Eu queria dizer que ele ter saído do quarto depois de ter tirado a minha virgindade não doeu em mim, mas doeu. Eu me senti abandonada. Usada. Como se não valesse nada, como se não tivesse valido sequer a sua atenção por meros cinco minutos. Ele saiu de lá como se eu tivesse uma doença contagiosa. Como se eu fosse nojenta demais para ficar perto.
Eu sinto meu coração doer. Sinto as lágrimas escorrendo do meu rosto enquanto me visto novamente na frente do espelho e, no momento em que deito na minha cama, me amaldiçoo por ter permitido que ele se aproveitasse da minha vulnerabilidade.
Não vou fingir que não gostei, eu gostei e muito, mas me sinto infeliz de perceber que o único homem que deixei que me tocasse — e que, no final, será o último também — não se importe nem um pouco com meus sentimentos. Afinal, o que esperar de um homem que prometeu que me faria pagar por todos os pecados dos seus familiares, não é?
Eu me encolho embaixo dos cobertores, pegando um dos meus travesseiros e me abraçando a ele como se pudesse me confortar. Não pode. No fim, nunca poderá. Eu nunca vou ter o amor, o respeito ou o cuidado de Hades. Eu nunca vou ser vista como outro ser humano, como a esposa dele, como a mulher que ele terá que dividir a vida e que deveria ser a sua maior aliada.
Eu deveria saber disso no exato momento que nos casamos, e agora eu entendo isso. Eu nunca vou ser a mulher dos olhos dele e talvez, em dois ou três anos, ele arranje uma mulher que ganhará esse posto e talvez, só talvez, eu finalmente ganhe paz da tortura que é ser tão desprezada por Hades.
*-*
O quarto está escuro quando acordo. Demoro a me localizar, mas quando me levanto, sinto o leve incômodo entre as minhas pernas por causa de ontem a noite. Não consigo me surpreender depois de me lembrar do tamanho avantajado de Hades ontem a noite, por isso, me levanto, enfio os meus pés na pantufa e me arrasto para o banheiro.
Fazer minhas necessidades é doloroso e me desperta. Depois disso, tenho certeza de que não serei mais capaz de dormir. Quando saio do banheiro pego meu Hobby sobre a poltrona e o visto, saindo do quarto. O trajeto até a cozinha é silêncioso. As luzes dos abajures iluminam o corredor, enquanto as luzes principais permanecem desligadas.
Quando chego a cozinha, travo no lugar. Hades está sentado sobre a banqueta da cozinha, segurando uma xícara fumegante — de algum líquido que não consigo identificar — e está com seus olhos vidrados no próprio celular. O ar parece se comprimir ao meu redor, cada músculo do meu corpo travado enquanto meus olhos absorvem a cena à minha frente. Hades nem ao menos ergue os olhos do celular, como se a minha presença fosse insignificante.
Ele não diz nada. E, por algum motivo, isso dói mais do que qualquer palavra que ele poderia lançar na minha direção. Eu respiro fundo, forçando-me a dar um passo para dentro da cozinha.
— Não consegui dormir. — Minha voz soa mais fraca do que eu gostaria, quase um sussurro.
Seus olhos escuros se movem lentamente para mim, demorando-se no hobby que cobre meu corpo, antes de voltarem para o celular. Ele toma um gole do que quer que esteja bebendo e finalmente responde com um resmungo despreocupado. Não me olha. Não me dá sequer uma atenção.
Ele não se importa. Nunca vai se importar. Não comigo.
O impacto de suas palavras me faz parar no meio do caminho. Claro que ele diria isso. Por que eu esperava algo diferente?
— Não sei por que me surpreendo. — Minha tentativa de soar indiferente falha miseravelmente. Minha voz quebra, e eu odeio o quanto estou me expondo para ele. — No final, você vai continuar sendo exatamente isso, não é? Exatamente esse homem frio e sem coração com o qual me casei. — Dou uma risada sem humor.
Ele coloca o celular sobre o balcão com um movimento deliberado, seus olhos finalmente focando nos meus.
— E o que você esperava, Tate? Que eu te puxasse para os meus braços e dissesse que foi especial? — Ele ri, mas é um som vazio, c***l. — Você sabe exatamente o que isso foi.
Minhas mãos se fecham em punhos, minha respiração acelerando enquanto luto contra as lágrimas que ameaçam cair novamente.
— Você é um monstro. — As palavras escapam antes que eu possa me conter. — Você é horrendo, Hades, e eu te odeio por isso. Por me fazer passar por isso.
Hades se levanta lentamente, a banqueta raspando no chão, e começa a caminhar na minha direção. Cada passo faz meu coração acelerar, mas me recuso a recuar.
— E você acha que isso é novidade? — Ele para a poucos centímetros de mim, sua presença sufocante. — Já disse que não sou o príncipe encantado que vai salvar você. Se quer contos de fadas, está no lugar errado.
— Eu nunca pedi para ser salva. — Minha voz sai firme, apesar das lágrimas ardendo em meus olhos. — Só queria, por um momento, ser tratada como alguém que vale alguma coisa.
Ele inclina a cabeça ligeiramente, seus olhos me estudando com algo que não consigo identificar.
— Você quer que eu minta para você, Tate? Que finja que não te odeio?
— Você pode odiar quem você quiser, Hades. — Minha voz sobe um tom, a raiva finalmente quebrando a barreira da dor. — Mas isso não te dá o direito de me tratar como se eu fosse menos que nada.
Por um momento, ele não diz nada. Seus olhos permanecem fixos nos meus, e o silêncio que se estende entre nós é quase insuportável. Então, ele dá um passo para trás, sua expressão voltando àquela máscara fria e distante.
— Vá dormir, Tate. Você está se desgastando à toa. — Ele pega o celular e sai da cozinha sem olhar para trás.
Fico ali, sozinha, encarando o espaço vazio que ele deixou. As lágrimas que lutei para conter finalmente caem, queimando meu rosto enquanto eu me apoio no balcão.
Ele quer me quebrar. Está claro como o dia. Mas, por mais que doa, não posso deixar que ele vença. Se ele acha que me destruirá com suas palavras, sua indiferença, ele ainda não conhece a força que a dor pode gerar.
Hades pode ser o monstro da minha história, mas eu me recuso a ser a vítima passiva. Eu me recuso a apenas deixar que ele acabe comigo como ele deseja. Hades pode me quebrar... é claro que ele pode, mas ele vai ter que descobrir onde dói primeiro.