Capítulo 2

1794 Words
Ben Só eu mesmo para entrar num namoro falso com a minha melhor amiga a essa altura do campeonato. Mas jamais negaria a um pedido de Lily. E sei que se me negasse ela daria um jeito de encontrar outra pessoa para esse papel. O que seria perigoso e não me deixaria dormir em paz sabendo que ela talvez estivesse correndo perigo. Esse pensamento chega a me deixar arrepiado. Afasto esse pensamento com um balançar de cabeça enquanto fecho minha mala sobre a cama. A única coisa que espero é que essa mentira não estrague a minha amizade com Lily e que no final nós possamos rir de toda essa situação. Termino de me arrumar, recolho tudo e saio do apartamento trancando a porta. Deixo a minha bagagem perto do elevador e vou chamar Lily em seu apartamento. Para variar ela está atrasada e ainda arruma o cabelo quando atende a porta. Além de estar descalça e aposto o meu relógio favorito que ainda nem fechou a mala. Lily tem o péssimo hábito de deixar as coisas para a última hora. _ Não precisa falar nada. Sei que estou atrasada. - Fala sumindo no corredor. - Preciso de dez minutos e então podemos ir. _ Dez minutos. - Bufo sentando no sofá. - Aposto em vinte. E você? - Falo olhando para Max que me rodeia em busca de carinho. Fico brincando com Max enquanto a espero. Leva cerca de quinze minutos até que ela volta à sala trazendo uma mala sua e uma mochila que acredito serem as coisas de Max. Depois de trancar seu apartamento descemos os três de elevador até a garagem do prédio. Como já havíamos decidido ontem vamos no nossos carro que é maior e mais confortável para as duas horas de viagem que nós aguardam. Antes de pegarmos a estrada Lily prepara o banco de trás para acomodar Max e depois, com a destreza de uma veterinária experiente, dá um remédio de enjôo para ele. Como essa é a sua primeira grande viagem desse bebezão é possível que se sinta um pouco m*l durante o percurso. Assim que ele está bem acomodado Lily entra no carro ocupando o banco do carona. Isso porque amanheceu nevando um pouco e ela não se sente muito confortável dirigindo na neve. Enfrentamos um pouco de trânsito quando deixamos o prédio. Afinal, estamos em Nova York e grande parte dos seus habitantes estão nas ruas para as comprar de Natal. Mas tudo se tranquiliza quando chegamos a estadual. Max dorme profundamente com a cabeça pendendo do banco por conta do remédio. Uma música, escolhida por Lily, toca baixo e ela cantarola algumas partes sem perceber enquanto observa a paisagem mudando pela janela. _ Uma pausa para esticar as pernas e tomar um chocolate quente? - Sugiro depois de uma hora de viagem quando vejo uma lanchonete de beira de estrada. Seus olhos seguem para Max, que abre um pouco os olhos como se a sentisse o observando. - Nós levamos ele conosco. _ Se é assim. Vou adorar um chocolate quente. Estaciono numa vaga em frente ao lugar movimentado. Parece que os outros viajantes tiveram a mesma ideia que nós. Assim que desligo o motor Max ergue a cabeça agora mais desperto. Saltamos do carro e ajudo Lily a por a guia nele. Como estamos com Max escolhemos uma das mesinhas na parte externa para evitar brigas com pessoas que não gostam de animais em ambientes como este. Prendo Max a mesa para que não saia correndo por aí se embolando na neve e atropelando pessoas. Pedimos nossos chocolates e também uma água para o nosso amigo peludo, que se diverte tentando pegar os flocos de neve no ar. Quando nossos pedidos chegam Lily atende primeiro as necessidades de Max antes de apreciar o seu chocolate. _ Isso está uma delícia! - Exclama fechando os olhos depois de tomar mais um gole em sua bebida, que a deixa com um bigode engraçado. _ Então, namorada. Qual vai ser a nossa linda história de amor? - Pergunto estendendo um guardanapo descartável em sua direção. _ Obrigada. - Agradece se apressando em se limpar. - Vamos procurar mentir o menos possível. Costumo ficar um tanto nervosa quando preciso mentir e acabo estragando tudo. Então vamos dizer que somos vizinhos, ficamos muito amigos e nós últimos dois meses percebemos que o que sentíamos era mais que amizade e resolvemos tentar. _ Nós vamos ter apelidos fofos de casal? - Brinco a fazendo revirar os olhos. _ Não. Não vamos ser esse tipo de casal. Vamos ser modernos que não gosta de demonstrações de afeto em público. _ Que sem graça. - Digo recostando melhor na cadeira. - Precisamos ter alguma interação romântica em público ou vão desconfiar. _ Tudo bem. Andamos de mãos dadas e até te deixo me abraçar. Mas nada de apelidos. - Ergo as mãos em rendição. - Agora vamos voltar para a estrada. Prometi que estaríamos lá para o almoço. Ela se ergue e faço o mesmo. Seguimos lado a lado até o nosso carro. O resto do caminho fazemos em uma pequena agitação. Como o efeito do remédio para enjôo está passando Max está inquieto. Deixa o seu lugar no banco de trás para sentar no colo da sua dona no banco da frente. Lily começa a a afagar seus pelos para o tranquilizar, mas o que ele quer mesmo é um pouco de liberdade. Quando deixamos a estadual ela vai me indicando o caminho até um bairro residencial no subúrbio de New Haven. As casas estão todas enfeitadas para o Natal. Paramos em frente a uma casa com um Papai Noel inflável ao lado de um boneco de neve usado um cachecol vermelho e com nariz de cenoura no jardim da frente. O lugar parece ter saído de um catálogo de decoração natalina. _ Hora do show. - Digo quando um pequeno grupo nos espera na varanda. Reconheço os pais e a irmã de Lily pelas fotos em seu apartamento. Com eles estão mais algumas pessoas que devem ser o resto da família. - Sorria, bonbonzinho. _ Não me chama assim. - Manda abrindo a porta e saltando do carro. Faço o mesmo e vou ajudá-la com Max. Ele se balança animado quando a mãe de Lily vem a abraçar. Vou até o porta mala e pego nossa bagagem com a ajuda do pai dela. É uma confusão de pessoas falando ao mesmo tempo até que a gente consiga entrar na casa. Deixo nossa bagagem na entrada da sala que está completamente preparada para o Natal. Com exceção da árvore que ainda falta ser montada. _ Você que é o namorado da Lilica? - Pergunta um mulher um pouco mais velha que a mãe de Lily. _ Sim, tia Maggie. - Lily responde parada ao meu lado numa luta para conter Max em sua guia. - Este é o Ben. Ben está é a minha família. - Me apresenta e aceno para todos de modo geral. - Não vou falar o nome de todos, só os que realmente precisa saber. Meus pais, Miranda e Anthony, minha irmã e cunhado, Eleonor e Jordan. _ É um prazer conhecer você, Ben. - Miranda fala me dando um abraço apertado. - Espero que se sinta em casa. - Diz ao se afastar. Depois dela vem Anthony, que aperta minha mão com firmeza. Eleonor também me abraça como a mãe. Já o seu esposo, Jordan, me acena de modo distante. Quando os cumprimentos terminam os pais de Lily nos levam até o quarto que vamos dividir. Troco um olhar apreensivo com Lily, mas procuramos disfarçar para que seus pais não percebam. Acho que não contamos com essa variável quando fechamos esse acordo de namoro de mentira. Deixamos nossa bagagem num canto perto do closet e então descemos para nos reunirmos outra vez com o restante da família. Max agora está livre recebendo petiscos dos mais pequenos, que almoçam espalhados pela casa já que nem todos cabem na mesa. _ Como não sabia do que gostava de comer preparei de tudo um pouco, Ben. - Miranda diz quando sento ao lado de Lily em torno da mesa. - Espero que goste. _ Não tem nada que eu não goste de comer, Miranda. _ Isso é bem verdade. O Ben come até pedra cozinhada. - Lily acrescenta pegando meu prato para servir um pouco de tudo. Ela não sabe que aprendi a ser assim no orfanato. Quando morava lá não tinha muitas opções de escolha no cardápio. Comia o que me davam para aplacar a minha fome e não me deixar doente. Afasto esses pensamentos com um leve balançar de cabeça e tento esboçar um sorriso agradável enquanto uma conversa leve se inicia entre eles. _ Como vocês se conheceram, Lilica? - Eleonor pergunta quando Miranda serve sorvete de chocolate para a sobremesa. _ Somos vizinhos. Nos conhecemos no dia em que me mudei. Quando ele se ofereceu para me ajudar com algumas caixas. - Ela conta sorrindo com a lembrança. - Depois nos encontramos algumas vezes pelo prédio. Viramos amigos e a dois meses atrás percebemos que sentíamos algo mais que amizade e decidimos tentar. - Ela desvia os olhos para a taça de sorvete quando fala a última parte. _ Então, o namoro de vocês é recente? - Miranda pergunta. _ Sim. - Digo sorrindo segurando a mão de Lily sobre a mesa. Sinto que ela tenta se distanciar do toque por instinto, mas impeço com um leve aperto. _ Formam um lindo casal. - Anthony fala ainda meio sério. Acho que está fazendo o papel de pai durão e preciso me controlar para não ri. _ E sua família, Ben. Eles sabem do namoro? Não ficaram chateados por ter vindo passar as festas aqui? _ Meus pais já são falecidos, Miranda. - Digo e aquele clima pesado que tanto detesto recai sobre a mesa. Sinto a mão de Lily apertar a minha num sinal de força e apoio. - Geralmente passo as festas sozinho ou viajando. Por isso, estar aqui para comemorar com vocês é algo muito bom. _ Sinto muito, Ben. - Miranda diz um tanto cabisbaixa. _ Tudo bem. - Garanto com um sorriso de lado. - Não tinha como você saber. _ Vovó, quero mais sorvete. - Um garoto, que não deve ter mais que seis anos pede a tia Maggie. Que vai atender ao desejo do neto. Eleonor pergunta a Lily sobre as coisas na clínica e uma nova conversa se inicia deixando de lado o clima pesado que pairava sobre o ambiente. Sorrio para a minha falsa cunhada agradecendo pelo que fez. Mesmo já tendo acontecido a muito tempo não é algo que fico a vontade para falar.
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