Beatriz Narrando
Eu ainda estou deitada na cama sentindo o quanto ela é macia, e vendo o quanto esse quarto é lindo. Levanto e vou até o banheiro que tem no meu quarto, a casa que eu morava só tinha a privada e um ralo que levava a água, banho era de balde, para ser sincera aquela casa era horrível, era um verdadeiro barraco.
Eu passei tanto tempo admirando o quarto que até me esqueci que não comi nada até agora, só percebi isso porque comecei a sentir uma leve tontura, sento na cama esperando que a tontura passe, mas acho que não vai, eu estou sem comer desde ontem depois do café da manhã, não tinha nada naquela casa e eu não queria incomodar meus vizinhos novamente, mesmo eles falando que eu não incomodava.
Escuto batidas na porta e mesmo tonta eu levanto para abrir, abro e sinto meu corpo mais fraco e minha visão escurecendo, mas antes de cair sinto um braço me segurar, não conseguia ver, mas é o Alemão, reconheci pelo perfume. Ele me deita na cama,
- Beatriz, está me escutando? – Ele perguntava segurando meu rosto
- Uhum. – Foi a única coisa que eu consegui responder.
- O que aconteceu, você está pálida.
Essa foi a última coisa que eu escutei antes de apagar de vez.
Acordo e vejo Alemão do meu lado segurando sua filha já acordada, e um médico mexendo em mim.
- Como se sente? – O doutor pergunta.
- Fraca. – respondo
- A quando tempo você não se alimenta? – Ele volta a perguntar
- Desde ontem.
- Depois do jantar?
- Não. Depois do café da manhã, eu só comi um pão.
- Menina, você precisa se alimentar bem, vou passar umas vitaminas para você e um remédio, você está com anemia.
Ele anota tudo em um papel, entrega na mão de Alemão e sai, Alemão sai para o acompanhar, não demora muito ele volta com uma cara nada boa.
- p***a, agora como vou trabalhar despreocupado se a babá da minha filha é uma louca que não se alimenta direito e saí desmaiando por aí, eu sabia que isso era um erro.
- Desculpa, eu não fiz por m*l. – Falo e começo a chorar.
Ele fica me olhando como se não estivesse entendendo nada, ele se senta na cama e coloca a bebê sentada também.
- Eu não comi nada porque eu não quis, eu só não tinha o que comer. – Falo com a voz embargada de choro.
- Desculpa eu não sabia. Mas Beatriz, eu sempre doo várias cestas básicas para a comunidade.
- Eu sei, mas não durava uma semana, meu pais vendiam para comprar entorpecentes.
- Filhos da p**a. Vem vamos comer então, foi isso que vim te perguntar antes de você desmaiar, se já tinha almoçado.
Ele levanta e estende a mão, seguro e sinto como se fosse atingida por uma descarga elétrica passando pelo meu corpo. Ainda segurando minha mão ele desce a escada,
- Desça com cuidado.
Assim que chego na cozinha sinto um cheiro maravilhoso.
- Fiz strogonoff, gosta?
- Eu adoro, dona Maria quando faz sempre me chama para comer.
- Consegue segurar ela para eu por a mesa?
- Sim, consigo, estou melhor.
Ele me entrega a bebê, sento e começo a brincar com ela.
- Qual o nome dela mesmo?
- Analu.
Ela me olha e da um sorrisinho mostrando seus dois dentinhos. Faço várias palhaçadas e ela dava cada gargalhada gostosa.
- Está tudo na mesa é só se servir. – Vem com o papai.
Ele vem até a mim e pega ela e a coloca em seu andador.
Começo a comer, e como estava bom, ele sabe cozinhar, e com certeza esse é só mais um dom que ele tem, porque lindo e gostoso ele já é. E agora olhando para ele lembro de Juninho falando que ele tem cara de Pitbull, e não é que tem mesmo, só que um Pitbull lindo. Saio dos meus pensamentos com ele falando.
- Beatriz, não precisa ter vergonha, pode comer, e quando quiser algo pode ficar à vontade para comer de tudo e se quiser comer algo que não tenha aqui, me fala que eu providencio.
- Obrigado. Pode me chamar só de Bia.
- como você preferir, Bia.