Central Minneapolis Hotel
Na sala da gerência
Marisa estava sentada em uma poltrona de couro, bastante aconchegante, com o ar condicionado ligado no máximo, o que deixava à temperatura muito agradável e sem dizer na sala, que era bastante bonita e até muito bem decorada para a gerência de um hotel. Mas não tinha como ser diferente, se por todo Minneapolis o que se respirava era luxo e glamour, seria praticamente impossível as outras acomodações serem m*l cuidadas. Pelo visto, caso fosse contratada, ela não teria grandes contratempos, e quem sabe no Minneapolis Hotel, Marisa enfim, teria a grande oportunidade de se estabilizar profissionalmente. O que nunca conseguiu nas empresas Marshall, já que Liz, a gerente, fazia de tudo para afastar qualquer possibilidade de crescimento de todos os funcionários, principalmente de Marisa, que era a pedra no seu salto de grife.
Apesar do ambiente estar agradável, Marisa sentia seu coração a ponto de saltar dentro do peito, as mãos suarem frio, o nervosismo e a ansiedade tomarem conta dela a cada folha de papel que o gerente examinava minuciosamente. Já faziam quase trinta minutos que ela estava naquela sala e até o exato momento nenhuma palavra saiu da boca do gerente, cujo sobrenome estampado em seu paletó risca de giz, era Miller.
Aquele silêncio deixava tudo cada vez mais estressante, até que enfim suas preces foram atendidas e o Sr. Miller retira seus óculos de grau impecáveis do rosto, acomoda seu corpo na poltrona marfim acolchoada, apoia seus cotovelos no próprio corpo, cruza as mãos frente ao seu rosto, analisa Marisa rapidamente e estalando a boca diz:
— É senhorita Hernandez, examinei atentamente seus documentos e notei alguns itens que me deixaram com certas dúvidas, se devo ou não contrata-la.
Marisa engole em seco e só pensa:
"Ah, meu Deus! Se esse homem perguntar pelo meu visto de permanência, o que vou responder? Eu só tenho o de turista, que mesmo assim está vencido, e para minha desgraça estou aqui ilegalmente. Não permita que ele fale sobre isso e muito menos que acione as autoridades, ou caso contrário serei deportada para Cuba e isso é o mesmo que ser entregue nas mãos do próprio demônio. Porque é isso que Dragón é, o d***o em forma de homem. "
Mesmo completamente trêmula por dentro, Marisa pensa em Max, e através do filho, como sempre, consegue a força necessária para seguir em frente. Ela enche os pulmões de ar e num tom tímido diz:
— Estou à disposição para sanar suas dúvidas senhor... — Marisa fala encarando para a placa de mesa que havia apenas siglas iniciais, M.E, e um sobrenome no fim, Miller
O gerente logo compreende a deixa e se apresenta:
— Mike Edward Miller, gerente geral e responsável por toda parte administrativa do Minneapolis Hotel. — ele fala com um semblante sério fazendo Marisa engolir em seco, limpa a garganta, pega alguns documentos e continua — Sabe o que eu deveria fazer nesse exato momento, senhorita Hernandez?
— Não senhor Miller! — Marisa fala firme, na tentativa de manter sua postura, porém por dentro estava desesperada e louca para que tudo isso não passasse de um sonho ruim
— Eu deveria denuncia-la por estar ilegalmente em nosso país. A senhorita possui um visto irregular como turista e sabe muito bem que dessa maneira não poderá continuar aqui em Minessota ou em qualquer cidade dos Estados Unidos da América. — Miller dá uma pausa em sua fala, como se buscasse pelas palavras certas à dizer no momento — Sinto muito, mas eu preciso acionar as autoridades e a senhorita será deportada.
Assim que o gerente termina de concluir suas palavras, coloca a mão sob o telefone sem fio que havia em sua frente e Marisa em um ato desesperado segura em sua mão o impedindo de prosseguir. Encara em seus olhos esverdeados e suplicando diz:
— Não! Pelo amor de Deus senhor Miller, não faça isso comigo, eu lhe suplico! Tenho pessoas que necessitam de mim para sobreviver, um filho de dez anos de idade e uma mãe recém operada por problemas cardíacos. Acabei de ser demitida e necessito muito desse emprego.
— Mas senhorita, eu... — Miller tenta falar, mas Marisa o impede, com os olhos lacrimejados e trêmula diz:
— Tenho certeza que o senhor já passou por alguma situação difícil nessa vida e sabe como me sinto nesse exato momento. Essa vaga de emprego me trouxe à luz que eu imaginava não ver tão cedo. Por tudo que é mais sagrado senhor Miller, lhe dou a minha palavra que resolverei a minha documentação e serei uma funcionária exemplar, a melhor de todo o hotel. Mas, me dê essa oportunidade, e o senhor não vai se arrepender. — Marisa termina de falar, se afasta da mesa, e Miller solta o telefone um pouco pensativo
Miller nunca havia passado por algo parecido durante esses oito anos em que estava à frente da gerência do Minneapolis Hotel e cada vez que olhava para Marisa enxergava verdade em seus olhos, o que o deixava ainda mais sem saída. Ele no fundo compreendia o desespero de Marisa, mas infelizmente não poderia fazer muito para ajuda-la, pois se seus superiores descobrissem que ele facilitou uma imigrante ilegal à permanecer no país e ainda fez vistas grossas lhe concedendo a vaga como camareira, quem estaria na rua seria ele. E como ficaria sua família? Seus pets? Quem o socorreria? Não! Definitivamente não poderia fazer nada e infelizmente ele não poderia ajudar Marisa.
— Senhorita Hernandez, sinceramente não sei o que dizer, da maneira como fala me coloca entre a cruz e a espada. Eu nem deveria ter aceito entrevista-la pela falta de experiência, mas como conheço Jodie há anos, acabei concordando. Mas, de uma entrevista chegarmos há algo tão grave como documentação, ilegalidade, visto de permanência, não sei se eu...
Miller tenta concluir seu pensamento, mas alguém os interrompia, com batidas fortes e insistentes na porta.
[Batidas na porta]
— Entre! — Miller responde e ao mesmo tempo olhava para Marisa, que estava visivelmente desolada
A porta é aberta e Marisa se surpreende quando ouve a voz da amiga Jodie bem atrás dela. Parece que um vento suave entrou junto com sua amiga e trouxe a calmaria que ela tanto necessitava naquele momento. Marisa permanece imóvel e se surpreende ao olhar para a amiga que já usava seu uniforme de camareira. Uma tristeza e alegria enchem o peito de Marisa. Alegria pela amiga ter conquistado a vaga de emprego e tristeza por saber que tudo indicava que ao invés dela conseguir esse emprego, seria deportada junto com sua família, e provavelmente cairia nas mãos do seu pior pesadelo.
— Está tudo certo Miller? A vaga é da Marisa, não é mesmo? — Jodie pergunta sorridente olhando para o gerente, mas logo fecha o semblante com o que ouve
— Sinto muito Jodie, infelizmente não poderei contratar a Marisa.
— Quê? Como assim Miller? Você me deu a sua palavra que as vagas eram nossas. Por que voltou atrás com sua palavra? — Jodie fala num tom de reprovação e com uma i********e com o Sr. Miller até então desconhecida à Marisa
Será que eles têm algum tipo de relacionamento amoroso e Jodie nunca me disse?
Mesmo que tivessem, isso era o de menos, naquele exato momento o que realmente importava para Marisa, era conseguir essa vaga de emprego e seu visto, para que o risco de voltar à Cuba fosse exterminado de vez da sua vida.
Uma avalanche de perguntas povoavam os pensamentos Marisa naquele momento, mas ela volta a si ao ouvir a voz do Senhor Miller, praticamente num sussurro:
— Sente-se Jodie! E por favor acalme-se! Realmente dei minha palavra, mas assim que Marisa me entregou a pasta com os documentos tudo mudou. Ela não...
— Como assim, tudo mudou? — Jodie corta o gerente e Marisa apenas observa atentamente
Miller solta um ar pesado pela boca, posiciona seus cotovelos na sua mesa de madeira mogno e diz:
— Como eu estava tentando dizer, tudo mudou, porque Marisa não tem o visto de permanência e sem esse documento é impossível ela ficar no país e menos ainda conseguir uma vaga de emprego nesse hotel. Eu sinto muito, mas como já expliquei, não tenho o que fazer.
— Há, tem sim, Miller! Você vai dar esse trabalho para Marisa e além disso também abrirá uma excessão lhe dando um tempo para conseguir esse visto de permanência. Ela precisa muito mais do que todos nós desse emprego e você não vai negar isso à ela. Não vai mesmo! — Jodie cruza os braços enquanto falava e Miller joga seu corpo para trás erguendo as mãos para o alto já sem paciência com a atitude dela
Marisa continuava quieta e quando deu passos para se levantar do lugar, ouve algo que a deixa ainda mais perplexa.
— Jodie, será que falei outro idioma? Eu não... — Miller tenta falar, mas é outra vez impedido pela Jodie implacável que Marisa conhecia muito bem
Quando a amiga colocava algo na cabeça, era impossível fazê-la voltar atrás, e enquanto não conseguia o que desejava não desistia.
— Se você não mudar de opinião pode esquecer o nosso acordo de ontem à noite Miller.
— Jodie, mas eu...
— É isso é ponto final Miller! Você decide! Vamos Marisa, precisamos ir em busca do seu visto o quanto antes.
Marisa fica ali paralisada sem saber o que fazer ou dizer, diante de tudo o que estava acontecendo. Jodie segura seu braço e Marisa levanta na mesma hora. Ambas viram de costas dando passos largos em direção à porta, mas assim que Jodie toca sua mão na maçaneta dourada, Miller diz:
— Tudo bem, Jodie, você venceu!
— Isso significa que... — Marisa fala tentando conter um sorriso que insistia em brotar no seu rosto
— Significa que a vaga de camareira, por enquanto, é sua Marisa. Mas, você precisa trazer seu visto até o fim da sua experiência. Ou seja, você tem vinte dias corridos para trazer esse documento, caso contrário já sabe o que vai lhe acontecer. — Miller fala e Marisa engole em seco, sem saber se sorria ou chorava com tais notícias
— Antes disso esse documento estará na sua mesa Miller. — Jodie fala
— Assim espero Jodie e hoje à noite também aguardo o meu presentinho. — Miller fala com um tom de voz safado
— Isso sem dúvidas meu querido chefinho! Bye, bye! — Jodie manda um beijinho no ar em direção à Miller e da um tchauzinho com as pontas dos dedos saindo da sala em seguida
A porta é fechada e só então Marisa sai do transe para conseguir dizer:
— De onde vocês se conhecem amiga? E que acordo é esse que você tem com o Miller?
— Nos conhecemos numa sala de bate papo picante amiga, temos uma amizade colorida, a história é longa, mas tudo o que você precisa saber é que a vaga de camareira é sua e que precisamos correr contra o tempo para conseguir teu visto. — Jodie fala caminhando pelo corredor que dava acesso ao almoxarifado
— Sei não Jodie, conseguir um visto em tão pouco tempo é praticamente impossível.
Jodie entra no quartinho e enquanto entrega o uniforme para Marisa diz:
— Nada é impossível para quem crer amiga. Aprenda a viver um dia de cada vez. Agora pare de perder tempo, toma, veste esse uniforme que você ainda precisa passar no departamento pessoal para ver sua grade de serviço do dia.
Jodie entrega o uniforme, em tons grafite e branco para Marisa, que veste rapidamente. Mas enquanto se trocava seu pensamento era apenas um:
"Como e onde conseguiria esse visto no prazo de vinte dias?"
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