Capítulo 3

2143 Words
Olhei com tristeza para o prédio. Já não trazia sentimentos de alegria como antes. Na verdade, era como se a casa aconchegante que construí com Josh nos últimos seis meses não existisse mais. Como as coisas poderiam ficar bem? Como alguém poderia decidir um dia que você não era mais bom o suficiente? Pelo menos tenha a decência de terminar. Dobrei os joelhos mais perto do peito no banco do passageiro do carro de Margo. Já estávamos estacionadas em frente ao prédio há uns bons vinte minutos. Eu estava tentando reunir coragem para enfrentá-lo. — Eu não acho que posso fazer isso. — A ideia de passar pela porta da frente fez meu rosto se contorcer de desgosto. Meus olhos nadaram em lágrimas. Eu me senti patética e desamparada. Como você pode ficar triste por um homem que você não ama mais? Foi a traição final. Margo fechou os olhos com força e esfregou a testa. Eu sabia o quão difícil era para ela não agir. Assim como eu, ela não queria nada mais do que transformar Josh em uma polpa sangrenta. Seus cílios tremularam e ela nivelou seu olhar com o meu. — Escute-me. Você não precisa dele. Você é uma mulher talentosa e extrovertida que pode fazer melhor e merece mais do que isso. Apenas lembre-se, Jenna, você não é quem está errada. É ele! — Ela afirmou. — Você tem razão. — Tem certeza que não quer que eu te acompanhe? — Ela insistiu. Empalideci ao pensar nos dois na mesma sala, enquanto Margo estava furiosa e balançava a cabeça com firmeza. — Tenho certeza. Você está certa. Eu posso fazer isso. — Claro que você pode. Soltando um suspiro, abri a porta do passageiro e saí. O céu estava nublado, sombreando a cidade com uma sombra cinza, enquanto as calçadas estavam úmidas por causa da chuva anterior. Subi os degraus do prédio e passei pela porta da frente. Nosso apartamento ficava no segundo andar e, enquanto subia as escadas, todo o meu corpo começou a ficar tenso. Algo estava errado. Muito estranho. A porta da frente foi arrombada. Entrei pela porta da frente e entrei na sala, meus olhos arregalados enquanto registrei o caos do apartamento. Móveis foram tombados, vidros quebrados. O vidro rangeu sob meus pés enquanto eu me arrastava em direção ao nosso quarto. Um pequeno rastro de sangue escorria do sofá e passava pela porta do quarto. O que diabos aconteceu? Talvez aquela vizinha fosse psicótica, afinal. — Josh? — Gritei baixinho enquanto girava a maçaneta. — Josh... Onde você está? Minha voz era apenas um sussurro. Se quem fez isso no apartamento ainda estivesse aqui, não me faria bem alertá-lo da minha presença. Quando a porta do quarto se abriu, preparei-me para o pior. Apenas para encontrar Josh caído no chão. Seu nariz estava extremamente inchado, assim como seus olhos. — Jenna. — Ele engasgou e estendeu a mão para mim. — O que diabos aconteceu? Um ataque de tosse irrompeu dele e ele se curvou, agarrando as costelas. Pela aparência dos hematomas feios que se formaram, ele havia levado um chute na lateral do corpo. — Quem fez isto? — Eu persisti. Ele balançou a cabeça e se afastou de mim. — Não. — Você tem que me dizer. Quem fez isso com você? Por favor, Josh. — Eu falei, impaciente. Ele ainda era um i****a traidor, mas não merecia ser espancado até quase a morte. Ele teria que lidar com as consequências de perder uma boa mulher. — Não. — Não? — Levantei as mãos em frustração. — Bem, isso é ótimo. Estou tentando ajudar você, Josh. Você pode tentar não ser tão difícil? — Aqui. — Ele rosnou. — Aqui... — eu repeti. O que diabos isso significa?. Eu estendi a mão. Ele estava me oferecendo alguma coisa? — O quê? E-eu não sei o que ''aqui'' significa. — Ainda aqui... — O som saído da sua garganta foi seguido por outro ataque de tosse. Ele agarrou o peito e tossiu ruidosamente. Tentei mascarar o horror em meu rosto, mas minha expressão impassível vacilou quando meus olhos se arregalaram e fiquei boquiaberta ao ver sangue escorrendo de sua boca. Eu gemi e me agachei ao lado dele. — O que? Eu não conseguia entender completamente o que ele estava dizendo. Inclinei minha orelha perto de sua boca. — Ainda está aqui. — Ele sibilou, mas já era tarde demais. A porta do quarto foi aberta e um homem grande e corpulento entrou na sala. Seu cabelo estava cortado rente à cabeça. Uma expressão endurecida em seu rosto. O medo me atingiu com força quando seus olhos se iluminaram com um reconhecimento ardente quando ele olhou para mim. — Encontrei a v***a. Ela está aqui! — Ele gritou, antes de se lançar rapidamente em minha direção. Saí do caminho rapidamente e corri para a porta. De jeito nenhum eu iria ficar para descobrir o que eles fariam comigo. Josh obviamente tinha se metido em algo r**m. Eu não queria fazer parte disso. Eu finalmente estava livre dele, e aí veio sua bagagem para reivindicar minha vida mais uma vez. Antes que eu pudesse passar correndo pelo sofá, fui abordado. Minha cabeça bateu no chão. Eu gemi e coloquei minha mão sobre minha cabeça, apenas para puxá-la para trás, coberta de sangue. — O que você está fazendo? — Eu perguntei. — Por favor, não me machuque. Eu implorei enquanto outro homem, aquele para quem o cara do exército devia ter ligado, pairava sobre mim. — Não se preocupe, princesa. Não estamos aqui para puni-la. Apenas vamos levá-la. — Ele disse, antes de tirar um pano do bolso. Ele mergulhou o pano em um líquido e o pressionou contra meu nariz e boca. Eu estava fraca demais para combatê-los. Minhas unhas faziam o melhor que podiam para afastá-los, mas eu estava indefesa. A sonolência me consumiu e logo caí na inconsciência. [...] — Ai. — Eu gemi enquanto caí no chão. O quarto estava escuro como breu, exceto pelo fino raio de luz que entrava pela a******a das cortinas vinda da janela. Onde diabos estou? Coloquei minha mão na cama ao meu lado e me levantei antes de caminhar até a janela e fechar as cortinas. Pelo que pude ver, só havia árvores num raio de quilômetros. Eu entrei em panico. — p**a merda, vou morrer aqui. Vou morrer e Margo e meus pais nunca saberão o que aconteceu comigo. — Jurei que se saísse daqui viva e isso tivesse algo a ver com Josh e suas tendências para atividades ilegais, eu mesma o mataria! Girei nos calcanhares para encarar uma porta e caminhei até ela. Talvez meus sequestradores fossem estúpidos o suficiente para deixá-la destrancada. Girei a maçaneta, mas ela não girava totalmente. Eu gritei, enquanto batia os punhos na porta como uma maníaca. — Deixe-me sair! Por favor! Meus punhos batiam continuamente na madeira grossa. A ansiedade que senti mascarou a dor dos cortes que se formavam nos meus dedos. — Alguém! Ajude-me! Por favor! — Minha garganta doeu quando minha voz ficou mais alta. Eu não iria passar despercebida. Talvez alguém estivesse passando de carro ou seguindo pela floresta e me ouvisse gritar. Oh, quem diabos eu estava enganando? Eu ia morrer aqui sozinha. Apenas uma mulher patética que nunca teve controle sobre sua vida. Mesmo quando pensei que estava voltando aos trilhos, essa merda aconteceu e agora eu ia morrer antes de poder consertar alguma coisa. Abaixei minhas mãos ao lado do corpo. A derrota tomou conta de mim enquanto eu descansava minha testa na madeira fria, feliz por sentir algo fresco contra minha pele em chamas. É assim que você se sente quando vai morrer? Tráfico s****l. Um nó se formou rapidamente na minha garganta com o pensamento. Eu não iria f********o com um bastardo velho e rico que tem que tomar pílulas azuis só para ficar e******o. Eles poderiam me matar. A maçaneta da porta chacoalhou e minha cabeça se levantou antes de me afastar da porta. Alguém a abriu e acendeu a luz. Foi um dos homens que ajudou a me sequestrar. Minha mandíbula se apertou, enquanto eu tentava parecer mais irritada do que assustada. Ele olhou para mim e apontou um dedo grande e carnudo na minha cara. — Pare com essa merda, ou então terei que puni-la. — Onde diabos estou? — Oh, você descobrirá em breve, querida. — Ele sorriu. — Vou gritar de novo... — rebati. Ele encolheu os ombros. — Você só está se machucando. Você grita, tudo bem. Mas não se surpreenda quando um de nós vinher aqui para calar você. Balancei minha cabeça em descrença. — Por que você está fazendo isso? Eu não fiz nada de errado. — Mas alguém fez isso. — Ele rapidamente interrompeu. — Agora fique quieta. Ele sibilou antes de fechar a porta. Olhei ao redor da sala. A cama em que eu estava deitada tinha lençóis de seda e uma grande cabeceira. A cômodo era grande o suficiente para abrigar uma lareira e as paredes eram feitas de pedra. Onde diabos eu estava? Em algum castelo, em outro país? Levei a mão à boca para abafar meus soluços sufocados. Uma espreguiçadeira e um sofá de dois lugares ficavam em frente à lareira. Outra porta perto da janela chamou minha atenção e dei passos cautelosos em direção a ela. Coloquei minha mão na parede do quarto escuro em busca de um interruptor de luz. A luz iluminou o cômodo e com calma meus olhos pousaram no vaso sanitário. Era um banheiro. Amplo, com chuveiro, banheira jacuzzi e duas pias. O espelho ocupava metade da parede. Fui até o banheiro e coloquei o vestido e os sapatos na mesinha ao lado da porta. Puxei minha camisa pela cabeça e joguei-a no chão, junto com o resto das minhas roupas. Meus s***s eram pequenos. Admirei a forma como meus quadris se curvaram, mas o pensamento de que alguém poderia fazer isso à força também me assustou pra c*****o. Depois de soltar meu cabelo, fui até o chuveiro para tomar banho. Quem era esse homem ou mulher? O que eles queriam de mim? Eu não poderia oferecer-lhes muito dinheiro. Procurei embaixo da pia e tirei uma barra de sabão fechada debaixo dela. Abri a caixa e joguei no lixo ao lado do vaso sanitário. Quando a água esquentou, entrei embaixo do chuveiro e suspirei. Havia uma vantagem em tudo isso e era esse maldito banho. Pelo menos eu poderia morrer com um cheiro fresco e me sentindo melhor. — Você não vai morrer. — Eu murmurei. Eu precisava lutar, pela Margo e pelos meus pais. Eles esperariam que eu fizesse isso. Lavei-me rapidamente, apreensiva, mas ansiosa com o jantar. O que eu diria ao meu sequestrador? Como eu me dirigiria a ele? E se ele fosse um homem c***l? Um homem sádico, pronto para me torturar. Margo saberia o que dizer numa situação como esta. Ela sempre foi tão calma e controlada. Eu era esporádica e ansiosa, e muitas vezes isso me causava problemas. Assim que me vesti e meu cabelo foi preso em um coque, bati na porta. O homem de antes entrou. — Se você tentar correr ou gritar eu vou te nocautear. — Ele ameaçou. Eu balancei a cabeça, complacentemente e segui ao lado dele. O corredor se estendia infinitamente e era iluminado por algumas luzes. Passamos por muitas portas antes de nos aproximarmos da luz brilhante no final do corredor. A sala de jantar era enorme, com uma mesa grande o suficiente para acomodar cerca de doze ou quinze pessoas. Estava coberta com um pano vermelho e completamente cheia comida extravagante. Meu estômago roncou ao ver isso, mas permaneci calma e determinada. Todos os assentos estavam ocupados, exceto três. — Por aqui. — O homem andou enquanto puxava meu braço. Estremeci quando a dor irrompeu de onde seus dedos cravaram minha pele, enquanto ele me puxava em direção ao meu assento. — Você está me machucando. — Eu respondi rapidamente, mantendo minha voz baixa para que ninguém pudesse ver minha angústia. — Bom. — Ele murmurou antes de me soltar. Puxei a cadeira um pouco para trás e sentei-me. Eu me senti como um porco em uma sala de jantar cheia de lobos. A mesa estava cheia de homens e mulheres vestidos formalmente que me olhavam com sorrisos sardônicos nos lábios. Eu me mexi desconfortável enquanto olhava ao redor da mesa. Poderia ser qualquer um deles. A cadeira na ponta da mesa estava vazia e eu silenciosamente me perguntei se ele se sentaria ali. Naquele momento, uma porta do outro lado da sala de jantar foi aberta e o homem que entrou fez meu coração parar. — Luke. — Eu engasguei quando a respiração parou e o mundo começou a me engolir inteira.
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