O dia passou muito rápido. Aos poucos, Giulia parecia se tornar uma pessoa completamente diferente da menina que chegou aqui. Rindo e me contando sobre as coisas que ela e Hades faziam quando ela era uma criança.
Sendo ele cinco anos mais velho que ela, ela parecia não se importar em entrar em problemas para que ele resolvêsse. Hades parecia o homem mais amoroso do mundo quando se tratava dela. Estávamos usando a sala de cinema da casa, assistindo Barbie, A princesa e a PopStar — o melhor de toda a franquia — e comendo pipoca e se empanturrando de doces e refrigerantes a horas.
— Céus, quando eu era criança, eu tinha certeza que um dia acabaria virando uma cantora super famosa. — Giulia diz, me fazendo rir. — E você?
— Eu o que?
— Quais eram seus sonhos?
— Não tenho.
— Como? Todo mundo tem sonhos? Você pode fingir que não, mas eu sei que tem. — Ela diz, cutucando meu braço levemente.
Eu penso um pouco, tentando me lembrar de tudo o que desejava quando era mais nova. Isso foi antes de perceber que meu futuro já tinha sido arquitetado. Quando, absolutamente tudo que eu fazia, acabava envolvendo uma família muito rica e um marido que jamais me amaria. Eu sempre soube que meu casamento não teria amor, mas a minha realidade é ainda pior e ainda mais c***l.
— Eu queria ser fotógrafa. — Eu dou de ombros. — Não é bem uma profissão, eu acho. Quero dizer, meu pai disse que não era e depois disso, ele quebrou a câmera que eu tinha encontrado no escritório dele bem na minha frente, enquanto gritava sobre como eu tinha sonhos inúteis como a vagabunda da minha mãe.
— Seu pai odeia a sua mãe?
— Sim, e minha mãe me odeia por causa disso. — Eu a encaro, sentindo uma mágoa subir pelo meu peito, me fazendo querer chorar. — Eu... não gosto muito de falar sobre como minha família me odeia por eu ser uma mulher, me desculpa.
— Tudo bem, nós duas temos coisas que não gostamos de externar, então. — Ela diz, sorrindo levemente para mim. — Uma hora ou outra, a confiança será tanta, que vamos ser capazes de desabafar.
Quero abrir a boca para dizer que já confio nela, mas que não consigo falar nada disso sem chorar como uma criança. Me dói assumir que a vida toda eu fui subjugada por questões que nunca foram minha culpa. Alguém limpa a garganta atrás de mim, me fazendo virar ao mesmo tempo que Giulia levanta os olhos.
— Irmão. — Ela diz, sorrindo levemente para ele.
— O jantar está prestes a ser servido.
Franzo o nariz, assim como Giulia.
— Não me diga que comeu pipoca demais para jantar.
— Tudo bem, eu não digo, então. — Giulia diz, se levantando.
— Não acredito nisso. — Ele põe as duas mãos na cintura.
— Pare de ser rabugento, Hades. Pense que esse é meu dia mais leve desde que tudo aconteceu. — Ela se aproximou dele, apoiando a mão em sua cintura. — Vou deixar você aproveitar a sua esposa agora, mas não a canse muito, quero fazer mais coisas de irmã com ela amanhã.
Observo-a sair da sala, me deixando sozinha com Hades. Eu pego o controle do projetor para desligá-lo e me levanto, pegando as tigelas e empilhando-as.
— Pode deixar toda essa bagunça ai. Tem quem limpe.
— Não me incomodo de fazer isso...
— Não é uma opção. Deixe essas coisas ai e venha me acompanhar no jantar. — Diz, por fim.
Sua postura comigo não é nada doce e compreensiva, diferente da postura de poucos segundos atrás com sua irmã mais nova. O velho Hades está de volta. Seus olhos estão opacos e sem vida, enquanto ele se vira e começa a sair da sala, me deixando sozinha. Sem mais qualquer escolha, o sigo.
-*-
Depois do banho, me visto com minha camisola habitual e saio do quarto, enquanto termino de pentear meus cabelos. Deixo minha escova na penteadeira e me encaro no espelho, me analisando um pouco. Não sou uma mulher feia. Claro que não sou a mais bonita, sequer sou a mais turbinada, mas tenho minha beleza.
Meus cabelos loiros chegam até a minha cintura e são bastante cheios, meus olhos são verdes e meu rosto é padronizado. Tenho curvas, uma b***a avantajada e s***s um pouco grandes demais para o meu gosto — mas é o suficiente para lidar. Sei que sou um exemplo de beleza para muitos homens, e simplesmente não consigo entender o motivo de meu próprio marido agir como se eu fosse um ser asqueroso e nojento. Como se me tocar fosse a pior coisa que poderia acontecer a ele.
A porta se abre de repente, revelando Hades. Ele me analisa e eu limpo a minha garganta constragida por ter sido pega debruçada sobre o espelho, analisando meu próprio rosto. Me ajusto e aceno para ele com a cabeça, mas Hades me ignora e entra para o banheiro. Suspiro pesadamente e fecho as persianas, a porta da varanda e me deito na cama, desligando o meu lado do abajur.
O tempo passa e sinto meu corpo começar a pesar devagar, devagar e... estou prestes a dormir quando o sinto se sentar ao meu lado na cama, puxando o cobertor que revela todo o meu corpo encolhido. Puxo minha camisola para baixo, tentando não expor todo o meu corpo para ele e me viro para olhá-lo, franzindo a testa.
— O que? — Eu pergunto, confusa.
Hades não diz nada, seus olhos apenas me analisam como se eu fosse sua presa. Sinto um arrepio percorrer meu corpo quando me encolho, sentindo-me constrangida agora.
— Hades? — Pergunto, um pouco mais baixo.
Ele é rápido quando me puxa para o seu colo, minhas pernas abertas em cada lado do seu quadril. Me sinto exposta quando seus dedos tocam a minha cintura e me arrastam para mais perto de si, de sua virilidade pressionando por cima da sua calça e do tecido da minha calcinha. Sinto um tremor estranho percorrer cada átomo do meu corpo.
— Hades... o que...
Não consigo dizer, ele enfia os dedos nos meus cabelos e o puxa, jogando a minha cabeça para trás, expondo meu pescoço para ele. Apoio minha mão em seu ombro, meu estômago se revirando em uma ansiedade.
— Consumo o casamento, querida.