— Submissa... — a palavra escapou dos lábios do italiano como um resmungo.
Matteo Bianucci não era adepto a resmungar, mas ali estava ele, andando de um lado para o outro na sua sala, enquanto fervia de raiva a cada cena lembrada do que tinha acontecido agora pouco com a piccola Mary. As palavras da pestinha ainda ecoavam em sua mente, fervendo o seu sangue e o instigando a ir até o quarto onde ela estava e fazê-la se arrepender por tê-lo o provocado assim.
Mas ele não o faria, é claro. Já tinha ido longe demais com a garota e, no fundo, ele sabia que era compreensível que ela não o obedecesse, mas só de lembrar o tom petulante da loirinha e das palavras que saíram da sua boca... Isso o tirava completamente do sério!
Maryan Cater era uma peste!
Matteo sentia que deveria mandar caçar o figlio di puttana de seu pai e mata-lo com as suas próprias mãos por tê-lo metido numa enrascada dessas. Mary era problema, e ele não estava falando nem pelo fato da ragazza ter uma língua afiada, não... Ele estava pensando no fato de ter gostado do gênio cão da garota mais do que deveria. Ele sempre gostou de um desafio e a pequena podia não saber, mas tinha tornado o trabalho de domar a ferinha mais do que pessoal para Matteo.
Sem que percebesse o italiano se pegou parando no meio da sala e sorrindo consigo mesmo ao lembrar da tremenda cuspida que tinha levado. O piccolo demone tinha o cuspido! Poucos fizeram isso e viveram para contar história...
— Ragazzo Matteo? — a voz de Donana ecoando foi o que tirou o italiano de seus pensamentos. Matteo olhou para a porta aberta e encarou a pequena senhora. Ela era uma das poucas, senão a única, que tinha a permissão de entrar em sua sala sem bater, porém, ela nunca o fazia. Matteo se xingou por estar tão perdido em pensamentos, que não escutou Donana chama-lo. — O que pretende fazer com a ragazza?
— Como ela está? — não passou despercebido por ela, que ele estava querendo desconversar.
Donana suspirou audivelmente e puxou uma cadeira para se sentar a frente do garoto que viu nascer e ajudou a criar.
— Como assim, “como ela está?” A coitadinha está em choque, é claro! Ouvi ela chorando, quando deixei o quarto. — a pequena senhora confidenciou baixinho, como se achasse errado e de uma tremenda falta de privacidade revelar aquilo para Matteo. — O que fez com ela? — Donana o olhou com censura e Matteo riu baixo.
— Não fiz nada, Nana. — Matteo sabia que a desarmava quando a chamava assim e ele sorriu amplamente ao ver os olhos claros da senhora se estreitarem para ele. — O pai dela é um bas.tardo viciado e a vendeu como forma de p*******o. Mary ficará aqui por um tempo...
— Você nunca aceitou isso, ragazzo! Por que está fazendo uma coisa dessas? Vai deixa-la prisioneira? Você não é assim, Matteo. — ele nunca desrespeitava Donana, mas naquele momento, Matteo não segurou a revirada de olhos que deu. — Matteo Bianucci!
— Ele ia vende-la para outro, Nana. — o italiano passou a mão nos seus curtos fios de cabelo e se permitiu dar um suspiro cansado. — Eu não podia deixar que isso acontecesse. Não novamente... — ele então viu a compreensão em seu rosto gordinho. — Não consegui deixar que ele a vendesse para... — Matteo se calou quando a mão pequena e quentinha da mulher apertou a sua.
Donana sabia, ela era a única que sabia o quão horrorizado ele ficara quando viu a cena daquela mulher sendo observada e vendida como um pedaço de carne. Nem para a sua mãe ele contou, temendo que ela brigasse com Don Vicenzo Bianucci e que ele acabasse saindo como fraco. Matteo estava começando a participar realmente dos negócios da famiglia e não podia deixar que pensassem que não era capaz, embora a sua mente não tivesse mudado em relação a isso. Ele ainda era contra leilões de mulheres.
— Por que não contou isso para ela? Tenho certeza de que a ragazza não iria trata-lo daquela forma se soubesse o que iria lhe acontecer. — Matteo bufou e sentou-se ereto na cadeira, tomando um tempo para rolar os olhos e quebrar o contato do toque de mãos com Donana.
— Não posso deixar que saibam que tenho um coração, Nana. — ele sorriu um sorriso sarcástico para a governanta da casa e sua amiga. Embora tentasse esconder e brincar ao falar aquilo, Matteo e Donana sabiam ter um fundo de verdade naquelas palavras.
Sentimentos as vezes pode te matar. Ambos sabiam disso, pois já viram acontecer.
— Só você pode saber. — o italiano se levantou da cadeira, aproximando-se da senhora gordinha e lhe dando um beijo estalado na bochecha, ganhando assim um riso baixo e feminino. — Como serei respeitado pela famiglia se não mostrar ser um italiano frio? — mais uma vez o sorriso sarcástico estava ali e dessa vez foi Donana quem rolou os olhos, aceitando a mão que Matteo lhe estendia e arrancando dele um riso baixo. — Vá sossegada, Nana. A piccola Mary pode não saber, mas está segura em minhas mãos. — Matteo beijou ambas as mãos gordinhas da mulher e a viu assentir em sua direção, embora os olhos claros ainda estivessem cheios de preocupação.
Donana sabia que Matteo não faria nada a garota, mas se perguntava o quão quebrada a menina não estaria. Quantas pancadas ela poderia aguentar? A pequena senhora só podia pedir mentalmente que Matteo não fosse mais um a machucar o coração ja quebrado da pequena Maryan Carter.
— Peça a Nico para reunir os homens lá embaixo. Tenho um comunicado a fazer. — Matteo observou Donana assentir e sair de sua sala em silêncio.
Ele ainda ficou enrolando um pouco em sua sala, antes de suspirar e acabar logo com aquilo. Ele bem sabia que as notícias corriam entre os homens e ele queria garantir que a sua convidada estivesse em segurança.
Não pode deixar de parar em frente a porta do quarto onde Donana deixara Mary e ouviu os soluços abafados ecoar de lá de dentro.
— Seria diferente se você não fosse tão cabeça dura. — ele não tinha a intenção de perturbar a garota, mas quando percebeu as palavras ja tinham lhe escapado pela boca.
— Vai a mer.da! — Matteo não conseguiu segurar o riso baixo ao ouvi-la gritar com raiva.
Raiva era bom. Você vai precisar da sua raiva para ficar forte, piccola Mary.
— Ah, piccola Mary... Eu vou adorar tanto dobrar esse teu gênio. — o italiano sorriu ao ouvir o chute forte na porta e podia jurar que ouviu a frase “Italiano de mer.da” vir abafada do quarto. — Peste. — resmungou com um sorriso nos lábios e por fim, resolveu deixar a loirinha em paz.
Assobiando, o italiano se lançou em direção as escadas e ainda lá de cima ele pode observar a maioria dos seus homens reunidos na ampla sala da mansão dos Bianucci. Assim que ele apareceu no campo de visão de todos, o ambiente ficou silencioso e olhos curiosos miraram-no.
— Como ja devem saber, temos uma convidada aqui na casa. — Matteo começou e pode ver Fabrizio fazer uma careta de onde estava sentado ao sofá. Ele ignorou aquilo e passou os olhos escuros lentamente por toda a sala, observando cada homem ali e deixando que um silêncio cheio de tensão recaísse no local. Ele capturou o que achou ser um sorriso mali.cioso nos lábios de Dario e estreitou os seus olhos em direção ao loiro. — Ela está proibida de sair dos arredores da mansão e nem preciso dizer para terem cuidado redobrado daqui em diante. — ele esperou que cada um assentisse para continuar. — E outra coisa. Caso eu venha saber que algum de os senhores encostaram um dedo num fio de cabelo dela, saibam que a pessoa terá uma morte lenta e bem dolorosa. — Matteo não desviou os olhos de Dario ao dizer isso e teve o prazer de ver o sorrisinho se desmanchar nos lábios dele. — É só. Voltem aos seus postos. — ele esperou que cada um dos seus homens abandonassem a sala, para então começar a descer as escadas em direção aos seus irmãos, que continuaram no sofá.
— O que vai fazer com a ragazza? — a voz de Fabrizio ecoou assim que Matteo se aproximou o suficiente.
— Virou algum tipo de defensor de mocinhas inocentes agora? — Matteo lançou o olhar frio para seu irmão mais novo e o viu rolar os olhos em sua direção, nem um pouco incomodado com a carranca do mais velho.
Matteo ignorou aquilo, se pondo a pensar em Mary cuspindo seu rosto e constatando que a pestinha saberia se defender sozinha.
— Só não acho certo mantê-la presa aqui, fratello. — não lhe passou despercebido o tom de voz mais ameno do mais novo. Fabrizio sempre foi esperto e ele sabia que se queria que Matteo o escutasse, não daria certo bater de frente e acabarem brigando como dois trogloditas. — A ragazza não tem nada a ver com isso. Conosco. Ela já sofreu demais, não acha?
— Acha que não pensei nisso, Fabrizio? Vocês dois sabem que ela está bem mais protegida aqui dentro, do que na sua própria casa. Julian é um viciado. Ele não deve somente para nós e não vai tardar a morrer. Quando isso acontecer, Maryan Carter terá a sua liberdade. Satisfeitos? — os olhares de seus irmãos estavam ambos em cima de Matteo. — O que foi? Não era isso que queriam escutar?
— Soube que ameaçou tomar a menina a força...
— Quem foi que falou essa mer.da? — o italiano rosnou, encarando Nicolay, que somente levantou as duas mãos e balançou a cabeça negando. Matteo sabia muito bem que os seus irmãos não contariam. — Eu nunca forcaria uma donne... — somente a ideia o deixava pu.to, por isso mesmo ele respirou fundo. — Eu posso ter ameaçado joga-la aos cachorros ou ter dito que a deixaria com os meus homens, mas... — Matteo se calou ao ver o olhar enojado que Fabrizio lhe lançava. — Eu não faria isso de verdade! Cazzo! Queriam que eu fizesse o quê? A peste ficou lá, me desafiando e ainda cuspiu na minha cara.
Matteo estava possesso demais se lembrando da cena para se importar com a risada de Nicolay.
— Antes que Donana a tirasse da sala ela ainda me disse que eu podia lhe jogar aos cachorros, ou até mesmo lhe dar aos meus homens. Pois segundo ela... — Matteo não se conteve e lançou um olhar enviesado em direção as escadas. — Ela preferiria a eles, ao invés de se tornar uma cade.linha adestrada que abaixa a cabeça e segue as minhas ordens. — ele pode sentir o sangue ferver ao colocar as ma.lditas palavras dela para fora.
— Dario vai adorar saber disso. — Nicolay murmurou baixinho, mas aquilo não passou despercebido por Matteo, que o olhou como um falcão.
— Ele que não se atreva. — o italiano se levantou, indo em direção ao mini bar que tinha ali na sala e servindo-se de uma dose de uísque com gelo.
Dario sempre serviu a famiglia com honra e respeito, se tornando um soldato respeitado como qualquer outro, mas Matteo sempre teve um pezinho atrás com o loiro e depois do que escutara de Nico, ele iria manter Dario sobre seus olhos.
Sem que o italiano percebesse os seus olhos foram em direção as escadas novamente e foi impossível não continuar a pensar na pequena peste que o desafiara. Ele não podia negar que a ragazza tinha coragem. Sem que pudesse evitar um sorrisinho nasceu no canto dos seus lábios, e Matteo bebericou o seu uísque, enquanto divagava e não percebia que Fabrizio o encarava atentamente.
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piccolo demone / pequeno demônio
fratello / irmão
donne / mulher
Cazzo / po.rra
soldato / soldado