Levanto-me na segunda feira sem medo de encontrar alguém. No domingo, após as garotas irem para casa, passei o dia me escondendo. Mas hoje é segunda. Todos os Le Blancs trabalham as segundas.
Fiz questão de ficar no quarto até as 10 da manhã. Desço para tomar um café da manhã rápido, pois hoje é dia de tirar os pontos de Harry. O médico avisou que cairiam sozinhos em 1 mês, mas Harry vai ficar 1 mês inteiro cutucando seus pontos, então preferi retirá-los.
Coloco Harry na caixinha de transporte e peço ao motorista para que me leve ao veterinário. Ao chegar lá, o médico tira os pontos sem nenhum problema, já que Harry é um preguiçoso que adora carinho na barriga. E mais uma vez, o médico me manda levar Harry para fazer exercícios.
Harry é um gato de apartamento, levá-lo ao ar livre será difícil. Passo no PetShop e compro uma guia para gatos. Procuro no mapa o parque-pet mais próximo e sigo para lá.
Uma confusão se instalou quando tentei pôr a guia em Harry. Tentei por horas fazê-lo caminhar, mas ele amou a grama e ficava se esfregando. Não quis saber de interagir com outros bichos e muito menos escalar. E após horas perdidas no parque, volto para a casa Le Blanc.
Já passa das 1 da tarde quando chego. Peço uma salada e um sanduíche de almoço assim que chego, e me deparo com Jacob assim que chego ao quarto para soltar Harry.
— O que faz aqui? — Pergunto. — Le Blancs trabalham as segundas, esqueceu?
Jacob está estirado na cama, de meias.
— Eu já trabalhei hoje. — Ele responde. — Vim conversar com você.
Abro a caixa de transporte de Harry para que ele fique livre.
— Sobre o que quer conversar? — Pergunto.
Jacob se senta.
— Sua mãe.
Faço uma careta.
— Não sei se quero conversar sobre isso. — Digo a ele.
— Ontem à noite foi intenso. Se eu não tivesse visto as garotas saindo às escondidas de pijama, teria vindo aqui eu mesmo.
Suspiro e me sento ao seu lado.
— Eu estou bem. Está tudo bem. Não precisa se preocupar, está bem? — Minha frase sai mais como um pedido do que uma pergunta.
Jacob assente.
— Está bem. — Ele fala.
Harry sobe na cama e começa a se esfregar em Jacob. Ele então, retribui o carinho. Quase tenho uma síncope vendo Jacob e Harry juntinhos assim.
— Então, você vai me acompanhar semana que vem? — Ele pergunta.
Semana que vem?
— O que tem semana que vem? — Pergunto.
— A festa. — Jacob
— Que festa?
— A festa anual.
Agora Jacob está falando como se eu devesse saber que diabos de festa é essa.
— Ah! A festa! Já é agora? — Falo disfarçando.
Jacob assente.
— Todos os anos, no terceiro sábado do mês de março. Não acredito que esqueceu disso, era nosso dia preferido de todo o ano! — Jacob exclama.
— Fazem 7 anos. Mas me lembro sim, como esquecer das festas!? — Torço para não ter falado besteira.
— Você nunca chegou a ir às festas...mas teve aquela vez que fomos escondidos, é verdade.
Por que diabos eu deveria lembrar das festas se nunca fui?
— Claro! Como pôde esquecer disso, Jacob?
Ele ri.
— Bom, eu vou as festas desde que completei 18 anos. Fui obrigado, já que comecei a trabalhar na empresa. E então, você me acompanha na festa?
— Como um encontro? — Pergunto.
Jacob levanta as sobrancelhas.
— Se você quiser, obvio. Mas você não se lembra? Só entram pessoas acompanhadas. Não quero ter que levar algum amigo de novo e tenho certeza de que você não tem um acompanhante. Pelo menos, não no país.
Sei que ele se refere ao meu namorado fake. Agora, preciso urgentemente saber mais sobre essa festa, ou vou acabar me entregando.
— Bom, acompanhantes então. — Aviso a ele.
Jacob não esconde a felicidade com isso. Mais uma vez, choro por dentro por ter um homem lindo desse caído aos meus pés e eu não poder ao menos tirar uma casquinha.
Afinal não sou quem ele pensa que sou.
E planejo sumir assim que eu puder. Assim que eu traçar um plano de deixar Lisa feliz sem fazer péssimas escolhas por Alison.
Sinto meu celular vibrar no meu bolso. Pego ele e olho a tela. É minha tia me ligando.
— Tia? — Jacob pergunta. — É minha mãe?
É óbvio que eu salvei o contato da minha única tia como "Tia". E é óbvio que o mais próximo de uma tia que que Alison tem, é a mãe de Jacob.
Rejeito a chamada e coloco o celular no bolso.
— É uma amiga lá da França. Esse é o nome dela. Tia. — Digo.
— Pode atender, eu não me importo...Que horas são lá?
— Não, não precisa, já é bem tarde da noite lá, ela deve tá indo dormir. Eu ligo quando ela acordar.
Jacob assente.
Ficamos em silêncio por alguns minutos. Jacob faz carinho em Harry durante todo esse tempo, até que percebe que no lugar dos pontos, está uma cicatriz.
— Ele tirou os pontos? — Ele pergunta.
— Acabamos de sair do médico. Na verdade, acabamos de sair do parque, já que esse gordo precisa fazer exercício.
Jacob ri.
— Não imagino Harry brincando num parque.
— Exatamente. É porque esse maldito não brinca. — Digo fazendo Jacob rir mais. — Sério, fiquei horas com ele na guia e ele só queria saber de rolar na grama.
Jacob pega Harry e o segura como se fosse um bebê.
— Acho que esse gordo maldito quer mais companhia. Me chama na próxima vez que for levar ele lá. — Jacob fala apertando Harry contra si.
Harry, em vez de arranhar ele de todas as formas possíveis, deixa.
— Ah, não precisa. Eu juro, não é tão legal, gatos não servem para parques.
— Eu faço questão. Por favor! — Agora Jacob coloca o rosto de Harry perto do seu e me olha implorando.
Eu não mereço isso.
— Tá.
Logo Jacob recebe uma ligação e precisa voltar para a empresa. Aproveito o momento para pesquisar sobre a festa. Por sorte, os Le Blanc são famosos o suficiente para ter todas as informações possíveis na internet.
Descubro que a festa é para comemorar a família na empresa. Tem uma festa para a empresa, mas essa é diferente. É uma tradição desde que Anne e Mary eram pequenas, quando a empresa era gerida pela mãe delas. Parece ser extremamente glamurosa e conta com um discurso da família no palco todos os anos.
Não sei se estou animada para isso. Simplesmente não sei o que fazer.