Tomando as rédeas

1263 Words
Pude sentir os olhos de todos virarem para o meu futuro sogro. E o tom arroxeado da pele dele demonstrava que eu tinha acertado em cheio. Ele não iria escapar. Levou menos de um segundo para ele começar a se recuperar antes de me responder. - Contratos têm diversas naturezas, Emily. Um casamento é considerado um contrato sim. Mas não o tipo de contrato que você está acostumada a ver. - Na verdade, eu discordo. - As cabeças se viraram na minha direção. - Por exemplo, Jonas e eu estamos prometidos um ao outro desde que nos lembramos. Visto que os negócios das nossas famílias são mais rentáveis juntos do que separados. - Fiz uma pausa dramática. - Vamos supor, que eu e o Jonas decidimos hoje, não casar mais, ainda assim você fará o investimento na White? - O olhar que recebi como resposta foi de ódio incendiado por raiva. Eu havia pego ele. Abordei o assunto de uma forma irrecusável. - O investimento na White não depende do casamento de vocês. - Meu pai interveio enquanto a minha mãe se abanava desesperadamente. - De fato pai. - Agora encarei o Garcia nos olhos, e ele bebeu o uísque em um só gole. - Eu só tenho uma preocupação nisso tudo, e acho que meu futuro sogro pode me ajudar a sanar essa preocupação. - O que você precisar, querida futura nora. - As aparências eram a maior arma de pessoas como aquelas. Se ele perdesse o controle, iniciaria uma disputa de poder, se mostraria fraco para a esposa, o filho e os amigos. Não seria algo que ficaria entre aquelas paredes. Se ele se descontrolar é uma questão de algumas horas para todos no clube, seus parceiros de negócios saberem que ele estava nos chantageando com o casamento. - Falamos na semana passada, sobre elaborarmos juntos um contrato. - Ele assentiu, segurando o ar, acredito eu para não gritar comigo. - Mas, como a sua agenda está completamente indisponivel para mim, fiquei com receio, sabe… dessa formalização não ser prioridade para você. - O tirano Senhor Garcia quase desmontou na minha frente. - Emily, o que você pensa que está fazendo? - Minha mãe começou. - Esse assunto está tornando nosso almoço indigesto. - Me permiti uma rápida olhadela para a minha mãe. Ela estava vermelha púrpura de raiva. Se ela pudesse, me bateria ali mesmo. - Não acho indigesto. - Jonas falou, pela primeira vez, desde que falamos sobre o assunto da decoração. - Acho pertinente. Pai, acredito que é fundamental termos essa formalização. - Garcia nem respirava, dava para ouvir seu cérebro trabalhando para sair armadilha que montei, e que Jonas, muito maravilhoso, cercou. Por fim, ele falou. - Emily, falhei com você. A semana foi muito… conturbada. Acredito que possamos finalizar o acordo na próxima semana. - Ah, ele não iria me enrolar mais. - Perfeito. Segunda, às 11 estarei lá, com o meu jurídico. Caso você não esteja disponível, acredito que o Jonas possa representá-lo, o que acha amor? - Eu não precisei pensar em uma segunda estratégia depois dessa, porque o Jonas sorriu e piscou para mim. - Estarei lá. Pode ficar tranquila, segunda ás 11. - Sorri de volta para ele. E em meio às pessoas ao nosso redor, emanando raiva e até um pouco de descontrole, eu senti pela primeira vez por ele um pouco de admiração. E dali para o amor eram poucos passos. - Vou abrir espaço na minha agenda também, Emily. Acredito que possamos resolver tudo de uma vez por todas. - O tom ameaçador era nítido em sua voz. E me senti em perigo imediatamente. - Agradeço pela compreensão Garcia. Agora, gostaria de tratar do casamento. - Isso surpreendeu até a mim. - Jonas e eu não tivemos a oportunidade de planejar as coisas como queríamos, e agradeço muito a mamãe e a Kelly por cuidarem das coisas até agora, mas acho que seria bom se nós dois assumirmos. - Todos, inclusive Jonas, foram pegos de surpresa. - Emy, você não queria se envolver com nada do casamento. - Kelly começou, nitidamente incomodada. - Exatamente, o que mudou filha? - Minha mãe estava decidindo se aquilo era bom ou ruuim. Depois da nossa discussão sobre a empresa, ela não me pressionava mais, acredito eu que com medo de me provocar a ponto de fazer algo pior do que eu já fazia. Eu coloquei no rosto o meu sorriso mais tímido. A máscara tomou a frente em uma facilidade sem igual. - A verdade… - Coloquei as mãos no rosto, para demonstrar uma timidez que de verdade eu não sentia. - Encarei o Jonas nos olhos, ele estava incrédulo com a minha atuação. - É que nos apaixonamos. - A risada de nervoso completou a minha atuação. - E assim que nos demos conta disso, decidimos que nossa relação seria verdadeira. - Os olhos do Jonas faiscavam. Não consegui ler na expressão dele se de aprovação ou não. - Combinamos que nos conheceríamos melhor, teríamos uma relação de casal, além das vontades de vocês ou benefícios aos negócios. - Um suspiro longo tomou a minha mãe, que bebeu avidamente o liquido transparente em seu copo de uma vez. - E por isso, queremos assumir o planejamento do casamento. - Você não precisa ter essa preocupação. - Kelly começou, visivelmente desconfortável com o meu discurso. - Eu e sua mãe estamos cuidando de tudo. - Eu quero Kelly. - Olhei para ela, da forma mais doce que consegui. - Será o início de uma vida de amor com o Jonas, e quero começar fazendo direito. O que você acha amor? - Me dirigi ao Jonas e ele estava com as expressões lívidas, parecia ter caído no meu papo. - Ele não precisa ter esse trabalho. Se você quer participar, concordo. - Garcia falou em um tom autoritário. - Mas o Jonas tem mais o que fazer. - Não vejo problemas em participar, pai. - Isso! Eu poderia pular no colo dele agora. - É um trabalho das mulheres, você quer dizer que vai perder tempo escolhendo tipo de flores? - Se for a vontade da minha Emy, sim. - Jonas encarou o pai sem piscar, e eu sabia que o Garcia não iria querer duas discussões em uma mesma ocasião. Ele argumentaria até o fim. - Querido, eles estão apaixonados. - Kelly falou, apoiando a mão no braço de Garcia. - Deixe que os dois vivam esse momento. - Eu estou de acordo. - Meu pai, que até aquele momento não tinha se envolvido em nada, se colocou ao nosso lado. - Acredito que Ema concorde também. A expressão da minha mãe estava entre incredulidade e um pouco de orgulho. Participar das coisas do casamento era o maior sinal que eu não daria mais problemas sobre a minha relação com o Jonas, mas ir contra o Garcia era um risco que eu não sabia se estava disposta a correr. - Vocês podem fazer isso. - Ela finalmente falou. - Mas Kelly e eu continuaremos acompanhando e assumindo decisões que talvez vocês não possam assumir. Essa é a minha condição. - É perfeito. Eu, assim como Jonas, ficaremos muito honrados de ter a ajuda de vocês. - Sorri para a minha mãe, genuinamente, como não fazia a muito tempo. - Eu ainda não concordo. - Garcia estalou a língua. - Mas sou minoria, então façam o que devem fazer. - Um brinde. - Jonas levantou seu copo na minha direção e todos nós seguimos seu exemplo. - Ao amor e aos bons acordos!
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