Capítulo 7

2898 Words
— Que p***a você está vestindo? Dizer que fiquei surpresa com a explosão de Luke quando entrei na sala de jantar seria um eufemismo. Seu tom estava misturado com um desgosto tão potente que eu tinha certeza de que as roupas que eu achava apropriadas se desintegrariam completamente. Recuei de seu sorriso de escárnio e olhei para a calça azul justa e a camisa marrom de manga comprida que eu usava, tentando descobrir por que ele estava infeliz. Embora, em minha defesa, todos estivessem vestidos de forma inferior a ele, porque ele sempre estava impecável. Seu terno era cinza, justo e de corte caro. O contraste de seus cabelos escuros com seu traje era impressionante. Seu olhar era glacial quando ele se levantou da cadeira. Dei um passo para trás, silenciosamente arrependida enquanto ele arqueava uma sobrancelha como se dissesse "teste-me". — O que há de errado, senhor? — Eu perguntei, passando as mãos ao longo da minha camisa. — Achei que isso era apropriado. Ele caminhou rapidamente em minha direção, agarrou meu braço e me girou de volta na direção do corredor. O cheiro de colônia e charuto atingiu meu nariz e fiquei momentaneamente atordoada. Ele cheirava tão convidativo. O que diabos havia de errado comigo? Balancei a cabeça ligeiramente e consegui falar. — E o seu café da manhã? — Gaguejei enquanto era puxada para o corredor. Ele não parecia o tipo de pessoa que esquece suas próprias regras. Ele apertou meu pulso com mais força e eu não pude ignorar a eletricidade que passou pelo meu corpo — Esqueça. — Ele resmungou. Ele abriu a porta do quarto em que fui forçada a ficar e ordenou que eu entrasse. — Tire a roupa. Agora. — Déjà vu. Em vez da sensação de afundamento que eu esperava borbulhar em meu estômago, uma vibração quente circulou meu abdômen, e meus dedos não tremeram tanto quando os coloquei por baixo da camisa e lentamente a tirei do meu corpo. As mãos de Luke percorreram várias peças de roupa no armário antes de tirar um vestido cinza justo que caía logo abaixo dos meus joelhos. Ele estendeu-o para mim, um olhar severo impresso em seu rosto enquanto eu arrastava minhas calças pelas coxas. Eu vi quando seus olhos circularam em torno da minha calcinha, memorizando o contorno dos lábios da minha b****a, antes que ele levantasse os olhos de volta para o meu rosto. Ele engoliu em seco e seus olhos ficaram mais escuros, enquanto o ar ficou denso com algo forte. Luxúria? Estremeci e dei um passo para fora do jeans. — Coloque. — Ele insistiu. Peguei o vestido, arrastei o zíper pelas costas e entrei nele. Eu me perguntei curiosamente por que ele observava cada movimento enquanto eu me vestia, mas não tinha coragem suficiente para expressar isso em voz alta. Ele poderia fazer o que quisesse. Sinceramente. Ele sabia disso, eu sabia disso. Inclinei a cabeça enquanto puxava o vestido para cima. Talvez esse fosse o plano dele o tempo todo? Agir como um cavalheiro e fazer-me implorar por ele. Fazer de mim a tola desesperada que fez sexo voluntariamente com seu captor. Eu olhei para ele com atenção. Ele pegou um par de sapatos vermelhos e os colocou aos meus pés. Eu os calcei. — Senhor? Ele permaneceu em silêncio. — Você pode fechar o zíper? Eu me virei, sentindo-me mais constrangida do que nunca quando me revelei a ele. Seus dedos tocaram minhas costas e eu me contorci, ignorando como eles queimavam minha pele como fogo. Isso não era natural. Eu não deveria ter sentimentos sexuais pelo pedaço de merda que arruinou minha vida. A sala estava em silêncio, além da minha respiração pesada e do zíper sendo fechado. — Não posso levar você de camiseta para uma reunião. — Ele resmungou. — Uma reunião? Eu não sabia. — Essa é particularmente importante. Como você verá. — E eu vou porque... — Eu parei, esperando que ele esclarecesse mais minha pergunta. Seus lábios formavam uma linha firme quando ele terminou de fechar o zíper. — Vamos. — Ele ordenou, antes de sair da sala. Eu o segui, como a pequena brincalhona obediente que eu era, e mantive um olhar fixo em suas costas. Um encontro? Uma reunião importante? O pânico surgiu dentro de mim. Talvez ele esteja me vendendo? Esse era o seu plano o tempo todo. Veja o que eu estava disposta a fazer por acomodações hospitaleiras e agora ele estava cansado dos meus protestos. Eu seria vendida a quem pagasse mais, como se fosse gado. O pensamento me enjoou. — Você não vai me vendar? — Eu questionei. Ouvi o som fraco de Luke rindo à minha frente e, balançando a cabeça, ele destrancou a porta e a abriu com facilidade, apesar do som tenso do metal, resistindo ao seu aperto. — Eu não estou preocupado. — Por que não? "Oh meu Deus, cale a boca Jenna!" Ele parou na porta e olhou para mim. — Porque... — Sua mandíbula ficou tensa, assim como seu aperto na porta e precisei de tudo em mim para não me encolher. — Você poderia fugir... mas não vai. — Eu... — Já descobrimos que você não é nada corajosa. — Meu rosto caiu. Para alguém que me conhece há pouco tempo, ele ficou convencido sobre o quanto me conhece. Eu suspirei silenciosamente e cruzei os braços sobre o peito. — Posso surpreendê-lo. — Eu afirmei com os dentes cerrados. Um sorriso malicioso apareceu no canto de seus lábios antes dele acenar em direção a um sedã preto do lado de fora. — Vai. — Você vai comigo? — Não. — Por que não? — Tenho que fazer uma parada no caminho. — Ele admitiu. — Então... eu vou sozinha? — Sim. — Suas palavras foram curtas. Com um empurrão rápido, tropecei em direção aos degraus. Não olhei para Luke. Ele pode mudar de ideia sobre o fato de que posso andar sozinha, e eu precisava de tanta ajuda quanto possível para me libertar desses lunáticos. Eu poderia chegar à delegacia de polícia mais próxima ou telefonar. Qualquer coisa para entrar em contato com alguém que possa ajudar. Pelo menos eu estava vestida como se fosse importante. Isso pode fazer a diferença. Então, novamente, em outra circunstância eu poderia ser uma prostituta. Enquanto descia as escadas, o motorista contornou o carro e abriu a porta traseira. Ele era mais velho, com quase quarenta anos, talvez cinquenta e poucos anos, agarrei-me à ideia de que poderia enganá-lo. — Senhorita Martini. — Obrigada. — Murmurei e entrei. Fui envolvida pelo couro e quase engasguei com o cheiro forte dele. Enquanto ele fechava a porta atrás de mim e voltava para o lado do motorista. Testei a maçaneta e notei com confiança que ela estava trancada. — p***a. — Eu amaldiçoei. —Você disse alguma coisa, senhorita? — Estou bem. — Eu respondi, petulantemente. Ele não fez mais perguntas. Antes de sairmos, olhei para a porta, mas Luke havia sumido. [...] A viagem foi longa. Mais tempo do que eu esperava, e enquanto tentava continuamente abrir a porta, minha fé desapareceu com a medida em que os quilômetros aumentavam e avançávamos. Isso era inútil. Eu nunca mais veria Margo e não seria capaz de dar uma surra em Josh por me colocar nesta situação. Pelo menos ele levou uma surra. Ser sequestrada e tratada como propriedade e quase estuprada é muito pior. Se eu pudesse trocar isso por um soco na cara, eu o faria. Senti falta da civilização. Seres humanos, com conversas de adultos e café gelado. Senti falta do jeito que Margo me provocava, dos fins de semana de bebedeira e de como ela conhecia cada palavra de Forrest Gump. Esta não era mais uma vida que valesse a pena ser vivida, e se Luke estivesse me vendendo, eu não continuaria com ela. Eu não era forte o suficiente para suportar uma vida de sexo com um velho desprezível, que provavelmente me viciaria em drogas e me faria orgia com estranhos. Estranhos ricos. Essa realidade estava se estabelecendo. Se eu tivesse dinheiro, poderia me tirar dessa enrascada. Paramos em frente a um prédio vazio. Nenhuma vida ou som emanava dele, e franzi as sobrancelhas com uma expressão confusa. — Tem certeza de que este é o lugar? O motorista sorriu educadamente. — O Sr. Bianchi instruiu que você entre direto e espere por ele no saguão. — Por que eu deveria? O motorista não precisou responder. Ambos sabíamos que o meu destino não seria bom se eu desobedecesse. Luke tinha homens por todo lado, e talvez eles estivessem até me observando de dentro do prédio através das múltiplas janelas. Depois de estacionar o carro, o motorista, que descobri se chamar Jameson, abriu minha porta. Ele apontou para uma porta na lateral do prédio. — Está bem ali a entrada. — E se estiver trancada? — Não está. — Ele parecia tão certo, mas eu estava instável quando saí do carro. Jameson observou enquanto eu caminhava, com as pernas bambas em direção à porta. Antes que meus dedos envolvessem a maçaneta para abrir a porta, fui puxada para trás e jogada contra o concreto. Eu gemi enquanto uma dor lancinante irradiava do meu ombro. Apertei os olhos para ver que me atacou, mas fui interrompida pelo chute nas costelas. O ar deixou meu corpo rapidamente e eu lutei para respirar. O homem era grande, mas seu rosto era um borrão quando ele me puxou do chão e me jogou na lateral do prédio. Meu vestido rasgou, bati minhas costas na parede de tijolos e deslizei contra ela, caindo no chão. Minha cabeça latejava. Eu não conseguia respirar e implorei ao agressor que parasse. — Isso deve ser suficiente. — Eu o ouvi murmurar antes dele me levantar e puxar a porta pela qual eu iria entrar, ele me arrastou para dentro. Tropecei para manter o equilíbrio quando meus calcanhares bateram no chão. Fui empurrada para um assento e ganhei coragem para vislumbrar meu agressor. Ele não estava familiarizada. Alguém que eu não tinha visto antes. Eu choraminguei de dor. A dor empurrou a bile para minha garganta e me fez sentir um gosto metálico na língua. Minha visão ficou turva e manchas brancas me impediram de observar completamente a sala em que estava. Eu poderia dizer que uma mulher estava sentada atrás de uma mesa, mas isso era tudo. Não consegui distinguir o rosto dela, nem mesmo a conversa distinta que ela teve com o homem antes dele desaparecer porta afora. — Beba. A palavra me assustou e olhei para o rosto de uma mulher atraente. Seu cabelo estava em um coque loiro e seus olhos eram grandes e azuis. Ela usava saia lápis e blusa branca profissional e estendeu uma garrafa de água para mim. — O-o que... — Não tente falar. Beba. — Ela me ofereceu a garrafa, levando-a aos lábios, o líquido era estranho à minha língua, eu estava com gosto de sangue na boca. Eu gemi enquanto engolia, até isso doía. — A reunião começará em breve. Você precisará... — Ela parecia presa nas palavras enquanto puxava a garrafa vazia para longe de mim. — de ajuda. — Obrigada. — Eu resmunguei. — Desculpe. — Ela se desculpou antes de caminhar em direção ao cesto de lixo ao lado da porta e desaparecer por um corredor. Por que ela estava arrependida? Ela sabia que eu fui sequestrada? Ou era por me dar uma surra? Eu ri da ironia de como eu desejava poder trocar o sequestro por um soco na cara. Eu fui nocauteada e ainda era um animal preso em um zoológico. Eu podia sentir meu rosto inchar de um lado, onde bateu no cimento. Pressionei minha mão na minha bochecha. Estava quente, queimando. Dizer que eu parecia uma merda era um eufemismo. Eu só podia imaginar em que tipo de monstro meus ferimentos me transformaram. O que Luke pensaria? Não tive tempo de pensar nisso, porque a mulher voltou com dois homens, que me puxaram da cadeira e começaram a arrastar meu corpo em direção à sala de reuniões. Eu não conseguia andar. Doeu muito, meus calcanhares apenas rasparam no chão enquanto eles seguravam meu peso morto. Paramos diante de uma porta e a mulher a abriu. Fui carregada para dentro e, se eu esperava suspiros de choque, fui decepcionantemente recebida pelo silêncio. O olho que foi menos afetado pelo meu ataque brutal se voltou para Luke. Sua testa estava enrugada, e se não fosse por isso eu teria acreditado que ele não estava chocado ao me ver assim. Notei outra figura do outro lado da mesa. Josh. Suas feridas haviam cicatrizado. Ele parecia chocado do outro lado da mesa, mas não de um jeito que parecesse atencioso, mas de um jeito pego de surpresa. Eles me colocaram em uma cadeira e caminharam até ficar ao lado de Luke enquanto ele se sentava na ponta da grande mesa redonda. A sala era uma sala normal de reuniões de negócios, mas eu poderia dizer, pelo frio que tomou conta da minha pele, que mais do que isso havia acontecido aqui. — Como você pode ver... levamos as dívidas muito a sério. — Luke afirmou. Josh se mexeu desconfortavelmente em sua cadeira, seus olhos nunca deixando meu rosto machucado. Memórias boas e lembranças de nós voltaram correndo e eu fui dominada pela vontade de chorar. Lamentar. Todos os momentos maravilhosos que foram mentiras e só levaram a este momento. Este momento traiçoeiro. O que ele tinha a dizer por si mesmo? Ele pediria desculpas? Imploraria pelo meu perdão? Ele ficou mortificado pela maneira como meu olho estava quase completamente fechado, ou pelo fato de meu cabelo estar agora coberto de sangue seco, ou por meu vestido estar rasgado? Ele permaneceu em silêncio pelo que pareceu uma eternidade, antes de desviar o olhar de mim e olhar para Luke. Ele se endireitou, como sempre fazia quando queria parecer mais confiante e maduro do que realmente era e sorriu. Sorriu. O bastardo sorriu. Fiquei sentada, impotente, mortificada pela contração sádica de seus lábios finos. Ele entrelaçou os dedos e recostou-se na cadeira. — Então... — Josh encolheu os ombros. — Essa v***a não significa nada para mim. Aqueles seis meses que compartilhamos foram destruídos bem diante dos meus olhos, e eu gritei. Eu não percebi que um ruído saiu dos meus lábios até que os olhos de Luke se estreitaram em minha direção. — Você pode fazer o que quiser com ela. Eu não conseguia entender como ele podia ser tão frio com uma mulher que amava? Ou pensei que ele amava. Se Luke ficou surpreso, eu não saberia dizer. Ele inclinou a cabeça e observou Josh. Josh engoliu em seco. Outro sinal de que ele estava com medo. Com medo da vida. Com medo do amor. Medo de compromisso. Ele era um covarde. Maior do que jamais fui. Eu sei que se Margo testemunhasse este momento, ela teria quebrado as pernas dele com um taco de beisebol. — Eu estava esperando que você dissesse isso. — Luke riu. Foi curto, rouco e assustador. Não era o som que um amigo faria depois de uma piada engraçada. Mais como os barulhos malucos de alguém que estava prestes a matar outro ser humano. — P-por quê? — Josh gaguejou. Os lábios de Luke se abriram em um sorriso. — Porque agora a única forma de garantir o pagamento é infligir dor. Eu mataria você, mas isso não tem nada de benéfico para mim. — Luke estalou os dedos, a tarefa era tão mundana e clichê que tive vontade de rir. — Talvez possamos paralisar você? — Ele lançou a ideia como se estivesse pensando em coberturas de pizza. O sorriso de Josh vacilou. — Olha... — Você já deixou isso perfeitamente claro. — Luke levantou-se. — Vou te dar uma semana para pegar meu dinheiro.— Ele ajeitou a gravata e caminhou em direção a Josh. — Se você não tiver até lá, todo dia que você atrasar eu mandarei alguém vir e quebrar alguma coisa. — Q-quebrar alguma coisa? — Talvez os dedos dos pés ou todos os dedos... isso parece divertido. — Ele disse. O rosto de Josh se contorceu em puro medo. — Mas até então... — Luke seguiu e gesticulou com um aceno de cabeça para os dois homens que me carregaram para a sala. Nenhum deles foi o cara que me atacou. Josh lutou para afastar a cadeira da mesa e fugir, mas os homens o seguraram no lugar e mantiveram as palmas das mãos apoiadas na mesa. Luke sacou outra faca parecida com a que ele tinha no bolso na noite em que me disse para matá-lo, só que era maior. — Por favor... — Josh implorou. — Vou levar uma lembrança. — Luke pronunciou antes de pressionar a lâmina rapidamente no dedo de Josh e separá-la de sua mão. Sangue jorrou do corte. Os gritos de Josh perfuraram o ar, mas eu sabia que ninguém viria. Eu deveria estar sentindo dor. Mortificada ao ver seu sangue e ao impiedoso e psicopata que Luke era. Minha sombra refletida na janela ao longo da parede me assustou, porque em vez do medo em meu rosto, como qualquer ser humano solidário e moral, algo mais tomou conta da minha expressão. Eu estava sorrindo.
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