CAPÍTULO 2

1640 Words
BRUNA HARPER Abro os olhos meio sonolenta, escutando alguém me chamar ao longe... — Vai chegar atrasada no trabalho, Bruna. Com essa afirmação consigo despertar de vez e dou um pulo da cama. — Mamãe, por que a senhora não me acordou mais cedo? Por que o celular não despertou? — Eu já estou te chamando tem um bom tempo e não sei o motivo pelo qual seu celular não ter despertado. Levanta rápido e se arrume que vou te dar dinheiro para que vá trabalhar de táxi. Acredito que se for de ônibus não irá conseguir chegar lá hoje. Mas que droga! Isso não deveria ter acontecido, não posso chegar atrasada hoje. Tive dois atrasos semana passada e mesmo que Amanda e Emily não chamem minha atenção por isso, me sinto muito m*l. Entro no banheiro, tomo banho em tempo recorde, me arrumo mais rápido ainda, pego a bolsa e quando estou passando pela sala minha mãe me para e entregar o dinheiro do táxi. Quando estou prestes a sair, papai chama meu nome e volto a minha atenção para ele. — Quando é a sua formatura? — pergunta de forma bem séria. Sinto um sentimento de nervosismo me consumir por dentro. Não quero nem pensar que ele possa ter feito alguma besteira. — No final do mês. Mas, por que está me fazendo essa pergunta, papai? Minha mãe me olha com pena e já sei que meu pai mais uma vez fez merda. — Se não conseguir pagar a sua faculdade até lá, não poderá se formar. Eu até esqueço que estou atrasada quando escuto isso. Meu pai costumava dar aulas na mesma faculdade que estudo, mas quando ele teve a genial ideia de começar a jogar e como consequência beber, acabou perdendo o emprego. Agora vive de fazer pequenos serviços por aí para sustentar a família. — Papai, tínhamos um acordo. Entrego todo o dinheiro do estágio que não é pouco para ajudar nas despesas de casa e com isso o senhor conseguiria manter o pagamento da minha faculdade. O que fez com o dinheiro? — pergunto mesmo já sabendo da resposta. — Estava em uma mesa muito boa e tinha certeza de que ganharia, mas no final acabei perdendo de novo. Olho para ele sem acreditar no que escuto e minha mãe começa a chorar atrás de mim, sei disso devido seu fungado. — E alguma vez o senhor já ganhou, papai? Gastou o dinheiro da mensalidade da faculdade em uma mesa de jogo e agora depois de tanto esforço corro um sério risco de não me formar. — Deveria ter escolhido outro curso, administração talvez. Assim suas chances de conseguir um bom emprego eram mais altas. — Não venha colocar a culpa da sua irresponsabilidade na minha escolha de curso. Até um tempo atrás o senhor pintava excelentes telas e ganhava muito bem dando aulas de arte. Porém, perdeu tudo porque ficou viciado em jogo. Meu pai me encara e não fala nada porque sabe que tenho razão. — Vá para seu estágio que já está atrasada, mas não se anime muito com a formatura. Não sei se vou conseguir pagar as mensalidades atrasadas até o final do mês. Sinto uma dor aguda no coração ao escutar isso. Estudei tanto para nada! O que adianta finalizar o curso e não receber o diploma? Minhas colegas de classe tem razão, sou uma fracassada com um pai viciado em jogo. Saio de casa triste e resolvo ir de ônibus para a galeria. Já estou atrasada mesmo e caso Emily e Amanda queiram me demitir por isso não vou questioná-las. Uma hora e meia depois chego à galeria de arte de cabeça baixa e triste. Ao passar pela recepção, uma das meninas diz: — Se continuar assim vai acabar sendo demitida. Não sei como a Emily ainda não fez isso. Sei que a debochada diz isso para me deixar mais desestabilizada do que estou. — Vá se lascar. — Dou a resposta que ela não esperava receber. Estou cansada de todos pisarem em mim. Ela só me olha e não fala mais nada, com isso vou para minha mesa que fica em frente à sala das minhas chefes. Eu me sento e pegos alguns desenhos que estava fazendo no dia anterior. Eram ideias para minha tela que serviria como minha nota final, mas acho que nem vale mais a pena executar a ideia. Seria um desperdiço de material e tinta. Tenho sorte da Emily sempre fornecer todo o material que preciso para meus trabalhos de pintura. Ela sempre fala que assim que me formar vai colocar uma das minhas telas em exposição, mas acho que isso não vai acontecer. — Você chegou. Aconteceu alguma coisa para que tenha chegado tão tarde hoje? Levanto as vistas e vejo Emily parada na porta da sua sala, expondo toda a sua beleza. Ela parece uma obra de arte, quem olha nem diz que já tem dois filhos. — Desculpa senhora Jones, pelo atraso... — Que negócio é esse de senhora Jones? — Me interrompe e quando vou abrir a boca para responder, completa: — Amanda, corre aqui que algo muito sério aconteceu. Cuidado que é capaz de você ser chamada de senhora Lewis. Não demora nem cinco segundos, Amanda aparece ao lado dela saindo da sala. — Quem está querendo perder os dentes hoje me chamando de senhora? Emily sorri e responde me deixando sem graça: — A Bruna. Olha para a cara dela, parece que acordou do lado errado da cama hoje. Amanda se aproxima e olha bem na minha cara. — Você vai ficar velha antes da hora se continuar com a cara franzida desse jeito. O que aconteceu com você? Quando vou responder, Emily diz antes: — Ela chegou agora com essa cara e me chamou de senhora Jones. — Jesus é grave! Vem Bruna, vamos para a nossa sala conversar. Eu só tenho vinte e seis anos, não ouse me chamar de senhora. Pode chamar a Emily de senhora se quiser, ela gosta. — Eu não gosto nada, mas não adianta reclamar, todos me chamam de senhora Jones. Isso é ridículo. Acabo sorrindo das duas e as acompanho até a sala delas. — Senta aí Bruna, e fala que cara é essa. Você é sempre tão feliz. — Me desculpem pelo atraso de hoje e pelos da semana passada, não estou querendo abusar da bondade de vocês duas. Vejo que Amanda e Emily me olham como se não entendessem do que estou falando. — Bruna atraso é meu sobrenome. Não importa o quão cedo eu acorde, sempre vou chegar atrasada, a Emily que é a certinha. — Certinha? Vocês perceberam que horas estou chegando ultimamente? Eu não sei quem dá mais trabalho, meus filhos ou o meu marido. Bruna, eu nem percebi que você chegou atrasada. Com tanto que faça seu serviço direito, não me importo nem um pouco com seu horário. — Eu também não, até porque não tenho moral nenhuma para reclamar disso. Eu já desisti de tentar chegar na hora. E, por favor Bruna, para de nos tratar como se fossemos superiores a você. Queremos que faça parte da nossa equipe definitivamente depois da sua formatura, tanto que vamos incluir alguns dos seus trabalhos na próxima exposição. Aproveite essa oportunidade, Emily e eu não tivemos uma oportunidade tão boa como essa. Queremos que seja nossa amiga, nossa colega de trabalho e a diferença de idade não é tão grande assim, então, por favor, não nos chame mais de senhora ou chuto você. Fico tão feliz em escutar o que elas me propõem, o carinho que elas demostram ter por mim, tanto que começo a chorar de tristeza porque não sei se vou conseguir me formar. — Jesus, ela está chorando, será que é de emoção? — Emily diz se levantado e vindo até mim. — Eu não sei se vou conseguir me formar na faculdade, meu pai não pagou as mensalidades — digo soluçando. — Mas que cretino. — Amanda! — Amanda tem razão Emily, meu pai é um cretino. Perdeu o dinheiro da mensalidade em uma mesa de jogo. — Meu Deus, Bruna, por que não conversou com a gente antes? Somos suas amigas, temos condições de ajudá-la com isso. Não se preocupe que pagaremos as mensalidades com o maior prazer, não é mesmo, Amanda? — Claro que sim, dinheiro não é problema e nem adianta dizer que não. Hoje mesmo vou mandar Colin verificar a sua situação junto a faculdade. Você vai ter a sua formatura e vai estar linda fazendo seu discurso, nos agradecendo. — Amanda! — Emily a repreende. — Estava brincado. Você é chata Emily. Choro mais ainda, emocionada devido a maneira como elas se propõem em me ajudar. — Não sei se posso aceitar. — É claro que pode e já pode também parar de chorar que isso é motivo para alegria e não de tristeza. — Muito obrigada, nem sei como agradecer. — Nos agradeça arrasando na sua nota final, então termine o que tem que fazer e passe o restante do dia trabalhando na sua tela. Tenho que sair agora, vou até o grupo Jones para me encontrar com meu marido, então nos vemos mais tarde. — Hummm, vai dar uma rapidinha no escritório da presidência, senhora Jones? — Amanda diz provocando e acabo sorrindo, limpando as lágrimas que agora são de alegria. — Até parece que você não faz isso no escritório do diretor jurídico. Amanda abre um sorriso grande. — Tem razão, faço isso mesmo. — Estão falando de mim, meninas? — O senhor Lewis diz entrando na sala e me levanto. — Estávamos sim, mas já estou de saída e a Bruna também, então fiquem à vontade — Emily diz piscando para mim e entendo o recardo. Saímos as duas juntas da sala.
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