Capítulo 3

2164 Words
Diogo Bittencourt Estaciono o meu carro em frente a fábrica da minha família. Desço do automóvel e sigo até o interior do imenso prédio. Era comum que diariamente todos os olhares vidrassem em mim enquanto eu caminhava pelos corredores. E quando digo “todos”, não me limito apenas ao sexo feminino ou aos funcionários jovens, mas literalmente a todos. Nunca entendi a razão daquela admiração, talvez fosse porque eu servia de inspiração para alguns deles, já que apesar da minha pouca idade para ocupar um cargo de alto nível, eu saía-me muito bem. Ou, ainda, porque eu era conhecido como o solteiro mais cobiçado, mulherengo e exigente entre as mulheres, e muitas ali adorariam ter a oportunidade de ter ao menos uma hora comigo. Mas eu não tinha culpa de ser daquele jeito. Decidi não me apegar mais a mulher alguma, desde que sofri a maior desilusão amorosa da minha vida. E, desde então, percebi que eu não precisava entrar em um relacionamento sério. Eu podia ter quantas mulheres eu quisesse, e quando quisesse, e isto, definitivamente, era mais vantajoso. Eu tinha tudo o que elas queriam. Um corpo malhado, um bom sexo, um lado romântico e dinheiro. Então, eu estava no céu. Assim que sentei na minha cadeira, Thobias, o meu assistente, entrou na minha sala. Ele trazia consigo uma prancheta repleta de papéis. ― Bom-dia, senhor. Eu trouxe o que me pediu. Thobias era o meu segundo braço direito nos negócios. E devo confessar que quando digo “negócios”, refiro-me literalmente a todos. ― A nossa próxima carga chegará às duas e meia da manhã. Conseguimos fechar um acordo com um traficante do Paraguai. As armas que ele estará trazendo são bastantes cobiçadas pelas redondezas. ― Ok. Mande Thomás cuidar disso e se encarregar de levá-las aos nossos compradores. Precisamos que este lote seja vendido antes que a polícia comece a xeretar. ― Certo. E quanto a mulher misteriosa... ― Thobias desliza algumas páginas e entrega-me uma folha em específico. ― Puxei a ficha criminal dela e não encontrei nada. Observo a folha, analisando os dados e a foto dela grudada no papel com um clipe. Eu não podia negar, Maitê realmente era atraente, apesar de que ela se tratava de uma miniatura de mulher, projetada para ter menos de 165cm, e não era do meu feitio atrair-me por mulheres com menos de 170cm, mas algo nela chamou a minha atenção. Talvez, fosse pelo simples fato de que ela era louca. ― Estou impressionado que uma mulher com o histórico dela não tenha chamado a atenção da polícia ainda. ― E é exatamente por isso que eu preciso dela. Não posso me envolver em um escândalo. A polícia está esperando somente um deslize meu para me prender. Já basta a polêmica de descobrirem que o meu avô era um dos maiores traficantes de armas do país. E eu só consegui me safar dessa, porque forjei provas que comprovavam que eu não fazia parte deste meio. Mas, eu não entendo, o que tem demais em querer seguir os negócios da família? ― digo irônico. Thobias sorri. ― Sim, senhor. Espero que a Srta. Martins possa se juntar a nós. Mas, pelo que vi naquele dia, ela me pareceu ser uma mulher muito segura de si. Acabo deixando um meio sorriso transparecer em meus lábios e coço o meu queixo. ― Mas nenhuma mulher é indomável, meu caro Thobias. Ela pode ter uma postura de durona, mas a necessidade fala mais alto. Sei que ela precisa daquele dinheiro. Vi que foi despejada de casa. E confesso que não dei muitas opções a ela. ― O senhor não me disse, mas... Ela realmente é irmã da garota com quem o senhor está saindo agora? ― Devo admitir que eu havia me esquecido disso por um instante. Quando a vi lá, fiquei surpreso. Achei que eu precisaria dirigir por todo o Rio à procura dela. Mas, veja só, ela apareceu na manhã seguinte. ― Deveríamos nos preocupar? ― Por quê? ― arqueei as sobrancelhas e olhei para Thobias. ― Acho que a garota com quem o senhor está saindo não iria gostar de saber que o senhor está trabalhando com a irmã dela. Fecho o meu rosto em uma expressão séria e me ajusto na cadeira. Pigarreio. ― Presumo que a família dela não saiba sobre o trabalho que ela tem. Além do mais, não tenho planos de ficar em uma coleira com a Gabriela. Apenas a acho atraente. É uma garota mesquinha e superficial, mas é gostosa. Thobias sorri, desconfortável. Ele não apoiava o meu estilo de vida. Ele entendia os meus motivos para agir feito um cafajeste, mas apoiava que eu buscasse por uma mulher de verdade, para construir uma família e largar as aventuras que eu vivia. Mas aquele pensamento estava fora de cogitação. Eu não me sentia preparado para entrar em um novo relacionamento, planejar um futuro e me casar. Muito menos, construir a minha própria família. A que eu já tinha, me dava uma tremenda dor de cabeça. ― Ah, e a sua avó ligou mais cedo. Ela quer que almoce com ela hoje. Há um novo pretendente. Imediatamente suspiro. Aos oitenta anos, a minha avó havia decidido que estava na hora de voltar a viver um romance. Era o quarto pretendente somente este ano. E ainda estávamos em maio. ― Diga a ela que não posso. Terei uma reunião com os acionistas da empresa esta tarde. ― Ela mandou cancelar a sua agenda de hoje. ― O quê?! ― quase explodi. ― Ela não pode sair cancelando os meus compromissos. ― Na verdade, ela pode. Ainda é a presidente. ― Thobias diz sem jeito. Respiro fundo, completamente enfurecido. A minha única alternativa era comparecer àquele maldito almoço. (...) Desci do carro ao chegar no restaurante. Toda a minha família já estava presente. Eu fui o último a chegar. Mas, para ser sincero, nem queria ter vindo. Arrumei o meu terno e puxei uma cadeira, entre dois de meus primos, e me sentei. Era uma mesa composta por doze pessoas ― Estou feliz que todos estejam aqui. A minha avó disse sorridente, olhando para todos os meus primos, tios e suas respectivas parceiras. ― Isto realmente é necessário? ― reclamei, enrugando a testa. Todos os olhares se direcionaram até mim. Eu era conhecido como o rebelde da família. A ovelha desgarrada. O cara que não merecia tudo o que tinha, inclusive, a presidência da empresa. Mas eu era o único que tinha coragem de falar o que ninguém mais tinha. Todos estavam cansados dos almoços e jantares que a minha avó organizava sempre que se apaixonava por alguém, ou pelo menos, que achava que estava apaixonada, já que os seus relacionamentos não duravam mais de três semanas. Minha vó sorriu, mas eu sabia que no fundo, ela estava me fuzilando com os olhos. ― Não seja tão m*l-humorado, meu neto. Sempre é bom comermos juntos. ― Não quando o motivo é mais um de seus homens. ― Falei sem mais delongas e a vi soltar um suspiro. ― Não seja assim, Diogo. Respeite o Sr. Rivera. Deslizei o olhar para analisar o senhor ao lado da minha avó. Ele não era muito diferente dos outros. Cabelo branco, idade avançada, boa aparência e rico, visto o relógio de três mil reais que ele tinha no pulso. ― Inclusive, é um prazer conhecer a família da minha amada Lizeth. ― Disse o senhor. Revirei os olhos ao vê-lo segurar a mão da minha avó e beijá-la. Aquela cena chegou a embrulhar o meu estômago. ― E estamos muito felizes em conhecê-lo. É muito bom saber que a vovó encontrou alguém especial ― disse a bajuladora esposa do meu tio Marcos. O seu nome era Carol, todos da família sabiam que ela havia dado um golpe no meu tio. Menos ele. Loira, alta, corpo esculpido e jovem, ela tinha a metade da idade do marido. Além disso, ela era uma das mulheres que queriam dormir comigo. Depois de um tempo de conversas paralelas sobre negócios, família, casamento e temas que julguei serem completamente uma perda de tempo, os meus primos decidiram que deveriam me incluir na conversa. Eu não queria participar daquela roda. Realmente não queria. O meu intuito era ficar o máximo de tempo sem trocar sequer uma palavra com nenhum deles. Mas fui forçado a participar. ― E você, Diogo? Já que está na presidência da empresa, quando pretende se casar? ― questionou Clarissa, a minha prima do meio, com um sorriso patético nos lábios. Respirei fundo, tentando não explodir diante aquela mesa. ― Não vi que um dos requisitos do cargo era casamento ― respondi sarcástico e arrogante. Clarissa era apenas mais uma que queria estar em meu lugar na presidência. ― Clarissa está certa ― minha vó se intrometeu. ― Quando você me dará um bisneto? Só falta você para completar a nossa família. ― Nunca ― digo sem mais delongas e sorrio. ― Uma hora ou outra você terá que abandonar esta vida de descompromisso e engatar em um relacionamento sério. Não dá para fugir disso a vida toda. ― Ah, quase me esqueci que o nosso menino de ouro foi corno ― Clarissa debochou, fazendo os meus outros dois primos rirem juntos. Travei o maxilar e abri um sorriso lateral, tentando não me incomodar com as suas palavras. Mas no fundo eu estava morrendo de ódio de não poder voar em cima daquela garota e apertar o seu pescoço igual galinha. Clarissa infernizava a minha vida desde quando eu era apenas um garotinho. Por ser mais velha que eu, ela sempre se achou no direito de agir com superioridade e me tratar m*l. ― Bem, senhores, eu preciso ir. Lembrei que eu tenho um compromisso hoje à tarde ― digo me levantando da mesa. ― Não acredito que você já está indo ― reclamou a minha avó. ― Este almoço já deu o que tinha que dar, vovó. Vejo você em breve. ― Dou a volta na mesa somente para dar-lhe um beijo na bochecha em despedida. Apesar de eu não concordar com a sua busca constante por um namorado e suas atitudes imprudentes como de sempre cancelar a minha agenda, eu a amava completamente. A minha avó foi a única pessoa que me restou depois do desaparecimento dos meus pais há vinte anos atrás. Ela cuidou de mim. E mesmo hoje, depois de ser independente, ela ainda cuidava. (...) Ao chegar em casa depois de, obviamente, mentir para conseguir fugir daquele almoço, eu tiraria a tarde inteira para descansar, visto que todos os compromissos que eu tinha para hoje foram cancelados. Tomei uma dose de uísque e sentei-me no sofá da sala. Senti o meu celular vibrar no bolso do meu terno. Thobias havia acabado de me mandar uma mensagem, questionando se eu ainda estava com a minha saúde mental intacta depois daquele almoço. E eu precisava ressaltar que além de cuidar dos meus negócios, Thobias era o meu amigo e também muitas vezes o meu terapeuta. Apesar de não possuir um diploma, os seus conselhos sempre me ajudaram a seguir em frente. Eu apenas ignorava as suas recomendações sobre largar a minha vida de cafajeste. Isso, sem dúvidas, não era negociável. Respondi a mensagem de Thobias e em seguida recebi uma outra. Era Gabriela. Suspirei imediatamente. Eu não sabia quais eram os planos que ela estava fazendo em relação a mim, aliás, eu não sabia quais eram as suas expectativas sobre mim. Desde o início, deixei bem claro as minhas intenções com ela. Apenas sexo. Eu a respeitaria, a mimaria e se fosse preciso, a bancaria. Era um padrão que eu sempre seguia. Eu não gostava de ser um completo pé no saco. Se eu queria satisfazer os meus desejos, eu não via problema em agradar a pessoa que estava cooperando para isso. Mas haviam regras. E limites. Não podíamos passar do sexo casual. Os encontros sempre eram destinados a isso. Os presentes e paparicos eram apenas uma forma de recompensá-las, mas sem pretextos algum para namorar. Porque, para ser honesto, eu corria incansavelmente para longe de relacionamentos amorosos. Acho que eu havia desenvolvido uma fobia. A campainha do meu apartamento toca, puxando-me dos meus pensamentos. Deslizei o meu olhar para o relógio na parede ao lado e vi que marcava três e quinze da tarde. Quem poderia ser em uma hora daquela? Eu não costumava receber visitas. As mulheres com quem eu saía não tinham conhecimento algum sobre este apartamento, porque eu me sentiria incomodado se elas viessem para o único lugar onde eu realmente conseguia ter paz. E Thobias sempre avisava antes de aparecer. Levantei do sofá e segui até a porta, abrindo-a. E, curiosamente, encontrei a pessoa que, sem dúvidas, eu menos esperava. Pelo menos, não na porta do meu apartamento. Além disso, eu não fazia ideia de como ela havia me encontrado aqui. ― Maitê? ― falei surpreso.
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