Adelie Galliard | 3 de Setembro 2021
Eu não tive escolha a não ser aceitar aquela proposta estúpida de Breno, mas quando o dia seguinte chegou, eu estava decidida a convencer a minha mãe, de não deixar aquele maníaco com quem ela se casou, fazer o que ele bem entendia com a porcaria da minha vida, porque adivinha, eu era quem estava nela, e sentia todas as consequências, e se dependesse de mim… eu não queria ter nenhuma consequência para me preocupar no futuro .
Então, assim que aquela coisa fedorenta saiu de dentro da minha casa, eu fui até a minha mãe, que ainda estava tomando o seu café da manhã .
Eu sabia que ela não tinha tanto poder quanto Breno dentro da nossa casa, sabia que ela não era a melhor opção, — mas era a única que eu tinha e no momento, era a única capaz de me ajudar.
— Bom dia, filha… — ela falou, enquanto segurava as xícaras com as mãos trêmulas, — conseguiu dormir bem?
— Na medida do possível, — disse com sinceridade, afinal, como alguém conseguiria dormir bem, sabendo que iria se casar com um completo doido? — e o motivo para isso ter acontecido, é o que eu quero falar com você sobre …
— Filha, eu sei que isso tudo parece demais pra você, mas …
— Não. — Eu a interrompi, sem pensar duas vezes, — mãe, não tem como você saber, e eu realmente não quero me casar com Dorian Messina! Você sabe que eu não quero continuar nesse meio! O meu sonho é sair da máfia, ser alguém normal! Eu me esforço na faculdade! Eu faço tudo que eu posso para continuar a minha vida e- …
— Adele, me escute com atenção. — Minha mãe soltou, com um tom sério, — eu sei que esse é o seu sonho, e eu entendo ele, de verdade … — ela desviou o olhar do meu, apertando a xícara em suas mãos, — mas, ele não é algo tão simples assim, não se pode sair da máfia apenas porque você quer.
— Claro que eu posso, se eu só sair daqui, trocar de identidade, parar de me envolver com pessoas do meio… — comecei a explicar, porque eu tinha visto como fazer isso várias vezes, — eu posso ter uma vida normal de algum jeito, mãe! Eu só preciso que você convença o seu marido, e …
— Adele, fugir também não é uma opção na máfia, ainda mais, quando o seu pedido de casamento já foi aceito. — Ela estava com a voz baixa, forçando uma serenidade que nitidamente não existia mais em seu corpo, — se você tentar fugir agora, você vai ser caçada até o fim do mundo, e eu serei morta, todos os que você ama serão mortos, — ela segurou as minhas mãos, com os olhos fixos nos meus, — e quando te acharem, farão o mesmo, isso se tiverem piedade, porque para uma mulher dentro da máfia, eles conseguem ser bem criativos com as punições que eles dão …
Senti a minha espinha gelar naquele instante, porque eu sabia que podiam ter consequências antes, mas agora? Era algo praticamente inviável.
“Se não fosse por aquele desgraçadö ter aceitado essa merdä! Que infernö!” Pensei comigo mesma, mas… nada parecia que podia ser feito naquele instante, pelo menos, nada que não envolvesse a morte da minha mãe e a minha.
Eu podia arrastar Breno para a lama, mas isso me levaria junto, isso levaria… uma guerra civil para todos os envolvidos com a família.
— Então é isso… quer que eu me sacrifique?
Murmurei, esperando por algum motivo que um raio de sanidade atingisse a cabeça de vento da minha mãe, bem a tempo dela desistir dessa idiotice, mas claro… isso nunca aconteceu.
— Não é tão rüim assim, Adelie… — ela sussurrou, — na máfia, um casamento é sagrado. O seu é a união entre duas famílias e Dorian não te machucaria, — ela disse como se isso fosse grande coisa.
— Então eu devo ser grata por ele não poder me espancar até a quase morte?
— Adelie…
— Não! — Gritei me levantando da mesa, — você por acaso vê o que está me dizendo para fazer? Para aceitar? Quer que eu fique com um monstro! Que eu durma com ele! Que viva do lado dele pelo resto da porrä da minha vida!
— Eu vivi com um monstro por você! — Ela gritou de volta e eu me encolhi.
Os olhos da minha mãe estavam cheios de lágrimas e eu sabia que era verdade. Ela tinha aceitado o casamento com o Breno… por mim. Meu avô jamais daria a ela outra chance de permanecer viva, se não a tivesse casado a tempo de esconder a gravidez, e Breno, que teve que se casar com uma mulher grávida de outro homem… claro, ele me odiou desde o útero.
— E-eu…
— Chega… — ela murmurou, — eu estou cansada disso, Adelie. Eu entendo que odeie a máfia, entendo que odeie nossa casa, nossa vida, e o Breno… entendo até que me odeie, mas… não fale como se você fosse a única a sofrer. Nós somos uma família… e todos fazem sacrifícios pela família.
Sacrifícios.
Eu odiava essa drogä de palavra.
— Mãe…
— Case-se com Dorian Messina. Seja uma boa esposa, dê a ele um filho e… tome cuidado. Os Messina não são uma família pequena como a nossa, — ela disse com aquele tom cheio de medo, — não seja um empecilho, minha filha. Não dificulte as coisas para o seu marido e jamais, traia ele.
— É o melhor que pode me dizer?
— Sim, é.
Ela simplesmente falou, se erguendo da mesa e andando em direção a sala. Eu não consegui comer nada depois daquilo e quando Breno voltou para casa no fim da tarde, eu não tive direito a um vestido, a um sorriso, flores ou um padre.
Ele simplesmente jogou a porcaria dos papeis do casamento na minha frente com um rosnar baixo ao ordenar.
— Assine essa merdä de uma vez.
Pela primeira vez, eu não discuti com ele. Peguei aquela malditä caneta e assinei bem embaixo da letra cursiva e elegante de Dorian Messina.
— Ótimo, — Breno disse ao pegar os papeis de mim, e com um sorriso satisfeito ele praticamente cuspiu as palavras na minha cara, — agora suba, arrume suas coisas. Você vai se mudar para a casa dos Messina, afinal… agora você não é mais um problema meu.