A minha cabeça estava explodindo. Eu podia sentir cada átomo do meu corpo cobrando todas as horas de salto alto de ontem a noite, minha cabeça estava doendo e eu podia sentir meu couro cabeludo sensível depois de ter sido puxado diversas vezes para parar no coque perfeito que usei durante toda a noite de ontem.
Pisquei lentamente. O quarto estava escuro por causa das cortinas black-out, girei na cama insitivamente, apenas para me lembrar que Hades tinha dormido ao meu lado a noite toda. O seu lado estava geladoe constatei que ele saiu a muito tempo. Suspirei de alivio, sentando-me na cama confortávelmente.
A porta se abriu de repente, me fazendo encolher. A luz foi acesa e a presença avassaladora de Hades Di Tempesta se fez presente. Seus olhos me analisando como se eu fosse uma coisinha insignificante, uma maldita pedra em seu sapato. No fundo, eu me perguntava o motivo de ele ter me aceitado como sua esposa, mesmo demonstrando tanto asco por mim.
Ele me analisou por alguns segundos.
— Achei que dormiria o dia inteiro. — Resmungou, entrando no closet.
— Que horas são?
— Meio-dia.
Meus olhos se arregalaram. Não me lembro de ter dormido assim em nenhum outro momento da minha vida.
— Vou te dar alguns créditos.... — Ele disse, saindo do closet vestindo uma camisa social. Seus dedos ainda fechavam os primeiros botões, expondo sua barriga definida. — Miranda disse que era chá de jujuba. É ótimo para ajudar a dormir e aparentemente, você é fraca para isso. — Ele suspira pesadamente e seus olhos recaem sobre mim.
Em algum momento, meus olhos parecem ter sido presos em seu abdomem deliciosamente definido. Minha cabeça começou a fantasiar maneiras de tocá-lo, beijá-lo e... Céus!
— Gosta da vista? — Ele perguntou. — Posso começar a ficar sem camisa mais vezes.
Eu desvio meus olhos, andando até a varanda e abrindo as cortinas, deixando o sol entrar e aquecer a minha pele do frio que não dava descanso. Eu não respondo a ele. Não respondo pois sei que nenhuma resposta que eu desse seria satisfatória para ele.
— O almoço será servido em alguns minutos. — Ele disse. — Se arrume e desça. Vamos ter a visita de alguns amigos meus, quero que você esteja decente.
Me viro para olhá-lo, franzindo a minha testa.
— É nossa lua de mel.
Ele dá uma risadinha.
— Não me lembro de ter consumado nenhum casamento com você. Ademais, todo mundo aqui sabe que nosso casamento é pura formalidade. Eu já disse, eu mando e você obedece.
— Vai querer que eu sirva seus amigos também? — A minha pergunta sai da minha boca sem nenhum controle, cheia de raiva. — Eu não me surpreenderia se quisesse me transformar em uma prosti-tuta particular dos seus colegas.
Ele para, me analisando por um tempo e então, seus passos são rápidos em minha direção, seus dedos se fecham em meu pescoço e ele me bate com força contra a porta que balança atrás de mim. Sinto meus pés deixando o chão e um monte de lágrimas se forma em meus olhos.
— O que você disse? — Seu rosto está perto do meu, minhas unhas arranham a sua carne. Perfuram-na até que saia sangue. — Eu já mandei não me desafiar, Tate. Eu mando aqui, eu mando em você. Se eu quiser que seja, será. Mas, repito para você, não me desafie. Não pense que tem voz ativa entre nós dois... entendeu?
Eu aceno com a cabeça e ele me solta, fazendo-me cair no chão com força. Meus joelhos doem com o impacto, mas não reclamo, seguro meu pescoço com uma das mãos e permito que as lágrimas molhem meu rosto sem controle. Puxo o ar várias e várias vezes, enchendo meus pulmões.
Meu corpo tremia, mas não era apenas pelo impacto ou pelo susto. Era pela raiva contida, pela humilhação que queimava na minha garganta como ácido. Eu o odiava. Odiava Hades Di Tempesta com todas as fibras do meu ser.
Ainda no chão, respirei fundo, engolindo as lágrimas que insistiam em cair. Não daria a ele o prazer de me ver desmoronar. Seus passos ecoaram pelo quarto, firmes, calculados, como se não tivesse acabado de me levantar pelo pescoço e me jogar no chão. Ele pegou um lenço do bolso e limpou calmamente o sangue que minhas unhas tinham arrancado de sua pele.
— Isso é o que acontece quando você esquece o seu lugar, Tate. — Sua voz era fria, cortante. — Eu serei paciente, mas não vou tolerar insolência. Espero que tenha aprendido.
Levantei-me devagar, ignorando a dor nos joelhos. Cada movimento meu era milimetricamente calculado para não demonstrar fraqueza. Meus olhos encontraram os dele, e eu me obriguei a manter o olhar firme. Se ele esperava que eu me encolhesse como um animal assustado, teria que esperar para sempre.
— Claro, senhor Di Tempesta. — Minha voz saiu rouca, mas estável.
Ele sorriu, satisfeito com minha resposta, mas não havia nada de caloroso em seu sorriso. Era c***l, como se estivesse se deliciando com a minha submissão temporária.
— Vista algo apropriado. Você tem quinze minutos.
Ele saiu, batendo a porta atrás de si. O som da madeira encontrando o batente fez meu coração pular no peito. Minhas mãos tremiam enquanto eu levava os dedos ao pescoço, sentindo a pele sensível onde os dedos dele tinham estado. A raiva queimava mais do que a dor.
"Eu mando aqui, eu mando em você."
As palavras dele ecoavam na minha cabeça. Hades Di Tempesta achava que podia me dobrar, me moldar à sua vontade, mas ele não sabia com quem estava lidando. Eu poderia estar quebrada agora, mas não para sempre.
— Eu não vou deixar você me transformar em nada, Hades. — sussurrei para mim mesma, os olhos fixos na minha própria imagem no espelho.
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Os minutos passaram mais rápido do que eu gostaria. Escolhi um vestido simples, longo, preto, que cobria toda a pele possível. Eu não usaria mais nada transparente ou revelador para agradar aquele homem. Que ele engolisse o próprio orgulho.
Quando desci as escadas, a voz grave de Hades ecoava pelo salão. Ele estava sentado na cabeceira da mesa de jantar, cercado por homens que pareciam feitos do mesmo molde: ricos, influentes e perigosos. O tipo de gente que não precisava abrir a boca para impor respeito.
As conversas cessaram quando entrei na sala. Todos os olhos recaíram sobre mim, mas o olhar de Hades foi o que me fez estremecer. Ele me avaliou dos pés à cabeça, como se decidisse naquele momento se eu estava à altura das suas expectativas.
— Finalmente. Achei que fosse nos deixar esperando o dia todo. — Ele sorriu, mas o sarcasmo em sua voz era evidente. — Venha, Tate. Não seja tímida.
Engoli em seco, mantendo a cabeça erguida. Eu podia sentir a tensão no ar enquanto caminhava até ele. Minha presença ali era apenas uma formalidade, mas Hades queria me exibir como uma posse, um troféu.
Quando me aproximei, ele se levantou, puxando a cadeira ao lado dele.
— Sente-se aqui. — Não era um pedido, era uma ordem.
Fiz o que ele mandou, tentando ignorar os olhos curiosos que me analisavam. Hades colocou a mão em meu ombro, um toque leve, mas que carregava um peso invisível.
— Esta é a minha esposa, Tate. — A maneira como ele pronunciou “esposa” era como se a palavra fosse venenosa.
Não respondi, nem sorri. Apenas permaneci ali, como a decoração que ele queria que eu fosse. Um dos homens riu, um som grave e desdenhoso.
— Linda, mas silenciosa. Você tem bom gosto, Di Tempesta.
Hades não respondeu. Seus dedos apertaram meu ombro levemente antes de soltá-lo. Fiquei em silêncio, ignorando os comentários ao meu redor. Uma parte de mim queria gritar, jogar aquela garrafa de vinho caríssima na cabeça de alguém, mas eu permaneci firme.
— Espero que, na próxima visita, suas esposas os acompanhem. — Hades diz, sorrindo para os seus convidados. — Tate ainda é muito sozinha e tem muito o que aprender.
Seus olhos caíram sobre mim e naquele momento eu entendi que eu não era a única a sofrer na mãos de homens que se achavam o dono do mundo, o dono dos nossos corpos, nossas mentes... existiam mais de mim, mas eu seria diferente. Hades não me transformaria em uma casca oca como prometerá.