BRUNA HARPER
Meu pai está sentado em uma mesa rodeada por homens importantes e entre eles está ninguém mais ninguém menos do que Oliver Thompson.
Meu Deus, como foi que papai conseguiu entrar aqui e jogar com essas pessoas?
Quando vou me aproximar da mesa um dos seguranças segura meu braço.
— Desculpe senhorita, o jogo já começou e não pode se aproximar agora, tem que esperar a partida terminar.
Não consigo acreditar no que escuto e ainda tento questionar com o homem que me segura.
— Mas vim justamente para impedir que essa partida aconteça.
— Senhorita, essa já é a terceira rodada. O senhor Harper perdeu e pediu uma melhor de três valendo tudo.
— Valendo tudo? Mas como valendo tudo se ele não tem nada para apostar?
— Ele tem sim.
Meu coração falta sair pela boca porque não temos mais nada de valor em casa.
— O que ele está apostando?
Vejo que o homem me olha com pena.
— Sinto muito senhorita, mas acho que deve ser a casa de vocês. Tudo o que ele trouxe foi a escritura de uma casa.
Sinto as pernas falharem e só não caio porque ele me segura.
Como o meu pai teve coragem de apostar nossa casa desse jeito?
Minha vontade é de chorar de raiva.
O segurança me senta em um sofá próximo e me manda rezar para que o meu pai ganhe pelo menos dessa vez, assim não perdemos nossa casa.
Eu fico sentada no sofá olhando para os homens jogando tão concentrados que não perceberam a minha presença. Cada um deles emana poder exibindo suas inúmeras fichas no meio da mesa.
Meu pai não tem chance contra eles que são leões e ele a p***a de um cordeirinho que não sabe a merda que está fazendo.
Depois de alguns minutos, acontece tudo como exatamente já previa, meu pai perde tudo e os outros jogadores um a um vão mostrando seus jogos.
O grande vencedor é ele, Oliver Thompson.
Eu me levanto em um impulso, vou até à mesa de jogos e puxo a cadeira do meu pai para trás, sem me importar de como os outros homens estão me olhando, principalmente o Oliver.
— Pai, como o senhor teve coragem de fazer isso? Apostou a nossa casa e perdeu? O que vai ser de nós agora?
Meu pai se levanta e segura com força meu braço.
— O que você está fazendo aqui? Como conseguiu entrar? Está me envergonhando na frente desses homens.
Puxo o braço e o encaro.
— O senhor é que está se envergonhando, achava mesmo que teria alguma chance contra eles? Não passa de um jogador de calçada que nunca conseguiu ganhar nada...
— Como vai ser, senhor Harper, essa escritura não paga nem metade da aposta — Oliver diz me interrompendo e me viro para olhar para ele.
— Como assim não paga nem a metade da aposta?
— Isso mesmo o que escutou garota, essa escritura não paga nem metade da aposta. Seu pai me deve muito dinheiro.
A maneira arrogante como ele fala comigo me deixa irritada, é como se ele nem me conhecesse.
— O senhor já é um homem muito rico, creio que pode reconsiderar e ficar apenas com a casa.
Os outros homens na mesa caem na gargalhada, mas em um levantar de dedo do Oliver, todos se calam.
Ele me encara assim como estou fazendo com ele.
— Aqui não é um clube de caridade menina. Seu pai sabia bem o que estava fazendo e onde estava se metendo. Ele estava bem ciente do valor da aposta e mesmo assim concordou com as regras. Agora ele perdeu e vai ter que pagar.
Mas que filho da mãe, desgraçado!
— Em primeiro lugar, não deveria aceitar aposta de um homem que não tem nada; segundo, o que me falaram é que todos aqui são homens de negócios. Homens importantes, mas que foram burros o suficiente para não conferir se um homem, como meu pai, que só de olhar para ele se percebe que é um pobre lascado tinha como pagar ou não uma aposta tão alta como essa.
Meu pai mais uma vez segura meu braço com força e levanta a mão para me dar um tapa. Quando fecho os olhos esperando sentir o ardor no meu rosto, escuto Oliver dizer:
— Se você tocar um dedo nela, eu mesmo arranco a sua mão. Estou acostumado a fazer isso com perdedores. Posso dizer que é a melhor parte do jogo, entende agora, senhorita Harper, o motivo de não conferir se os homens que se juntam a nós tem ou não condições de pagar as apostas?
Todos riem novamente.
Meu pai me solta e se ajoelha implorando por mais tempo.
— Senhor Thompson me dê mais um tempo para conseguir o restante do dinheiro, não arranque minha mão, por favor.
Deus que situação humilhante é essa, realmente meu pai é um verme de homem.
Os outros homens dentro da sala parecem se divertir com tudo o que acontece, mas em momento nenhum paro de encarar Oliver e ele também não desvia o olhar do meu.
— Um mês... Você tem um mês para me pagar o restante do valor da aposta, senhor Harper, se não pagar garanto que não vai perder só a mão. Não deveria ter entrado aqui se não era homem o suficiente para arcar com as consequências de perder tanto dinheiro assim, agora suma da minha frente.
Tento ajudar meu pai a se levantar, mas ele me empurra com tanta força que acabo caindo por cima da mesa e machucando as costas.
Oliver se levanta furioso e acerta um soco em cheio na cara do meu pai, quebrando o nariz dele.
— Falei que se triscasse um dedo nela arrancaria sua mão.
Meu pai mesmo ensanguentado muda de cor com medo de perder a mão.
— Senhor Thompson, por favor, me desequilibrei e caí. Ele não me empurrou tão forte assim.
Oliver trava o maxilar me olhando e dá uma ordem.
— Sumam todos da minha frente agora mesmo.
Ninguém espera o homem mandar duas vezes, todos se levantam e vão até à porta de saída. Faço o mesmo tentando ajudar meu pai que tem as mãos no nariz.
— Você fica, Bruna.
Estanco no lugar e meu pai me olha surpreso por Oliver saber meu nome.
— Tirem esse verme daqui, deixem só a filha dele e não permitam que mais ninguém entre nessa sala.
Os dois seguranças que já estavam na sala se aproximam do meu pai e o levam para fora. Logo depois fecham a porta, me deixando sozinha com um homem que pensei que conhecesse.
— Vamos lá, Bruna Harper, quero que me mostre agora toda a sua coragem — diz com tanta autoridade que minha vontade é de dizer que minha coragem foi embora junto com meu pai.