Mordida do renascimento sombrio

Capítulo 28

Nina narrando:

— Ei!

Um súbito sussurro suave foi o que me tirou dos meus pensamentos, fazendo-me virar e olhar para a pessoa que acabou de falar, meus olhos encontrando os olhos dourados de Luke.

Eu estava tão perdida em meus próprios pensamentos que nem notei a presença extra até que ele estivesse bem ao meu lado, mas em minha defesa — todos esses vampiros recém-nascidos do exército que eu de repente conhecia, eram extremamente discretos ao andar.

— Você se importa se eu me sentar aqui?

Dei de ombros em resposta, meus lábios se curvando em um sorriso próprio.

— É um país livre e tudo, também duvido que Peter vá apresentar acusações de invasão de propriedade contra você por entrar em suas terras tão cedo.

Sua risada era ofegante, enquanto ele acenava com a cabeça e se sentava ao meu lado no degrau mais alto disponível na escada da varanda que ficava conectada à casa de Peter e Victoria.

Este espaço, ou melhor, essas poucas escadas pequenas, eram meu lugar para me retirar quando eu desejava meu tempo sozinha. Muitas vezes eu vinha sentar aqui e apenas ver o tempo passar enquanto admirava a natureza ao redor, ou mais frequentemente, apenas deixava meus pensamentos correrem livremente.

Esta foi a primeira vez em quase uma semana, porém, Luke pediu para se sentar ao meu lado, e eu não pude deixar de me perguntar por quê.

— Então. — questionei essa curiosidade repentina dele para participar do meu tempo pessoal. Não que eu fosse contra ele passar um tempo extra comigo, mas eu queria saber o motivo para isso.

Aparentemente, era sua vez de encolher os ombros ao responder.

— Os casais da casa estão ocupados em seu “tempo de casal” — seus dedos faziam aspas no ar, me fazendo soltar uma leve risada — Somos as únicas duas pessoas solteiras por aqui no momento.

Fiquei quase tentado o perguntar se ele seria a favor de mudar esse estado, mas parei no último momento, lembrando-me de outro estado dele, infelizmente, seu estado civil.

Uma pergunta logo entrou em minha mente e saiu da minha boca rapidamente.

— Você—deve estar com saudades de Sophia.

Eu tentei o meu melhor para esconder o ciúme desnecessário e um tanto indesejado que se infiltrou pelos meus poros, mas falhei miseravelmente nisso se o enrijecimento de Luke fosse uma resposta a considerar.

— Não muito. — Luke disse, mantendo sua resposta curta. — Quero dizer, é claro que eu gostaria que ela estivesse comigo, mas entendo que ela não gosta de participar do estilo de vida nômade. É apenas por alguns meses, então… — ele se corrigiu instantaneamente, quase como se fosse um pensamento posterior dito para o prazer do ouvinte e não do orador.

Balancei a cabeça, não gostando muito de sua resposta, mas não tendo escolha ao aceitar.

— Eu nunca pensei que você fosse uma amante da natureza. — Ele disse depois de alguns minutos de completo silêncio.

Eu me virei para olhar para ele em confusão, sem realmente entender as raízes dessa questão, antes que a compreensão me atingisse, fazendo-me dar uma leve risadinha.

— Eu não sou. É apenas pacífico aqui, então costumo passar horas fora. Na maioria das vezes, estou apenas olhando para algo enquanto minha mente está totalmente em outro lugar.

Ele acenou com a cabeça enquanto eu continuava falando.

— É tão silencioso aqui. Surpreendentemente, não há sons ao redor — nenhum pássaro cantando, nenhum esquilo guinchando. Vivemos tão perto da floresta. Inferno, praticamente vivemos na floresta, mas nunca ouvi um uivo ou rugido em todos esses dias.

Quero dizer, eu sabia a razão por trás desse silêncio completo conosco sendo os predadores e tudo, mas ainda era estranho quando pensava nisso.

Ele sorriu para mim, balançando a cabeça com o meu entusiasmo bobo.

— Huh! Eu nunca pensei que diria isso, mas sinto falta daqueles dias em que eu podia ficar animado apenas por perceber essas coisas simples. Depois de um século ou dois, isso se torna monótono e cansativo.

— Luke. — levantei minha sobrancelha para ele em zombaria. — Você é provavelmente a única pessoa que eu conheço e afirma abertamente ser velho. Até mesmo Kate sempre se refere a si mesma como jovem ainda em anos de vampiro. Ela lembrará os vários vampiros que são mais velhos do que ela, se você tocar no assunto da idade.

Ele encolheu os ombros.

— O que posso dizer. Sou um velho que viveu três vezes ou até mais a vida de um ser humano normal, e não tenho medo de admitir isso.

Balancei minha cabeça para ele, sorrindo. O ar entre nós dois estava calmo, e permaneceu assim desde a nossa discussão alguns dias atrás, quando Luke me pediu para dar a Bruce o benefício da dúvida. Eu não havia dado a ele nenhuma resposta definitiva até agora sobre se eu poderia perdoar Bruce ou não, mas ele também não tocou no assunto.

A discussão desse tópico acabou entre nós, e Luke veio se juntar à minha família aqui em Houston. Ele caçou com Kate - seguindo sua dieta animal, jogou jogos de tabuleiro bobos com o resto de nós e compartilhou velhas histórias, revelando segredos sobre Peter que envergonharam Peter em outra extensão, fazendo-nos rir no processo.

Era bom tê-lo por perto. Nós realmente não havíamos passado um tempo sozinhos até hoje.

— Enquanto estamos no tópico da natureza, no entanto. — acrescentei, não querendo que nossa conversa terminasse, mas sem saber o que dizer para continuar. d***a! Foi bastante inconveniente não ter sido muito conversadeira enquanto crescia. Eu não conseguia nem pensar em tópicos comuns tão rapidamente. — Percebi que as árvores ao redor da casa são um pouco diferentes do tipo que vejo nas outras casas suburbanas, ou mesmo perto das áreas povoadas. Pensei em perguntar isso a Vic.

Ok, isso foi ridículo. Serei a primeira a admitir, mas você tem que trabalhar com o que tem, ou com o que pode forçar suas células cerebrais a criar, no meu caso.

Por alguma razão, porém, o sorriso em seu rosto aumentou, dando-me a impressão de que ele sabia algo que eu não sabia.

— Você vê isso — ele apontou para uma das enormes árvores do terreno, uma que tinha o poder total de impedir a entrada da luz do sol. — Esse é um carvalho Nuttall, um carvalho-vermelho nativo de Houston. É considerado uma das melhores árvores grandes de Houston. Geralmente não é fácil de encontrar, mas funciona bem com o solo úmido e encharcado visto nessas partes. Há mais de carvalhos Nuttalls plantados à volta da propriedade pela simples razão de nos proporcionarem muita sombra, algo que funciona a nosso favor.

Olhei para ele em estado de choque, meus olhos arregalados, sem nenhum plano imediato para voltar ao normal. O que ele era, um Google ambulante?

Ele ignorou minha reação e continuou falando, apontando para outra linda árvore com flores rosas desabrochando. Era comparativamente menor que o primeiro.

— Essa é a árvore Redbud, também conhecida como Ceris Canadensis. Ela se adapta a quase todos os tipos de solo e atinge a altura de cerca de seis metros quando totalmente adulta. É mais valorizada pelo fator bonito, e isso… — ele apontou para outro, um aglomerado de árvores a uma curta distância de onde estávamos sentados. — é a magnólia do sul, uma das árvores perenes comumente encontradas nestas partes. É conhecida por sua fragrância.

Ele de repente correu em direção à árvore, trazendo-me de volta uma das flores da referida árvore, oferecendo-a para mim, fazendo-me perceber que eu estaria corando se pudesse.

— Estas flores brancas.

Instantaneamente senti o cheiro da flor que ele colocou em minha mão e fechei os olhos enquanto me deleitava com sua fragrância.

— E isso. — disse ele, apontando para outra árvore enorme, quando abri meus olhos para ver o que ele estava apontando — é outro nativo conhecido nosso - os carvalhos vivos. É a árvore nativa mais comumente plantada em Texas. Além destes, você encontrará Cedar Elm, carvalho espanhol, freixo do Texas e cereja preta mais comumente no Texas - todos nativos.

— Uau. — eu disse surpresa quando ele terminou de falar. — Você é um botânico secreto ou algo assim?

Tive que perguntar. Eu só precisava.

Ele riu alto com isso, quase caindo da escada de tanto rir.