Caipira

1089 Words
Quem era aquela caipira desbocada? Eu juro que não a tinha visto no meio da estrada. Nunca faria aquilo com alguém, ainda mais com uma pessoa tão... bonita. Passei todo o caminho até a fazenda pensando em como seria entrar por aquela porta e não ver meu pai. Então, como uma força da natureza, aquela mulher de olhos claros, cabelos cacheados e boca atrevida passou no meu caminho e me botou no chão. Nunca fui de babar por mulher nenhuma. Eu já tinha levado mais de uma dúzia delas para a cama e nenhuma havia passado mais do que esse tempo comigo. Já tentei namorar antes, mas não deu certo, e isso não era um problema até os meus 29 anos, quando meu pai passou a me cobrar uma nora e netos. Entretanto, ele não iria mais ver isso acontecendo, e a culpa era minha. Claro que eu não deveria apressar as coisas só porque estava com a consciência pesada, mas aquela moça... Jesus! Ela tinha um poder fora do comum. Eu queria saber seu nome e a ver novamente, dessa vez sem toda aquela lama em seu corpo que eu mesmo causei. Aquele seu atrevimento em me sujar tirou toda aquela tensão em mim de voltar para casa, e eu não sairia daquela lojinha sem saber como aquela jovem se chamava. Virei-me novamente para a senhora de meia-idade, que me atendia anteriormente, e a olhei com um sorriso no rosto. — Me desculpe pela confusão, senhora. Onde paramos mesmo? — Inclinei-me no balcão para ficar mais perto dela. O lugar era simples e tinha pouca coisa, mas meu objetivo ali era só pedir uma água, mesmo estando a alguns metros da fazenda. Era como uma desculpa para eu demorar ainda mais e não encarar aquela mansão rústica na qual nem tinha internet. — Água — a mulher falou, olhando-me assustada, e eu dei um sorriso que a fez ficar envergonhada. — Aqui está. — Estendeu a mão, entregando-me a garrafa. — Me desculpe pela intromissão da... — Esperei que ela falasse. Até eu estava ansioso pelo resto da frase, mas ela se deteve. — Perdão. — Na verdade, eu até gostei da intromissão da moça. — Desviei o olhar dela, abrindo a garrafa d’água, e bebi um gole. — Essa vila é pequena e todo mundo se conhece. Aposto que a senhora sabe quem era aquele furacão de olhos claros. — Voltei a encará-la. A mulher estava tensa e com os olhos arregalados. Eu poderia apostar que estava com medo, e eu nem sabia do quê. A única pessoa da nossa família que era carrancuda era o Bento. — Não sei se devo, senhor. Nem conhecemos o... — Me desculpe, eu não me apresentei. — Tomei a postura e estendi a mão para a cumprimentar. — Sou Benjamin Fontana. Isso só a deixou ainda mais assustada. Seus olhos castanhos quase saíram do lugar. — Fontana? — murmurou. — Sim. O filho mais novo do Thomas Fontana. — Oh... Meus pêsames — ela quebrou a dureza, lembrando-me do que eu queria esquecer. — Todos estávamos esperando pela sua chegada e do seu irmão. — É. Então... Meu irmão já está na fazenda, e eu preferi fazer a viagem de carro — mencionei, já querendo deixar de lado o assunto. — O que me interessa agora é saber quem era aquela jovem e onde ela mora. Eu cometi um erro, como todos viram, e não queria que a moça ficasse tão chateada. Pretendo lhe pedir desculpas sinceras. Não quero já chegar sendo um i****a. Não foi minha intenção. Apesar da minha intenção ser outra, minhas palavras foram verdadeiras. — Ah... Eu não sei se... — Ela não iria me dizer, vi isso no seu rosto. — O nome dela é Violeta — um senhor, que estava sentado em um banco na porta, falou atrás de mim. — Zé! — repreendeu-o a mulher. Virei-me e encontrei o senhor. Ele já era de idade, mais velho que meu pai aparentemente. — O que foi, mulher? O homem só quer se desculpar — ele argumentou. — Violeta é uma menina muito educada, mas esquentadinha, então não foi por m*l o que ela fez. — Não fiquei chateado — confessei. — Até gostei da moça. Eu quem devo me desculpar. — Pus as mãos no peito, demonstrando boa-fé. — Muito obrigado — agradeci, simpático. — Bem... Até mais, senhora e senhor. Saí daquela vendinha me sentindo até feliz e me lembrei da mulher arretada que não abaixou a cabeça por nada. Estava longe de mim querer isso, mas confesso que nenhuma outra já tinha feito algo assim. — Quero saber mais sobre essa Violeta. On: Benjamin era um verdadeiro mulherengo. Na capital, ele se orgulhava disso, dizendo a Deus e ao mundo que já tinha ficado com quase 50 mulheres desde que foi morar lá, porém até ele perdia as contas às vezes. Mas como o senhor Thomas já não estava mais ali, ele lutava contra si mesmo para mudar. Já estava na hora. 29 anos. Ele deveria aposentar a vida boêmia para se concentrar em arranjar uma esposa, assim como queria seu pai. Claro que ele não faria isso por obrigação, porém deveria ser mais racional e menos safado. Entretanto, algo na mulher de olhos verdes e cabelos encaracolados o deixou de queixo caído. Era o seu defeito ver uma conquista e correr atrás dela. Ele só não sabia que a pimenta do campo tinha uma língua solta e um pai protetor, apesar de que ela não precisava que ninguém a defendesse. Por si só, Violeta botava para correr muitos pretendentes que batiam em sua porta. Ela não guardava seu coração e virgindade por desejar um príncipe encantado, mas por não querer se preocupar com mais ninguém além de si mesma e do seu pai. E se fosse possível, ela iria estudar na capital e se formar para dar uma vida melhor a ele. Porém, a cada dia que se passava, Violeta via a sua vida sendo deixada de lado para se preocupar com alguns detalhes. Contudo, mesmo que não chegasse a se formar, ela estava orgulhosa de si por cuidar muito bem de quem tanto amava e daquele que se dedicou a ela por tantos anos. Por isso Benjamin tinha um desafio ali. Correr atrás de Violeta seria perigoso. Ele não queria ser o cafajeste naquele lugar, mas confessava que aquele contato e troca de olhares chamaram a sua atenção o bastante para tornar essa sua volta ao campo mais divertida. Off.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD