O simples fato de isso parecer real, já era um alívio ao meu coração.
— Entendo, — falei me sentindo mais animada, ao menos até ver o quanto teria que andar até o lugar onde seria o meu quarto. OS corredores da mansão eram longos, o piso vermelho (carpete) e os quadros nas paredes, deviam valer uma verdadeira fortuna.
— Entre, — o mordomo falou abrindo a porta para mim, — logo trarão suas malas. As refeições são servidas as 6:00 AM, 13:00PM e 21:00PM. A senhora Messina, e o jovem mestre não costumam comparecer por suas agendas estarem sempre… preenchidas.
Por um momento, pensei que ele estava falando de Dorian Messina quando se referiu ao “jovem mestre”, mas naquele mesmo dia eu descobri que Dorian Messina sequer estava na Itália. O meu “querido” marido, estava nos EUA, e isso queria dizer que eu não somente estava “livre” das minhas obrigações como esposa, como também queria dizer que eu tinha tempo.
Tempo para pensar em uma forma de escapar dali, afinal… nem mesmo uma única alma viva parecia se importar com a minha existência e isso embora fosse solitário, — era uma das melhores coisas que poderia ter me acontecido.
“Talvez… o universo não me odeie tanto assim”.