Consigo ouvir suspiros atrás de mim. E eu consigo ouvir isso, pois parece que o tempo parou. Por longos segundos, todo o tempo no mundo inteiro parou, e eu estou aqui, em pé, de frente com Jacob. Sei que os pelos na minha nuca estão arrepiados, sei que não comi nada a tarde toda e ainda assim, o meu estômago parece estar se revirando todo. Durante esses segundos, eu sinto que não pertenço mais a mim. Meu corpo agora responde a outros estímulos.
Meu corpo se aproxima de Jacob. Seu terno é inteiramente preto. Camisa, gravata, sapato, blazer, calças. Tudo preto. O caimento está perfeito. Eu já vi Jacob de terno antes, mas isso aqui é diferente. Ele está com o cabelo recém-aparado, com um pouco de gel modelando um topete. E seus olhos estão praticamente brilhando.
Abro a boca para falar algo, mas me assusto com os saltos que meu coração dá dentro de mim. Se Jacob não estivesse na minha frente, justificando todas essas reações, eu acharia que estava tendo um infarto ou algo assim.
— Eu ia dizer que você está linda, mas acho que você vai ouvir isso de muita gente hoje. — Jacob se aproxima de mim até colar seus lábios no meu ouvido. — Eu já conheci pessoalmente 6 das 7 maravilhas do mundo. Eu já vi todo tipo de lugar, todo tipo de gente e eu falo com propriedade quando digo que você é a vista mais linda que eu já vi.
Jacob recua apenas o bastante para que eu o olhe nos olhos. E eu simplesmente não sei o que responder.
— Fala mais alto! — Ouço Emily gritar de dentro do quarto.
O grito repentino de Emily fez com que Jacob e eu rissemos. E apesar da intromissão, eu agradeci por isso, pois não haviam palavras na minha boca e o clima estava se encaminhando a um beijo.
E no fundo, eu não sei se realmente agradeci por isso.
Jacob põe a cabeça para dentro do quarto.
— Vocês três! O motorista está esperando vocês lá fora há tempos. — Jacob avisa.
Não demora para que Kim e Jenifer dêem um pulo e passem quase correndo por nós. Emily vai logo atrás. E Jacob percebe que ela não está usando um vestido. E Emily parece estar receosa por isso.
E eu o encaro. Pronta para defender Emily.
— Bonito terno. — É o que ele diz, arrancando um quase sorriso de emily que agora se apressa para alcançar as meninas.
— Legal da sua parte não falar nada. — Falo.
Jacob oferece o braço para mim e eu entrelaço o meu ao dele.
— Eu nunca falaria. — Ele diz. — Há poucos, minha irmã parece estar de volta. Eu não faria nada para tirar ela de mim de novo.
Assinto.
— E o que você acha que aconteceu? — Pergunto.
Começamos a caminhar.
— Sinceramente? Um pouco de tudo. Você apareceu, ela tem uma nova professora que presta atenção nela...acho que agora ela sente uma rede de apoio, sabe?
Assinto.
— Isso é bom. E ela está mais próxima das meninas.
— Kim e Jenifer sempre foram uma realidade diferente para Emily. Ela sentia que as duas são o que ela deveria ser, então ela acabou se afastando. Mas por algum motivo, e eu acho que tem a ver com você, ela parece ter entendido que ela não precisa ser igual a elas.
— Por que acha que tem a ver comigo?
— Porque você é a Le Blanc mais diferente dessa família. E antes, era Emily. E ela sentia uma pressão enorme que você tirou dos braços dela.
— E agora ela pode ser ela mesma. — Completo o pensamento de Jacob. O terno hoje foi uma boa prova dessa teoria.
Finalmente chegamos ao lado de fora. Jacob abre a porta do carro para mim.
— Onde está seu carro? — Pergunto, já que ele está abrindo a porta de um dos carros da família.
— Aposentado por enquanto.
— Por causa de mim?
Jacob hesita.
— Eu só...as suas palavras naquele dia se repetem na minha cabeça toda vez que eu olho aquele carro. — Ele confessa.
Jacob tem um carro lindo. Um modelo específico, escolhido a dedo. Jacob obviamente ama aquele carro.
— Jacob, vá pegar seu carro. — digo.
Ele levanta as sobrancelhas pra mim.
— Você tem certeza? Eu não tenho problema algum de...
— Jacob, eu fui uma i****a. Eu não acho que você seria capaz de atropelar alguém, mesmo que sem querer.
Jacob então, fecha a porta do carro e sinaliza para que um dos motoristas venha buscar o carro.
— 2 minutinhos. — É o que ele diz antes de tirar o paletó, jogar no ombro e sair correndo em direção a garagem.
E claro, eu sinto meu corpo formigar com a cena mais sexy que já vi pessoalmente na minha vida.
Não demora para que Jacob pare seu carro na minha frente, saia do carro e abra a porta para que eu entre.
E eu entro. Me sinto uma estrela de Hollywood dentro desse carro caro, vestida para um tapete vermelho.
E mais inusitado é que realmente há um tapete vermelho. Fotógrafos para todos os lados que se amontoam quando Jacob estaciona o carro.
Minha porta é aberta pelo valet, que faz um rápido trabalho em levar o carro dali. E então sobramos eu e Jacob, com inúmeros flashs sobre nós.
Jacob e eu damos os braços e passamos pelo tapete vermelho até a entrada do evento.
E está tudo simplesmente...incrível.
A decoração é toda ornamental, detalhes em amarelo mostarda para todos os lados, uma orquestra no palco, espaço suficiente para inúmeras mesas e uma pista de dança enorme. Jacob e eu vamos a mesa reservada a nós. Não são mesas individuais e já tem um casal sentado quando chegamos. Imediatamente eles se levantam para nos receber e Jacob aperta a mão do homem.
— Jacob, que prazer revê-lo! — O homem diz a Jacob.
— Alison, esses são Alina e Frederick Conti. — Jacob nos apresenta.
— Muito prazer! — digo a eles.
Alina me dá um abraço e Frederick beija minha mão.
— Conti. É italiano? — Pergunto.
Frederick assente.
— Como você sabe, nossas famílias são amigas a gerações, desde que nossos antepassados viviam na bela Itália. —Frederick aponta.
Faço cara de quem sabe. Mas na verdade, nem havia me tocado que o sobrenome LeBlanc não é americano.
— Talvez Alison não se lembre da história. — Jacob avisa. — Nossa família é europeia. LeBlanc significa loiro. Nossa família ficou um bom tempo na Itália onde lá, levamos esse sobrenome pelos cabelos loiros da família. E desde então, o sobrenome tem sido resguardado pelas mulheres LeBlanc, que ao invés de perder o sobrenome para o do marido, nunca trocaram de sobrenome. E a família de Frederick, os Conti, são amigos próximos há gerações.
Frederick aponta para a mesa onde estão Anne e Mary.
— Inclusive, aquela mulher de verde é minha avó. Giorgia Conti.
Olho para a mesa. Mary e Phillip estão lado a lado com taças de champanhe nas mãos. Anne e Winston brindam com eles, e na mesa de 6 pessoas, tem mais um casal. A mulher de verde e um homem que parece ser mais velho que ela.
— E aquele homem? — Pergunto.
— É o sexto marido da vovó. — Frederick fala com humor.
Me pergunto se também tenho raízes italianas, já que sou tão parecida com Alison. Ou se apenas somos "Doppelganger" uma da outra. Como naqueles filmes em que duas pessoas iguais se encontram, geralmente a única diferença que os filmes colocam na atriz é o cabelo. Uma rica e uma pobre. E elas trocam de lugar. Talvez se eu tivesse conhecido Alison, pudéssemos protagonizar um filme nosso.
E Jacob seria o príncipe.
De toda história, Jacob ser o príncipe é a coisa mais real. Alison não gostaria de me conhecer e muito menos, trocar de vida comigo. Eu hoje estou vestida como uma estrela de cinema, e precisei tomar a vida de outra pessoa pra isso. Alison só precisou nascer.
Jacob se inclina até mim.
— O jantar será servido em 1 hora. Agora é a hora dos LeBlancs levantarem e cumprimentarem toda a festa. Fazer contatos, sabe? — Ele diz a mim.
Olho em volta.
Mary e Anne já estão de pé, com seus maridos ao lado. Lisa está circulando pelo salão e consigo ver a mesa de Kim, Jenifer e Emily. Os pais delas parecem estar conversando com as mesmas, provavelmente passando instruções.
— Então, hoje são negócios? — Pergunto.
Jacob assente.
— Somos LeBlancs. Tudo e todos são negócios. E hoje a família inteira participa.
Jacob me oferece o braço, pedimos licença para Frederick e Alina e começamos a circular.
Todos que conversamos ficam extremamente interessados em mim. Acontece que o fato de Alison ter deixado a família muito cedo, fez todos especularem, e agora, todos me perguntam o porquê. Sutilmente.
— E como foi ficar longe da sua família tanto tempo? — Perguntou o dono da nossa maior fornecedora.
E eu respondi, por reflexo, que foi ótimo. O que fez Jacob virar a cabeça para mim instantaneamente. Mas logo me corrigi e disse que o tempo na França foi ótimo, mas estava morrendo de saudade da família.
Mas alguns não eram tão sutis assim.
— Alison LeBlanc. A que fugiu da família! Como você está? Deve estar morrendo de vontade de sair correndo daqui ein? — E essa foi a filha de alguém importante, quase que completamente bêbada.
Passamos uma hora inteira conversando e fazendo contatos. Conheci toda a casta da alta sociedade. E fui chamada de socialite por um estilista que me convidou para seu desfile.
Obviamente recusei, afinal o desfile é em um mês e daqui 15 dias vou ter sumido da vida de todos aqui.
Logo o jantar foi servido e Jacob e eu voltamos a mesa.
Após comer mais do que eu deveria nesse vestido, Passamos uma meia hora conversando, até que ouvimos um barulho de batidinhas no microfone.
Mary e Anne estavam no palco, cada uma com um microfone. Elas começam agradcendo a presença de todos. Tento me concentrar no discurso, mas o olhar fulminate de Lisa sobre mim, me distrai. Ela espera algo de mim hoje que eu não quero dar. Aceitação publica a Lisa, é uma mudança gigante, se não a maior, na vida de Alison.
— Vamos, lá. — Jacob diz de repente se levantando e oferecendo o braço para mim.
Só então me dou conta que Mary chamou os LeBlancs para o palco. Levanto com Jacob enquanto somos aplaudidos. Sintou um enorme nervosismo dentro de mim. Quase chego a tremer. Na verdade, acho que estou tremendo...
Então percebo que meu celular está tocando freneticamente. Rapidamente, rejeito a chamada sem ver quem é e subo no palco com Jacob. Mary e Anne fazem um lindo discurso para a família e no fim, agradecem minha presença hoje. Meu celular começa a me deixar maluca.
—...uma noite maravilhosa. Alguém gostaria de falar algo? — Mary finaliza seu discurso com uma pergunta e se vira para nós.
Nesse exato momento, sinto um enorme cutucão de Lisa nas minhas coisas. Então é real, eu vo uter que fazer isso. Respiro fundo e dou um passo a frente.
— Eu gostaria, tia. — Jacob fala de repente tomando a minha frente. Ele pega o microfone da mão de Mary e vai até a frente.
Fico parada estática agradecendo internamente aos céus por isso. Enquanto isso, meu celualr continua vibrando. Então discretamente, dou alguns passos atrás e o pego para desligar. Mas antes, não consigo conter a curiosidade e olho quem está fazendo todo esse estardalhaço.
Quando pego o celular, a chamada acaba de ser finalizada e aparece bem grande na tela:
22 chamadas perdidas de Tia Helga
Na mesma hora, sinto meu coração parar. Tenho a certeza que algo aconteceu com tia Helga e quando vou tentar retornar, ela liga novamente. E eu atendo.
— Graças a Deus! — É a primeira coisa que escuto e só de ouvir a voz da minha tia, fico mais aliviada. — Alison?
— Tia, o que aconteceu? A senhora está bem? — Falo baixinho.
— Que barulheira toda é essa? Eu tô aqui de frente com seu prédio.
— Aqui? Na California?
— Eu tô há 2 horas aqui na frente, precisamos conversar agora.
Tia Helga veio do Canadá. Isso é caro e dá trabalho. Olho para Jacob, discursando sobre a empresa e a família. Lisa parece um pouco distraida pelo discurso. Então, faço algo que sei que vou me arrepender futuramente. Saio de fininho.
Quando finalmente desço do placo, começo a correr para a saída nos fundos. Procuro um taxi a qualquer custo, mas as coisas estão caóticas demais para encontrar. Então vejo uma solução. O estacionamento está logo ali.
Peço aos Valets a chave do carro de Jacob e dou a carteirada LeBlanc. Logo ele me entrega o carro e eu juro que quando tirei minha carta de motorista lá no Canadá, num Ford, achei que esse dia chegaria.
E eu tenho uma das experiências mais legais da minha vida dirigindo por Los Angeles até meu humilde prédio. E quando paro o carro em frente dele, vejo tia Helga, sentada em sua mala com as costas encostadas na parede.
Primeiro ela me ignora completamente, até olhar bem e ver que a garota bonita num vestido de gala dirigindo um carro caro, é sua sobrinha.
— Alison? O que...?
— Lá em cima, tia. — Digo a ela e então dou um gigantesco abraço nela.
Passo braço pelso seus ombros, ajudo ela com a mala e subimos até o meu apartamento.
Logo quando entramos, sentimos o cheiro que entrega que tem tempos que não piso aqui.
— Isso é comida estragada? Esse lugar parece abandonado. — Minha tia diz. Ela leva a mala dela para um canto e começa a fuçar a geladeira. Não demora 3 segundos até ela estar com uma pilha de comida fedorenta nas mãos e jogar tudo no lixo. Logo após isso, ela suspira e se senta na mesa, onde eu a espero.
— Então...o que a senhora faz aqui? Por que não me avisou?
Tia Helga então começa a rir.
— Eu não avisei? Eu te ligo há dias! Dias e dias e dias! Eu estava fazendo meu cabelo folheando algumas revistas, quando eu vejo minha sobrinha estampadas numa delas. Com outro nome. E eu pensei, deve ser um noem artistíco, mas quando pesquisei, apareceu outra pessoa. Uma pessoa que existe e não é você. Então, após você não me atender, eu tive que vir até aqui ver se você estava bem. E eu chego aqui, e você está dirigindo aquilo, vestida assim.
A foto do dia que Jacob e eu saimos juntos. Como eu nunca pensei que aquela foto poderia chegar nas pessoas que me conhecem?
— Tia, vou falar a verdade para a senhora...— Então, conto tudo a ela. Desde o começo até o dia de hoje, deixando de fora os abusos de Lisa e minha grande questão em relação a Jacob.
Ao fim da história, tia Helga tem as duas mãos na cabeça.
— Isso é...demais pra mim. — Ela diz apenas.
— A senhora acha que eu estou fazendo a coisa errada?
Tia Helga suspira, e então ela me olha do jeito que me olhava quando eu era a criança orfã que chegou pra ela.
— Você sempre foi tão indecisa. Me deixaca maluca. — Então ela me abre um pequeno sorriso. — Mas depois eu percebi que você não é indecisa por queres mais. Mas por querer tudo.
Reflito por um momento. Essa foi a coisa mais legal que Tia Helga me disse.
— Então a senhora não está brava comigo? — Pergunto.
— Eu sempre soube que você era diferente. Que você estava destinada a algo maior do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar pra você. Então, não, eu não estou brava. Você é uma adulta e espero que toma muito cuidado com esse mundo.
Assinto. Fico ectreamente feliz por minha tia estar aqui, então por essa noite, eu ignoro todas as chamadas de Lisa e Jacob, e vou ponho o papo em dia com tia Helga durante a noite inteira, já sabendo o que me espera na manhã seguinte.