CAPITULO 2

1891 Words
Aquele corredor nunca pareceu tão grande, eu estava andando rápido como se estivesse fugindo da cena de um crime, mesmo assim eu nunca chegava na porta de saída. Quando finalmente alcancei a porta que me levava direto para o jardim do campus ouvi a voz rouca do Christian bem atrás de mim, ele estava correndo e eu poderia ter corrido mais rápido, mas meu condicionamento físico não era dos melhores e eu sequer deveria ter saído da biblioteca daquele jeito. Claro, eu estava sem graça e um pouco decepcionada por ver o lado cafajeste do Christian, mas eles que estavam errados, não eu. _Com licença_ ele disse com um leve sorriso no rosto se aproximando de mim Me virei pra ele surpresa e um pouco assustada, se ele queria me intimidar pra que eu não contasse o que vi a ninguém, poderia esperar até segunda feira, eu não diria nada mesmo. Era a primeira vez que ele falava comigo e mesmo muito nervosa, não consegui ignorar o quanto ele era ainda mais bonito de perto. _ Eu... Só queria me desculpar, sabe... se por acaso te assustamos._ me olhou como se esperasse que eu dissesse algo específico _Tudo bem, eu já estava indo embora_ disse já me virando sem esperar que ele dissesse mais nada Olhei rapidamente pra trás e vi ele lá parado, como se estivesse tentando entender o que tinha acabado de acontecer, mas não era nada complicado, era apenas eu tentando fugir daquele assunto. Enquanto andava até minha casa me dei conta de que passei dois anos apaixonada por um cara que eu não conhecia, um cara que não era nada do que eu imaginava. Na manhã seguinte acordei cansada, afinal demorei pra dormir pensando no que deveria ter feito ao invés de ter saído correndo feito uma fugitiva. Eu sabia que não tinha nada a ver com aquele assunto, mas minha mente continuava reprisando a cena na minha cabeça. _ Eu que cheguei de madrugada bêbada , mas parece que tô melhor que você_ Mariana diz ao me ver entrar na cozinha feito um zumbi. Mariana era minha melhor e única amiga, eu confiava nela, mas não sabia se aquele assunto era algo que ela deveria saber. Embora fosse muito confiável, Mariana tinha o hábito de ser brincalhona, ela com certeza soltaria alguma piadinha no jogo de futebol, e eu me tornaria a fofoqueira. Como tudo que eu menos queria era atenção, decidi guardar aquilo comigo, era a decisão mais sensata. _ Aí, me dá um café pelo amor de Deus_ falo puxando uma cadeira e me esparramando na mesa como se meu corpo não aguentasse ficar de pé _ O que houve que você acordou assim?_ me entregou o café rindo da minha cara _Bem... Ontem _ me apoio na mesa ainda me perguntando se seria uma boa idéia contar o ocorrido _ Ontem?_ perguntou curiosa _ Achei um livro raríssimo na biblioteca, acho que vale muito dinheiro._ balanço a xícara de café quente esperando esfriar um pouco _ E você tá igual um zumbi por isso? _ Claro que não_ sorri_ é por que eu passei a noite toda lá e ainda não terminei de arrumar. _ Esquece isso_ colocou se sentou ao meu lado com uma xícara de café e duas torradas em um prato pequeno_hoje é sábado o dia está lindo, e nós vamos a praia_ se sacudiu na cadeira animada _ Tenho trabalho pra entregar segunda_ falo ainda tomando aos poucos o café que ela me deu_ e você não está cansada não? _ E é pra isso que serve o domingo_ sorriu_ pra você fazer seu trabalho e eu descansar. _ Achei que sábado fosse seu dia com a família. _ Hoje não_ o sorriso sumiu_ tô sem saco pra eles. Ao contrário de mim, Mariana pertencia a elite, a família dela era muito rica. A relação dela com os pais não era boa, eles achavam que fazer faculdade de educação física era um desperdício, eles queriam que ela fosse como a irmã mais velha, uma médica de sucesso. Um dia, ela cansou de disputar com a irmã e decidiu sair da mansão onde morava com os pais pra dividir um "apertamento" comigo. Mesmo depois de se mudar era convocada a estar lá todos os sábados, eles tentavam passar um tempo em família, mas era inútil, ela sempre voltava irritada. _ Ok, mas nada de ficar lá o dia todo._ respondo Eu não gostava muito de ir a praia de dia, a noite sim era um bom horário eu conseguia ouvir o barulho do mar, sem ninguém passando ou crianças correndo jogando areia em mim, mas pra Mariana ir a praia era um evento, já que ela nadava e se divertia enquanto eu me escondia debaixo do guarda sol. _ Você vai mesmo fazer isso?_ perguntou quando me viu colocar os fones de ouvido enquanto ela se ajeitava pra nadar _ Você sabe que eu só venho pra olhar nossas coisas não é_ respondo _ Pode pelo menos não pegar o livro, fica parecendo uma nerd_ brincou _Sim senhora! Enquanto Mariana corria pra água como uma criança eu tentava fugir do calor ajeitando o guarda sol. Fechei os olhos por um segundo e a cena de Christian se agarrando com a professora surgiu nitidamente na minha cabeça, eu deveria esquecer aquilo, mas meu amor platônico por ele me impedia. _ Olha!_ me assustei com os pingos do cabelo molhando de Mariana caindo na minha perna _Que susto!_ falo olhando pra ela em pé na minha frente toda afobada, pela sua cara e a rapidez como apareceu na minha frente ela saiu da água correndo _ Xiiu! Disfarça!_ disse baixo _ olha devagar para a esquerda. Me movi lentamente para a esquerda e então vi Christian e um outro cara ao seu lado, os dois carregavam pranchas de surf, pareciam estar indo na direção da outra parte da praia onde tinha mais ondas e poucos banhistas. _Anda, pega as coisas depressa_ Mariana disse nervosa sem se virar _O que?_ não estava entendendo o nervosismo dela _ A gente tem que ir embora antes que eles me vejam_ disse pegando a bolsa de forma robótica tentando não se virar na direção deles _Tarde demais_ falei entre os dentes quando vi o cara do lado do Christian gritando o nome dela e os dois vindo na nossa direção _ d***a!_ reclamou antes de se virar sorrindo para os dois_ oi_ acenou de forma forçada. Olhei rapidamente antes que chegassem perto demais pra perceber que eu estava observando eles de cima a baixo. Os dois pareciam uma dupla de modelos, Christian usava um daqueles macacão de surfista , vestia só até a cintura, os cabelos molhados jogados para trás e os olhos verdes pareciam ainda mais verdes na luz do sol. O outro era um pouco mais baixo e tinha lindos olhos castanhos e cabelos cor de mel, ele usava uma bermuda e a blusa jogada nos ombros, o corpo definido como o de alguém que morava na academia. _ Achei que o enterro da sua avó fosse hoje._ o cara de olhos castanhos disse de forma irônica olhando pra Mariana_ pelo visto você não gostava muito dela. _ Alarme falso._ ela disse na maior cara de p*u, e sorrindo _ Que bom _ ele respondeu de forma irônica, como se não acreditasse na cara de p*u dela _ Vocês vão mesmo ficar nessa?_ Christian perguntou _ Não, na verdade eu e minha amiga já estávamos indo embora_ Mariana disse me chutando pra pegar as coisas Eu estava invisível na conversa até que todos voltaram a atenção pra mim, acho que só então Christian me reconheceu, não parecia surpreso em me ver. _ Me desculpe, não te vi ai_ o cara de olhos castanhos estendeu a mão pra mim_ prazer, meu nome é Carlos, eu costumava ser amigo dela também_ sorriu olhando pra Mariana provocando _Nós nunca fomos amigos_ ela respondeu áspera Ele era simpático, e parecia gostar dela, com certeza não estudava na nossa faculdade já que os riquinhos do nosso campus eram uns idiotas metidos. _ Olá_ Christian sorriu e acenou de forma tranquila e amigável _ Olá_ cochichei e apenas balancei a cabeça Enquanto Mariana e Carlos trocavam farpas por alguma coisa que aconteceu na festa da noite anterior eu tentava me manter tranquila com o olhar de Christian pra mim. _Quer saber, eu vou nadar_ Mariana jogou a bolsa novamente em cima da canga e saiu andando depois de se cansar de discutir com Carlos, ele largou a prancha de surf fincada na areia bem ao lado da minha cadeira e foi atrás dela _ Posso me sentar?_ Christian perguntou apontando pra cadeira de Mariana ao meu lado Ele parecia ter esquecido a noite anterior ou pelo menos torcia pra que eu tivesse esquecido,.O olhar dele jera ameaçador, tive um sensação estranha. _ Então seu nome é Bianca_ ele disse depois de alguns minutos de silêncio_ Mariana falou muito de você. _ Sim. _ não fiz muito contato visual, queria evitar que ele percebesse meu nervosismo _ Bem..._ ele continuava me encarando com aquele rosto que parecia inocente, mas eu sabia que não era_ me chamo Christian. _ Eu sei_ respondi meio sem pensar _ Você me conhece?_ perguntou nada surpreso, estava acostumado com a "fama" ou me testando? _ Estamos na mesma turma na aula de inglês. Eu não fazia arquitetura, minhas matérias não tinham nada a ver com o curso dele, mas decidi fazer as aulas de inglês que eram oferecidas como extracurricular. _ Hum... Eu acho que nunca te vi._ ele continuava com aquele ar de teste, parecia querer descobrir algo _ Eu sento nas últimas cadeiras, acho difícil alguém me perceber_ respondi tentando não me concentrar nos olhos dele, não queria parecer uma panaca. _ Olha_ ele puxa a cadeira pra mais perto da minha_ eu sei que não é nada demais, mas você contou pra alguém o que viu?_ me encarou Nada demais? Como ele conseguia pensar que trair a namorada com a esposa do reitor era nada demais? Ele realmente não era o tipo de homem que eu imaginei durante dois anos, finalmente percebi que ele era só mais um i****a com uma boa fama. O olhar dele estava fixo em mim, na verdade estava procurando uma resposta pelo meu jeito de falar, parecia querer saber a verdade me olhando nos olhos. _ Eu não contei pra ninguém_ olhei pra ele nervosa _Ok_ ele sorriu depois de me encarar como se eu fosse uam criminosa Eu estava decepcionada, era a primeira vez que tinha a chance de conversar com ele, e embora tenha imaginado várias vezes aquela conversa na minha cabeça eu jamais imaginei que seria tão r**m. Christian era apenas mais um cara mentiroso como todos os outros, um i****a riquinho que achava que podia fazer o que queria. Fiquei em silêncio enquanto ele conversava com a namorada no telefone, ele parecia tão apaixonado que me dava calafrios ver a tamanha cara de p*u. Eu tentava disfarçar minha cara de nojo ouvindo ele a chamar de amor, mas pelo visto não consegui já que ele se virou pra mim assim que desligou a chamada. _Você me acha um cretino né?_ me encarou com um sorrisinho irônico que me deixou com ainda mais ranço dele.
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