Mari
Até agora eu estou me perguntando como eu tive coragem de puxar o Zeca e lhe dar um beijo! Mas ele é tão lindo e fofo e ele tava todo falando de cavaleiro que teve o coração esmagado, fazendo bico, sério, não deu pra resistir, e agora cá estou eu, lutando pra tentar dormir, mas a única coisa que eu consigo pensar, são naqueles lindos olhos azuis.
Depois que separamos nossos lábios escutamos a voz da Ayame no pé da escada avisando que o Neji estava buzinando lá fora.
— Desculpa! Já tenho que ir e nós ainda não finalizamos o trabalho! - falei para o loiro.
— Só falta a capa princesa! Eu coloco o seu nome também! Pode confiar! - ele me disse sorrindo e mais uma vez eu fiquei encantada com ele! Como pode ser tão lindo?
Então ele me pegou no colo e eu coloquei meus braços em volta do seu pescoço, e depois ele me levou até minha cadeira, em seguida me sentou com a maior delicadeza possível, um perfeito príncipe.
Fui sozinha empurrando minha cadeira até o meu irmão! O Zeca já percebeu que eu gosto de me virar sozinha quando posso, eu não gosto de ser um fardo, já basta todo o trabalho que a minha família tem comigo.
O Zeca na frente do meu irmão parece outra pessoa tadinho, eu quase caí na gargalhada com a sua tentativa m*l sucedida de se parecer com um rapaz sério na frente do meu irmão, mas não quis constrangê-lo mais ainda.
— Até amanhã Mari! - se despediu todo fofo.
— Até amanhã! - o respondi.
Ele abriu a porta e me ajudou a entrar no carro, meu irmão olhou pra ele de maneira interrogativa mas não disse nada, o Zeca já sabe a maneira que eu tenho que entrar e sair do carro, o fato dele ter observado o mano fazendo isso só confirma o fofo que ele é.
E lindo!
Aquele beijo foi tão perfeito! As vezes eu penso que nem foi real! Que eu estou sonhando acordada, mas sim, foi muito real, um príncipe lindo e fofo me beijou, quer dizer eu beijei, Ahh, mas.... da no mesmo! Ele também queria!
Apesar da minha condição ele me quer! Ele parece não se importar! Ele não é que nem o meu ex.
O Zeca quando me olha apenas vê a Mari e nada mais! Pelo menos essa é a impressão que ele me passa! E eu tenho certeza que hoje a noite eu vou sonhar com ele.
..............................
— Mari já tá pronta? A mamãe disse que o café já está na mesa! - minha irmã pergunta batendo na porta do meu quarto e eu digo que já estou indo, término de arrumar minha mochila e vou encontrar com o pessoal na cozinha para tomarmos o café da manhã.
Aqui na minha casa eu sou bem mais livre! Tudo é adaptado pra eu andar livremente, salas, cozinha, área de serviço, banheiros, meu quarto fica no andar de baixo, aqui é o meu reino, e eu sou bastante independente.
O mano e o meu pai queriam comprar um carro adaptado, mas eu recusei, um carro desses custa muito caro e eles já gastam bastante comigo, com minhas fisioterapias, remédios, e tudo o mais, eu suspeito que o meu irmão ainda não se casou com a noiva por minha causa, porque ele não tem dinheiro bastante para um apartamento ou algo assim, e eu fico muito triste por causa disso.
Meu irmão se culpa pelo acidente! Apesar de tanto eu quanto a minha irmã já o termos liberado disso, ele continua se culpando, minha irmã também se sente da mesma maneira, e o papai e a mamãe também por estarem trabalhando e ter deixado nós duas pela supervisão do mano, que na época também só tinha dezessete anos.
Mas eu sempre estou dizendo que não há ninguém para ser culpado! Que tudo o que aconteceu foi uma trágica fatalidade, eu estou viva, a minha irmã está viva, e eu poderia voltar no tempo mil vezes, e faria tudo do mesmo jeito, eu jamais permitiria ver a minha irmãzinha sofrendo.
Apesar de não poder andar, correr, dançar, ter uma vida normal como todas as outras garotas da minha idade, eu vivo bem tranquila, há dificuldades, sim há, mas eu tenho meus pais e meus irmãos que sempre estão comigo a todo momento.
Eu não vou dizer que eu não queria poder fazer as coisas que as outras meninas fazem, eu vivia escutando tudo o que elas diziam na minha antiga escola, sobre as festas, os garotos, as coisas que eles faziam juntos, eu confesso que ficava com um pouco de inveja, porque eu queria ter a liberdade que elas tinham, e apesar de ter sido sempre tratada bem por elas, eu tenho as minhas limitações que me impedem de fazer certas coisas, nem em uma festa adolescente meus pais nunca me deixaram ir, e eu não quis incomodar o meu irmão com isso também.
E é isso! As vezes eu gosto de ficar no meu mundinho mesmo! No refúgio que é e sempre foi o meu quarto, assistindo, lendo, sonhando e vivendo a vida que as mocinhas dos livros vivem, nas histórias eu posso correr junto com elas, sentir o vento forte no meu rosto, e no fim beijar o mocinho, se bem que essa parte de beijar o mocinho, eu já realizei na vida real.
— Mari porque você tá sorrindo? - minha mãe pergunta e eu percebo morta de vergonha que tô sonhando acordada.
— Não seria a Mari se não vivesse sorrindo né mãe? - minha irmã comenta.
— Minha filhinha é feliz! Não é meu amor? - meu pai pergunta e eu confirmo acenando pra ele, e depois de um beijo na minha testa o assunto está encerrado.
Dói em mim ver o jeito que meus pais se esforçam para me ver sempre bem e feliz! Eu já os vi se sacrificarem várias vezes por isso! A prova foi a nossa mudança de cidade, o plano de saúde não estava mais cobrindo minhas sessões e como na clínica que a mãe do Zeca trabalha ainda aceita, eles não pensaram duas vezes, e nem meus irmãos reclamaram, o que me faz pensar que eles tiveram uma conversa sem a minha presença antes de eu ser comunicada sobre a mudança.
É por isso que eu estou sempre feliz! É por eles! Apesar de tudo eu agradeço muito a família que eu tenho, eles são tudo pra mim, e é por eles que eu acordo todos os dias com um sorriso no rosto, passo por cima das adversidades e limitações, por mais difíceis e constrangedoras que algumas possam ser com um leve sorriso no rosto, por que eu me considero uma garota sortuda, eu sou muito abençoada por ter uma família maravilhosa que motivam a lutar e sempre estar superando a mim mesma.
Eu não sou nenhuma coitadinha! Aliás! Se tem uma coisa que eu não suporto é que me chamem ou me tratem como coitadinha! Eu não sou coitadinha! Eu sou uma lutadora que batalha pela a vida e tem o direito de ir e vir como qualquer outra pessoa.
............................
— Vem Mari! Chegamos! - meu irmão disse e me ajudou a sentar na minha cadeira, e eu já fui logo passando a minha vista ao redor da escola à procura do Zeca.
Fiquei triste ao perceber que ele não estava me esperando, se a minha irmã percebeu a minha tristeza, não deixou transparecer, saiu correndo para encontrar as novas amigas que ela fez em questão de segundos, o que me deixa feliz e menos m*l por ela ter deixado as outras amigas na nossa antiga escola.
Continuei meu caminho em direção à minha sala de aula, durante o percurso percebi a movimentação de operários carregando materiais de construção e apenas dei de ombros e continuei o meu caminho, provavelmente algum tipo de reforma estaria sendo feita em algum local da escola.
Assim que cheguei no corredor que ia pra minha sala, comecei a escutar a voz rouca do Zeca, e meu coração já começou a palpitar, ele estava com os amigos fazendo algum tipo de movimentação em frente a nossa sala, fui girando as rodas e passando pelas pessoas no corredor, e quando consegui me desvencilhar, finalmente pude ver o que o Zeca e os amigos estavam fazendo.
— Oi Mari! - Zec se ajoelhou no pé da minha cadeira e deu um beijo na minha mão. — Ou devo dizer, oi doce princesa Rubi! - disse com o maior sorriso.
— Zeca! Você e seus amigos fizeram uma rampa na entrada da nossa sala? - perguntei incrédula, sem acreditar direito no que eu estava vendo.
— O Zeca conversou comigo sobre iniciarmos uma campanha para adaptarmos melhor a nossa escola para todos os alunos se sentirem bem e acolhidos! Prazer eu sou a Sara! Presidenta do conselho estudantil da nossa escola! - a menina de cabelo preto e mexas rosa me estendeu a mão.
— Prazer Mari! - me apresentei e apertei a mão da garota.
— O idio.... quer dizer.... O Zeca me surpreendeu! Nunca imaginei que ele abordaria um assunto tão importante quando me ligou ontem a tarde! Mas enfim, ele me ajudou a falar com todos os alunos e nós nos mobilizamos, e com a ajuda dos nossos pais conseguimos com a direção da escola uma reforma. - Sara explicou.
— Nossa! Obrigada gente! Eu fico muito feliz por vocês fazerem isso por mim! - agradeci a todos os colegas que me olhavam com simpatia.
Depois virei para o lado e fitei as duas safiras azuis no rosto do loiro que me encarava sorridente, ele quem teve a iniciativa de falar com todo mundo, o ponto inicial partiu dele.
— E obrigada! Cavaleiro Reluzente! - eu disse e dei um selinho nele.
Todo mundo começou a bater palmas e dessa vez eu dei razão ao Zeca por me chamar de Rubi, pois eu tenho certeza que eu fiquei bem vermelha, ele por outro lado, tava sorrindo todo convencido.
— Oh Mari! Mas você só vai poder passar sozinha amanhã! Porque o cimento da rampa que nós fizemos ainda está fresco! - Mário falou apontando para o cimento no chão.
— Pode deixar que eu entro com ela no colo! - Zeca disse e me pegou em seus braços.
Mais uma vez todo mundo começou a gritar e bater palma e eu escondi meu rosto no pescoço dele, e então percebi o quanto ele estava cheiroso e relaxei minha cabeça ainda mais.
Então um a um dos alunos foram pulando a rampa com o cimento fresco e entrando na sala, quando foi a vez do Zeca passar eu olhei para a rampa e vi que estava escrito "princesa Rubi" e logo compreendi que aquilo era obra dele, e quer saber, talvez o apelido "Rubi" não fosse tão feio assim quanto eu imaginava antes.
Zeca pulou comigo no colo e depois que o Tico entrou com a minha cadeira ele me ajudou a sentar, e assim como no dia anterior, o Zeca expulsou o Sal e sentou do meu lado, e só depois que o professor entrou e reclamou com ele, foi que ele soltou a minha mão, arrancando mais uma vez uma série de gargalhadas da turma, e eu acho que foi nesse momento que eu percebi que realmente estava apaixonada por esse incrível cavaleiro Reluzente.