Cabo de guerra

1092 Words
“É uma questão de confiança… Sexo é uma questão de confiança.” A frase ecoou pelos meus pensamentos repetidas vezes, resgatando uma memória deliciosa, mas completamente inconveniente para aquele momento, e eu mantive a máscara o máximo possível. Ele estava me provocando, usando isso, essas memórias, para me enlouquecer, - É claro que vamos analisar as vantagens. - Cadu falou me tirando dos meus pensamentos. - Finalize a apresentação por favor, a parte burocrática discutiremos depois de algumas análises. - Eu assenti. Comecei o discurso que ensaiei várias vezes de ontem para hoje, sem dar muitos detalhes, afinal, eles precisavam saber apenas da teoria, e diferente do Garcia, o investimento seria conquistado pelos resultados financeiros não por algum favor ou acordo. - Temos 5 produtos exclusivos que estão abandonados. - Eu seria completamente honesta. - E que eu acredito que podemos explorar muito bem. O investimento é para impulsionar a produção, divulgação e distribuição deles. - Abri a pasta que estava comigo e apontei para o gráfico de crescimento. - Em 1 ano teremos comercializado para 100% dos nossos clientes fixos e mais 30% de clientes novos. - Marco finalmente abriu a pasta e olhou com atenção o que eu estava mostrando. - O plano é trazer um retorno de 120% nesse período, para vocês e para nós. - Seu plano é cheio de falhas. - Cadu afirmou. - Não é. - Ele era petulante, e eu derrubaria ele agora. - Esse não é o plano completo, porque eu não sou burra. - A surpresa na expressão dele me deu um incentivo a mais. - A última reunião que eu tive, questionaram a minha capacidade de lidar com os negócios, isso não irá se repetir. - Não trazer o plano completo só prova… - Interrompi ele antes de concluir. - Prova que não quero falar para o meu potencial investidor, que também é meu concorrente, o que será feito até determinar qual dos dois ele é. - Me virei para Marco, para finalizar aquilo o mais rápido possível. - Antes de tomar o que acha que é seu, deve lembrar que te vejo como uma ameaça primeiro. O silêncio caiu sob a sala como se eu tivesse jogado uma bomba. Aguardei enquanto eles refletiam sobre o que eu falava. Lúcio foi o primeiro a falar, acalmando o clima. - Eu fiquei sem palavras quando ela agiu assim também comigo, mas não esperamos isso de uma mulher, se ela fosse homem ninguém estaria surpreso. - E sorriu. Lúcio era um homem sério, e pela primeira vez percebi que poderia contar com ele. Eu tive as minhas dúvidas no início, mas ele assumir aquilo, na presença de mais 3 homens fez minha confiança nele aumentar. - Eu concordo, e teria feito o mesmo. - Marco admitiu, com ar de divertimento. - Mas respondendo sua pergunta, não sou uma ameaça. Quero que fique ao meu lado, não contra mim. - Não foi uma pergunta. - Respondi sem pensar. - Foi uma afirmação. Enquanto não tivermos um contrato justo, determinando investimento e ganho, não te darei todas as informações. - Ficou claro Senhorita White. - Cadu falou relutante. - Digamos que gostamos da ideia, de quanto estamos falando? - Lúcio ameaçou começar a falar e eu interrompi. - 2 milhões. - Dobrei a aposta, eu precisava me livrar daquilo. - Integral, com retorno de 50% em 12 meses e 70% em 24. - Cadu me encarou como se eu tivesse xingado a mãe dele. - Nosso lucro será de 20%? Em 24 meses? - A expressão de Marco mudou, percebi o incômodo subir pelo seu rosto e ele trincou os dentes. Ele sabia que eu estava pedindo muito. - É negociavel. - Lúcio interferiu. - Eu não diria isso. - Continuei. - É isso, nosso plano é sólido, nossos produtos são exclusivos e temos mais 3 empresas dispostas a entrar no negócio. - Você está blefando. - Cadu acusou. - Eu não contaria com isso. - Completei. Eu sabia que estava jogando a possibilidade de investimento deles pela janela. Mas naquele pequeno espaço de tempo fui do céu ao inferno. - Vou deixar vocês conversarem, vou ao toallet. - Levantei de uma vez e caminhei para fora da sala, com o Lúcio atrás de mim. - Você enlouqueceu? - Ele perguntou diretamente assim que fechou a porta atrás dele. - Não quero o investimento deles. E não posso explicar. - O olhar dele se suavizou. Continuei caminhando até a recepção. - Eu percebi algo errado assim que você empalideceu. Qual o problema do Marco com você? - Ele sabe demais. - Eu não podia dar muitos detalhes. - Concordo. O nome White é muito forte, e ele por ter sido sócio do seu pai deve saber sobre as retiradas. - Ele entendeu completamente errado mas fiquei grata por ele seguir aquele raciocínio. - Vou mesmo ao toallet. - Assim que me vi sozinha eu desabei. Senti o corpo inteiro vibrar. O Marco, o homem que me visitava nos meus sonhos quase todas as noites. O precursor de tudo que eu vivi naquela noite. O homem que me dominou e se deixou dominar, me propondo prazeres que eu nunca imaginei e que eu jurei, nunca mais encontrar. O que eu faria? E então a realidade me atingiu. Por isso ele me era familiar. Ele foi sócio do meu pai. Eu já devo ter encontrado com ele em algum evento. Tirei o blazer, o calor estava me matando. O pior de tudo, ele sabia exatamente quem eu era e isso seria um problema. Sem dúvidas seria. E além de tudo, a forma que ele me olhava, com promessas silenciosas de me fazer pagar por ter sumido e depois aparecido aqui, pedindo dinheiro a ele. Ele iria me torturar. Eu não podia fechar negócio com ele. Eu não podia encontrá-lo nunca mais. Só esse pensamento fez meu estômago tremer. Eu não poderia vê-lo mais. Nunca mais. Olhei meu reflexo no espelho e forcei uma aparência calma que na verdade não existia. Eu precisava sair dali o mais rápido possível. Depois de alguns segundos, eu estava pronta. Caminhei calmamente para fora e apenas a secretária me aguardava na porta da sala. - Senhorita White, o Cadu foi realizar um tour com o Lúcio pela fábrica. - Eu assenti e questionei o que significava aquilo. - O Sr. Bittencourt te aguarda. - Ameacei entrar na sala para encerrar aquilo de uma vez. - Não aqui. Ele te aguarda na sala dele, me acompanhe. - E eu soube que estava perdida.
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