Não vi meu pai o resto do dia, e passei o dia discutindo com as áreas planos de ação que nos daria oportunidade de angariar um novo investidor. Apresentei todos os planos que desenhei com o apoio do Lúcio e tive muito apoio das equipes, o que me deu um certo alívio. No meio da tarde recebi uma agenda com 3 reuniões com possíveis investidores. A primeira reunião seria já no dia seguinte e finalmente respirei aliviada. Tínhamos produtos exclusivos e eu usaria isso como foco principal.
Trabalhei até tarde nas apresentações e programei a minha agenda para o dia seguinte incluindo a apresentação, uma reunião com o RH para revisão de salários e uma conversa com a Ana, nossa secretária, que precisava mudar de comportamento urgente.
Assim que entrei em casa eu soube que enfrentaria uma discussão por conta da situação do investimento, então entrei pronta para a briga.
Minha mãe lia um livro qualquer enquanto bebia na sala e meu pai não estava lá.
- Oi mãe. Como você está? - Ela não tirou os olhos do livro.
- Sozinha. - O tom de voz dela demonstrava o quanto ela já tinha bebido.
- E o papai?
- Se você não sabe, imagina eu. - Respirei fundo, tentando ser paciente. - E deu tudo certo hoje?
- Na medida do possível. - Sentei de frente para ela que continuou olhando para o livro e bebericando sua vodka.
- Emily, você não complicou mais nada, certo? - Ela finalmente olhou para mim.
- Não. Eu apenas salvei a nossa empresa de praticamente ser adquirida pelos Garcia em 12 meses.
- E qual o problema? Você será a herdeira deles.
- Não mãe. O Jonas é o herdeiro. - Aquele assunto me desgastou muito.
- E você vai casar com ele. Terá a vida tranquila sem precisar chegar em casa com essa cara de cansada, vai servir seu marido e ter projetos sociais.
- E realmente é tudo o que sempre sonhei. - O sarcasmo enchia a minha voz.
- Você anda muito petulante Emily, não é assim que fazemos. - Não virou os olhos para ela por pouco.
- Mãe, estou cuidando do nosso patrimônio. Você não tem nem um pouco de noção das complicações da empresa.
- Eu não preciso ter noção. Seu pai sempre tocou e eu nunca precisei dessa preocupação.
- E vejo onde chegamos. Eu preciso casar para salvar a empresa.
- Nunca mais repita isso.
- É a verdade. - Levantei. - Vou descansar, tenho uma reunião amanhã, bem cedo.
- Não se atreva a me deixar falando sozinha. - Continuei em direção a escada.
- Boa noite mãe. - Pude ouvir os estalos de língua dela enquanto eu subia para o meu quarto. Eu não deveria ter dito nada. Poderia ter postergado aquela bronca e ela não sugaria a minha energia.
Depois de um banho longo me larguei na cama e resolvi responder as milhões de mensagens do Jonas.
Emy, acho muito difícil que eu consiga.
Você deveria ter me dado um meio termo.
Meu pai ficou furioso, disse que eu preciso controlar mais você.
Não terminei de ler. Respondi rapidamente.
Me apresente a proposta que conseguir na próxima semana. Boa noite.
Acordei na manhã seguinte animada. Eu sabia que o investimento dependia de dados claros e uma apresentação impecável, e para isso eu precisava de energia. Tomei café antes de todos acordarem, Maria já estava com tudo pronto quando eu desci às 6 da manhã.
Depois de comer revi o cronograma e pesquisei a empresa que eu iria pedir o investimento.
A B-Química era nova no mercado, e o fundador tinha sido um dos sócios do meu pai. O que era bom e ruuim. Bom porque ele saberia do potencial da White, e é ruuim porque ele deveria saber das tendências comportamentais do meu pai. De qualquer modo, não me preocupei com isso. Eu deixaria claro que eu assumi as coisas e que de agora em diante as coisas seriam diferentes.
No dia anterior combinei com o Lúcio que pediremos exatamente a mesma proposta que pedimos para o Jonas. 1 milhão com retorno de 40% de 12 meses. E eu estava satisfeita com isso. Com esse dinheiro em caixa poderíamos realizar as entregas em atraso e receber dos clientes, para investir em novas vendas. Quando terminei meu breve estudo eu estava confiante. Abracei a Maria e ela me desejou um dia mágico.
Assim que estacionei em frente a B-Química eu soube que o sócio do papai havia prosperado. Era um prédio duas vezes maior que o da White e ficava na mesma região da paulista. O Lúcio me aguardava na recepção.
- Você está muito apresentável Senhorita White. - Ele era um cavalheiro.
- Obrigada. E me chame de Emily, por favor. - Ele assentiu e sorriu timidamente. Fiquei orgulhosa da escolha da roupa. Eu vesti um terninho preto, que demonstra profissionalismo e saltos. Fiz um coque no cabelo e passei uma maquiagem leve. Eu estava confiante e sabia que por ser mulher a aparência era um fator que contava. Quando chegamos ao10ª andar, em uma recepção imponente fomos recebidos por uma moça muito simpática que nos pediu para aguardar alguns minutos. Estávamos adiantados. Depois de quase 10 minutos ela nos chamou.
- O Sr Bittencourt receberá vocês agora. - Caminhamos por diversas salas de reuniões até chegarmos em uma bem grande. Entrei e imediatamente agradeci a moça por nos acompanhar. Quando finalmente olhei para a sala senti meu corpo fraquejar. Haviam três homens na sala nos aguardando, e enquanto o Lúcio os saudava e se apresentava eu procurava o ar que fugiu dos meus pulmões. Na porta da mesa, me olhando com um sorriso torto, cílios longos, olhos pretos e uma aparência muito conhecida. O homem que me visitava nos meus sonhos todas as noites estava ali, me encarando.