Capítulo 7

1411 Words
Lily Não acredito que por um minuto cogitei beijar Ben quando ficamos sozinhos naquele carro. Não sei o que me deu. Talvez as duas taças de vinho que bebi tenham sido demais para mim e já estava me fazendo confundir as coisas. Não que ele não seja um homem bonito e atraente ao qual daria um belo final de noite, mas somos amigos e misturar as coisas não seria nada bom para nós. Me tranquei no banheiro depois que entramos no quarto em busca de alguns minutos de privacidade para colocar as coisas em ordem na minha cabeça. Demoro um pouco mais que o necessário para limpar a maquiagem e mudar de roupa. Quando deixo o banheiro evito olhar para ele me ocupando em arrumar o colchonete para mim. Afinal, essa é a minha noite de dormir no chão. Quando o ouço voltar finjo que estou dormindo para não precisar ter que falar com ele. Por sorte o vinho ajuda com o sono e não tenho muito problema em adormecer. O r**m é acordar com aquela dorzinha irritante de cabeça. _ Ressaca? – Ben pergunta quando massageio as têmporas ao levantar. _ Sim. – Resmungo num suspiro. – Queria passar o dia todo dormindo. – Choramingo deixando o meu corpo cair sobre a cama. _ Mas isso decepcionaria a sua mãe. – Pontua pincelando o meu nariz. – Ela já tem todas as atividades do dia planejadas. _ Eu sei. – Digo virando para ficar de frente para ele e é uma péssima ideia. Acho que ele concorda comigo porque se afasta e deita ao meu lado encarando o teto. É esquisito me sentir desconfortável perto de Ben. Ele é o meu melhor amigo desde que me mudei para Nova York. Sempre falamos de tudo um com o outro. Agora parece que somos duas pessoas que acabaram de se conhecer. _ Vou chamar a Lilica e o Ben para o café da manhã. – Ouço mamãe gritar próxima a minha porta. _ E agora? – Ben pergunta num sussurro. _ Esconde o colchonete. – Mando e ele assente com um maneio de cabeça. Num gesto rápido e muito m*l calculado ele atira o colchonete dentro do closet, mas esquece de recolher os travesseiros que usei e acaba tropeçando neles e caindo sobre mim no exato momento em que mamãe abre a porta sem se dar ao trabalho de bater como é do seu costume. _ Desculpe, meninos. – Pede um tanto sem graça por achar que nos pegou no meio de algo e preciso me controlar para não desconversar. – Imaginei que estivessem prontos para o café da manhã. Só faltam vocês dois. _ Acabamos de acordar, mãe. – Digo quando Ben rola para o lado saindo de cima de mim. – Podem começar a comer sem a gente. Daqui a pouco descemos. _ Está bem. – Ela fala com um sorriso malicioso antes de sair fechando a porta. _ Que vergonha. – Ben fala cobrindo o rosto, que agora está mais vermelho que a roupa do Papai Noel, com as duas mãos. _ Nem me fale. – Suspiro imitando o seu gesto. – Acho que não estou com muita fome. E você? _ Não teria nenhum problema em ficar de jejum durante todo o dia. – Ele comenta se levantando. – Mas acho que se fizermos isso vão pensar que somos dois sádicos viciados em s**o e isso seria ainda pior. _ Tem razão. – Concordo também levantando. – Melhor descermos rápido. Com sorte evitamos que ela espalhe o que ela acha que viu para o resto da família. – Digo entrando no banheiro primeiro. Nos aprontamos em tempo recorde, mas pelos olhares que recebemos quando nos juntamos ao resto da família parece que mamãe já contou a todos o quanto Ben e eu somos ardentes e apaixonados. Evito olhar para todos e me concentro na comida. Já Ben interage com todo mundo sem o menor problema. _ Carly mandou mensagem perguntando a que horas vamos para o abrigo, mãe? – Eleonor pergunta encarando o celular. _ Diga que saímos em uma hora. – Mamãe responde devolvendo sua xícara a mesa. _ Que tipo de abrigo é esse? – Ben pergunta descansando os talheres no prato. _ É uma casa de acolhimento na verdade. – Mamãe explica. – Um refúgio para crianças que perderam os pais ou que viviam nas ruas. _ Descobri esse lugar depois que me aposentei do escritório e apresentei a Miranda. – Papai completa. – Desde então nós fazemos doações e também visitamos no Natal para levar alguns presentes e um pouco da magia do Natal. _ É uma atitude bastante nobre a de vocês. – Ben comenta claramente emocionado. _ Nem todos pensam assim. – Eleonor fala ao deixar o celular de lado. – Tia Maggie prefere ficar em casa maratonando filmes de Natal. Parece até que tem uma pedra de gelo no lugar do coração. _ Sua tia ficou assim depois que aquele traste foi embora. – Mamãe esbraveja. – Mas não vamos falar dele e estragar o nosso dia. – Determina começando a recolher as coisas sobre a mesa. – Meninas ajudem a tirar a mesa e os meninos arrumem o carro com tudo o que vamos levar. Como ninguém tem coragem para rebater qualquer uma das suas ordens fazemos o que pediu. Elle e eu retiramos a mesa e depois arrumamos toda a sala de jantar enquanto mamãe lavava a louça. Terminamos tudo ao mesmo tempo que os garotos terminaram de recarregar os carros. Dessa vez Elle e Jordan vão com os meus pais e Ben e eu os seguimos com o nosso carro. Max também está conosco. Já que não seria justo deixa-lo trancado em casa quando vamos passar todo o dia fora. Sem contar que as crianças vão adorar o meu filhote. Ele observa a rua pela janela animado com o passeio. O abrigo fica numa parte mais suburbana da cidade. É apenas uma enorme casa cercada por um muro e com um parquinho um tanto desgastado no jardim. Como está frio apenas algumas crianças mais velhas estão conversando no lado de fora. A diretora do lugar vem nos receber com um lago sorriso e pede que alguns funcionários ajudem a descarregar tudo o que trouxemos e colocar no pátio. Do lado de dentro as coisas são bastante organizadas para uma casa cheia de crianças. Nenhuma delas se aproxima até que são chamadas pela diretora. A mulher faz um breve discurso em agradecimento a nossa doação antes de começarmos a decorar todo o lugar, que tinha apenas uma árvore sem graça, com luzes e enfeites. Enquanto os mais velhos ajudam a mim e a Ben a pendurar guirlandas e luzinhas, Elle e Jordan cuidavam da entrada, Carly e Herry olhavam as crianças brincando com Max e mamãe e papai ajudavam a preparar um belo almoço para todos nós. _ Você está legal? – Pergunto a Ben enquanto o ajudo a desenrolar alguns metros de luzes. – Percebi que não você falou muito desde que a gente chegou. _ Eu estou bem. – Fala forçando um sorriso. – É só que estar em um lugar como esse e vendo essas crianças vieram lembranças não muito legais do meu passado. _ O lugar onde você ficou era r**m? _ Nenhum lugar é bom depois que você perde as pessoas que mais ama. – Diz me olhando de canto de olho. – Mas digamos que o lugar onde vivi não recebia visitas como essas. Era mais um lugar onde a gente sobrevivia até ter idade suficiente para se virar na rua. _ Não entendo porque nunca me contou sobre isso nesses quase cinco anos de amizade. – Digo largando o que estou fazendo e me viro para ele para poder o olhar melhor. _ Acho que nunca falei porque não queria a sua amizade por pena. – Dá de ombros. _ Não tenho pena de você, Ben. – Falo atraindo a sua atenção. – Eu admiro o bom homem que se tornou mesmo depois de tudo o que viveu. Sem que pudesse controlar minha mão sobe até o seu rosto. Os seus olhos estão vidrados no meu. E então sinto novamente aquela vontade estranha de o beijar. Pensei que ele se afastaria, mas a sua reação é o completo oposto reduzindo a distância entre nós. Estávamos quase ao ponto de nos beijar quando uma das crianças derruba um dos enfeites e nos separamos.
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