Christian
Lembro exatamente do dia em que meu irmão mais velho Guilherme saiu pra estudar no exterior. Uma semana antes ele e meu pai tiveram uma discussão, eu era novo demais pra entender o real motivo da briga, mas ouvi os dois gritando um com outro sem nenhuma cerimônia ou preocupação, se estavam ou não ouvindo, os dois eram parecidos demais, talvez por isso brigavam tanto. Meu pai parecia transtornado e Guilherme embora tivesse apenas dezoito anos não abaixava a cabeça, ao contrário, ele respondia a altura, por isso meu pai decidiu manda - lo pra longe, os dois não conseguiam viver juntos.
No início Guilherme aparecia nas ferias e festas de final de ano, com o tempo as visitas ficaram cada vez mais raras, até que se transformaram em telefonemas uma vez por mês.
Na última vez que vi meu irmão, nós estávamos jogando basquete na quadra do condomínio, ele não estava de férias da faculdade, mas sentiu falta da família e por isso decidiu faltar uma semana pra vir ao Brasil. Eu estava feliz, Guilherme era um ótimo irmão mais velho, estava sempre mexendo no meu cabelo e fazendo piadas com o fato de eu fazer sucesso com as meninas da escola. Ele sempre dizia que eu poderia ser um galã com os olhos claros que puxei do nosso pai.
_Galã do ensino médio_ ele dizia rindo
Minha mãe estava radiante por ter Guilherme por perto de novo, fazia tempo que ele não aparecia e a presença dele era sempre muito alegre. Mas assim que meu pai chegou em casa e viu Guilherme lá a briga começou, os dois discutiam e minha mãe tentava parar a briga. Enquanto meu pai gritava que o dinheiro dele não era capim e que Guilherme não podia simplesmente faltar uma semana de aula, eu olhava de longe nervoso mas não tinha coragem de enfrentar meu pai, ele me dava medo as vezes.
Daquele dia lembro de pouca coisa, mas a cena de Guilherme entrando furioso no carro depois da briga ainda está clara na minha mente. Eu corri atrás dele e perguntei onde ele estava indo, ele deve ter visto o medo nos meus olhos por que sorriu e disse que só ia dar uma volta, insisti em ir com ele, mas achou melhor não irritar mais nosso pai. Guilherme saiu com o carro e eu só fiquei ali parado enquanto via o carro sumir na rua, um tempo depois recebemos a ligação, ouvi o grito de dor da minha mãe, desci as escadas correndo e ela estava ajoelhada enquanto meu pai segurava o telefone paralisado com os olhos vermelhos.
_ O que houve?_ perguntei
_ O Guilherme_ minha mãe disse quase que gritando num choro desesperado
O carro dele se chocou com um caminhão quando o motorista do caminhão avançou o sinal vermelho. Guilherme foi levado para o hospital, mas sem sucesso, ele estava morto.
Nem é preciso dizer que minha família não resistiu, minha mãe culpou meu pai pela morte do meu irmão, os dois tentaram mas minha mãe sequer conseguia olhar na cara do meu pai. Com o passar do tempo ela se tornou só uma doida por compras que não se separou oficialmente por minha causa, era o que ela dizia, mas tenho certeza que o motivo era dinheiro. Meu pai passou dias quieto trancado na biblioteca, só lembro dele ter esboçado um sorriso quando mostrei que tinha sido aceito na faculdade que ele queria.
Ninguém nunca me perguntou como eu me sentia com aquilo, e eu nunca disse a ninguém o que realmente sentia, fui apenas vivendo um dia de cada vez. Guilherme era meu irmão, e eu o idolatrava, foi difícil não ter ele por perto ou não receber mas suas mensagens engraçadas todos os dias, eu estava perdido e a única coisa que fiz foi seguir, como se estivesse tudo bem.
Com a ausência de Guilherme, meu pai começou a me ver, e esperar coisas de mim. Eu sabia que ele precisava daquilo, ele queria acertar comigo, mas era estranho ter meu pai tão interessado na minha vida.Ele não costumava prestar muita atenção em mim quando Guilherme estava vivo, e isso me dava liberdade de fazer o que quisesse, mas as coisas não eram mais assim. Com o tempo percebi que eu tinha que tentar ser o melhor que pudesse, e por isso meu pai foi se tornando cada vez mais presente e mais próximo, o que deveria ser bom, mas não era.Quando percebi eu tinha me tornado o que Guilherme se recusou a ser, o fantoche do meu pai, diferente do meu irmão, eu fazia tudo o que meu pai queria, e foi assim que minha imagem de cara perfeito foi formada.
Sorria ele dizia sempre que éramos abordados por alguém, ou algum paparazzi i****a. Eu odiava tudo aquilo, toda aquela exposição me fazia m*l. Eu não podia estar triste ou chorar por nada, e com o tempo aprendi perfeitamente a enganar as pessoas sobre o que eu realmente sentia. Me perguntava porque meu pai não podia ser só um empresário normal, mas ele era uma celebridade. Além de ser dono de várias empresas meu pai foi modelo quando novo, e mesmo depois de não atuar mais na área, ele continuava muito querido por todos, prova disso era o fato de eu aparecer em revistas por ser parecido com ele. Além da fama de galã, meu pai insistia em manter a fama de família perfeita, depois da morte de guilherme isso só piorou, ele queria que as pessoas achassem que estavamos bem. Dentro de casa ele e minha mãe sequer se falavam, mas era só as câmeras ligarem e pronto, se tornavam o casal feliz e eu o filho perfeito.
Eu nunca pensei em me revoltar como meu irmão, eu estava bem, era apenas uma maneira de manter a paz, ou pelo menos algo parecido, mas tudo mudou no meu segundo ano de faculdade, quando comecei a ter aulas com a Nicole, a mulher mais linda que já vi na minha vida.
Eu tinha dezoito anos quando a vi pela primeira vez, ela entrou na sala com um belo vestido verde e tênis all star. Os olhos verdes combinavam com o vestido, os cabelos ruivos voavam graciosamente enquanto ela andava. Ela tinha olhos grandes e brilhantes e uma boca perfeitamente desenhada, ela era perfeita. Foi amor a primeira vista, foi preciso apenas um sorriso e eu estava rendido, completamente apaixonado.
Por mais que eu tentasse me convencer de que isso nunca daria certo, além de dez anos mais velha ela era mulher do reitor, mesmo assim me via sonhando com aqueles lábios todos os dias. Estava conformado, uma mulher como ela jamais daria bola pra um garoto, foi isso que eu pensei, até minha festa de dezenove anos.
Eu não queria fazer nada, mas minha mãe insistiu e encheu a casa de gente, alguns eu nem sabia quem eram. Eu estava bebendo perto da piscina com alguns amigos e minha namorada Alcia, sim eu tinha uma namorada.Eu estava me divertindo, mas então vi Nicole e o reitor perto da porta, de repente todos em volta já não faziam mais sentido, só conseguia enxergar aquela linda mulher de vestido preto e cabelos presos em r**o de cavalo tão charmso que a deixou ainda mais linda.
Me perguntei o que eles faziam ali,mas se tratando de uma festa planejada por minha mãe, tudo era possível. Coloquei o copo de cerveja em cima da mesa e andei confiante até os dois, percebi que ela estava com um embrulho nas mãos, com certeza um presente pra mim.
_ Parabéns garoto_ o reitor disse dando um tapinha no meu ombro enquanto olhava em volta_ onde está seu pai?
_ No jardim da frente fumando_ aponto para a direção do jardim
O velho sequer se despediu saiu andando feito um cachorro atrás do meu pai, no caso do dinheiro dele. O reitor devia ter um cinquenta anos, era um cara ambicioso e parecia usar sempre o mesmo estilo de roupa, um cara grosseiro, eu não entendia o que Nicole via naquele i****a.
_ Então... Essa é a sua casa?_ ela sorriu
_ Sim_ respondi tentando não parecer um idiota
_ É bem grande aqui_ disse olhando em volta_ como não se perdem aqui?
_ Nós carregamos um mapa no bolso sabe_ brinco
_Ótimo_ ela sorriu
_ Vem, eu te mostro a casa.
Parecia ousado, mas ela estava ali sorrindo na minha frente e minha confiança me fez pensar que talvez eu tivesse alguma chance. Ela olhou em volta talvez preocupada com o que diriam se nos vissem juntos, mas aceitou.
Eu poderia ter mostrado o jardim, mas não queria o reitor nem meu pai por perto, então subimos as escadas, o lugar da casa onde tinha menos gente e onde poderíamos conversar melhor. Abri a porta da biblioteca que tínhamos na parte superior e até me surpreendi com o tamanho, fazia anos que eu não entrava lá.
_ Uma mansão sempre tem uma biblioteca _ ela brincou ainda segurando o embrulho agora um pouco mais forte, parecia arrependida de ter levado
_Isso é pra mim?_ pergunto apontando para o pacote
_Bem.. olhando pra essa biblioteca faz ainda menos sentido o presente que comprei_ ela disse
_Eu acho que vou gostar_ me aproximo dela e estendo a mão
_ Ok_ ela me encarou sem nenhum tipo de constrangimento, eu não esperava aquilo
Peguei o embrulho das mãos dela e nossos dedos se encontraram, era como uma rede elétrica passando por todo meu corpo, eu estava fascinado por aquela mulher. Abri o presente e vi o livro "um jovem amor", era algum tipo de pista? A dúvida durou apenas até eu olhar nos olhos dela, e perceber que eu estava sendo manipulado, ela não era nenhuma garota boba i****a que eu passaria a perna, ela estava ali por que queria, e sabia o que queria.
_ Eu não leio muitos romances_ respondi olhando pra ela sem sequer desviar
_ Acho que você vai gostar da história_ sorriu irônica_ é sobre um garoto que se apaixona por uma mulher mais velha.
_Hum.._ sorri, ela sabia o tempo todo que eu estava mas mãos dela_ quando percebeu?
_ Você não achou que eu não iria reparar você me secando em todas as aulas não é?
_ Estava tão na cara assim?
_ Um pouco _ sorriu
_ Devo parar de incomodar então_ me aproximei ainda mais, estavámos tão próximos que eu podia sentir o perfume doce dela
_Sim._ sorriu
Essas foram as últimas palavras antes de nos beijarmos. Claro que depois disso não conseguimos parar de nós ver, eu sabia que era errado, ela era casada eu tinha namorada, mas eu estava apaixonado demais pra perder aquilo. Estávamos tão apaixonados e idiotas, que cometemos o erro de nos encontrarmos na biblioteca a noite, um horário que devia estar fechada, mas tinha alguém lá, e ela nos viu.
Ir atrás dela foi inútil, eu não a conhecia, não sabia se ela diria pra alguém, mas por sorte o destino me fez encontra lá novamente na praia.