Resiliência

1050 Words
- Emily? - Lúcio me tirou dos meus pensamentos. Respirei fundo e voltei a minha atenção aos presentes. Pisquei algumas vezes para ter certeza que não estava tendo alucinações. - Você é? - Ele perguntou, olhando fixamente para mim. Respirei fundo, tentando controlar os meus nervos. Estávamos em uma sala muito iluminada e ele estava muito bem vestido, de terno e com uma aparência completamente profissional. As memórias da forma como ele me levou para um quarto, mais de uma vez, e depois explorou o meu corpo e me deixou sob o comando dele voltaram à minha mente. - Essa é Emily White. Diretora e também herdeira da Química White. - Lúcio me apresentou, percebendo que eu estava incapaz de me comunicar com clareza. Pisquei novamente para voltar ao tempo presente e consegui sorrir. - Desculpem. Senti uma leve tontura. Acredito que por conta do calor. - A mentira subiu para os meus lábios antes que eu me desse conta. Eu tive uma vida de máscaras e agora era o melhor momento de colocar aquilo em prática. - Por favor, aumentem o ar-condicionado. E tragam um copo de água e de isotônico para nossa convidada. - Imediatamente um dos rapazes sentado ao lado dele levantou e saiu. - Muito obrigada. Me sinto melhor agora. - A sombra do sorriso no rosto dele me dizia que ele sabia exatamente o porquê do meu comportamento. Foi o susto de entrar naquela sala e encontrá-lo, bem, encontrá-lo vestido pelo menos. Encontrar o Marco foi um choque completo. - Bem, Lúcio. Vamos refazer as apresentações. - Marco se dirigiu a nós enquanto o rapaz voltava com uma bandeja cheia de opções de bebidas. Escolhi uma água de coco e tentei relaxar e bloquear pensamentos eróticos com ele. - Sou Marcone Bittencourt, fundador e CEO da B-Química. Esse é Cadu, nosso gerente financeiro e esse é Valentim, meu assistente. - Muito prazer. Sou Emily White. Acredito que conheçam o meu pai. - O Maurício me deu uma oportunidade que eu nunca vou esquecer. - Chamar meu pai pelo nome foi algo que não me passou despercebido. Poucas pessoas o chamavam assim. Normalmente o chamavam de White. - Fico feliz em saber. - Conclui. - Mas não vim aqui em busca da sua gratidão. - Ele se inclinou na cadeira e apoiou os cotovelos na mesa, com as mãos juntas em frente ao corpo. A posição dele era de domínio, e meu corpo respondeu imediatamente. - Então você veio até aqui em busca do que Emily? - A voz dele era ameaçadora. Não sei se os demais sentiram a tensão entre nós, mas eu sentia em cada célula do meu corpo. A pergunta dele tinha um nítido duplo sentido. - Como deve ser de conhecimento de todos, a White passa por um momento financeiro conturbado. - Ele nem piscava enquanto eu falava, o contato visual dele ameaçava me levar para as minhas lembranças a todo o momento, foi quase uma tortura evitar isso. - Com isso, eu assumi algumas responsabilidades na empresa, para colaborar no que eu puder. - Sangue novo e disposição. Duas coisas que eu valorizo muito. - Os demais concordaram e Lúcio me olhou suplicante, percebi o desconforto dele sem entender muito bem o que era. - Não tenho problemas em admitir, que sozinha, não conseguirei recuperar a empresa. - Ele continuou me olhando. - E por isso estou aqui. - Você tem minha completa atenção. - Marco falou e foi interrompido a seguir pelo Cadu. - Vocês querem dinheiro, certo? - Ele virou para o Marco. - Marcone… - Quero ouvir Cadu, depois discutiremos o que será feito. - Ele se calou e eu anotei mentalmente que o Cadu seria um problema. - Obrigada por nos dar essa oportunidade. - Lúcio distribuiu nossos planos para eles e explicou a condução que deveríamos seguir dali em diante. - Peço que analisem nossos balanços e os planos de cada situação. - Marco nem abriu a pasta. - Depois apresentaremos o que será feito com o investimento que eventualmente vocês podem fazer. Durante os minutos seguintes, os outros dois leram os documentos e Marco continuou me encarando fixamente. Eu mexia distraidamente na minha agenda e beberiquei a água de coco percebendo ele me encarando pela visão periférica. Cadu quebrou o silêncio. - Poderiam explicar o que houve para tantas retiradas sem justificativa. - Marco não desviou o olhar ao responder. - É assunto de família, não precisamos saber. - Marco respondeu. - Precisamos saber sim, caso isso volte a acontecer. - A afirmação era para mim. - Não voltará a acontecer. - Enfatizei. - Vocês acompanharam do início ao fim do projeto, até a devolução de cada valor. Podemos atrelar uma multa caso algo suspeito apareça. E eu assumi os negócios a pouco, e posso afirmar que isso não vai se repetir. - Então era alguém roubando mesmo. - Cadu concluiu. - O que houve não é da nossa conta. - Marco reafirmou. - Não vejo necessidade de detalhar o que houve, apenas que está resolvido. Se vocês não quiserem seguir assim…. - Meus pensamentos estavam fervendo com o misto de imagens. Divulgar abertamente que meu pai roubava a própria empresa não era algo que eu queria. Além disso, tinha o fato de que, caso eles investissem, eu trabalharia com o Marco, o que estava completamente fora de cogitação. Eu conseguiria o investimento em outro lugar, mesmo que eu precisasse recorrer ao Jonas para isso. - Podemos parar por aqui - Conclui. - Nem começamos e você já sabe como terminar? - Marco perguntou. - Vou te explicar uma coisa, para que saiba exatamente onde você está se metendo. - Ele se mexeu na cadeira, mudando de posição. - O que é meu, é meu. E o que eu te ofereço, eu não preciso de volta. E em ambos os casos, eu tenho o controle e a vantagem. Ou seja, para que todos saibam: Se eu investir, não será temporário. Será recorrente e sob as minhas determinações. Quando eu sei que é vantajoso para mim eu apenas faço, e eu não tenho dúvidas que a vantagem não será só minha, - Como você pode saber, se nem analisou os balanços? - Ele sorriu e eu esqueci de respirar. - É uma questão de confiança, Emily.
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