Na quinta-feira, completei meu vigésimo sétimo dia como Alison LeBlanc. Com o coração pesado, aflito e sensível, tive a ideia de me despedir de Kim, Jenifer e Emily. Levantei bem cedo e liguei para os pais das meninas. Foi bem fácil convencer eles a deixar as meninas matarem aula. Pedi um carro para Mary e apareci na frente da casa delas quando elas já se preparavam para entrar no carro do motorista. Buzinei alto e continuamente até que as três me reconheceram e vieram correndo ao meu encontro.
— O que faz aqui? — Emily é a primeira a questionar. Apesar do tom, ela tem um sorriso saudoso no rosto.
— Entrem as três, vamos nos divertir. — Digo a elas.
Kim e Emily não esperam que eu insista, abrem a porta do carro e jogam as mochilas pra dentro.
Jenifer, continua parada olhando.
— Mas temos aula! O papai vai brigar com você, Kim.
Kim da de ombros.
Eu rio da reação das duas. Apesar de criadas juntas, idades e aparência semelhantes, as duas tem uma personalidade bem diferente.
— Eu conversei com eles, está tudo bem, vai ser nosso dia de despedida. — Digo.
Essa declaração já faz Jenifer correr para dentro do carro. Quando estão todas acomodadas, dou a partida. Um falatório começa, uma diversidade de assuntos como nunca vi. Pelo que conheço elas, isso só acontece quando estão tão animadas que precisam extravasar ou vão explodir.
Ando bem devagar, para acompanhar a conversa e aproveitar da companhia delas. Tão devagar, que dou um pulo quando escuto uma buzina alta atrás de nós. De repente somos ultrapassadas por um carro que reconheço na hora. Jacob passa por nós de vidros fechados como uma bala. Isso faz as garotas começarem a falar mais alto ainda, me mandando gritar com ele. Kim se joga no banco da frente e aperta a buzina com toda a força, quase me fazendo desestabilizar o volante. Vemos o carro de Jacob parar ao longe. E da a ré.
— Kim! Deixa de ser maluca! Você poderia ter nos matado! — Jenifer exclama.
Kim volta a seu lugar.
— Na velocidade que a gente tava? Uma criancinha passou da gente de motinha há 2 minutos. — Kim retruca.
— Poderíamos ter matado a criancinha. — Emily conclui.
— A criancinha...— Kim aponta para frente. — abandonou a moto e resolveu correr e ainda assim, está lá longe.
Passo a mão no rosto, para não surtar com essa discussão.
— Ih...Jacob tá bem aí. — Emily aponta.
Sempre achei carros esportivos parecidos com carrinhos de controle remotos. E o que Jacob faz, reforça ainda mais meu pensamento. Ele acelera de ré, na nossa direção e então faz uma curva, colocando o carro ao nosso lado e acompanhando.
Ele baixa o vidro.
Não consigo não sorrir ao ver a cara dele ao nos reconhecer. E Jacob sorri de volta.
— Eu deveria me preocupar por você estar sequestrando as garotas? — Ele me pergunta.
Quando abro a boca para responder, Kim se joga na minha frente e se inclina na janela.
— Se fosse um sequestro, não estaríamos há 20 minutos atravessando o condomínio. — El exclama.
Jacob ri.
— É, acho que você está abaixo da velocidade mínima permitida, vão multar você. — Jacob dá uma mini piscada.
— Ok, os dois já pararam de me zoar? Podemos prosseguir? Estou levando as meninas pra sair, para nos despedirmos, sabe?
Jacob assente.
— Depois me avisa onde que eu tenho que me inscrever para ter o mesmo direito. Aproveitem o dia. — Ele acena.
As meninas começam um coro de "Tchau, Jacob" e "Até mais, Jacob"
Jacob nos deixa. Continuo a dirigir, agora um pouco mais rápido, pensando em uma forma de me despedir de Jacob.
Levo as garotas para onde elas querem. Vamos ao shopping, a praia e até mesmo a uma garagem, ver um ensaio de uma banda amigos de Emily. Passamos o dia comendo fast food, o que deixou Jenifer chateada, mas até ela não conseguiu resistir a uma boa batata frita.
Já estava bem de noite quando deixei as meninas na casa delas e parti para a Casa Le Blanc.
Logo que entro em casa, me deparo com Mary jantando. Ela me convida para me juntar a ela, mas eu estou tão cheia que recuso. Porém fico feliz de encontrá-la, pois resolvi reservar minha sexta-feira para ela. Mary amou a ideia de passarmos o dia juntos para nos despedirmos e ela me contou como foi seu dia de trabalho. Logo Mary pediu licença para se deitar e me deu um beijo na cabeça antes de sair.
Eu suspirei feliz. Ao deitar minha cabeça no travesseiro, eu percebi que a melhor parte do meu dia, apensar de ter sido um dia incrível, foi não ter encontrado Lisa. E eu aposto que a própria Alison teve esse mesmo sentimento antes de abrir os olhos e partir.
Acordo cedo na sexta, com o intuito de evitar Lisa. A primeira coisa que faço, é mandar uma mensagem para Jacob. Acontece que eu sonhei com ele. Jacob estava lindo como sempre e eu acabei me dando conta que era um sonho. Então eu me joguei nos braços dele, sabendo que não magoaria ninguém em um sonho. E eu estava enganada. Pois o sentimento de acordar de um sonho tão bom, onde tudo que eu queria estava nas minhas mãos e de repente desapareceu. Não era real.
Então eu avisei Jacob que no sábado, me despediria dele. E dos tios. Não é seguro ficar a sós com Jacob, então vou levar Jacob e os tios de Alison para ver um jogo de futebol ou algo assim.
Desço as escadas para tomar café da manhã com Mary e quase tropeço nos pés quando vejo a Lisa d costas sentada à mesa. Na mesma hora minha reação é voltar, mas Mary faz contato visual.
— Ah, querida! Venha comer alguma coisa. — Mary diz sorrindo. — Eu estava contando à Lisa como estou feliz de você ter reservado um dia inteiro para nós duas.
Abro um sorriso amarelo e me aproximo.
Lisa abre um grande sorriso para mim.
— Alison é tão adorável, não é mamãe? Mesmo fora todo esse tempo, a família dela ainda é sua prioridade. — Lisa diz.
Sento o mais longe possível dela.
— Isso é verdade, é uma garota de ouro, Anne me contou que ontem ela tirou o dia para as meninas. Ficamos tão satisfeitas de nossos netos se gostarem tanto, uma família unida é um presente para nós.
Lisa me olha com os olhos arregalados.
— É mesmo? Está se despedindo da sua família, meu bem? Por isso me convidou para passarmos o dia juntas amanhã? Alisson é tão boa filha, ela reservou seu melhor dia para mim.
Meu sorriso amarelo desaparece do rosto.
— É mesmo, querida? — Mary pergunta.
De repente, sinto minha mão tremer. Não sei se é de medo, nervosismo ou ansiedade, mas algo está acontecendo. Meu corpo começa a suar e minha boca ficar seca. Eu quase consigo ouvir Lisa me ameaçando para falar algo.
— Sim. — Falo quase inaudível. Limpo a garganta. — Sim, amanhã vou sair com minha mãe.
Mary então olha para Lisa, como se tivessem uma conversa silenciosa. E eu sei o que está acontecendo. Eu entendo o olhar das duas. Mary finalmente está se convencendo de que Alison e Lisa fizeram as pazes.
Como um alivio a tudo que eu estava sentindo, Mary se levanta e diz que está pronta para irmos. Então eu desajeitadamente me levanto e aviso que fico pronta em 10 minutinhos.
É o tempo que eu tenho para tomar um banho, me vestir e me acalmar.
E 10 minutos depois, estou em um carro em movimento, rumo a um spa. E com certeza, eu não poderia pedir um programa melhor. Mary e eu passamos o dia relaxando, conversando e até mesmo rindo. Foi tudo que eu precisava para dormir melhor. Tudo que eu precisava para anteceder um dia inteiro com Lisa. Mas ainda não era nem de perto o que eu precisava para avisar Jacob que teria que cancelar nossos planos. Por isso enviei uma mensagem explicando que esqueci que tinha marcado com Lisa, pedi desculpas e dormi antes de ver a resposta.