Capítulo 4

2572 Words
Maitê Martins Depois de sair da casa da minha mãe e pegar carona com um Uber, retornei ao apartamento de Agatha. Eu precisava de um lugar para ficar até conseguir o meu próprio apartamento. Não sei quanto tempo eu demoraria para conseguir, porque eu precisava de dinheiro, e a forma mais rápida era finalizando o serviço que Eros havia me interrompido de fazer. Inclusive, que ódio daquele cara. Por enquanto que eu não bolava nenhum plano para tirar aquele homem da minha cola, eu esperava não ser um incomodo para Agatha enquanto eu estivesse ali. Assim que passei pela porta, a ruiva pulou em meus braços. ― Que bom que você chegou! ― disse ela quase me esmagando em um abraço. ― Aconteceu alguma coisa? ― enruguei a testa, um pouco confusa com a sua atitude. ― Ora, claro que sim! ― olha para mim. ― Estou me sentindo culpada. Eu não devia ter te deixado sozinha ontem. Arqueei as sobrancelhas como se eu dissesse “é mesmo?”. Claro que ela não deveria ter me deixado sozinha naquela boate. Até porque, só me habilitei a ir para aquele lugar por causa dela. Do seu aniversário. Fora isso, teria ficado em casa. ― Não sei o que deu na sua cabeça de me abandonar. ― Cruzei os braços, prestes a iniciar um drama. ― Me desculpa, é que... É que... ― Umedece os lábios, nervosa. ― Eu conheci uma pessoa. ― E por acaso essa pessoa é mais importante do que eu? ― digo incrédula. ― C-Claro que não! Eu não quis dizer isso. É que... ― Você encontrou alguém para apagar o seu fogo ― respondo sarcástica. Agatha suspira. Ela não tinha argumentos para me refutar. ― Olha, desculpa, eu espero poder te recompensar de alguma forma. ― Eu acho bom ― reviro os olhos. O olhar da ruiva finalmente cai sobre as minhas malas. ― Para onde você está indo? ― questionou surpresa. Abri um imenso sorriso. ― Estou vindo morar com você ― definitivamente, as minhas palavras quase infartaram Agatha. ― Mas não é definitivo, é só até eu conseguir dinheiro para comprar um apartamento. ― Explico. ― Ah ― diz aliviada. ― Então, quer dizer que falta pouco para você conseguir? ― Então... ― Sorrio envergonhada. ― Está mais perto do que longe. ― Na verdade, estava mais longe do que perto, mas ela não precisava saber disso. ― Só preciso de mais um tempo. Não tem problema eu ficar aqui, né? Agatha força um sorriso e coça a cabeça. ― É que... ― Suspira. Arqueio as sobrancelhas. ― O que está acontecendo, Agatha? Você está estranha. Até parece que não me quer aqui. ― Não, não é isso ― diz nervosa. ― É que... ― Aperta os olhos, sem resposta. Inesperadamente, vejo a porta do banheiro abrir e um Deus grego sair somente de toalha. ― Mas o quê...? ― balbucio. ― E-Eu ia te contar ― tenta se explicar. ― O banheiro está livre, meu amor. O desconhecido se aproxima de Agatha, beija o topo de sua cabeça e envolve o seu imenso braço malhado por volta da cintura da ruiva. Aquele homem devia ter dois metros de altura, além do seu corpo muito bem trabalhado. Era um moreno de tirar o fôlego. Barba rala, olhos castanhos, lábios carnudos, piercing na orelha e uma tatuagem no peito que se prolongava até toda a extensão do seu braço direito. ― É a sua amiga de quem você falou, amor? ― ele perguntou e Agatha apenas assentiu com a cabeça, envergonhada. ― Prazer, me chamo Thomás. ― Estendeu a mão para me cumprimentar. Um pouco constrangida por conta da sua impactante fisionomia, desviei o meu olhar do dele enquanto apertava a sua mão. ― Eu preciso ir trabalhar agora. Te vejo mais tarde? Thomás olhou para Agatha e ela assentiu. ― Obrigado pela noite espetacular ― ele cochichou sedutoramente no ouvido da ruiva e depois desapareceu da sala, seguindo rumo ao quarto. ― O que deu na sua cabeça? ― gesticulo com a boca, completamente frustrada. ― Quem é ele? ― Eu o conheci ontem, na boate ― gesticulou de volta. ― E você traz um cara que m*l conheceu para o seu apartamento? ― quase gritei as palavras. ― Eu estava muito bêbada ontem e ele me ajudou muito. E... Ele é muito gato! ― Você só pode estar louca mesmo. E se ele for um mau-caráter? Um pervertido? Ou um psicopata? Você não sabe se defender, Agatha! ― Não, ele não é nada disso. Ele trabalha para o Eros. ― Eros? ― arqueei as sobrancelhas, demorando um pouco para assimilar e logo me dei conta de quem Agatha estava falando. Mas que azar! Contudo, em seguida, me recordei do que ela havia me dito mais cedo ao telefone. ― Você me disse para ficar longe dele. E aí, você vai e se envolve com um cara da mesma laia? ― dessa vez falei um pouco alto demais. ― Mas ele não é o Eros. Neguei com a cabeça. Não era possível que a minha melhor amiga estava se envolvendo justo com o cara que trabalhava para o Eros. Só poderia ser o destino me pregando uma peça. ― Eu sei que você está me julgando agora na sua cabeça ― diz aproximando-se de mim. ― Mas... Agatha não termina de falar e solta um suspiro. Ela nem tinha justificativas. Foi algo momentâneo e ela cedeu sem nem cogitar. ― Só não me odeie. Enruguei a testa, confusa. ― Apesar de estar frustrada, eu não vou te odiar por causa disso. Você vacilou, isso é claro. Me abandonou naquela boate. Mas te perdoarei porque era o seu aniversário ― sorri. Agatha pulou nos meus braços, quase me derrubando, de tanta alegria. ― Obrigada! Prometo que nunca mais farei isso! ― disse afundando o rosto no meu pescoço. ― Desculpe estar atrapalhando este momento entre amigas ― o moreno disse ao se aproximar. Ele usava um terno preto e uma calça social bem justa, destacando a sua musculatura. Ao vê-lo, tive uma leve lembrança de Eros. Ambos tinham o mesmo porte físico, a diferença era que Thomás possuía alguns centímetros a mais. Mas, por que eu estava pensando nele e fazendo esta comparação tosca? Eu não podia negar que ambos eram atraentes, e que na nossa região não era muito fácil de se encontrar homens assim, na maioria das vezes os atrativos que apareciam ou eram gays ou caras superficiais que desvalorizavam mulheres ― o que poderia facilmente ser o caso de um dos dois. Ou dos dois ―, mas eu não deveria estar pensando nele. Não fazia sentido algum. Talvez, fosse pelo fato de que criei um lugarzinho especial para Eros em minha cabeça. O que era maligno e desejava que ele sumisse do planeta terra. Thomás se despediu de Agatha com um demorado beijo nos lábios. Devo confessar que até fiquei com inveja. Mas, no fim, se tratava apenas de carência. Há muito tempo eu não ficava com alguém. Mas, também, eu era muito exigente. Não costumava me interessar por homens apenas pela aparência. As chances de surgir um relacionamento tóxico eram imensas e eu já tinha problemas demais. Focar somente na aparência física só me era muito bem-vinda quando se tratava apenas de algo carnal, mas nunca estive com ninguém apenas para f********o casual. Infelizmente. Eu deveria tentar algo assim, um dia desses. Ouvi Agatha suspirar. Naquele instante, duvidei se ela estava apaixonada ou apenas excit*da. Então, senti curiosidade em lhe perguntar como havia sido a noite anterior, já que pelo visto havia sido muito boa. ― Quero que me conte tudo ― eu disse. Agatha deu alguns pulinhos, deixando claro que estava louca para me contar cada detalhe. (...) Depois de passar horas e horas ouvindo Agatha contar detalhe por detalhe da noite que teve com Thomás e do quanto ela o achava sexy, recebi uma mensagem em meu celular. Um de meus informantes havia enviado uma foto de Santorini em uma boate. Definitivamente, os ricos eram estranhos. O relógio marcava apenas duas e dez da tarde e Santorini estava em uma boate. Quem ia para uma boate à tarde? Certo que havia um bar no estabelecimento que funcionava vinte e quatro horas por dia, mas mesmo assim, era um horário muito cedo para encher a cara. Levantei do sofá e acabei deixando Agatha falando sozinha. Eu tinha que chegar no local onde Santorini estava antes de ele fugir de mim novamente. ― Ei, aonde vai? ― Agatha questionou confusa ao me ver pegar a minha bolsa. ― Eu tenho uma emergência. Preciso ir. Mas estarei de volta à noite. Não dei tempo a Agatha de falar mais alguma coisa e corri até a porta, saindo do apartamento logo em seguida. Peguei um Uber e me encaminhei para a boate. Felizmente, era próximo daqui. E, infelizmente, se tratava da boate de Eros. E na minha opinião, isso acabou sendo algo icônico, visto que Santorini tinha problemas com Eros e mesmo assim estava em sua boate. Desci do Uber e entrei no estabelecimento. Diferente da noite, o lugar estava calmo, tocava apenas uma música instrumental no fundo enquanto poucos homens, por volta de seis, estavam sentados próximos ao barman, bebendo descompassadamente. Avistei Santorini na ponta do balcão, um pouco mais isolado dos outros. Sentei-me em uma mesa um pouco distante do bar e o observei de longe. Eu o esperaria sair e o abordaria no estacionamento quando fosse buscar o seu carro. Eu não sabia quanto tempo Santorini iria demorar, então, era melhor eu pedir algo para beber. Chamei o garçom e pedi um drink. Enquanto ele não voltava, desviei o olhar para a tela do meu celular, e não sei como isso aconteceu, ou quando, juro que foram questões de segundos, mas assim que levantei a minha cabeça novamente, Thomás estava sentado em minha frente. Senti o meu coração quase sair pela minha boca. Não esperava encontrá-lo ali. Não sentado em minha mesa. ― Desculpe, te assustei? ― disse com um meio sorriso. Engulo em seco. Um pouco desconfortável com a sua presença, pigarreio. ― Deseja alguma coisa aqui? ― perguntei. Mesmo que não fosse a minha intenção ser arrogante, acabei sendo. Quando eu estava desconfortável era inevitável isso não acontecer. Thomás soltou um curto riso nasal em ironia com a minha arrogância. ― Bem, já que me perguntou ― sorriu. O intrigante homem apoiou os seus cotovelos sobre a mesa e inclinou-se em minha direção, aproximando-se mais um pouco de mim. ― Eu sei o que você está fazendo aqui. E recebi ordens para não te deixar fazer isso. Automaticamente arqueei as sobrancelhas. Isso só poderia ser coisa de Eros. ― Eu não sei do que você está falando ― finjo desentendimento. A minha resposta arrancou um meio sorriso dele. Thomás olhou de relance para Santorini e depois me olhou novamente. ― Sabe por que ele ainda não está m*rto? ― questionou retórico. ― Pense bem. Olhe onde ele está. Facilmente poderíamos apagá-lo. Mas ainda não fizemos isso, porque estamos esperando por você. A sua resposta. Enruguei a testa não muito convencida de suas palavras. ― E por que estão esperando por mim? ― indaguei desconfiada. ― Ordens do chefe. Thomás respondeu breve, o que só contribuiu para a confusão em minha cabeça. ― Se isto é uma forma de me fazer trabalhar com ele... ― me inclino, igualmente a Thomás. ― Eu já disse que trabalho sozinha. Então, a minha resposta é não. Retorno a minha postura anterior. ― Você é bem teimosa, Srta. Martins. ― Ele disse impressionado. Thomás não tirava o meio sorriso do rosto enquanto me olhava, o que já estava se tornando mais do que desconfortável para mim. Se eu não tivesse uma arma dentro da minha bolsa, já teria gritado por socorro ao barman. ― Me avisaram que não seria fácil te convencer, mas... Eu não sou de desistir fácil. ― Está perdendo o seu tempo. ― Na verdade, acho que é você quem está. Neste momento, a sua conta bancária já poderia estar com uma grande quantia em dinheiro. Você poderia estar comprando o apartamento que tanto quer, agora. Travei o maxilar e franzi o cenho. Como ele sabia que eu queria comprar um apartamento? ― Como você sabe disso? ― Há muitas coisas sobre você que sabemos, Srta. Martins. Vivemos em um mundo onde pessoas de poder conseguem qualquer coisa. Até mesmo, vasculhar a vida dos outros. Se bem que, para isso, nem é necessário ter poder. Basta uma vizinha fofoqueira ou... Uma amiga de língua solta. Logo me dei conta de que ele se referia a Agatha. ― O que você quer com a minha amiga? Sei que não quer nada sério com ela. Então, deixe-a em paz. ― Rosno as palavras. ― Ela quem veio atrás de mim, então, por que eu a recusaria? Ela é uma gata. Mas, a nossa conversa não se trata disso. ― Eu já disse, eu não vou trabalhar com o Eros. Thomás suspira, dando-se por vencido. ― Ok, Srta. Martins. Eu tentei. ― Levantou-se da cadeira. ― Mas se você pensa que irá conseguir matá-lo antes da gente, você está enganada. Thomás saca uma arma do seu quadril e aponta para Santorini. O seu dedo estava no gatilho, prestes a atirar. Ele não o mataria aqui, mataria? Não na frente daqueles homens. ― Todos que estão aqui são nossos homens. Desde o barman ao homem de camisa verde ao lado de Santorini. Se atirarmos nele, não haverá nenhuma testemunha. Então... ― Thomás me olha de relance. ― Pense bem. É a sua ultima chance para ficar rica. Travo o maxilar, cogitando a possibilidade de ser um blefe dele, mas recuei quando o escutei atirar. Levantei imediatamente da cadeira para conferir o corpo de Santorini, mas, ele ainda continuava vivo e bebendo. Olhei para Thomás completamente confusa, e então notei que a arma que ele carregava se tratava apenas de uma arma de Airsoft. ― Você é algum idi*ta? ― arqueei as sobrancelhas completamente estupefata. Thomás sorriu e se virou para mim. ― Eu tentei da forma fácil, Srta. Martins. Mas vejo que terei que ser mais radical. O olhar que Thomas me lançou foi completamente intenso, que chegou ao ponto de fazer um calafrio percorrer por minha espinha. ― Se você não aceitar a nossa proposta, acho melhor começar a juntar dinheiro para sair do Brasil. Porque dificultaremos cada mísero serviço que te oferecerem. ― Disse ameaçador. Engoli em seco. Eu não tinha outra escolha senão aceitar aquela proposta. Aquela maldita proposta. ― Ok. Eu aceito esta m*rda. Mas, terá que ser do meu jeito. ― Você acha que está em posição de exigir algo? ― arqueou as sobrancelhas. ― Diferente de você, eu tenho uma arma de verdade com um silenciador em minha bolsa. E estou muito perto da saída, consigo fugir muito antes dos seus amigos perceberem, então, a escolha é sua. Thomás sorriu, impressionado com a minha atitude. ― Ok. Você venceu. Como quer fazer? ― Primeiro, onde eu encontro o Eros? Thomás me passou o endereço do apartamento de Eros. Era uma cobertura em um bairro nobre. Definitivamente, quem morava ali tinha que ter muito dinheiro. Ao chegar no endereço, toquei a campainha e em poucos segundos me deparei com o intrigante homem. O seu rosto estava tomado de surpresa.
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