Eu não conseguia parar de pensar naquele homem alto de ombros largos e olhos azuis como o céu. Deus foi bondoso no quesito beleza com ele, todavia pecou na educação.
Onde já se viu alguém tão inconsequente?
Eu nunca tinha conhecido os homens da capital, pois a minha vida toda eu tinha passado na roça, e amava esse lugar. Só que até os xucros eram mais educados que aquele playboy.
Sair daquele local foi mais como uma fuga para mim, tanto pela forma como acabei aquele diálogo, sujando-o com a mesma terra que ele me sujou, como por eu ter sentido todo o meu ser ficar abalado com aquele sorriso safado no seu rosto. Eu não sabia quem ele era, nem queria saber. Corri para casa para tomar um banho e lavar a roupa suja antes de esquentar o almoço e ajudar meu pai na plantação de laranjas.
Eu estava com a toalha na cabeça enquanto lavava o vestido sujo e pensava naquele homem de duas formas, sendo que uma delas me deixava ainda mais irritada.
— Aposto que ele nunca tinha se sujado de lama — falei enquanto batia a roupa no lavador de concreto. — Deve ter vivido a vida toda dentro de uma casa chique e sendo criado por babás. Aposto também que tinha almofadas no chão para que quando ele caísse, não se machucasse.
Apesar de eu estar citando isso com raiva, uma pequena curiosidade brotava na minha cabeça. Então, passava a sua imagem na minha memória e eu me lembrava de como ele me olhou e sorriu. Um arrepio estranho na nuca me deixou com medo.
Quem é aquele homem?
— De quem você está com raiva? — Assustei-me com a voz de Iara, minha vizinha de 15 anos que, sempre que podia, entrava pela porta dos fundos, a qual vivia aberta, para conversar bobagens.
Iara era como uma revista de fofocas do vilarejo, e era por ela que sabíamos das coisas, já que sua mãe trabalhava na casa dos chefes.
— Menina, você quer me matar de susto? — reclamei, pondo a mão no peito. — Não estou com raiva de ninguém.
— Do jeito que você bate nessa roupa, parece que está projetando a pessoa nela. — A menina de pele cor de oliva e cabelos ondulados se sentou no batente de pedra da minha área de serviço, cerrando as unhas enquanto me olhava. — Mas chega de falar de você.
— Claro — murmurei, já sabendo que iria começar o falatório.
— Os irmãos Fontana estão na cidade. Mais especificamente, na casa do falecido — ela disse, empolgada.
Essa informação me interessava, já que havia uma expectativa enorme sobre o que aconteceria com a fazenda.
— Ah, é? E... sua mãe sabe o que eles farão com tudo que era do falecido? — Parei o que estava fazendo, por curiosidade.
Dona Matilde era a faxineira mais bisbilhoteira da cidade, então as coisas que aconteciam lá, rapidamente se espalhavam.
— Não. Mas é óbvio que eles não irão deixar tudo de mão beijada — ela falou gesticulando. — Dona Helena não veio com eles, deve estar abalada. Mas os dois... DEUS! Quem são aqueles gostosos?
— Menina, olha a boca — reclamei, surpresa. — Como sabe que são bonitos? — Levantei uma das sobrancelhas.
— Mulher, eu acabei de vir de lá. — O sorriso da garota fazia seu rosto brilhar. — O mais velho é um pecado, mas o mais novo... Aquele deve ser o fogo em pessoa.
— Você só tem 15 anos — lembrei-a, revirando os olhos e voltando ao que estava fazendo.
— Quando Benjamin entrou na cozinha cumprimentando a dona Margarida, eu quase me engasguei com o bolo que comia. QUE HOMEM!
Eu não sabia muito bem se acreditava nela, Lara era uma menina muito fogosa. Mas não era a primeira vez que ela dizia que os irmãos Fontana eram lindos.
— Sei. E você só ficou lá ouvindo a conversa e admirando o homem?
— Sim, é claro. O que eu iria dizer àquele gato? — perguntou como se isso fosse óbvio. — Na verdade, eu me interessei pela história maluca que ele disse sobre uma doida que o sujou de lama e foi peitá-lo na vendinha da dona Maria.
Meu sangue gelou assim que ouvi a baboseira de Lara. Parei de enxaguar a roupa e fiquei encarando a parede, sabendo exatamente do que ela falava.
— Ele disse “maluca”? — Virei-me com o cenho franzido. — Foi isso que ele disse?
— Não. Mas é lógico que só uma louca para fazer tal coisa. — Revirei os olhos, sem revelar a verdade. — Sinceramente, ele estava até curioso sobre a mulher. E eu também. Eu queria perguntar a ela como e por que fez aquilo.
— Talvez porque ele seja um i****a — falei, irritada. — Quer saber, Lara? Eu tenho mais o que fazer. Tenho que preparar a mesa, pois meu pai já, já, volta para o almoço.
Eu queria fugir daquele assunto, daquela fofoca e pensar no que eu tinha descoberto. Enxaguei o vestido solto, que estava sujo de barro, e o estendi no varal ao lado de fora. Depois entrei em casa quase roendo as unhas, de tão nervosa.
Aquele babaca não era só mais um riquinho visitante, era o filho do falecido Thomas Fontana, o herdeiro das terras. Como eu fui burra.
Será que ele ficou chateado? Será que poderá usar isso contra mim e meu pai? Merda!
Ouvi meu pai ao lado de fora já arrumando os instrumentos que usava para trabalhar, pronto para entrar e comer algo. Decidi respirar fundo e fazer as minhas tarefas. Depois eu veria o que fazer para me desculpar.
Não se esqueça de que foi o i****a quem começou. Além do mais, a culpa foi dele. Tudo aquilo foi por culpa dele.
On:
Apesar de pensar assim, Violeta não conseguia tirar o homem, já não estranho, da sua mente. Mesmo tentando se contentar com aquilo, ela acabava se lembrando do sorriso safado na sua boca, dos olhos furtivos e do que ele tinha feito.
Ela estava torcendo para nunca mais estar na presença dele, pois morreria de vergonha.