Capitulo 16

2939 Words
Tia Helga dorme ao meu lado enquanto eu olho para o teto. Eu acabei não conseguindo dormir, e sei que ainda nem amanheceu. Por diversas vezes, resisti ao desejo de ligar o celular e dar uma explicação a Jacob, mas eu não sei o que falar. Por qual motivo eu sairia naquele momento, daquela forma? Como Alison LeBlanc explicaria isso? Sinto minha boca seca, então me levanto. Vou até a cozinha e encho um copo com água gelada. Quando bebo, tomo um susto tão grande que molho toda minha blusa. Batidas furiosas na porta causaram esse susto. Deixo o copo na pia, tento me limpar e vou abrir a porta, já sabendo quem é. — 1 minuto. É o que eu peço e aí podemos conversar no carro. — Digo. Lisa não ameniza o olhar. Ela apenas dá as costas pra mim e vai embora. Pego algumas coisas, deixo um bilhete para minha tia e desço. Já tem alguém dentro do carro de Jacob, pronto para leva-lo e Lisa me espera no banco de trás do seu carro. Assim que bato a porta atrás de mim, Lisa começa a falar. — Você é uma pirralhinha com zero profissionalismo que não vale o dinheiro que eu p**o. — Ela aproximo o rosto do meu. — A próxima vez que você me desobedecer, todas as ameaças que eu fiz até agora vão deixar de ser. — Houve uma emergência, eu tive que voltar aqui. — Explico. — Conveniente para você. — Ela diz apenas. Lisa não está errada numa coisa. Foi bem conveniente. A verdade é que eu sei que poderia ter feito um discurso de alguns minutinhos antes de correr para casa, mas o susto que minha tia me deu, foi o suficiente para minha cabeça justificar a ida repentina. — Causei muitos problemas? — Pergunto. — A minha mãe está até agora se perguntando onde a neta querida dela está. Jacob está preocupado mas como você levou o carro dele, ele acusou ter sido alguma emergência e a mãe acreditou. Agora, não vá achando que por eu ter perdoado essa vez, você pode fazer o que quiser. Eu tenho planos pra você e só por isso eu não mandei você pra cadeia. Chegamos a mansão LeBlanc alguns minutos depois. Desço do carro e de repente, Lisa tira Harry do porta-malas. — Harry! O que faz com ele? — Pego o gato e começo a examinar. Se Lisa ameaçar Harry, eu estou decidida a m***r ela. — Essa aí é sua desculpa. Você recebeu uma ligação dizendo que seu gato teve outro daqueles ataques e teve que levar ele no veterinário. Examino Harry, ele parece bem. Fico incomodada de Lisa ter tido uma ideia que eu não tive. Entramos na mansão e logo Mary aparece me enchendo de perguntas e eu conto a história de Lisa. Ela agradece por eu estar bem e até faz um carinho na cabeça de Harry. Após isso, vou para o quarto de Alisson e me jogo na cama, ainda com Harry nos braços, isso me faz levar um belo arranhão de um gato desesperado. Penso em ligar para Jacob, mas não quero mentir pra ele. Já basta ter que mentir para Mary. Então eu durmo e espero que a informação chegue a ele de outra forma, afinal, o seu carro já deve estar estacionado na sua garagem. Acordo bem tarde no outro dia. A primeira coisa que faço, é checar o celular. Primeiramente, respondo minha tia, avisando que estou bem e que em breve nos veremos. Ela avisa que vai as compras e dar um jeito no meu apartamento. Em seguida, entro no chat com Jacob, onde já tem uma nova mensagem sua avisando que soube do que aconteceu com Harry. Suspiro de alivio na mesma hora. Decido responder. Alison: Desculpa não avisar e desculpa pegar seu carro. Jacob: Que nada, eu fiquei aliviado por ter pegado meu carro, significava que você não tinha sido sequestrada ou algo assim. Alison: E se tivessem me sequestrado e roubado seu carro? Jacob: O Vallet avisou que Alison LeBlanc em pessoa pegou meu carro e saiu cantando pneu. Alison: Justo. Obrigada por entender. Jacob: O que importa é que você e Harry estão bem. Nos vemos a noite? Alison: A noite? O que terá a noite? Jacob: Minha avó convidou todos para um jantar aqui. Alison: Até eu? Jacob: Principalmente você. Alison: Nos vemos a noite, então. Alguém está batendo na minha porta. Jacob: Até. Foram duas singelas batidas que me fizeram ficar aliviada com a certeza de que não é Lisa. — Pode entrar! — Aviso. A porta de abre e Mary aparece. Vestida num terno com saia, ela adentra meu quarto. Mary é uma mulher muito bonita. Os cabelos dourados disfarçam alguns dos cabelos brancos, o rosto com poucas rugas, olhos azuis, postura perfeita. Se eu envelhecer bem assim, não preciso de mais nada na vida. — Alison, querida. — Me levanto para receber Mary. — Você está bem? Como está o gatinho? Em resposta, Harry mia, desce da cama e esfrega as costas nas pernas nuas de Mary. Ele sempre preferiu pernas nuas, quase nunca se esfregava em mim quando eu estava de calça. — Estamos bem, obrigada por perguntar. — Ofereço um sorriso gentil. Mary segura minhas duas mãos e analisa bem meu rosto, com um olhar maternal e orgulhoso. — Você está tão grande, tão linda, minha menina. — Ela diz ainda segurando minhas duas mãos. — Eu trouxe uma coisa pra você. Mary me puxa gentilmente para nos sentarmos na cama e pega sua bolsa. Ela tira de uma uma caixinha azul e me oferece. — Isso é pra mim? — Pergunto. — Está na nossa família há gerações. Foi confiado a mim, como a mais velha. Sua mãe está de olho a tempos, mas ele sempre foi seu. Abro a caixinha. Eu não estava preparada para o que estou vendo. Uma linda gargantilha em ouro branco com uma pedrinha de diamante. Em outra ocasião, eu diria que era apenas um colar de prata com uma pedrinha de zircônia. Mas eu nunca vi algo tão brilhante e que exalasse tanta nobreza na minha vida. — É muito lindo, eu não posso aceitar. — Digo. Mary pega a gargantilha. — Esse aqui não é um simples colar. É o símbolo da garra das mulheres da nossa família. E eu escolhi você para representar isso. — Ela então se levanta e põe a gargantilha em mim. — Quero que use hoje, para todos verem que eu passei o bastão pra você. Dou um sorriso sem graça. Eu sei que só de o colar estar no meu pescoço, já é um ultraje, mas não é como se eu fosse ficar com ele. Alison LeBlanc aceitaria esse colar. Então vou aceita-lo, exibi-lo, e quando for dar o fora daqui, vou passar a alguém. — Obrigada, vovó. É simplesmente lindo...eu me sinto até mais forte agora. Mary dá um beijo na minha testa. — Sabe, eu queria muito saber...quando estiver pronta, claro, os seus sentimentos por Lisa. Sinto meu corpo de enrijecer. Penso em responder algo, mas em vez disso, apenas assinto e observo Mary deixar o quarto. As vezes tenho vontade de ligar para Alison e saber o que ela faria. Então, para me sentir mais próxima dela, volto a ler o seu diário e a atualizar o meu pessoal. Já é quase noite quando eu termino de me arrumar. Acontece que Mary me falou que seria um jantar simples. Então eu vesti uma calça jeans. E ao descer as escadas, Phillip usava um terno e Mary usava um belo conjuntinho Chanel que me fez subir e trocar de roupa imediatamente. Pelo que entendi, ela um pouco formal. Então vesti uma conjuntinho fofo que encontrei. Era uma minissaia preta com minúsculas listras brancas, uma blusa social branca de mangas que acabei cortando na altura de um top, e por cima, um colete de terno que é conjunto da saia. Combinei com um coturno e voilá, jovem, descolado, formal e fofo. Tudo num só look. E eu decidi colocar o colar para dentro da blusa. Sei que algum conflito com Lisa vai vir disso e quanto mais eu puder adiar, melhor. Fomos em um carro só, já que a casa de Anne fica ridiculamente perto. Ao chegarmos, Mary segura meus ombros com um sorriso maternal antes de entrarmos em casa. — O que é isso: Deixe ele a mostra. — Ela então puxa o colar para fora da minha blusa. Na mesma hora, vejo os olhos de Lisa dobrarem de tamanho. Ela pensa em falar algo, até parece que vai, mas por sorte, Anne atende a porta e nos recepciona. Cumprimentos todos dentro de casa, Jacob me elogia, e Jenifer e Kim fazem um estardalhaço por conta do colar. — Para quem você vai passar quando for velha? Pra mim, por favor! — Jenifer implora. — Claro que não! Ela vai passar pras filhas ou netas. — Kim revira os olhos para Jenifer. — E se ela não tiver filhas ou netas? — Ela pergunta. — Aí ela passaria pra mim. — Kim infla o peito. Jenifer mostra a língua para ela e na mesma hora é repreendida pelo pai. — Vamos à mesa, por favor. — Anne nos convida. Ao me virar para me encaminhar a sala de jantar, esbarro em Lisa. Sinto um calafrio com o seu olhar. Lisa parece fora de si, com o olhar fixo na minha garganta. Dá pra ver o desejo e a injustiça no seu olhar, e o fato de eu estar recebendo tanta atenção, parece estar matando ela. Passo por Lisa antes que ficássemos sozinhas na sala e me apresso para ir a mesa. Jacob já me espera com uma cadeira vazia ao seu lado. Sento com ele. Jacob, por debaixo da mesa, põe a mão no meu joelho que até então estava tremendo, e isso me acalma instantaneamente. Seu toque é suave, nada incisivo e com o polegar, ele faz carinho no meu joelho. Eu relaxo na mesma hora. Até consigo ignorar o olhar mortal de Lisa sobre mim. Isso até começarmos a comer e Jacob precisar da mão dele. O jantar estava muito gostoso, apesar das várias opções veganas não se encaixarem tanto no meu paladar. Os empregados começam a tirar a mesa e servir a sobremesa. E eu me sirvo de uma fatia generosa de cheesecake. Quando finalmente o jantar se encerra, Winston convida os rapazes para fumar um charuto no seu escritório. E é quando Jacob me deixa. Anne convida a mim e as outras mulheres para conversar no jardim e na mesma hora, Kim me convida para o seu quarto. Fico muito tentada a aceitar o convite de Kim, mas sei que devo ir com as mulheres mais velhas. Sinto que esse convite não foi por acaso. Então aviso Kim que mais tarde me junto a elas. No geral, falamos da empresa. Quase se transforma numa reunião de negócios e Mary quer saber minha opinião sobre tudo. — Então, temos duas opções das novas embalagens do creme facial uniformizador de tom e textura. Sempre foi verde, mas agora com a nova formula, queremos mudar. — Anne avisa. Mary então me mostra duas fotos no seu celular. — Eu já disse, mamãe, devemos escolher a embalagem 1. — Lisa fala. Observo as opções. Sãos embalagens minúsculas, e devem custar uma fortuna. A primeira é prateada com uma simples faixa roxa na tampa. Formato esférico apenas plano na parte debaixo para ficar em pé. A segunda é um tubo cilíndrico com um aplicador. Nas mesas cores. — A ideia do aplicador é bem interessante, eu sentiria que estaria pagando pela facilidade. — Digo. Mary me dá um sorriso orgulhoso. — Penso o mesmo. — Ela se vira para Anne. — Será o aplicador então? Anne assente. — Com certeza. — Mas é diferente de como sempre fizemos, vai perder a tradicionalidade da família. — Lisa contesta. — Lisa, estamos do século XXI. Nosso publico não são mais senhoras pomposas. — Anne explica. — Amanhã anunciaremos e na semana seguinte, enviaremos produtos gratuitos a todas as blogueiras relevantes. — Mary explica. Lisa balança a cabeça. — Não acho que distribuir produtos de graça é uma boa estratégia. — Ela diz, com tanto rancor na voz que precisa limpar a garganta. — Precisamos manter o padrão que funciona. Irina, que até então estava calada, solta o ar pelo nariz alto e olha para Lisa com o olhar mais debochado que já vi. — Está bem claro que o futuro da empresa está decidido pelo moderno e diferente. Se fossemos optar continuar no antiquado, o colar teria ido pra você. Silêncio. Constrangedor? Não. Um silêncio delicioso de Lisa completamente sem palavras. E como ninguém quebra o silêncio, Lisa fica ainda mais possessa por ver que todas concordam com Irina. Então ela se levanta calmamente e se retira como uma dama. — Você foi malvada. — Anne diz, mas não repreende Irina. — Embora seja o que todos pensamos ao ver Alison com o colar. — Alison é jovem, tem uma mente linda e aberta. E é assim que vai ser a nova imagem da empresa. — Mary diz. — Pra deixar mais parecida comigo, só fazendo uma linha mais acessível. — Falo rindo. — Quanto custa um frasco disso? — O preço de lançamento vai ficar em 340,00 dólares. — Anne explica. Faço uma careta. — Nesse potinho? Tenho amigas que eram loucas pela marca mas era completamente fora de questão pra elas. No fim, elas preferiam comprar marcas mais baratas que demoravam mais para dar o resultado, mas eram acessíveis. Tenho que reprimir um sorriso falando de mim e de Peyton. — E quanto elas gastavam nos produtos? — Mary pergunta. — Algo em torno de 50 dólares. Eram embalagens maiores, provavelmente o produto mais diluído, mas funcionava na pele delas já que são peles jovens, sabe? — Fizemos uma redução uma vez, diminuímos o tamanho dos produtos e consequentemente os preços, mas não deu certo. — Anne fala. — E se fizéssemos uma linha inteira mais acessível? Hidratantes, cremes de rosto...acho que conseguimos encontrar boas formulas mais baratas. — Mary sugere. — Bom, a gente teria que ver isso melhor. Estudar se isso não desvalorizaria nossa marca...— Anne pensa com os dedos batendo no queixo. — Não precisa ser drástico. Pode ser uma marca diferente. Tem nosso nome LeBlanc mas deixa claro que não é nenhuma variação dos nossos super produtos. — Irina sugere. Anne aponta para ela. — Isso é bom. Mary e eu ficamos muito felizes em saber que quando nos aposentarmos, podemos contar com vocês duas. — Anne fala. Irina lança um sorriso mas claramente ela está envergonhada. — Eu não sou uma mulher LeBlanc, casamento não é sangue...— Irina começa a falar, mas Mary a interrompe. — Besteira. Já falei, os homens LeBlancs são passivos e são atraídos por mulheres fortes. LeBlanc por casamento também é uma leoa. — Mary diz, fazendo Anne rir. — Talvez não tenhamos dado a devida importância a você por isso, mas já está mais que provado que você é exatamente o tipo de mulher que deve estar ao topo da empresa. — Acho que temos uma promoção pra você, Irina. — Anne fala cruzando as pernas. Acho engraçado a situação e Irina parece bem feliz. Essa deve ser a hora que eu finalmente vou poder me juntar as meninas. — Bom, vou deixar as adultas conversarem sobre negócios e vou me juntar as meninas. — Aviso me levantando. — Até daqui a pouco. Elas acenam para mim e Irina chega mais perto delas. Entro na casa e vou procurar o quarto de Kim no andar de cima. Quando entro no corredor dos quarto, sou surpreendida por Lisa. Ela aparece do nada, me dando um susto e agarra meu braço. Por reflexo, solto um grito agudo. Lisa abre a primeira porta que encontra e me joga para dentro do quarto com furia. Me desequilibro e preciso usar minhas mãos para evitar uma queda f**a. Quando consigo ficar em pé novamente, estou irada de raiva. — O que você pensa que está fazendo? — Pergunto. Embora eu esteja irada de raiva, Lisa parece estar o dobro. Suas veias estão dilatadas, seu rosto está vermelho, e os ombros estão tensos. Eu rapidamente me preparo para caso eu precise me defender e fugir. — O que VOCÊ pensa que está fazendo!? Por que está com esse colar? — Ela passa as mãos no cabelo, bagunçando. — Ou você tira, ou eu vou arrancar ele daí a força. Esse colar é meu! — Mary deu a mim. Esse colar pertence a Alison e não a você. Quando você vai entender que a principal razão disso acontecer é você mesma? Nesse momento, Lisa de descontrola. Ela parte para cima de mim e eu estou pronta para me defender a qualquer custo. Eu não quero um documentário na Netflix falando de como uma usurpadora foi morta. Quero um filme falando da minha ascensão. Lisa põe as mãos em volta do meu pescoço e eu empurro ela com força, mas ela consegue segurar no colar, que é bem forte por sinal, pois ele não quebra, em vez disso, me da um solavanco no pescoço bem dolorido. Lisa aproveita a oportunidade e segura a parte de trás do meu cabelo e puxa para baixo, imobilizando minha cabeça. Na mesma hora, a porta se abre e eu sinto o aperto dela sumindo aos poucos. Ainda mais, quando vejo o olhar assustado de Jacob.
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