Mary forçou as pernas a pararem de tremer e se obrigou a levantar o olhar, prendendo a respiração a dar de cara com um homem de aparência jovem. Ela estava esperando alguém um pouco mais velho, talvez uma barriga um tanto saliente ou quem sabe um homem com cara de assassino ma.l.
O homem que a olhava tão atentamente quanto ela o encarava não parecia ser tão mais velho do que ela, e a única coisa que a fazia temer, eram os olhos negros e de aparência fria em cima dela.
— Gostaria de se sentar? — a voz continuava baixa e suave, e ela podia jurar ter uma pitada de gentileza ali, mas isso não foi capaz de diminuir os tremores em seu corpo ou sequer fez com que ela abaixasse a sua guarda.
Matteo, por outro lado, a encarava pacientemente, com genuína curiosidade, observando como um falcão cada movimento da baixinha loira a sua frente, encarando com atenção a expressão amedrontada no seu rosto e a mania que ela revelava ter ao estalar os dedos nervosamente, enquanto começava a vasculhar cada canto da casa.
Ele se perguntou naquele momento, se a piccola* a sua frente estaria procurando possíveis rotas de fuga e se divertiu ao imagina-la tentando.
— Sabe... Geralmente quando eu faço uma pergunta, gosto que me respondam. — a voz masculina ainda era suave e baixa, porém não tão mais gentil quanto antes. Mary voltou a encara-lo. — Mas voce irá aprender. Então eu vou perguntar só mais uma vez. Gostaria de se...
— Quero ir embora! — ambos ficaram chocados quando a voz de Mary ecoou alta e clara naquela sala. Matteo sorriu minimamente ao ver a coragem da garota e embora não fosse admitir, gostou de vê-la secar as últimas lágrimas que escaparam dos seus olhos claros. — Você não tem o direito de mandar os seus vagabu.ndos irem atrás de mim.
Hum... o que temos aqui? Matteo pensou ao encara-la atentamente. A pequena loirinha tinha alguma força, afinal, e, no fundo ele gostou daquilo. Poucos mostravam a coragem que ela estava mostrando, embora ele se perguntasse se a piccola Mary sabia com quem ela estava falando.
Matteo se aproximou da garota e dessa vez deixou o sorriso escapar ao vê-la se afastar. Ele parou no meio do caminho, inclinando a cabeça levemente para o lado e tentando descobrir quem de verdade era Maryan Carter, pois o fogo que ele via nos olhos azuis, o deixava ciente de que ela não era tão submissa quanto Julian tinha lhe falado. A ragazza sustentava o seu olhar e ele gostou daquilo também, admitindo pelo menos para si mesmo, que a estadia de Mary em sua mansão poderia animar um pouco as coisas. Ele não faria nada com ela, é claro, mas não podia perder a oportunidade de saber até onde iria a sua coragem.
— Ah ragazza... Eu tenho. E como eu tenho. — Matteo se limitou a encostar o seu corpo na mesa e deixou o olhar descer lentamente pelo corpo baixo e curvilíneo, cruzando os braços e as pernas ao se encostar ali. — Você agora me pertence. — ele sorriu abertamente e viu a pequena Mary vacilar na sua faixada de garota durona.
— Não pertenço a ninguém. — não foi espanto algum para Matteo quando a garota abriu a boca. Ele podia ver que ela estava com medo, mas ele já começava a ansiar pela resposta que viria dela. Mas diferente de antes, ele podia notar a coragem sumindo aos poucos e dando lugar ao medo e o nervosismo que ela sentia.
— Venha aqui. — a ordem dele saiu alta e clara, e Mary pode ver com raiva o sorrisinho no canto da boca masculina, denunciando que ele estava adorando brincar com ela daquela forma. — Não me faça repetir a ordem. — Mary segurou a respiração e se aproximou dele devagar. — Não foi tão difícil assim, foi? — a voz dele estava sarcástica ao perguntar aquilo e ela o ignorou, por mais que estivesse fervendo de vontade de estapea-lo. — Escute, ninguém aqui irá machuca-la... — sem se conter a garota acabou bufando e rolando os olhos, cruzando os braços sobre o peito e desviando o olhar.
Aquilo fez o sangue de Matteo esquentar pela primeira vez desde que ela colocou os pés em sua sala. Ele, definitivamente, não estava acostumado a ser desafiado daquele jeito e a piccola, por mais amedrontada que estivesse, estava começando a testar a sua paciência.
— É melhor não voltar a fazer isso. — murmurou baixo, segurando o braço feminino e apertando para chamar sua atenção. Mary encarou a mão dele por um longo momento e Matteo a soltou quando viu as lágrimas no canto dos olhos azuis. A teimosia estava lá, mas ele sabia que ela também estava com medo.
— Ou o quê? — para seu espanto, Mary voltou a abrir a boca, se enchendo de uma coragem que nenhum dos dois pensou que ela teria. — Achou o quê? Que eu aceitaria essa palhaçada toda e você ganharia uma cade.linha adestrada igual aos que você tem lá fora?! Se enganou! — a pequena rosnou ao terminar de falar aquilo, e foi o fato de escutar aquele som que fez Matteo a encarar embasbacado por um momento, dando a oportunidade para que ela pegasse fôlego o suficiente para continuar. — Ouviu bem?! Enganou-se! Eu exijo que me sol... — a garota se calou no exato momento em que a mão masculina fechou-se em seu maxilar.
A admiração do italiano pela pequena corajosa tinha se esvaído no momento em que ela lhe falou aquilo. Ele tinha a comparado com um anjo loiro e submisso ao vê-la parada em sua sala, mas foi só escuta-la abrir a boca para constatar que Mary era uma pes.te e que lhe traria problemas se ele não a colocasse no seu devido lugar.
Ele não tinha a intenção de machuca-la, de forma alguma, mas não poderia deixar que a pequena cria de Julian colocasse as garrinhas para fora. Julian, pensou no homem com escárnio. Matteo sentia que deveria mata-lo por ter o enganado. Submissa é o cara.lho! Maryan Carter era um problema com P gigante.
— Você não está em posição de exigir absolutamente nada! — ele manteve a voz baixa, aproximando o seu rosto do dela e ignorando o cheiro cítrico que exalava suavemente de sua pele. — Eu posso facilmente mandar mata-la se me desobedecer. — murmurou soltando-a bruscamente e encarando os olhos azuis que exalavam raiva agora.
Ele não faria isso, mas faria bem colocar um pouco de medo na pequena pes.te a sua frente. Ou era isso que ele imaginava...
— Mate-me então. — o grito espantou Matteo e antes que ela se afastasse dali ele voltou a segurar-la, agora fechando os dedos na pele branca e macia dos seus braços, apertando com força somente para ter o prazer de marca-la com as suas digitais.
— Ou posso deixa-la nas mãos dos meus homens. Aposto que eles apreciariam uma diversãozinha. — Matteo a sentiu tremer e embora tivesse odiado falar aquilo para a garota já assustada, ele não pode deixar de pensar que se aquilo a fizesse ser menos abusada tudo bem para ele. — Então seja uma boa cade.linha, como você mesma disse, e... — ele não concluiu o que diria a seguir, pois no momento seguinte sentiu o rosto molhar com a saliva de Mary.
Ela tinha o cuspido!
Por um momento, ambos se encararam chocados demais para se ter qualquer reação. Matteo podia sentir o corpo dela tremendo e Mary sentia a furia tomando de conta do corpo masculino. E antes que ela sequer pudesse pensar em se afastar, sentiu os dedos dele se fecharem em seu maxilar pela segunda vez, exceto que dessa vez existia dor e ela não conseguiu conter o grito que escapou de sua boca.
— Nunca mais faça isso. — as lágrimas escorreram dos olhos femininos e se perderam nos dedos masculino. — Tem dois jeitos de fazermos isso dar certo. Você pode parar de agir como uma maldita bambina viziata* e aceitar que o figlio di puttana* do seu pai te vendeu como se você não fosse nada, ou pode continuar a me desafiar e no final eu decido se te deixo com os meus homens ou se te jogo para os cachorros. — Matteo rosnou, jogando-a ao chão e Mary se afastou para longe dele, arrastando-se e tentando ao máximo segurar as lágrimas que queriam sair dos seus olhos. Ela não iria chorar. Não na frente dele. Não lhe daria esse gostinho.
Matteo suspirou irritado e sem olhar para a pequena pes.te caída ao chão de seu escritório, deu a volta em sua mesa. Ele não queria que aquilo tivesse ido longe demais, mas precisava colocar a pequena Mary em seu devido lugar.
— Donana, venha até a minha sala, por favor. — ele apertou o interfone e se dignou a finalmente encarar a garota. Mary tinha se levantado e o encarava friamente. Ela só desviou o olhar gelado do italiano quando a porta do escritório se abriu e uma senhora baixinha e um pouco acima do peso adentrou ao local. — Leve-a até o quarto de hospedes. — a senhora assentiu com a cabeça e encarou Mary, que tinha voltado toda a sua atenção e raiva para Matteo.
Ele notou que a menina voltou a olha-lo com raiva e lhe lançou seu sorriso sarcástico, gostando de ver a pele do rosto se avermelhar e a chama voltar a acender nos olhos azuis.
Parece que temos alguém com raiva...
— Você pode me dar aos seus homens. — Mary teve o prazer de ver o sorriso convencido morrer aos poucos da boca do italiano e ambos ouviram a senhora baixinha arfar audivelmente ao lado deles, porém nenhum dos dois quebrou o contato de seus olhares. — Prefiro dar para todos eles, ou servir de ração para seus cachorros, ao invés de abaixar a minha cabeça para você e se tornar a sua ma.ldita ca.dela.
Mary não esperou uma resposta dele, coisa que não aconteceria, pois Matteo se encontrava completamente sem fala.
Ele nada pode fazer senão observar a pequena peste ser escoltada por uma Donana incrédula.
Mary se manteve em completo silêncio por todo o caminho e agradecia pelo fato da senhora ao seu lado não tentar iniciar alguma conversa, pois a garota não sabia se ainda conseguiria falar depois da cena que tinha protagonizado no escritório do ma.ldito italiano.
Mary adentrou ao quarto em que a mulher indicava e se virou para olha-la. Donana abriu a sua boca como se quisesse dizer algo, mas por fim desistiu e acabou saindo do quarto com um semblante carregado de tristeza. Mary encarou a porta com o coração aos pulos e depois virou a maçaneta, somente para constatar o que já sabia. Estava trancada.
A garota se encostou na porta e deixou que seu corpo escorregasse ao chão, enquanto finalmente deixava que as lágrimas e os soluços que tanto lutou para segurar, escapassem.
piccola / pequena
piccola Mary / pequena Mary
ragazza / garota
bambina viziata / criança mimada
figlio di puttana / filho da pu.ta